Capítulo 8- Torneio Feroz II

— Os templos serão abertos em poucos segundos. — Depois que censurou o Bruxo Elétrico com o olhar, o comentarista enunciou. — Quem serão os novos Guerreiros Ferozes?!

A paisagem vista na cratera planificada constituía-se por um quilométrico campo de batalha arredondado de solo arenoso em tom alaranjado. Em quatro cantos diferentes do círculo constatava-se um templo antigo, além desses, ainda percebia-se a grande edificação milenar no exato centro de tudo, essa última era guardada por uma cúpula mágica. Sendo as únicas construções no interior da colossal proteção invisível que cobria toda a cratera e foi criada para que ninguém saísse ou entrasse.

O cenário ainda contava com as indescritíveis arquibancadas que cercavam todo o perímetro da caldeira, das quais as pessoas iriam assistir pelos telões segurados por steágnos que flutuavam. Uma visão realmente singular.

— Os portões foram abertos! — Manish utilizava a super-visão para enxergar os quatro templos a aproximadamente quarenta quilômetros de distância, uma vez que se encontrava no meio do vulcão inativo.

O tsunami de barulhos vindos da torcida acompanhou a disparada que foram os competidores saindo pelos portões que eram as saídas mais altas de cada um das quatro construções templárias. De todos os lados podiam-se ver ígneos correndo, feras aladas voando, e variados tipos de animais descendo as escadarias das edificações que pareciam astecas. Haviam sido divididos para que a batalha alcançasse um maior espaço e uma maior visibilidade.

Por que não estão lutando? — José se questionou, assistindo por uma das telas voadoras. Foi quando percebeu que uma contagem regressiva era cronometrada pelos torcedores ao mesmo tempo em que também torciam energicamente.

O dragão albino assumiu sua forma feral assim que perpassou pela saída norte, sendo um dos primeiros, já que ainda usufruía do privilégio de ter sido ovacionado no dia anterior. Alçou voo assim que chegou à ponta mais alta da ruína marciana, e logo notou que havia saído por aquele paralelo ao qual havia entrado.

— Poucos segundos são disponibilizados para que todos estejam em campo de batalha, pensem numa estratégia e numa forma de usar o ambiente ao seu favor... — Foi a forma como ficaram conhecidos pelo embate, algo tão colossal que o próprio espaço se tornava rival.

Dez... O deus pirocinético dava saltos inalcançáveis em forma animal, seus olhos dourados caçando um homem de traje branco e uma garotinha de vestes alaranjadas. Essa última também era procurada pelo guerreiro smilodon, o felino corria como um míssil em direção ao forte do sul, podendo sentir o cheiro dela.

Seis... A Guerreira víbora caçava sua amada entre aqueles que entravam em campo junto dela pelo lado leste, no entanto, aquela que estava buscando entrava em cena pelo oeste. Eram próximos aos sessenta quilômetros que as separavam, uma vez sendo o menor diâmetro da cratera.

Três... A guerreira galo finalmente deixou o interior do templo e usava sua agilidade para desviar do mar de pessoas que desciam a alta escadaria, fazendo o mesmo com o máximo de velocidade que conseguia. Em consonância as suas pernas que pareciam criar asas de tão velozes, sua mente era esvaziada, não podia pensar em nada, pois temia que seu amigo telepata usasse sua consciência para encontrá-la, todavia, deveria impedi-lo, sabia que seu descontrole provavelmente o machucaria por acidente.

— Que comece o Torneio Feroz! — A exclamação de Salazar marcou o momento em que a matança teve início. Não havia mais para onde correr ou voar, era hora de batalhar.

— Acho que chegou sua hora, velhote! — Um homem de veste verde-escura empacou o barbado que corria sem dificuldade após partir do templo norte.

— Admiro sua coragem em me desafiar — declarou o careca, rodopiando seu cajado. Era perceptível que muitos mantinham distância dele enquanto trocavam golpes com outros participantes. — Estou, de certo modo, ocupado, então vamos acabar logo com isso...

Um baque inaudível fez o terreno perto dele tremer quando seu bastão tocou o chão com força. Duas pedras enormes foram arrancadas do solo atrás do fera. Passaram por ele quando indicou o alvo à frente e elas simplesmente imprensaram a vítima paralisada como se não fosse nada, esmagando-a.

— Não vai ser tão fácil me acertar com golpes físicos, velhote... — O guerreiro ressurgiu dos pedregulhos com um aspecto fantasmagórico, como se fosse feito de vapor.

Intangibilidade... — imaginou o de barba alva, vendo o adversário iniciar uma corrida em sua direção. — Isso torna tudo mais divertido...

Mirou-o mais uma vez, e o mesmo estacionou abruptamente, sem entender por que seu corpo não obedecia aos seus comandos. À medida que o sorriso do velhinho se alargava, o adversário lutava contra os próprios músculos, contudo, considerou-se derrotado assim que os punhos fecharam e começaram esmurrar o dono.

— Não consegue é intocável para você mesmo, certo? — Sua personalidade plena não sofria com os gritos daquele que se debatia, os quais se juntavam aos berreiros de fundo, vindos da plateia ou dos outros adversários que não tiveram tanta sorte de início.

Preciso me apressar. — Seu pensamento o fez girar o cajado. A temperatura aumentou subitamente, o oponente perdeu a consciência por completo quando a vertigem o alcançou e seu tórax foi estraçalhado pela alta pressão atmosférica exercida pelo olimpiano de idade avançada. — Descanse em paz...

A manipuladora dos sentimentos não havia tomado muita distância da construção leste, por onde saiu, ela tentava sentir aqueles que emitiam certa periculosidade emocional. Não podia deixar que esses se tornassem um dos líderes de seu planeta. No entanto não demorou muito para que encontrasse ígneos violentos entre os civis que corriam apavorados.

— Venham cá, garotos, a mamãe está chamando... — A sensualidade daquele com cabelo castanho era como gatilho para os homens de armadura que avançaram em sua direção.

Todos emanavam uma aura parecida a cada passo rápido que davam, bradando suas armas, porém, simplesmente pararam, tremendo.

— Ora, ora... Não me digam que estão com medo... — Seu cinismo cênico foi deixado para trás quando adotou um semblante sádico, entretanto, ainda elegante.

— O-o que você fez?! — inquiriu um dos adversários que já derramava lágrimas.

— Eu apenas me tornei o pior pesadelo de vocês... — Percebendo desejos assassinos à suas costas, virou-se de súbito e se defendeu de um espadachim que cortava o ar com uma lâmina longa.

Antes que ele lhe cortasse o pescoço também, a marciana de vestes vermelhas desembainhou sua espada, na qual a ponta do cabo possuía a cabeça de cachorro. Faíscas foram lançadas ao ar no encontro de metais resistentes e afiados. Giraram as armas em seus eixos respectivos e atacaram outra vez, e mais uma... A lâmina do inimigo parecia encantada para acertar todas as vezes, e isso explicava os arranhões que marcavam os braços da dama depois de alguns minutos.

— Por que está fazendo isso, amor? — O questionamento da mulher que teve a cor escarlate dos olhos intensificada, fez o espadachim cessar as investidas.

— Me perd... — Assim que o homem soltou a arma, sua vida foi ceifada com um corte veloz em sua garganta, deixando um líquido dourado escorrer.

A guerreira sarama constatou que o caos já estava mais espalhado pelo campo de batalha, mesmo que um aglomerado de mortes ocorresse mais próximo aos templos de partida. Depois volveu seu olhar para aqueles que ainda se viam paralisados de medo.

— Vamos, garotos, preciso da ajuda de vocês. — Deixaram o temor para serem preenchidos pela confiança e submissão, sentimentos que a mulher dominava com perfeição...

O local onde menos havia incidência de duelo ou assassinatos era próximo ao centro, obviamente por ser o lugar mais distante dos pontos de largada. Foi ali perto que a guerreira de vestes azuis e pele preta que refletia anormalmente, apareceu de um espelho cristalino. Matutava o fato de que somente aqueles com grandes habilidades mágicas chegariam ali tão rápido quanto ela, por isso o fez.

— A resplandecente guerreira porca sempre trazendo o embate para mais perto das câmeras principais...! — comentou Bhav, observando a participante mais próxima da edificação protegida magicamente.

— Isso, na verdade, é uma estratégia para ganhar espaço, tomar a atenção do público e de oponentes dignos — complementou o mais rechonchudo dos comentaristas, constatando a torcida nas arquibancadas. — E, pelo visto, está funcionando perfeitamente!

Antes que a mulher se situasse no novo ambiente em que surgiu, uma flecha lhe tirou um filete de sangue dourado da perna, isso porque foi rápida o suficiente para escapar de um ataque certeiro e fatal. Sua atenção não demorou em se pôr na mulher batendo asas que portava arco e flecha. Ergueu o olhar com semblante ameaçador, uma aura azul-cristalina a envolvia aos poucos.

Num só lance, três setas pontiagudas cortaram o vento e foram detidas por um domo espelhado que envolveu a dama a partir de sua palma estirada para frente.

— Como quer ser uma Guerreira Feroz se só sabe lançar flechas? Que nem são tão fortes assim... — zombou a enfeitada com algumas joias que demonstravam sua vaidade.

— Na realidade, não sei como conseguiu se tornar uma, se sabe apenas se defender — retrucou baixando a altitude enquanto elevava sua imponência por baixo do sobretudo escuro que trajava. — Quero ver se proteger disso...

Daquela vez, um único projetil rompeu da corda esticada, partindo em linha reta, tendo como alvo o coração da marciana de pele escura, todavia, antes teria de perpassar sua mão erguida para frente. Um escudo refletor surgiu para protegê-la, ao mesmo tempo em que os orbes oculares de sua inimiga brilharam como fogo e a flecha entrou em combustão de forma repentina.

O dardo pontudo podia ser confundido com uma fênix, quando finalmente se chocou com a defesa e foi rebatido, contudo, no mesmo instante, causou uma enorme e anormal explosão, na qual as labaredas engoliram a dama por completo.

— Será o fim da guerreira porca?!

— Acho que não... — Manish assistia o fogo diminuir, assim como a fumaça escura e a ausência da mulher foi percebida.

— Tem que melhorar sua pontaria. — A voz da ígnea foi ouvida nas costas da fera atenta e lá ela surgiu, bradando uma lança de aspecto cristalino, todavia, fez somente um corte profundo na perna da adversária. — Agora estamos iguais...

— Droga...! — Ela virou-se o mais rápido que conseguiu, contudo, seu membro ferido não lhe permitia agilidade, por isso recuava de costas enquanto pegava outra flecha na aljava.

A manipuladora dimensional reluzia como nunca, como se utilizasse uma armadura de luz. Avançava lentamente, observando a outra afastar-se. Com a perna machucada e perdendo muito sangue, não teria vantagem em solo, por isso alçou voo fazendo o bater de suas asas levantar poeira. Um projétil surgiu entre a cortina de areia, mas a dama simplesmente desintegrou-se no ar, deixando de ser o alvo.

— Onde você está?! — questionou a voadora, girando para encontrar sua oponente e depressa a achou no mesmo ponto de início do conflito. — Você não vai fugir dessas...

Três setas que emitiam um brilho esverdeado foram lançadas sem precisão nenhuma, principalmente por causa do balanço que o bater de asas causava.

— Acho que já está na hora de... — Não terminou sua frase, pois percebia as flechas lançadas mudando de direção, indo de encontro a ela.

Teleportou-se uma vez mais, quando as disparadas se encontravam a poucos metros. Assim que reapareceu no mesmo lugar de antes, constatou o ataque dando curva no ar para alcançá-la. Não havia como fugir realmente, então se preparou para algo diferente. Num segundo, as setas se aproximaram e foram todas mandadas para outra realidade pelo espelho que se pôs entre elas e o alvo.

— Como eu disse, só sabe se defender — declarou a alada com mais flechas prontas para serem atiradas.

— Esse foi um bom duelo de demonstração... — Com seu sussurro audível, também veio um aceno mínimo da palma que criou um disco de cristal, o qual foi lançado velozmente.

Quem achasse o som ou a luz rápidos, talvez seja porque não conhecia a velocidade do próprio espaço, era inigualável. O disco com meio metro de diâmetro podia ser mais fino que uma folha. Foi o que cortou ao meio a fera alada, dividindo seu corpo pela cintura e as duas partes desceram ao solo arenoso. Era como se toda uma dimensão atravessasse o corpo dela num corte rápido.

— Obrigada...

Os minutos passados permitiram que mais pessoas se aproximassem do centro, uma dessas era o fera dente-de-sabre que tinha como destino o sul, onde encontraria sua considerada irmã, a qual protegeria com todas suas forças. Partindo do norte e desviando da construção central pelo lado oeste, encontrou um desafio completamente inusitado.

Correndo na forma feral, driblava os embates que se desenvolviam, até que, repentinamente, uma vila de pedra e argila surgia à sua frente. Construções que lembravam casas se elevavam do chão, assim como edifícios de diferentes tamanhos e outras instalações rochosas. Tal habilidade impressionante ia se expandindo e, em poucos instantes, a vila se tornava uma enorme cidade de pedregulhos, como um labirinto gigantesco. Algum competidor estava modificando o campo de batalha para obter vantagem.

— Mas que poder é esse?! — A exclamação de Bhav demonstrava a mesma reação daqueles que viam da plateia.

O felino avançava sem medo, e aumentou ainda mais sua rapidez. Nem sequer deu-se ao trabalho de contornar as edificações de pedra, apenas seguiu em frente e, quando seu corpo colidiu com a primeira das construções, ela desmoronou completamente. Dessa forma, continuou atravessando as residências recém-construídas como se fossem feitas de areia fofa, apresentando uma imensa resistência. As paredes de pedregulho maciço lhe tocavam igual uma brisa leve.

— Uma cidade tomou conta de todo o lado oeste. Acho que as coisas vão ficar interessantes...!

Esporadicamente, algumas pessoas apareciam na frente do smilodon apressado, elas pareciam perdidas no meio daquela imponente e repentina cidade, todavia, eram bruscamente jogadas a metros de distância pela força do fera quadrúpede.

Seu caminho finalmente deixou de ter as casas como obstáculos, pois havia encontrado entre essas uma rua de areia alaranjada que o levava para onde desejava ir. Contudo um muro se ergueu à sua frente e lhe aparentava um volume espesso demais para ser atravessado.

— Mais devagar, gatinho! — Uma moça de pernas cruzadas atraiu sua atenção, olhava-o sentada em cima da muralha, através dos óculos de lentes verdes. — Vamos brincar um pouco...

— Eu não tenho tempo...

Repentinamente, um poste surgiu bem abaixo dele, entretanto, sua percepção aguçada o fez desviar para o lado antes de ser acertado. Não havia muitos rumos para tomar, visto que o muro tornava aquela rua sem saída. Depois, outra coluna de pedras e mais uma... Evitava cada um delas em consonância aos gritos histéricos que ouvia. Mais pessoas eram alvos fáceis daquela cidade ameaçadora.

— Felizmente, para você, estou com certa pressa... — Seu relato cessou por causa da queda dos dois prédios de cada lado seu, e esses lhe tinham como vítima do desabamento proposital.

Todavia à medida que as construções tombavam indo para cima do felino alaranjado, esse puxou o ar para seus pulmões e produziu seu maior rugido. Primeiro, um tremor abalou todo aquele terreno, derrubando vários dos edifícios rochosos. Posteriormente, um estouro se expandiu junto com o reverberar do grito e a poeira que seguiu seu rastro por centenas de metros.

Quando tudo se acalmou, muitos haviam sido soterrados, somente as casas mais distantes permaneceram de pé, e sua criadora se ergueu dos pedaços do paredão que havia desabado. Percebeu que seu adversário não mais se fazia presente, então murmurou uma promessa:

— Eu vou te encontrar, guerreiro smilodon...

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