19 - Confronto com o Monstro
Da noite gelada, emergiu uma sombra sinistra que perseguiu Ilya a partir da casa de Marya, em perfeito silêncio. O rapaz sentia uma inquietação, arrepios e frequentemente olhava para os lados e para trás procurando por um perseguidor que não podia ver. Sentia um medo inexplicável.
Somente ao chegar à região das docas, próximo a um cabaré movimentado e bem iluminado, Ilya conseguiu perceber a figura que caminhava atrás de si mantendo distância. Estava mesmo sendo seguido! Apertou o passo, mas os passos rápidos deram lugar a uma corrida e, depois, a uma perseguição frenética.
O rapaz ficou sem fôlego e avistou a pensão, ainda distante. O perseguidor, cada vez mais próximo, o alcançaria a qualquer momento. Como último recurso, Ilya tentou uma manobra que praticava na escola para escapar de rapazes que o perseguiam. Calculou o momento certo e agachou-se por completo. Como esperava, o perseguidor trombou consigo, perdeu o equilíbrio e foi ao chão. Ilya levantou-se e saltou por cima do homem olhando-o sob a penumbra. Seu sangue gelou quando, por um momento, seus olhares se cruzaram. Era o Vorn-Nasca. Estava perdido!
A criatura agarrou seu pé, mas por sorte, o calçado estava frouxo e saiu. A meia ficou logo encharcada de uma umidade gélida e pegajosa. Ainda assim, correu com tudo, conseguiu chegar mais perto da pensão a gritar por socorro. O Vorn-Nasca alcançou-o. Puxou seu casaco e depois ergueu-o pelo pescoço. Ilya estava sufocando.
– Um pouco sem sorte hoje, não é? – disse entre dentes.
Ilya agonizava e balançava os pés violentamente. Chute ou outro atingia o Vorn-Nasca, mas era como um bebê tentando desvencilhar-se de um adulto. O captor segurava-o com apenas uma das mãos. Com a outra, subtraiu a mochila do rapaz. Não tencionava matá-lo. Antes que Ilya sufocasse, foi solto no chão.
Ele inspirou desesperado e tossiu violentamente. Enquanto isso, o ser sombrio retirava os objetos da mochila espalhando-os pelo chão.
Irritado demandou – Dê-nos o SOGEP!
Ilya continuava tossindo com um mão na garganta. O monstro pisou no ombro esquerdo, pregando-o ao solo e começou a revistá-lo em busca dos óculos.
Sonho e realidade se misturaram na mente do rapaz. Julgou ser um sonho quando ouviu a voz grave pronunciar energicamente uma torrente de palavras desconhecidas. Em seguida, a pressão sobre seu ombro cessou.
Era o estrangeiro, o sacerdote maltisseíta. Tinha em mãos um latão perfurado contendo uma chama tênue. Dele, emanava uma espessa fumaça. Um forte cheiro incenso invadiu as narinas de Gregorvich.
A voz do maltisseíta prosseguia firme e parecia dar ordens – IMU POIRE ARBAVET!
O Vorn-Nasca começou a tossir e guinchou como um porco prestes a ser abatido.
– IMU POIRE ARBAVET! – comandava Catermei.
Ilya observou que o Vorn-Nasca se contorcia e recuava na medida em que o maltisseíta a se aproximava. O monstro não resistiu e bateu em retirada.
Catermei colocou o incenso no chão e ajudou Ilya a erguer-se.
– Três Caras estar bem?
O rapaz fez que sim.
– Entendo agora, muitos problemas você possuir. Atrair força das sombras muito ruim para você.
– Obrigado... – mal conseguiu pronunciar em meio a tossidos.
Catermei juntou os pertences de Ilya que voltou a calçar o sapato. Apoiou-se no maltisseíta para retornar à pensão.
– Incenso poderoso esse seu... – comentou.
– Incenso apenas veículo. Força verdadeira da fé pronunciada. Incenso incômodo somente. Exorcismo de sombras, pela fé exercer.
– Compreendo.
– Vamos, Três Caras. Chá e descanso para você.
Antes de dormir, naquela noite, o rapaz refletiu sobre o sentido daquilo tudo. Como pode ter tido tanta sorte assim? Ou azar... As palavras de Catermei ecoavam em sua cabeça. Antes de deixá-lo, ele dissera – Criador ter olhos para você.
Existiria mesmo um Criador? Alguém que influenciava sua vida e seu destino? Mil outras perguntas surgiam incessantes até que foi vencido pelo cansaço e adormeceu.
No dia seguinte, não se encontrou com Catermei no desjejum. Usando o gorro com protetores de orelha bem afundado na cabeça, foi até a recepção. Lá recebeu o bilhete deixado por Masha. Indagou ao balconista-caramujo sobre o maltisseíta.
– Ele se foi... Sujeito estranho, mesmo para um maltisseíta. Tomou um navio de volta a Solsisqua.
– Bem, obrigado.
Saiu sem saber o que faria. O Vorn-Nasca sabia onde estava e não poderia dormir ali outra noite, especialmente, sem Catermei por perto. Precisava achar Halle e dar o fora de Voln, o quanto antes. Mas como?
Era uma manhã fria. Uma Nona, dia de folga em toda Durkheim. A universidade estaria fechada e não conseguiria procurar por Masha. Ilya supunha que Halle estivesse com ela. Apalpou o pescoço dolorido e seguiu pelas ruas lamacentas, devido à neve derretida, até a Avenida Imperial, rumo ao centro da cidade.
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