Prólogo


A saia do vestido girou no mesmo ritmo do corpo femino, abraçando as curvas dela, moldando cada mínimo centímetro de seu corpo, conforme ela era guiada naquela dança silenciosa.

Tendo o vento da noite agitando seus longos cabelos negros, assim como fazia o mesmo com as mechas loiras e medianas do rapaz, que abraçava a cintura dela com possessão, seus dedos pressionando-a e a mantendo próxima de seu corpo, conforme os corpos pareciam reconhecer um ao outro, em passos ensaiados, de uma música que tocava apenas em suas cabeças.

Ive ergueu a cabeça para contemplar o céu carregado de estrelas, que eram as únicas testemunhas do casal de amantes.

Ela abaixou o olhar, observando as íris escuras do loiro, que a observavam com atenção, as íris onix brilhando, como se ele a estivesse contemplando, quase como se ela fosse uma divindade, mesmo que Ive soubesse que ele era quem pertencia aos divinos.

Tentou se lembrar em que momento exatamente ela tinha ido parar ali. Só os dois, no topo de uma montanha, onde a única luz que permitia que eles pudessem enxergar um ao outro era a lua cheia.

— Isso é um sonho? — Perguntou com um pouco de receio, pressionando um pouco mais seus braços em torno dos ombros dele.

— Sim.

A resposta dele veio como um tapa em seu rosto, ela não soube dizer se era por conta do vento gelado, mas sua face começou a queimar. Não da forma como queimava quando ela se sentia tímida diante dele. Não, agora a queimação alcançava seus olhos, que queimavam com as lágrimas que ameaçavam despencar a qualquer instante por sua face.

Apesar de sentir as coisas com intensidade, ela sabia que aquilo era mais um daqueles sonhos vividos que costumava ter. Só esperava que por uma vez na vida, fosse mentira. E que ela realmente estivesse diante dele.

Por que seu coração tinha de bater com tanta intensidade? Por que ele parecia ter tanto poder sobre ela, que a mesma não conseguia nem sequer suportar tanta paixão? Como se aquilo tudo fosse manipulado, para que ela nem ao menos soubesse como terminou apaixonada por alguém que nem sequer existia.

— Por que continuo sonhando com você depois de todos esses anos?

— Porque eu quis assim. — Ele parou de guiá-la na dança, erguendo a destra para acariciar a face da morena, deslizando o polegar sobre uma lágrima solitária que escorreu pela face dela. — Não faça essa cara, eu sempre deixei claro que você me pertencia, não pode se livrar de mim, mesmo que queira.

Era doloroso, Ive sentia como se não fosse ela a controlar suas próprias emoções. E apesar de estar se sentindo muito feliz, uma parte no fundo de sua mente, alertava que aquilo era extremamente errado. Ela não podia ter aquele sentimentos por alguém que não existia além da criação de sua mente.

— Isso não está certo. — Ive tentou se afastar dele, mas o aperto em seu quadril se intensificou. Mesmo que ele a estivesse segurando apenas com um dos braços, ela não conseguiu se afastar nenhum centímetro. Se obrigando a espalmar as mãos contra o peitoral do loiro, numa tentativa de se afastar do aperto dele. — Mikey, me solta!

— Não! — Apesar da expressão impassível, ela notou um lampejo de ódio percorrer os olhos dele, aumentando ainda mais a pressão no quadril dela, de forma que arrancou um gemido doloroso da garota. — Eu já disse que você é minha, Ivelle.

— Não! Eu não quero! — A morena fechou as mãos em punho e socou o peitoral dele, o que parecia não surtir nenhum tipo de efeito sobre o homem.

Aquele era o ponto em que o sonho sempre virava um pesadelo.

Ive sabia exatamente o que iria acontecer, porque ela já tinha vivido aquele mesmo cenário milhares e milhares de vezes. E como sempre, ela nunca estava preparada pra isso.

Seu corpo se debateu de forma compulsiva contra o dele, mas os braços fortes de Mikey a apertaram ainda mais. Ele deu passos pra frente e ela tropeçou sobre os seus próprios pés, seu corpo cedeu no chão de pedras, enquanto sentia o peso dele sobre si. Era sempre doloroso, a forma como as pedras arranhavam seus braços, seus pés e ela batia a cabeça com força o suficiente para se sentir tonta.

— Eu já disse que você é minha, querida, pare de lutar contra isso. Ambos sabemos o quanto você me deseja.

Não, ela não desejava.

Seu coração parecia amá-lo, mas não era real. Não era um sentimento real.

No fundo de sua mente ela sabia que estava sendo manipulada por ele. Mas não conseguia entender como.

— Mikey, por favor. — Ive choramingou, desistindo de lutar contra a força sobre-humana dele.

Ele pareceu não ouvi-la, enquanto suas mãos habilmente puxavam a saia do longo vestido dela, desnudando suas coxas e se encaixando entre elas. Seu corpo parecia reagir bem aos toques grosseiros das mãos do loiro, que apertavam suas pernas, as puxando para se apoiarem sobre o quadril dele, enquanto Ive sentia sua protuberância pressionar seu centro.

Fechou os olhos com força, as lágrimas caindo quentes por seu rosto.

O ato ia se repetir novamente, era sempre da mesma forma, o mesmo cenário, os mesmos toques, os mesmos movimentos.

Sentiu os lábios dele beijar sua face, parecendo absorver suas lágrimas, como se isso o agradasse de certa forma. Como se ele se alimentasse da dor dela.

Começou a rezar para que aquilo acabasse logo, enquanto suas mãos apertavam as pedras no chão, machucando suas palmas, mas era muito melhor ela se concentrar naquele tipo de dor. Do que no nojo que se espalhava por seu corpo enquanto ele a tocava de forma tão profana, a desfazendo de seu vestido e deslizando seus lábios sobre a pele do corpo dela, cobrindo seus seios com as mãos e a beijando como se ela fosse a coisa mais preciosa dele. Mesmo que seus atos a ferissem, machucassem seu interior, profanassem sua mente, seu corpo e toda a sua sanidade.

Aos poucos, a cada sonho como aquele, ela sentia que Mikey a afundava ainda mais no inferno impuro de seus atos.

Como um deus dos pecados, aquele que a tinha condenado ao inferno eterno.

Mesmo que ela nem soubesse como havia terminado naquela situação. 

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