PRÓLOGO

— Como assim, morte? — Antes que qualquer outro presente se pronunciasse, José foi o primeiro a mostrar sua perplexidade. — Morte muita ou morte pouca? Morte matada? Quando vai ser isso? Me diz...

— Silêncio, bruxo! — O brado da vidente Freya o fez aquietar-se, exteriormente, pois, dentro dele, seus pensamentos ainda o atormentavam. — O que acontecerá, não posso revelar, pois se eu o fazer, perderei o meu poder... Morte é o que nos aguarda e isso é tudo que posso dizer.

— Ter detalhes do que nos aguarda seria de grande ajuda neste momento. — O jovem bruxo sussurrou o que todos mantinham em mente, porém, viam-se pensativos demais para comentar. Ele buscava uma posição confortável naquele alto trono rochoso, entretanto, jamais acharia naquela dureza um refúgio para sua consciência.

— Mesmo se souberem o que os espera, o futuro não poderia ser mudado...

— Não há nada mais que possa nos ajudar? — Noel tomou a palavra, deixando de entrelaçar com os dedos a barba marrom que ganhava fios brancos.

— Talvez sim... Em minha visão, assisti o fim de tudo que conhecemos. Acontecerá exatamente neste lugar, onde estamos agora. — A poderosa dizia com misticismo no tom da voz. — Estejam aqui quando for chegada a hora...

— E que hora será essa? — Fire King indagou acomodado no assento de gelo ao lado do Bruxo Elétrico, Salazar.

— Vocês ouviram a fera maligna, nós possuímos somente quatro anos...

Com isso, a vidente desapareceu, como a escuridão ao encontrar-se com a luz e, assim, todo o ambiente pareceu se iluminar também.

Quando crescer, quero ser igual a ela — mentalizou Safira, antes de voltar sua atenção empática ao namorado que também caçou seu olhar.

Uma onda de murmúrios tomou conta do local, todos discutiam com aqueles que se faziam próximos.

— Muito bem — Kongjian requisitou a atenção, erguendo a mão —, acho que já podemos tornar a discutir a respeito do que iremos fazer...

— Tornou-se lúcido para mim que o óbvio e mais importante nestas circunstâncias é o treinamento do Bruxo da Natureza. — Merlin concluiu seu ponto de vista.

— Assim como a aliança dos quatro planetas — complementou Salazar.

— Isso será possível, agora que Morgana se aliou as trevas? — Meredyth questionou, fazendo-os martelar suas ideias ao volver suas vistas ao trono vazio.

— O planeta Ar é governado pela bruxa e por um regente, o qual se torna maior autoridade na ausência dela — informou Valka, a poderosa viajante do espaço, ao lado do bruxo netuniano de traje azulado. — Me encarregarei de contatá-lo sobre tudo.

— E meu treinamento... — José reivindicou os olhares curiosos. — Se ninguém sabe meu último poder, como podem me ensinar?

— O melhor método seria achar um modo de lhe fornecer experiência — palpitou sabiamente Merlin.

— Como uma guerra? — Safira interrogou recordando-se do estado em que seu planeta se encontrava. A situação se mostrava cada vez pior em relação ao conflito dos humanos normais, o que significava que o mesmo estava longe de ter um fim.

— Com humanos comuns, não — interpelou Salazar, sem esconder seus desejos secundários. — Seria de grande ajuda mútua, ele se juntar a mim no planeta Fogo, para que eu o auxiliasse.

— Excederia os limites da sensatez — Merlin refutou —, poria em risco se pensassem que contém dedo dele nessa guerra civil que enfrentam. Sugiro o planeta Água como melhor espaço para o treinamento do bruxo...

— José não pode ir ao seu planeta sem o consentimento de Joseph. — Noel interviu rapidamente, antes mesmo que o adolescente pudesse reclamar o fato de o citarem como se não estivesse presente.

Netuno, onde meu pai nasceu, o que será que estão escondendo desta vez? — perguntou-se o rapaz, antes de questionar:

— Eu posso saber o porquê disso?

— Não pelas nossas bocas...

— Sobre a questão da guerra em meu planeta — retomou o bruxo marciano —, presumo que os poderes de José podem trazer equilíbrio ao invés de mais disputas. Fogo já foi muito desgastado e não aguentará mais ser extraído para benefício dos humanos.

— Aonde você quer chegar? — Kongjian inquiriu indiscreto.

— Quero pedir ajuda ao Bruxo da Natureza, que, como tal, ajude-me a restaurar meu lar. — Sua voz era chorosa e persuasiva. — Já que muitos não aceitam a evolução e os outros não concordam com os métodos antigos de viver, dê-me seu auxílio nessa empreitada de trazer o equilíbrio.

— É... Nós temos que pensar em...

— Eu irei! — A afirmação do rapaz interrompeu Noel.

— Se você for apenas para treinar com poderosos, aqui temos quem te ensine também — argumentou o guardião.

— Como todos sabem, no planeta Fogo é onde se encontram os mais poderosos de nossa espécie — Fire retaliou convidativo, recebendo um olhar fuzilante do homem de gorro vermelho.

— Mas eu não vou pelo treinamento — José interviu, conclusivo. — Neste momento, considero a aliança entre nós mais importante que tudo e vejo isto como primeiro passo para que essa se concretize.

Suas palavras foram cirúrgicas e atingiram muito bem os pensamentos de cada um presente.

— Assim sendo — Merlin tomou a palavra —, decide-se, por fim, que nos tornaremos agora um só povo, tendo isso em mente como prioridade e o treinamento do Bruxo da Natureza como garantia de primeiro recurso para nos defendermos da ameaça sombria... — Levantou-se e Valka o imitou, assim como a reverência de cabeça. — Agora, se me dão licença, tenham um bom dia.

Com o estalar de dedos da poderosa, um vórtice surgiu debaixo deles e os dois sumiram sem deixar rastros, passando por ele.

— Bem, também tenho muito que fazer, agora sabendo que terei um convidado especial. — Salazar também se ergueu do trono de pedra. — Você vem, Fire?

— Me certificarei de levar o bruxo em segurança para nosso planeta — relatou o deus, olhando para o jovem.

— Pois bem, que os Runks os abençoem. — Com isso, um pequeno portal elétrico surgiu sobre ele e desceu o engolindo, fazendo-o desaparecer.

— Agora que estamos somente nós, entre companheiros de planeta — Kongjian reivindicou a palavra. — Vocês possuem algo a mais para acrescentar? — indagou olhando nos olhos de cada um.

— Alguns guardiões perceberam modificações em todo o ecossistema terrestre. — Meredyth relatou, sendo confirmada sua fala por todos. — Conversei com Curupira e teorizamos ser obra de algum aliado de Malléphycus...

— Acho que equivocam-se nisso — refutou o indiano —, os humanos são os culpados por isso.

— Certas mudanças climáticas sim, mas um vento nefasto e obscuro se aproxima lentamente. — O guardião brasileiro contestou, convicto. — Talvez demore décadas ou um século, mas algo catastrófico se expande pela Terra de forma oculta.

— Diante de teorias sem bases confiáveis, peço que procurem saber mais sobre isso... — concluiu Kongjian, imponente. Assistindo tal reação, os presentes se viram pasmos pelo que foi dito. — Muito bem, então acho que...

— Eu vou com José! — Safira cortou-o, altiva, como quem queria se impor.

— Isto, todos já sabiam. — Curupira retrucou, e os guardiões puseram-se a rir.

— Eu também irei. — A voz firme e melódica de Yara furtou a atenção. A mulher do mar fitava King, assim como esse a vislumbrava. Uma faísca num oceano inflamável... A tensão entre os dois era palpável.

— De que vais em busca lá? — questionou Arya para sua amiga.

— Assuntos pessoais pendentes — enunciou sem tirar os olhos azuis do deus.

— Pois bem, assim terminamos...

A fala do indiano foi detida por uma voz telepática em sua consciência, a qual assustou o marciano pirocinético que desconhecia tal habilidade:

Eu vou com eles. — Dragon afirmou na mente de todos, mirando Noel, o qual assentiu sorrindo. Era justo ele conhecer seu remoto lar, além de que não era como se o fera tivesse pedindo permissão para isso.

— Então... — Kongjian retomou sua fala. — A mulher do mar, a garota das plantas, um dragão do gelo e o Bruxo da Natureza indo para um planeta chamado Fogo... Quero só ver no que isso vai dar. — Todos riram do comentário. — Estejam prontos o quanto antes, boa sorte e que o Deus olhe por vocês...

Com isso, ele desvaneceu repentinamente, e todos se ergueram, dando fim ao conselho dos doze tronos...

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