7 - Clínica Podco


A viagem de trem foi um pouco monótona, especialmente para Halle. Ilya estava atrasado com seus trabalhos de classe e com uns bicos que pegava para fazer. Aproveitou o tempo para tal.

Era a primeira vez que Ilya viajava para uma outra cidade e a primeira coisa de que sentiu falta foi dos sons e odores advindos do mar. Da janela do seu quarto na universidade e também da casa de seu tio, podia avistar o mar, os grandes navios, as pequenas embarcações e o tráfego constante em torno da área portuária de Voln.

– Acorda, Ilya! – chamou Halle – É por aqui.

Ilya alternava sonhar acordado com ruminar cálculos comparativos entre diferenças das realidades da capital e da cidade em que desembarcaram: Dusseloris.

– Ei, ei! – Halle acenava para uma carruagem que passava ali em frente à estação ferroviária.

A pequena carruagem puxada por dois cavalos era modesta e o condutor, lá do alto, cumprimentou – Bom dia! É para onde, senhores?

– Clínica Podco.

– Para lá? – o condutor idoso e com a barba mal feita ponderou parecendo estar em dúvida, coçando a cabeça – Quinze firas.

Quinze firas? – Halle retrucou indignado – Mas isso é mais caro que a passagem de trem...

Antes que Halle prosseguisse em sua tática de barganha, Ilya interrompeu – Tudo bem. – retirou o dinheiro da carteira – Aqui está.

O condutor sorriu para Ilya e desceu para recebê-los na carruagem.

– Por favor, senhores. – abriu a porta, satisfeito, e ambos entraram.

Halle fechou a porta atrás de si e deu logo um soco no braço de Ilya – Como você estraga minha negociação assim?!

– Por acaso, foi seu dinheiro? – Ilya rebateu irritado e devolveu um soco.

Halle deu uma boa gargalhada – Finalmente, uma resposta adequada!

As ruas de Dusseloris eram pavimentadas com tijolos de pedra que faziam com que a carruagem chacoalhasse bastante. Ilya estava impressionado com algumas das construções e com a sensação de espaço aberto que havia na cidade. Avenidas largas e poucos automóveis. Uma boa circulação de carruagens e muitas pessoas montadas em cavalos. Toda cidade era bastante arborizada, porém poucas espécies ainda tinham folhas naquela estação. A maioria destas preenchia o céu com suas galhadas secas que formavam uma trama densa, na medida em que podiam ser observadas em conjunto, em longas filas, a trama de galhos se agrupava formando uma massa cinzenta.

No caminho para a clínica, passaram pelo prédio da prefeitura e o antigo palácio da linhagem dos Dusseloris. A clínica ficava fora do centro, no Bairro dos Pinheiros, onde morava a nobreza durante o período monárquico. Era a região mais elevada da cidade e de lá se avistava todo centro e bairros residenciais e industriais. A maioria das mansões daquele bairro deixou de ser residência. Agora, havia sedes de empresas, clínicas e órgãos governamentais. As exceções eram as moradias oficiais do prefeito e de alguns funcionários públicos do alto escalão.

A Clínica Podco funcionava em uma mansão cercada por uma extensa área verde e uma lagoa. Em seu entorno, uma cerca formada por altas estacas de metal ornamentadas com relevos e que se fechava num portal de mármore. Acima deste, uma bela escultura de bronze em tamanho real retratando um homem montado a cavalo com sua espada erguida para o céu. Sobre o arco do portal, lia-se: Clínica Alexei Podco.

Após identificarem-se na portaria, subiram por uma estradinha de pedras que seguia sinuosa atravessando os jardins até atingir a entrada principal da mansão.

– Bonito isso aqui... – murmurou Ilya.

A fachada tinha quatro imponentes colunas brancas esculpidas num padrão em espiral típico do estilo arquitetônico rebuscado do final do período monárquico. O chão de pedras claras e polidas da entrada funcionava como um espelho. Na recepção, uma senhora de aparência sóbria, cabelos bem presos e óculos de lentes grossas veio recebê-los fazendo ressoar os passos de seus tamancos de madeira. Em seu uniforme, lia-se num bordado de letras vermelhas e capitais, KECHKO.

– Bom dia, em que posso ajudá-los, meus jovens?

– Viemos para uma visita. Gostaríamos de ver o Sr. Exull.

– Perfeitamente. Queiram me acompanhar.

Ilya surpreendeu-se. Esperava um pouco mais de burocracia. Os corredores da mansão eram largos e altos e em seu interior havia poucos móveis, nada de pinturas, decorações, nem mesmo vasos com plantas. Era um lugar frio e sem vida. Tudo muito branco e estéril.

A senhora abriu a banda direita de uma porta alta que parecia bastante pesada. O interior do quarto estava bem iluminado. Havia grandes janelas abertas pelas quais se avistava o verde dos jardins e algumas árvores próximas cujas folhas pequenas balançavam embaladas pela brisa forte.

No quarto, uma cama simples, uma estante repleta de livros e uma escrivaninha com papéis amontoados, tinteiro e dois livros abertos.

Na cama, jazia Exull, dormindo como um cadáver. Sua respiração mal podia ser notada.

– Ele dorme quase o dia todo. – sussurrou a Sra. Kechko.

– Mas poderemos falar com ele? – indagou Ilya ansioso.

– Falar? Sim... Agora, se ele vai responder... Não posso garantir.

– Bem, – ponderou Halle – não queremos incomodá-lo. Há um horário melhor, Sra. Kechko? Talvez antes das refeições?

– Isso não faria diferença, meu jovem, sua alimentação é venosa. Entenda, – a senhora ajeitou os óculos – ele tem um caso grave de hipomanismo, quero dizer, o mais alto grau e, infelizmente, já se encontra em estágio terminal...

– Sim, imaginava, afinal, todos Elkins sofrem desta condição, não é mesmo? – a indagação de Halle foi retórica.

A senhora não respondeu e fez menção de sair.

– Espere. – pediu Ilya – O Sr. Exull toma soro manotônico?

– Sim, claro. É administrado três vezes ao dia. Logo mais um enfermeiro virá. Quem sabe, meu jovem? Depois da injeção ele pode até ficar mais propenso a reagir.

Halle e Ilya aproximaram-se da cama. Exull era alto e magro, como todo Elkin, mas estava muito mais magro que o normal. Podiam ver claramente os ossos nos braços e a pele tinha aparência pálida e ressecada. O rosto tinha muitas rugas, mas a expressão de descanso passava uma impressão de paz de espírito. O crânio avantajado tinha cabelos brancos apenas na lateral e cortados bem curtos. Já suas costeletas eram fartas e desciam até a base do queixo com longos fios brancos escorridos para os lados. Era raro um Elkin ter algum cabelo no topo da cabeça. Mesmo crianças e mulheres apresentavam aquela calvície peculiar. As mãos com apenas quatro dedos longos e finos causavam certo estranhamento. Talvez, fosse a parte do corpo dos Elkin menos reconhecida como humana.

– É muito triste esta condição... – lamentou-se Ilya, sentido mal estar ao observar um ser numa condição tão debilitada.

– Com licença, Sr. Exull, pode nos ouvir? – testou Halle.

Não houve resposta.

– É melhor esperarmos para ver como reagirá ao soro.

Halle fez que sim e dirigiu-se para a janela. A vista era para o belo jardim na parte posterior da mansão. Outros pacientes, a maioria humanos e uns poucos Elkin, passeavam e conversavam. Havia muitos bancos com pacientes sentados e enfermeiros vestidos de branco acompanhavam pacientes com dificuldades de locomoção.

Ao mesmo tempo, Ilya deu uma olhada nos livros da estante. Quase todos eram edições no idioma Elkin, Haal-calzox-ox, que significava literalmente: céu de luz. Em Durkheim e mesmo em outras nações, o idioma era simplesmente chamado de "a língua dos Elkin".

Ilya sabia apenas algumas palavras e frases, pois além de ser uma língua complexa, se comparada com o Durk, ele também não gostava de estudar línguas.

Na escrivaninha, contemplou algumas folhas escritas com os caracteres complexos do Haal-calzox-ox. Diferente do alfabeto Durk, que continha vinte e quatro letras, a escrita Elkin utilizava um conjunto de mais de dez mil ideogramas. Já a matemática Elkin era bastante interessante, pois é toda baseada no sistema octal, enquanto, em seu mundo, todos os povos desenvolveram tradições matemáticas em base decimal.

O silêncio foi quebrado pelos passos da enfermeira que penetrou o recinto. Era uma moça bonita e isso surpreendeu e animou Halle, que esperava a chegada de um enfermeiro. A moça sorriu para Halle e Ilya, mas foi em Halle que concentrou suas atenções. Também se lia bordado em seu uniforme: KECHKO.

– A Srta. é parente da Sra. Kechko?

– Sim, ela é minha mãe.

– Engraçado, não notei a semelhança. – observou Halle e pensou "Já conheci minha sogra, nada mal".

– É, na verdade, puxei mesmo o lado do meu pai – respondeu a moça que tinha longos cabelos alaranjados, olhos de íris púrpura clara, nariz fino e sobrancelhas finas e delicadas. – Papai é Karis, mamãe é Durk.

– Sim, claro, Srta. Kechko. Sou Halle Bremmen. Este é Ilya Gregorvich.

A bela enfermeira carregava uma valise na mão esquerda e estendeu a direita para cumprimentá-los.

– Catarina Kechko.

Em seguida, colocou uma valise sobre a cama, abriu-a, removeu uma seringa e uma pequena ampola contendo um líquido esverdeado, que parecia brilhar com ligeira luz própria. Sugou o líquido para a seringa, apontou-a para o alto dando uns petelecos e pressionou até saírem, na ponta da agulha, duas gotas.

– Olá, Sr. Exull, como vai? – disse depositando a seringa preparada sobre a valise. Tirou um cordão de borracha e amarrou no braço do enfermo para evidenciar as veias. Ao virar a parte anterior do braço para cima, este se mostrou com dezenas e dezenas de marcas de agulha. Ver isto deixou Ilya um pouco enjoado.

– Aí está! – disse animada, após finalizar a administração.

Imediatamente, os olhos de Exull se abriram olhando primeiro para o teto. Depois, percorreram o seu redor, ainda parecendo zonzos como estivessem saindo de um transe. A respiração também se modificou, agora, mais rasa e ruidosa.

Ilya cruzou olhares com o velho Elkin enquanto Halle seguia Catarina até a porta.

Os olhos do velho tinham pouco brilho, eram secos, de aparência amarela e leitosa. Seu olhar parecia cansado. Sob esforço, seu rosto virou-se apenas uns poucos centímetros.

– Olá, Sr. Exull, meu nome é Ilya Gregorvich. Trouxe esses óculos para o senhor ver. Imaginei que o senhor pudesse me dizer algo a respeito.

As sobrancelhas de Exull se arquearam, talvez estivesse surpreso. Ele sussurrou algo e Ilya aproximou o ouvido para tentar escutar melhor. As palavras mal saíram, mas o jovem teve certeza que ele falava no idioma Elkin.

– Halle! – Ilya chamou irritado – Pode parar de paquerar a enfermeira e me ajudar aqui?

Halle virou-se com um olhar furioso, mas parou ao ter sua mão tocada pela enfermeira, que lhe ofereceu um papel. Ela despediu-se e Halle sorriu ao ver que havia um número de telefone no papel.

– Ela me deu seu número! – Halle disse com um sorriso bobo nos lábios.

Ilya, levando em consideração o Sr. Exull, segurou-se para evitar um bate-boca com Halle. Ao olhar novamente para Exull, Ilya desmontou – Veja só! Ele já retornou ao estado anterior.

Baixou a cabeça e teve vontade de esmagar os óculos nas mãos.

– Espera, moleque. – Halle olhou furtivo para a porta – Vai ali e veja se não tem ninguém chegando.

Ilya obedeceu, imaginando o que seu companheiro tramava.

– Limpo. – reportou.

– Então vem cá e me ajuda.

– Como assim?

– Levanta a cabeça dele. – ordenou Halle e retirou do bolso interno uma garrafinha de metal.

– Você vai dar aguardente para ele?!

– Não, frangote, nada disso! Algo melhor.

– O que tem aí?

– Supersoro. – disse baixinho.

Ilya arregalou os olhos – Mas isso é ilegal! Se te pegam você vai para a cadeia!

– Não me diga... Levanta logo a cabeça dele aí, seu mané!

Ilya obedeceu, agora, suando frio com medo de que fossem apanhados fazendo aquilo.

Ilya sentiu os pelos da nuca se arrepiarem ao ver o frasco de supersoro – Mas como... ? – Ilya disse alto e foi interrompido.

– Quieto, frangote! – ralhou Halle baixinho enquanto derramava supersoro nos lábios de Exull.

O líquido possuía altas doses de mana concentrado e brilhava com a intensidade de um raio de sol. Em poucos segundos surtiu efeito. A pele de Exull tomou outro aspecto. Outrora seco e frágil como um galho prestes a partir, tornou-se viçoso e como jovem. Levantou-se de sobressalto, colocou o lençol de lado, pisou descalço no chão gelado do quarto e pediu licença a Ilya, sua voz era rouca e baixa, mas agora audível.

Ilya saiu da frente e Exull caminhou mancando em direção à escrivaninha.

– Desculpem, mas preciso terminar esta carta enquanto posso!

Exull releu as duas páginas escritas, pegou o tinteiro e pôs-se a escrever. Depois de alguns instantes, interrompeu a escrita, dirigiu-se a Ilya estendendo a mão magra com apenas quatro dedos. – Deixe-me ver os óculos, rapaz – pediu com urgência.

Examinou-os e colocou-os – Ah, sim! Formidável! – exclamou excitado como um garotinho ao ganhar um presente. Sorriu e voltou a escrever a carta, mais duas páginas até que se deu por satisfeito. Exull levantou-se, mas sentiu os músculos e ossos reclamarem – Venha aqui, rapaz – pediu a Halle.

Halle aproximou-se com cautela e foi surpreendido por um forte abraço – Obrigado, rapaz! Agradeço por ainda haver gente corajosa e, também, que haja atividades ilegais...

Ilya ficou muito contrariado e decepcionado ao ouvir aquilo. Sempre pensou que os Elkins representassem a moral mais elevada do mundo e escutar Exull apoiando a ilegalidade era simplesmente chocante.

– E você, meu jovem? Que cara é esta?

Ilya olhou para baixo sem ter certeza do que dizer.

– Antes que me pergunte, – antecipou-se Exull – sei sobre os óculos: para que servem e quem os construiu.

O estudante ficou ansioso e esperançoso.

– É um SOGEP! – tinha agora uma vivacidade no olhar e sorria de leve.

– Um o quê? Isso é Elkin, Halle?

O veterano deu com os ombros.

– Claro que não! – respondeu Exull – É uma sigla para Sistema de Observação e Gravação Extra-sensorial Pessoal, SOGEP.

– Sim, vi algo esquisito através dele.

– O quê? – Exull segurou o ombro de Ilya com seus quatro dedos aracnídeos.

– Um homem que conversou comigo e tentou me comprar os óculos. Através deles eu o vi como um monstro todo desfigurado.

– Vorn-Nasca!

– Tem certeza? – Halle estava alarmado.

O Elkin corcunda encolheu os ombros – Bem, não... É só um palpite.

– Ótimo! – desesperou-se Halle – Um Vorn-Nasca interessado nisto! Excelente!

Ilya percebeu a tensão no ar, mas não fazia ideia do que estava havendo.

– Mas o que é um Vorn-Nasca?

Ambos olharam para o rapaz como se ele fosse um alienígena.

Halle explicou – O garoto é um prodígio da matemática, mas não sabe sobre nada mais neste mundo. Lendas, história, mulheres... Entende? Somente suas equações.

Ilya ficou vermelho, contrariado e explodiu – E, por acaso, é algum crime não saber um assunto?

– Vorn-Nascas são agentes malignos criados pelos Wlegdars há séculos atrás. Tentou-se exterminá-los, mas ainda sem sucesso.

– E o que... – Ilya foi interrompido por Halle.

– Não temos tempo para isso, moleque, depois explico, combinado?

Ilya deu com os ombros.

– E como esses óculos foram parar nas mãos de vocês? – quis saber Exull.

Halle cortou Ilya, pois temia que se delongasse. Contou uma versão resumida e adequada. O rapaz deu com os ombros, mas reconheceu que Halle era bom com as palavras.

Exull devolveu os óculos e voltou a deitar-se na cama. Ajeitou o lençol apressado, fingiu estar novamente fraco e neste instante a Sra. Kechko entrou no quarto.

– Sra. Kechko... Está encantadora. – disse Exull bem baixinho.

– Oh, Sr. Exull, vejo que as visitas lhe deram motivação para uma conversa.

– Ah, sim. Bons rapazes. Trouxeram novas de meus colegas da universidade.

– Que bom. Fico feliz então. Vim pedir para que partissem, mas como hoje o Sr. Exull parece bem melhor, vou deixar que fiquem um pouco mais.

– Obrigado, Sra. Kechko. – agradeceu o ancião. Ilya e Halle seguiram o exemplo. Assim que ela saiu, Exull tomou os óculos das mãos de Ilya, sentou-se na cama, torceu uma das hastes e demonstrou.

– Vejamos o que o Sr. Bertonk Neto, andou gravando. – o mestre Elkin posicionou os óculos na face olhando para o infinito através das lentes.

– Oh, sagrados ancestrais! – proferiu horrorizado – Isto é mau!

Observou por mais alguns instantes e confirmou – Muito mau, de fato!

Levantou-se depressa, foi até a escrivaninha, dobrou os papéis, fez uma anotação adicional e entregou tudo a Halle. – Aqui, Sr. Bremmen, por favor, entregue ao destinatário o quanto antes.

– Claro.

– Lastimável... – resmungou Exull. – Humanos são assim... Ora brilhantes demais, ora cheios de opiniões demais, leis demais, guerras demais, atrocidades demais...

Ilya ficou incomodado com a discriminação e retrucou – E a família dos Elkins, com seus Wlegdars, fizeram muito mais guerras do que nós!

Halle lamentou balançando a cabeça pensando "Ilya e sua boca..."

Gregorvich tomou um sopapo na orelha tão veloz e pesado que não pareceu vir de um velho fraco à beira da morte.

– Não gosto de violência, rapazinho, mas isto é um atalho para você aprender a saber sobre o que fala, antes de falar.

Ilya ficou zonzo e sem graça. Sentiu raiva, mas também vergonha e calou-se introspectivo.

Exull virou a cabeça de lado e estremeceu. Halle notou que o Elkin havia visto algo que o alarmou, mas Ilya achava que era por causa dele e deu um passo atrás.

Exull levantou-se, torceu os óculos e foi para a janela.

– Maldição! Parece que nosso inimigo resolveu segui-los.

Os estudantes chegaram à janela e viram o homem vestido de preto levantando seu chapéu para cumprimentar um dos enfermeiros no jardim.

– Certamente um Vorn-Nasca. – confirmou Exull com um nó na garganta.

O ancião devolveu os óculos ao dono e apressou-se para a estante. Dela retirou um livro e deu a Halle. – Você lê Haal-calzox-ox, certo?

Halle fez que sim.

– Ótimo! Saiam daqui agora. Vocês precisam fugir daquele sujeito e levar esta carta.

Os viajantes receberam a notícia alarmados. A situação de perigo eminente fez o estômago de Ilya torcer e Halle reagiu com suor frio na palma das mãos.

– Obrigado, mestre Exull. – agradeceu Halle.

– Eu é quem agradeço! Duplamente. E, se sobreviverem, voltem para me visitar com um pouco mais daquele soro.

Ilya engoliu seco e murmurou – Sobrevivermos?

– Vamos, frangote. – Halle puxou-o pelo braço – Temos que dar o fora daqui!


***

Ilya parou exausto. O cansaço era tão grande que já superava o medo que tinha de ser alcançado pelo tal Vorn-Nasca. Halle, apesar de fatigado, ainda estava longe da exaustão.

– Vamos, moleque! – chamou, mas notou que o rapaz não prosseguiria. Retornou, pegou-o pelo braço e arrastou-o adiante. – Você realmente precisa praticar algum esporte...

Ilya sentia fortes dores no abdome e no peito, como se estivesse com uma espada atravessada no tórax.

– Só mais um pouco e conseguiremos um táxi. – insistiu Halle.

Na rua abaixo, avistaram uma carruagem. – Só pode ser brincadeira... – Halle resmungou – É o cara das quinze firas! Vou denunciar este bastardo.

Halle deixou Ilya para trás e correu num pique para alcançar o transporte. – Táxi!

O cocheiro parou. Halle tinha as mãos apoiadas nos joelhos e ofegava. Lá atrás, Ilya estava sentando na calçada, mas logo deitou as costas no chão.

– Olá, freguês! Para onde, desta vez?

– Estação... – ofegava Halle – Para... a... estação... – apontou para Ilya no alto da rua.

– Já entendi. – disse o velho e os levou até a estação de trens.


***

– Por favor, qual o próximo trem para Voln? – indagou Halle no guichê da estação.

O homem grande, encurvado, mal cabia num guichê tão pequeno.

– Dezenove horas, senhor.

"Droga!", pensou o estudante de arqueologia. "Não podemos esperar três horas"

– Aquele trem vai partir para onde? – apontou Halle.

Havia um trem na outra plataforma que estava sendo carregado com bagagens.

– Para Kassev, via Krarnov. Sai em quinze minutos.

– Duas passagens para Kassev, então.

– Oito firas.

Halle pagou e seguiu apressado na direção de Ilya. Ele estava perto da entrada da estação vigiando para ver se o homem de preto estava chegando.

– Viu algo?

– Não.

– Muito bem, aquele é nosso trem. Vamos!

– Mas Voln é para lá! – apontou Ilya.

– Vamos para Kassev. De lá tomaremos um trem para Voln.

– Mas eu preciso entregar meu trabalho.

– Pare de reclamar e comece a pensar numa nova desculpa para dar ao seu orientador. Vamos logo, nossa prioridade é sobreviver, lembra?

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