Capítulo 3- Decisões Extremas III
— Onde estão os outros? — José se perguntou, erguendo-se do assento. Logo percebeu o imponente deus do fogo próximo a sua cadeira, mas apenas esse lhe fazia companhia naquele grande salão.
— Permaneceram na outra realidade para debater outros assuntos importantes. — Fire explicou com prestatividade, voltando-se às portas duplas da entrada que já se abriam. — Vamos.
— Para onde? — indagou o jovem de íris azuis galácticas, apressando-se em acompanhá-lo.
— Procurar Yara e Safira. — Assim que atravessaram a passagem, essa foi fechada pelos dois guardas que exibiam seriedade.
— E o Dragon — lembrou o rapaz, que tentava manter o mesmo ritmo do caminhar do ígneo ao seu lado.
— É... Ele também — pronunciou sem esconder a indiferença. — Aliás, de onde veio esse cara?
— Eu e o Noel o achamos, estava preso no gelo. — Ainda não havia decorado o caminho pelos vários e extensos corredores do castelo, por isso apenas seguia o homem de capa preta.
— Isso explica o poder dele... — Sua expressão logo se modificou de pensativo para zombeteiro. — Nome engraçado, Dragon, quem escolheria o nome de...?
— Fui eu que dei o nome a ele! — José interrompeu o riso de King, o qual o fitou sem jeito, estacionando seu corpo de súbito para fitar sua indignação momentânea.
— Aah... Dragon é... legal.
— Sério?
— Não. — Sua resposta fez o bruxo revirar os olhos e voltar a andar corredor à frente, tomando a dianteira. Com dois passos, o acompanhou e mostrou curiosidade. — E por que foi você quem deu o nome? Ele não tinha um?
— Ele era só um ovo quando foi levado de seu lar e levado para a Terra, depois de muita história que eu esqueci. Só sei que ele foi parar no gelo da Antártida e lá o descobrimos, não faz nem um ano — contou o adolescente, vendo Fire dar atenção ao que falava, mas mantendo o olhar preso aos seus pés descalços e calejados.
— É... Tá aí a razão para ele ser meio estran...
— Ingênuo! — exclamou enquanto viravam numa encruzilhada de corredores. — Por que não gosta dele?
— Quem disse que eu não gosto dele? — inquiriu recebendo uma censura pelo semblante simétrico com uma das sobrancelhas arqueadas do jovem. — Não é que eu não goste, só não simpatizo totalmente com sua personalidade.
— Ou seja, não gosta. Pra sua informação, ele é um fera ígneo que foi maltratado no passado... igual você — argumentou, apelando para as emoções do deus que o mirou.
— Então simpatizo com ele, mas talvez só não tenha intimidade, afinal, eu literalmente o conheci ontem — concluiu, e José nem percebeu quando chegaram a frente das portas de seus aposentos.
Não tardaram em abrir cada um a entrada de suas respectivas acomodações e perceberam que as terráqueas não se encontravam lá. O mais novo indagaria sobre o fato dos dois adultos dividirem o mesmo quarto, mas ele estava treinando sua indiscrição, não precisava saber sobre o que não lhe dizia respeito.
— E agora? — interrogou o bruxo, escorando as costas na porta de madeira escura, paralela a que o Fire fazia o mesmo.
— Esperar... — O pirocinético não conseguia disfarçar o que sentia e não demorou muito para o rapaz perceber que algo em sua mente o perturbava. Alguma coisa relacionada às correntes que ele girava sem pretensão, olhava-as centrado, como se estivesse sob hipnose. — Por que acha que não gosto dele?
Aah! Então é isso...
— Bem, eu conheço você um pouco e sei quase tudo sobre o Dragon... — Sorriu pelo que falou. — Acho que senti um leve... atrito entre vocês.
— Teorizo que seja só por representarmos elementos opostos.
— Sério? E como essa teoria explica você e Yara? — refutou se satisfazendo com a expressão constrangida que Fire adotou. — Deveriam querer se matar teoricamente.
— Não sei se lembra, mas uma das primeiras coisas que eu e a Yara fizemos juntos foi duelar — recordou o marciano que olhava para os dois lados, buscando qualquer coisa que os tirassem daquela conversa.
— Este é um bom argumento... — Deu-se por vencido, ou apenas deixou de insistir por uma resposta. — Inclusive, o que você sente pela...?
— Arícia!
O ígneo saiu às pressas dali e percorreu rapidamente o corredor até a mulher de vestes claras angulosas que passava por uma das encruzilhadas ali perto. Ela estacionou e observou os dois se aproximarem, uma vez que José correu logo atrás do deus.
— Bom dia, Fire, e você deve ser o bruxo, seja bem-vindo — cumprimentou-os com uma pequena mesura de cabeça enquanto eles tentavam suavizar suas respirações que se aceleraram por causa da corrida recente. — Então já se encerraram as votações... Se me permitem perguntar, o que foi decidido?
— Mais uma vez, os Guerreiros Ferozes chegaram num impasse, tudo será decidido pelos próximos guerreiros escolhidos — noticiou o marciano com tom de pele semelhante ao daquela que informava.
— Muito bem... — pronunciou baixando a cabeça, matutando pensamentos que não trespassavam seus olhos cinzas. Ergueu a cabeça em seguida. — E o que os trazem a mim?
— Queremos saber onde estão Yara, Safira e Dragon. — King certificou-se de incluir o homem frio daquela vez.
José se questionou como aquela mulher saberia onde estariam os outros, porém, suas dúvidas se dissiparam como ar, o qual era sugado pelas narinas da olimpiana à sua frente, naquele momento. Inflando os pulmões e enclausurando suas íris com as pálpebras, ela parecia flutuar, até que soltou o ar e abriu os olhos.
— Os três se encontram juntos no pátio do castelo, devem estar terminando o café-da-manhã — revelou com convicção.
— Muito obrigado, Arícia, tenha um bom dia.
— Estava indo para lá, os acompanharei, se não se importarem — completou antes que se distanciassem.
— Nem um pouco, vamos. — Fire deu a deixa para que os três abandonassem aquele cruzamento e seguissem entre os corredores que iam ficando cada vez mais claros.
Devemos estar nos aproximando do lado de fora... — Pensou o terráqueo animado.
§ MOMENTOS ANTES §
— O que será que vai ter nessa reunião? — inquiriu a senhorita de olhos verdes, na tentativa de quebrar o silêncio que pairava entre os quatro poderosos.
Safira e uma serva do enorme castelo caminhavam uma ao lado da outra, assim como Dragon e Yara que iam logo atrás. A ígnea séria os guiava até onde eles pudessem fazer o desjejum. Não falava nada mais que o necessário.
— Assuntos secretos da Corte de Guerreiros. — Foi a única coisa que declarou, sem ao menos mudar suas feições ou desviar seu olhar do caminho para a terráquea.
Os corredores de pedra escura, que eram clareados com lâmpadas no teto, iam ficando cada vez mais movimentados. Deviam estar chegando no centro da construção gigantesca.
— Você é bem colorida — elogiou o fera albino, com gentileza, sorrindo para a dama de cabelo multicolor ao seu lado.
— É... Obrigada? — pronunciou sem ter certeza do que ele queria dizer com aquilo.
— Por nada. — Suspirou satisfeito e orgulhoso de si mesmo, como se tivesse feito um gesto de caridade. Nada mais era que o fruto do ensinamento de etiqueta de Maria. “Deve sempre elogiar uma dama”. Safira esboçou um sorriso enquanto a guardiã tentava relevar o acontecido.
Já deve estar enfeitiçado por causa de minha profecia, essa maldita maldição...
— Eu não estou enfeitiçado. — Dragon comentou com convicção, fazendo todas a olharem com cenhos franzidos, sendo o de Yara o que mais expressava surpresa.
Para de ler minha mente! — bradou em consciência.
Não pude evitar, é mais difícil me controlar quando a pessoa está confusa...
Eu não estou confusa! — O repreendia com o olhar, por ainda estar na mente dela, mas os dois sabiam que seu comportamento se devia ao fato de ele estar certo.
Quando quiser conversar sobre ele, eu estou aqui. — “Sempre preste ajuda, seja ela qual for”.
E o que você sabe sobre...?
— Chegamos — indicou a marciana, depois de descerem um lance de escadas de um material que parecia mármore, quando a luz solar ofuscou seus olhos com toda sua potência. — Aqui temos o pátio real, e o salão comunal dos moradores do castelo, onde são feitas todas as refeições.
Primeiro se via o salão, sua extensão grotesca pedia que pilares robustos segurassem o teto. Várias mesas redondas estavam dispostas para que as pessoas saboreassem todas as comidas com comodidade. Em uma lateral do salão se via uma grande mesa, cheia dos mais variados pratos que Fogo poderia oferecer, tendo em seu lado paralelo uma abertura completa para um pátio ainda maior com vista ao ar livre, onde as pessoas sentavam nas mesmas mesas redondas para desfrutar do sol.
— Sirvam-se à vontade — concluiu a mulher, e retirou-se tão rápida que pareceu evaporar.
Os três apressaram-se em encher as bandejas também disponibilizadas na mesa e se dirigiram a um lugar do pátio, perto de uma árvore frondosa. Enquanto andavam, as pessoas pareciam nem os perceber ali. Escolheram o lado de fora do salão para que se sentissem menos presos, sensação trazida pelas espessas paredes do castelo rochoso.
O sol visto de Fogo era mais ameno que da Terra, por causa principalmente da distância maior, além das nuvens de poeira que pairavam pelo céu. Vislumbrando o cenário ao redor, Dragon avistou objetos que se moviam pelo ar, numa altura elevada demais para que ele as identificasse. Safira constatou que as pessoas ali eram de origem humilde, pela forma que se portavam. O castelo deve abrigar aqueles que precisam de uma moradia, isso explicaria seu tamanho... E Yara depressa soube que haviam muitos terráqueos ali, os idiomas que usavam era um ótimo início disso.
Os três conversavam acomodados como podiam à mesa de pedra polida, dividiam as percepções que tinham a respeito daquele lugar novo. Quando as dúvidas pareceram aumentar, foi ali onde uma jovenzinha animada os encontrou.
— Dragon! — gritou Xiang Fei, ainda longe. Com toda sua disposição e rapidez, num instante encurtou a distância entre eles e foi logo sentando no assento vazio ao lado do fera. — Bom dia, Yara e Safira. Como estão? Você dormiu bem, Dragon?
— Nós estamos ótimos e dormimos como anjos. — Enquanto os outros responderam com gentileza, a guardiã foi mais direta, sendo censurada no mesmo instante pela moça de cachos esverdeados. — Digo, bom dia, querida, poderia nos falar algo sobre a reunião que está acontecendo neste exato momento?
— Eles estão fazendo uma votação para decidir o futuro de Fogo — respondeu num tom tão lento quanto o mastigar do homem de branco, o qual ela observava comer como se estivesse hipnotizada. Talvez fosse a curiosidade de saber suas feições por baixo da máscara de ossos, a qual ele não retirava nem mesmo para se alimentar.
— Como assim? Vão escolher um novo líder? — indagou Safira, atraindo a atenção da ígnea de olhos sombrios como uma noite sem estrelas, mas que brilhavam de alguma forma.
— Não, eles estão escolhendo entre continuar com nossa cultura movida a vapor ou mudar pra coisas mais tecnológicas — sanou e baixou a voz à medida que se aproximava mais da mesa, como se quisesse lhes contar um segredo. — Eu mesma prefiro a tecnologia, não que eu entenda muito como ela funciona, mas meu pai Tempe e meu maninho Lili querem isso e eles sempre sabem o que fazem. Tô torcendo mesmo é para que a votação acabe em empate, assim quem vão decidir serão os próximos Guerreiros Ferozes, e eu serei uma deles.
— Espera, você vai competir nesse torneio também? — Com um tom acima do que estava acostumado a expressar, questionou Dragon.
— Óbvio que sim, pelo menos, é o que eu quero... — concluiu baixando a cabeça. Aquela cena lembrou as duas mulheres de quando eram tão novas quanto Xiang e nunca imaginavam ser quem estavam se tornando. Nostalgia, a qual foi quebrada pela repentina exaltação de Fei. — Aah! Me pediram para lhes explicar algumas coisas sobre o castelo...
— Pois não... — pronunciou Yara, percebendo que a garota ansiava por um indício de que prestavam atenção.
— A parte que vocês dormiram, junto com o salão de banquetes, biblioteca, portal interplanetário e tudo mais, são apenas para os considerados da elite de Fogo — explicava apontando a escada pela qual chegaram ali, bem próxima ao salão comunal onde as pessoas ainda transitavam, assim como ali no pátio.
Então somos da elite. — Safira se gabou com incredulidade, mas satisfação.
— Aqui onde estamos é o centro do castelo, por isso fica o pátio. Dos lados são as acomodações e outras mordomias destinadas aos servos deste lugar, é onde eu moro. — Era possível ver duas escadarias, uma de cada lado, que davam para corredores longos. — E, por fim, a parte de trás do castelo, a moradia dos desabrigados de Fogo ou refugiados de outros planetas.
A garotinha explicou bastante coisa à medida que iam fazendo ainda mais perguntas. Algumas vezes, eram interrompidos por interrogações aleatórias do fera, como o momento que ele indagou sobre o que seriam os objetos voadores esquisitos, pergunta que recebeu como resposta apenas: “Depois eu vou te mostrar”. Outras vezes, eram parados por terráqueos que reconheciam Yara e sua fama como guardiã, o que passava a chamar muita atenção.
A última das interrupções foi quando três conhecidos deles se aproximaram, trazendo consigo alguns olhares curiosos e um cheiro intenso de primavera.
— Como foi a reunião? O que decidiram? Deu empate, né? — Fei foi a primeira a percebê-los se aproximar e os metralhou com perguntas antes mesmo que se sentassem.
— Xiang, vamos, deixe-os conversar em paz. — Arícia a chamou com firmeza e, diante de sua imponência, a garota nem ousou desobedecer à serva mestra.
— Depois você me fala, Dragon — murmurou manhosa para o fera, levantando à medida que José se acomodava ao lado da namorada.
— Se precisarem de mim, é só me procurar. — A marciana deu sua deixa e retirou-se com Xiang.
— Como foi a reunião? — Yara questionou da mesma forma que a menina há pouco.
— Acho que vou deixar para o bruxo responder essa. — Fire beliscou uma das frutas que a guardiã havia deixado em sua bandeja. Via-se sentado entre as duas terráqueas.
— Então... — Quando todos fitaram o rapaz loiro, perceberam seu súbito ar de preocupado, o qual os contagiou com facilidade. Algo havia começado a perturbar sua consciência de repente. — Acho melhor termos essa conversa em outro local...
Espero que estejam gostando do drama e do suspense. Deixem a estrelinha e seus comentários. Peço que compartilhem com quem conhecem.
O que aquele Xanthe esconde? Qual será o resultado do Torneio Feroz? Dragon e Fire serão capazes de formar uma amizade? O que José irá contar para o grupo e está lhe deixando preocupado?...
-José JGF
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