Parte III

     O dia de domingo amanheceu e o conflito da noite anterior se manteu no ar. A casa estava dividida, enquanto Bárbara se mantinha ao lado de Agatha, Leonard tinha ficado na sua e Sammy estava por si mesma no meio daquele caos.

      Na manhã de todos os domingos, a família ia ao culto, já que o pai da família era pastor e dava as palestras eles nunca perdiam um só dia. Todos adoravam Leonard, aqueles que sempre iam pra igreja não se cansavam de ouvi-lo falar sobre o sagrado, e aqueles que a visitavam pela primeira vez se encantavam com a facilidade que o pastor tinha pra falar sobre assuntos tão complexos das escrituras com tanta leveza.

    Todos pareciam estar contentes de estar ali, menos Samantha que estava desde o começo do dia emburrada. Ela queria muito usar calças confortáveis e uma camisa normal, mas sua mãe insistia que pra ir a igreja era preciso se estar de vestido ou saia, aquela era a roupa tradicional e dizia a garota que se ela queria honrar o lugar, ela deveria se vestir como tal.

    Claro que Sammy não aceitou isso, tinha tanta importância assim a roupa que ela usava?

     Por que Deus daria a mínima pro jeito que ela se vestia? Ela suspirou fundo e tentou disfarçar melhor sua cara emburrada quando sua mãe a encarou com frustração.

      Se eles acharem que sou inútil e teimosa, é capaz de me considerarem um desperdício de espaço e quererem me mandar pro céu. — pensou a garota com medo. Hoje a igreja estava mais barulhenta do que costumava ficar em dias comuns, às senhoras viravam umas para as outras quando achavam que ninguém estava olhando e cochichavam sem parar.

    — Você ficou sabendo do sumiço da família Stone? — Sammy escutava uma senhora dizer a outra.

   — Fiquei Mary, e tem mais pelo visto não só não tiveram uma prova em 2 anos, como também estão mudando o detetive encarregado do caso.

       A outra senhora ao ouvir isso ficou chocada. Subitamente Samantha percebeu sobre o que estas pessoas estavam falando, a família Stone era frequentante da igreja, eles vinham todo domingo participar do culto, eram pessoas muito boas e tinham uma tímida filha.

        Sua mãe e seu pai lhe disseram que os dois foram encontrados mortos em suas casas, e a filha do casal acabou sendo dada como desaparecida; já fazia quase 2 anos do caso e nada havia sido resolvido, era um daqueles tipos de crime sem nenhuma evidencia, e pistas que só davam em becos sem saída.

       A polícia estava dando o seu melhor, mas um caso como esses era sempre complicado de resolver, ainda mais depois de ter se passado tanto tempo.

        A igreja inteira estava comentando sobre a chegada do novo detetive na cidade e de que ele assumiria o caso da família Stone. Agatha parecia brava e a mãe de Sammy parecia chateada com toda aquela confusão na igreja, pois ninguém estava realmente prestando atenção no culto.

      As horas se passaram e quando todos foram embora eles finalmente puderam relaxar e fechar as portas da igreja. 

       Mas antes que a família pudesse se juntar pra ir embora, uma batida é ouvida vindo da porta. Leonard rapidamente alcança a maçaneta e a abre. Tem uma surpresa ao encontrar um homem alto de feições sérias e cabelos bagunçados.

       O homem dava a impressão de ser um daqueles apresentadores de televisão, além disso, só por sua expressão dava pra ver que ele tinha algo urgente pra se fazer.

       — Olá, meu rapaz, tem algo a tratar aqui na igreja?  — pergunta o pai das meninas, ainda vestindo suas roupas de pastor.

       — Vocês são Bárbara Morgan e Leonard Morgan? — pergunta o homem.

          Leonard segura a mão de Bárbara mais firmemente e dá o seu melhor sorriso para o homem.

        — Eu sou Marco Edwards, o novo detetive encarregado de investigar a morte dos Stone e o desaparecimento de sua filha, posso falar com vocês por um momento?

          A feição dos pais da garota se tornou pálida como o papel, Agatha também parecia pasma, Sammy era a única sem saber direito o que estava acontecendo.

        — Claro que sim, gostaria de entrar Sr. Edwards? — diz Bárbara, enquanto indica um lugar para o detetive se sentar.

     O homem assentiu com a cabeça e entrou na igreja, Sammy e Agatha se mantiveram distantes, embora estivessem morrendo de vontade de espiar o que estava acontecendo, elas sabiam que só um deslize e seus pais podiam ficar bem bravos com elas.

       — Eu achei que a investigação dos Stone já havia sido resolvida. — exclama o pai de Sammy, consternado.

       — Também achamos que sim, mas acontece que havia evidencias demais contra o principal suspeito: O namorado da Sr. Stone, ao investigarmos mais, acabamos descobrindo que ele não pode ter cometido o crime, já que o ferimento das vítimas foi feito por uma pessoa destra. — afirma o detetive, suspirando preocupadamente.

    — Oh, eu nunca teria imaginado...

      Samantha encarou a expressão no rosto de sua mãe e por pouco não caiu na falsa máscara que ela havia posto, uma faceta dolorosa estava escancarado no rosto da mulher, mas a dor que ela tanto parecia querer expressar não chegava aos seus olhos.

        — Tudo bem se eu fizer umas perguntas a você e a seu marido? Eu queria esclarecer algumas das coisas que aconteceram no dia da morte dos dois.

      — Qualquer coisa pra ajudar. — disse Leonard, observando cautelosamente o detetive em sua frente.

     — Sra. Bárbara, segundo o relatório policial, você foi a última pessoa a ver Jordana Stone no dia do homicídio.

     — Está certo detetive... No dia do ocorrido, eu estava de saída da igreja como hoje, escutei alguém chamando o meu nome pela janela de trás da igreja, e corri ao pensando que era Jordana, mas era Clara a sua emprega, que me chamava aos gritos dizendo para que fosse até a casa de sua patroa, ao chegar lá. Eu notei que ela estava... Que ela estava morta.

    — Entendo, e o senhor Morgan estava? — pergunta olhando para Leonard.

    — Eu estava em casa, cuidando das crianças. — diz.

      — Tudo bem, eu ainda tenho mais algumas perguntas, mas não quero incomodar a essa hora, seria um incomodo se eu passasse na casa de vocês amanhã?

       — Claro que não, pode passar amanhã umas 18 horas, estaremos esperando.

        Com isso o homem pareceu ficar satisfeito e saiu da igreja rapidamente, um minuto depois foi como se ele nunca tivesse estado ali. Agatha e Sammy estavam confusas e os pais das meninas atordoados, a única coisa que a garotinha entendeu foi que certamente a chegada do detetive mudaria muitas coisas em suas vidas.

       No caminho todo de carro Bárbara ficou emburrada.

      — Você acha que devemos fazer alguma coisa? — indaga o pai das meninas a sua esposa.

      — Vamos só manter a normalidade por enquanto.

           Chegando em casa a primeira coisa que Samantha quis fazer foi ver Casper, depois de tudo o que aconteceu, a garota estava mais agarrada a seu amigo de quatro patas, mesmo quando ele fazia bagunça agora e insistia em brincar com ela nos momentos mais inconvenientes, ela não se atrevia a brigar com ela, porque agora ela entendia o quão sofrido seria ter de viver sem ele.

      Seu pai tinha conversado com todos da família e decidido que Casper podia ficar vivo que eles dariam um jeito de parar a bagunça dele durante os jogos, e Sammy continuava confusa com tudo isso. Se o que sua família fazia era uma coisa boa, uma coisa pra Deus, porque dava tanto problema, por que Deus não estava os ajudando, então? Enquanto ela se perdia nesses pensamentos, seu pai entrou na sala onde ela estava e começou a conversar com ela.

       — Samantha, hoje não vamos ter os jogos, toda essa confusão não é bom pra isso, por isso não precisa trancar o quarto, ok?

      A garota concordou, mas achou aquilo tudo muito estranho, eles nunca tinham deixado de jogar antes, o que exatamente estava acontecendo e por que seus pais estavam tão assustados?

       Logo após o jantar, Sammy correu para o seu quarto, e embora os gritos e a confusão tivesse sumido, ela ainda não conseguia dormir. Ela não conseguia limitar sua mente e parar com todos aqueles pensamentos e peças de imagens que voltavam a sua cabeça, era como se ela tivesse tudo o que precisava pra chegar a uma conclusão sobre tudo aquilo, mas ela não conseguia ver a imagem completa.

      Além de tudo, ainda havia Agatha dormindo no mesmo quarto que ela, e com a sua irmã tentando matá-la não era como se ela pudesse abaixar a guarda e dormir tranquilamente.

      Samantha só se cobriu toda com o cobertor e tentou manter os olhos fechados, ela sabia que quando estamos de olhos fechados, somos capazes de escutar muito melhor, então ela sabia que se alguém tentasse fazer algo, ela saberia... E dessa vez estaria preparada.

      O dia começou rapidamente, já era Segunda-Feira e as coisas ainda não tinham voltado ao normal na casa, Bárbara tinha passado a manhã toda recolhendo coisas e arrumando a casa, qualquer um que entrasse na casa dos Morgan hoje estranharia, pois a casa parecia ter sido remodelada, todos os quadros e coisas simbólicas haviam sido tirados da parede. 

      O monte de bíblias também tinha sido retirado da sala e sido jogado no porão, a televisão tinha sido colocada na sala e diversos brinquedos, entre outras coisas.

     O que era uma espécie de lugar totalmente limitado agora parecia uma típica casa americana, a família tinha comprado até mesmo carne e Sammy estava super animada por causa disso.

      Sua irmã só a reprovou com o olhar e sua mãe só suspirou com aquele gesto que prometia render uma conversa mais tarde. Tudo isso era uma espécie de preparação pra quando o detetive chegasse e a garota sabia.

      — Sammy, você não pode dizer nada errado. Está bem? Na verdade não diga nada para o detetive, só fique calada. Isso é muito importante. — exclamou sua mãe irritada.

       — Mas e se ele me perguntar alguma coisa? — perguntou inocentemente.

      — Diga que não sabe. — respondeu rispidamente e saiu da cozinha, com um prato de salada.

     As meninas passaram quase o dia todo rezando e estudando as passagens da bíblia, normalmente Sammy esperaria seus pais se distraírem e fugiria para o jardim, iria a seu lugar favorito e passaria a maior parte do seu dia colhendo flores, mas hoje seus pais estavam tão atentos quanto uma águia, o que a impedia de fazer qualquer coisa sobre sua tediosa rotina.

      Ela rezou e rezou, observando as horas passarem no relógio e ansiando pra que ás 18 horas chegassem logo.

      Quando no relógio deu 18 horas todos já estavam a seus postos na sala, como uma maldita família de bonecas perfeitas, todos pareciam já ter decorado seus papéis e como atuariam na frente do detetive, Sammy era a única que parecia exatamente como antes, ela não sabia atuar e muito menos fingir sem alguém diferente daquilo que era.

      A campainha soou e Agatha foi atender a porta, ao abri-la deu de cara com aquele homem alto de feições sérias, ele estava usando agora uma camiseta social e parecia mais desconfiado que nunca.

       Marco Edwards era o tipo de homem que não desistia fácil de alguma coisa depois de ter feito a sua cabeça sobre aquilo, então mesmo que a polícia tenha achado impossível a família Morgan estar envolvida no assassinato dos Stone e no sequestro, a intuição dele continuava lhe dizendo que havia algo ali.

      E ao ver aquela casa ele podia jurar que ela não costumava ser assim, havia brinquedos espalhados por todo o lugar, mas eles pareciam novos, a casa tinha duas crianças e estava tudo um brinco. Quanto mais ele analisava, mas as coisas não batiam.

      — Boa noite Senhor e Senhora Morgan, posso entrar? — pergunta amavelmente.

     — Por favor. — diz a mãe das crianças com um sorriso forçado e fazendo gestos para que Agatha que tinha ficado paralisada na porta, saísse do caminho e deixasse o detetive entrar na casa.

    Ela saiu da frente e Marco entrou.

   — Você gostaria de se juntar para jantar com a gente? Minha esposa estava terminando de por a mesa. — afirma Leonard, e Marco assente.

    Bárbara termina de por a mesa e todos se sentam, Samantha observa desconfiadamente toda a atuação e euforia que todos parecem estar sentindo, mas que ela sabe muito bem ser inexistente. Sua mãe coloca a carne assada em cima da mesa e Sammy olha com cobiça.

     — Sirva-se detetive, fique a vontade. Hoje é noite de carne assada. — diz Bárbara com entusiasmo e Sammy revira os olhos.

     — Muito obrigada, parece delicioso. Mas eu sou vegetariano. — diz Marco se servindo de salada.

    Samantha olha pra ele chocada, já com o prato cheio de carne assada. Como alguém que tem a oportunidade de comer carne assada todos os dias prefere trocar isso por verduras e legumes? — Se perguntava.

     — Samantha pode largar esse prato agora mesmo! — berrou sua mãe, e só então pareceu dar conta da presença do detetive e da besteira que havia feito.

        Sua filha a encarou com raiva e Agatha só sorriu ao ver todas as coisas dando errado.

       — Ela é teimosa Sr. Edwards, insiste em comer carne mesmo quando isso machuca seu estomago depois.

        Sammy abri a boca pra protestar, mas seu pai a silencia com um olhar sério.

        A garota pega outro prato e começa a enchê-lo de má vontade com   verduras. 

        O detetive começa a encarar Sammy com um interesse que a poucos minutos antes era inexistente.  Ele começou a notar que toda a família era bem composta e não havia brechas, a não ser pela garotinha de 8 anos... Ela parecia totalmente deslocada ali.

        — Então, os Stone estiveram na igreja um dia antes da morte deles, eles disseram alguma coisa incomum?

       — Eles estiveram no dia 23 na congregação para se confessarem, mas não disseram nada estranho, ambos estavam indo para casa com sua filha Melanie. Nós já dissemos tudo isso quando fomos na delegacia.

       — Eu entendo Senhor Morgan, muito obrigada pela cooperação. —diz o detetive, com uma expressão ilegível em seu rosto. — Eu já vou indo.

      — Essa é uma estrada perigosa detetive e parece que vai haver uma tempestade, acho melhor passar a noite aqui. — afirma Bárbara, mas o homem parece não achar que aquilo fosse uma boa ideia e Sammy não podia culpa-lo.

        Ela aproveita por um momento em que todos estivessem distraídos e tenta avisa-lo, tenta desencoraja-lo a ficar ali. Ele só sorri em sua direção, e ela começa a pensar que o homem não fosse tão esperto quanto ela achava.

      — Eu vou aceitar senhora Morgan, espero não ser um grande incômodo.

      — De modo algum. Samantha acompanhe o detetive até o quarto de hospedes, por favor. — diz, mas antes que a garota possa guia-lo, ela se aproxima e diz em seus ouvidos, só pra ela ouvir.

      — Sem nenhuma gracinha, querida.

   A garota treme da cabeça aos pés, ela precisa forçar seus pés a funcionarem para que possa levar o detetive, ela até consegue mas seus pensamentos continuam enevoados.

       — Está tudo bem? — pergunta o homem.

       — Está sim... Só estou um pouco cansada. — diz  a garota.

       — O que sua mãe te falou, pra você fazer aquela cara?

            Ela pensou por um segundo quase soltou a verdade sobre tudo o que estava acontecendo a aquele estranho. Só levou um tempinho pra que ela percebesse a quantidade de coisas ruins que viriam a acontecer se ela abrisse a boca.

       — É melhor não saber. — disse abrindo a porta e deixando o quarto como um foguete.

       Não demorou muito tempo para que o que Bárbara havia dito acontecesse, a tempestade veio subitamente e começou a devastar tudo, o vento parecia ser uma força física, as porta batiam sozinhas, as arvores balançavam continuamente e a chuva torrencial caia sem parar.

      Hoje não parecia que haveria jogos, mas tampouco a família veio avisar algo a Sammy. Depois do jantar todos haviam desaparecido completamente.

       Eram 22 horas da noite, quando ela começou a escutar barulhos vindo de algum lugar lá em cima, ela imediatamente entendeu que havia alguém no sótão.

         Samantha caminhou cautelosamente pela cozinha, a casa toda estava escura, por isso ela precisava tomar o dobro de cuidado. Quando ela chegou à lavanderia esbarrou em alguma coisa e o barulho que vinha de cima repentinamente parou. A cordinha foi puxada por ela e a escada surgiu.

       Ela não hesitou por muito tempo e resolveu subir logo de uma vez. Caminhou cada degrau da escada morrendo de medo e virando para trás toda hora com medo de sentir algo ou alguém atrás dela.

        Assim que ela subiu a escada toda, alguém a agarrou e a jogou no chão do outro lado do sótão. Ela não conseguia ver nada pois a pessoa tapava os seus olhos, ela e gritou e logo essa pessoa a soltou.

         Quando ela finalmente foi capaz de abrir os olhos, ela notou que era o detetive Marcos quem estava ali, e que ele respirava aliviado por ver que era a garota ali em cima.

       —Você não deveria estar aqui. — diz a garota assustada.

      — Eu acho que isso também vale pra você... Mas eu não digo nada se você não disser.

        Sammy aceita por não ter outra opção e segue o detetive porta adentro do sótão, morrendo de medo de encontrar algo como na outra vez.

        Mas eles entram na sala e não encontram nada além de poeira.

         O detetive parece focado em algo no seu celular, ele disca alguns números... Parece tentar fazer uma ligação mas nada estava pegando por conta da tempestade. Só umas 02 horas da manhã que a companhia de energia ajustaria a energia que foi cortada por causa da chuva.

      — Brad, aqui é o detetive Marcos Edwards, distintivo: 02235, quando receber essa mensagem, investigue pra mim se a empregada Clara foi a primeira pessoa a encontrar o corpo de Jordana Stone e se ela chamou Bárbara Morgan até o local, é urgente. — diz, deixando uma mensagem na caixa de voz. Só então ele dá conta que aquela garotinha de olhos castanhos o estava observando curiosamente.

      — O que está fazendo aqui em cima, tão tarde? — pergunta.

      — Não consegui dormir por causa do barulho.

      — O que são todas essas ferramentas e por que seus pais não estão aqui? — questiona o homem.

      — Não sei, vou voltar agora. — diz Sammy, mal humorada. Ela não queria se meter nessa confusão que sua família estava.

      — Tudo bem, é Samantha certo? Você pode deixar um bilhete em minha porta se decidir que precisa falar comigo. — fala se virando e entrando mais a fundo naquela sala mal iluminada por lamparinas.

       — É Sammy, e eu não tenho nada a dizer.

        Ela desceu as escadas depressa e correu até o seu quarto, quando chegou lá, Agatha estava deitada em sua cama.

      — O que está fazendo? — disse atordoada.

      — Onde você estava? Se pensa que pode estragar tudo está muito enganada. Eu gosto de como as coisas estão. — exclama Agatha enfurecida. — E você está me dando nos nervos.

    — Eu estava no banheiro está bem? — diz aflita. 

   — Eu não quero você mais no meu quarto, saí, saí. — falou, empurrando sua irmã mais nova até a porta e a jogando do quarto. A porta foi batida na sua cara e ela acabou ali, deitada no corredor com lágrimas de ódio ardendo em seus olhos. Quando as coisas tinham se tornado assim, do que tinha adiantado rezar se as coisas continuavam acontecendo dessa maneira?

      A garota percebeu que nada disso iria mudar se ela não fizesse nada, se ela ignorasse os seus instintos e mantivesse silêncio sobre as coisas que a incomodavam. Ela correu até o quarto de hospedes e bateu na porta daquele em que há poucos minutos ela havia negado a verdade.

     — Sammy? O que está fazendo aqui?

         Ela olhou para os dois lados do corredor e entrou no quarto.

      — Eu vim pra contar tudo o que eu sei.
      Ele a olhou com olhos brilhantes de curiosidade, a verdade é que ele nunca achou que a garotinha sabia realmente de alguma coisa, mas a situação tinha mudado de forma completamente agora.

        — Tudo o que sabe sobre o que? — pergunta assustado.

        — Tudo o que eu sei sobre os jogos sagrados.

      Foi nesse momento que o detetive Marcos soube mais do que nunca que a sua intuição estava certa e que aquela família perfeita, era cheia de buracos e falhas em seus retalhos.

         — Todas as noites acontecem os jogos... Todos participam menos eu, eles dizem que não estou pronta pra isso. — diz Sammy chateada.

         — E o que acontece?

         — Não sei bem, mas acontecem no sótão lá em cima. Então toda noite, as meia noite em ponto, eu tenho que me trancar no quarto. Só consigo escutar barulhos e gritos.

          O homem a olha assustado, o que essa garota está dizendo? Essa era a casa de uma ministra e de um pastor da igreja, não era possível que estivessem envolvidos assim. — pensou aterrorizado.

        — Mas você já esteve lá em cima, viu algo estranho? — pergunta consternado.

        — Eu já vi uma mulher e um homem no sótão, eles estavam mortos.

       — O QUE?! — exclama Marco chocado.

       — Eles... Eles pareciam não se mover, mamãe e papai disseram que eles pecaram por isso... Por isso tinham que ir pro céu. — diz Sammy ofegante e chorando um pouco.

         — Tudo bem... Tudo bem. — disse o detetive abraçando a garotinha.  — Eu vou resolver isso.

        Ele recebeu uma ligação e ficou um bom tempo falando ao telefone, até que se virou e disse a Samantha.

       — Sammy, eu acabei de falar com o meu parceiro, seus pais mentiram sobre o que aconteceu, tem grandes chances deles terem matado os Stone e de terem sequestrado Melanie Stone. Você pode me ajudar?

      A garota olhou-o sem qualquer expressão em seu rosto, isso queria dizer que seus pais haviam assassinado aquelas pessoas, e que tudo o que eles tinham dito pra ela, todas as suas justificativas sobre isso não passavam de mentiras.

      — Eu vou. — disse limpando as lágrimas de seus olhos, de uma forma ou de outra ela se sentia culpada por não ter feito nada e de ter sido deixada levar pelas mentiras deles.

      — Brad, mande reforços para a Avenida Havilliard Park, 105, se tudo bater vamos fazer uma apreensão. — diz o homem no telefone.

       O que será de mim? — perguntou a garota a si mesma, mas só conseguiu pensar em uma resposta.‘’Ela não se importava mais, qualquer coisa podia acontecer desde que isso, desde que os malditos jogos parassem.”

       Já passavam das 02 horas da manhã e Sammy ainda estava incrédula que sua irmã depois de ter friamente a expulsado, não foi procura-la nem algo do tipo, a garota realmente a odiava e ela não conseguia entender o porque, nunca tinha feito nada a ela. 

      — Escute bem. — disse o Sr. Edwards. — Volte para o seu quarto e finja que nada aconteceu, se nos verem nos encontrando assim, vai ser bem ruim... Se descobrir algo deixe um bilhete debaixo da minha porta. — diz já se adiantando e levando a menina até o corredor de novo.

      Ela encara aquele corredor, e não sabe o que fazer. Ela não pode voltar a seu quarto, não pode sair correndo até o quarto de seus pais. É como se tudo fosse um borrão, ela estava em um campo minado e qualquer lugar em que pisasse uma explosão podia acontecer, e seria tudo, tudo culpa dela.

      Acaba decidindo que iria passar a noite na sala de estar, a essa hora todos estariam nos quartos e ela poderia ficar sozinha e em paz por um tempo. Mas antes que ela chegasse na sala, sua mãe passou pelo corredor e a viu.

         — Sammy, onde está indo?

         — Vou beber um pouco de água. — diz com tensão.

         — Ok, Casper está preso junto com os pecadores... Então não o procure, ele está bem.

          — Pecadores? — pergunta Samantha confusa e sonolenta.

          — As cascas vazias, os corpos. — diz a mulher bocejando.

      Sammy a olhou chocada, ela estava falando sério? Como ela podia fazer isso!

        A menina se recompôs e assentiu como se aquilo não fosse nada, começou a caminhar em direção a cozinha, mas logo que sua mãe desapareceu para o seu quarto, ela mudou a direção de seus passos e correu pra sala.

        Ao chegar lá se deitou no sofá de couro marrom e respirou profundamente, que tipo de loucura estava acontecendo em sua casa? Sobrou pra todo mundo no meio dessa confusão, até mesmo pro pobre Casper. — pensou.

      Até que lembrou das palavras que o detetive disse a ela, antes que pudesse sair do quarto de hospedes.

       — Vai ser difícil prendê-los, precisamos de provas. — falou preocupado.

       — Que tipo de provas? — questionou Sammy.

       — Algo como um item da vítima, a arma do crime, ou o corpo propriamente dito. — disse suspirando.

        O detetive Marcos disse que o corpo podia ser usado como prova, e sua mãe tinha acabado de dizer a ela que Casper estava com os corpos, isso deu a Sammy uma ideia terrivelmente arriscada e com uma chance bem pequena de dar certo, mas era a única esperança que tinham.

        Ela se levanta e vasculha a sala a procura de um pedaço de papel e caneta, quando ela finalmente encontra escreve as pressas:

   — Detetive eu acho que descobri uma coisa... Preciso conversar com você. — Sammy.

        Agarrou aquele pequeno bilhete e caminhou cautelosamente, passou pelo seu quarto e viu que todas as luzes já estavam apagadas, significando que sua irmã já estava dormindo.

         O que Samantha não notou foi que alguém estava a seguindo, e que no momento exato em que ela colocou o bilhete debaixo da porta do detetive, ela colocou tudo a perder.

       Sua irmã Agatha achou estranho que ela não tivesse voltado ao quarto, pra onde ela teria ido? E passou por todos os lugares da casa a procurando, até que achou Sammy de frente pro quarto de hospedes, entregando algo ali, ela esperou calmamente até que a garota saísse e voltasse pra onde ela estava antes.

     Correu até a porta e recolheu o bilhete que sua irmã mais nova tinha deixado. Descobriu ao lê-lo, que Samantha estava traindo a todos, ela estava falando sobre os jogos, ajudando aquele detetive, se virando contra sua própria família, e isso não podia ficar assim. Ela começou a andar na direção do quarto de seus pais, eles ficariam sabendo da verdade e então saberiam o que fazer sobre a garota.

      As horas iam se passando e nada de o detetive contatá-la, Sammy começou a duvidar que ele tivesse sequer lido o bilhete, ela estava cansada de esperar, precisava fazer alguma coisa. Quando ela chega ao quarto de hospedes, bate na porta e o detetive ao ver pelo olho mágico que era ela, abre de cara.

     — Samantha? — diz confuso.

    — Eu descobri algo... A minha mãe me disse que os corpos estão com Casper, o nosso cachorro. — fala ansiosa.

   — Sério? E onde está esse cachorro? — fala o detetive, já se virando em direção a porta, a garota segura a manga do seu casaco.

    — Eu não sei onde ele está, mas sei um jeito de achá-lo.

      Ele pisca os olhos, dispersando aquela adrenalina repentina, a garota conta a ele tudo sobre seus planos e ele concorda. Era um plano arriscado e confuso, mas valia a pena tentar, pensaram.

     — Mas o que você faz aqui? Eu te disse pra deixar um bilhete, porque é muito arriscado...

     — Mas eu deixei um bilhete, umas horas atrás eu deixei um bilhete dizendo que precisávamos conversar. — Samantha diz chateada.

    — Isso só pode significar uma coisa, eles já sabem de nós dois, eles descobriram que estamos nós encontrando.

       A garota fica pasma, como eles poderiam ter decobrido e o que fariam agora?

    — Precisamos achar Casper. — diz ela.

      Eles correm pelo corredor e sobem para o sótão, procuram incansavelmente, mas não acham nada. Passos se aproximam e eles não tem tempo para se esconder... Bárbara e Leonard aparecem subindo as escadas, a mulher sorri, e o homem parece preocupada. Mas ambos se movem em sua direção.

     — Eu falei Leonard, que essa garota era um problema. — gritou a mulher a seu marido.

   — Ela não entende as coisas ainda, meu amor. Tenho certeza que depois disso ela vai entender.

        Samantha treme ao escutar seu pai falar essas coisas.

   — Então vocês estão mesmo por trás dessas mortes. — Marco fala irritado.

    — Você foi esperto detetive, descobriu o que os outros não conseguiram em pouco tempo. — disse Bárbara piscando os olhos e abrindo um sorriso radiante e verdadeiro.

    — Por que fizeram tudo isso? — diz Sammy com ódio daquelas pessoas.

    — Já falamos Samantha. Aquelas pessoas eram pecadores, nós a mandamos para um lugar melhor pra que aprendam, elas não merecem estar na terra tendo essas atitudes.

    — Pai! — grita a garota depois de escutar essas palavras. — Você realmente acredita nisso?!

    — Por que vocês mataram os Stone? — pergunta o detetive.

    — Por que André Stone confessou que abusou da sua filha pela 3 vez naquela semana, você acha realmente que ele deveria viver? A mãe de Melanie ficava sabendo dos abusos e só trazia a garota pra igreja. Eles achavam que só confessando faria com que tudo fosse esquecido, perdoado. Pra voltarem mais tarde com mais do mesmo. — cuspiu aquelas palavras dolorosas, e cheias de raiva. — Eles estão melhor mortos. — disse Bárbara friamente.

   — E o que fizeram com Melanie? — pergunta o homem.

   — Ela está segura, é tudo o que importa. — diz Leonard, inspirando profundamente.

    — Não pensem que eu vou deixar isso ficar assim, só a semana passada umas 6 pessoas desapareceram depois de ir a sua igreja... Não vou deixar que escapem depois de tudo o que fizeram. — fala enfurecido.

     — Se eles morreram por pecar, porque vocês merecem estar vivos? —indaga Sammy, com raiva em seus olhos.

     — Porque fazemos isso por um bem maior. — disse Bárbara. — E isso merece ser perdoado.

     Eles avançam na direção dos dois e os prendem, o detetive tenta alcançar sua arma, mas eles são mais rápidos em tirá-la de suas mãos.

    — Onde está Casper? — Samantha grita a plenos pulmões.     

    Seus pais a atingem com um golpe e ela caí no chão, inconsciente.

     Horas se passam até que a garotinha acorde e recupere um pouco de sua consciência, ela olha ao seu redor tentando reconhecer o lugar e pelas maquinas de lavar e o piso de concreto, parece ser a lavanderia.

         Seus braços e pernas estão amarrados e ela sente uma dor latente no lado direito da cabeça. Ela coloca a sua mão no lugar e quando vê os seus dedos eles estão completamente manchados por algo vermelho. Sangue.

       Ela escuta um barulho e tenta virar a sua cabeça um pouco, mas uma dor excruciante toma a sua cabeça e ela percebe que não será bom se ela insistir.

    — Não... Não faça isso. — ela escuta uma voz dizer e demora alguns segundos pra que perceba quem era.

    — Detetive Edwards!  — exclama um pouco alto demais.

     Ele coloca o dedo na boca em sinal de silencio, ela assente e começa a checar como ele está; havia um corte na sua bochecha, e ele tinha uma mão nas costas que pareciam estar machucadas e sua camiseta estava manchada de sangue. Sammy teve que se segurar pra não dar um grito ao ver seu estado.

    — O que vamos fazer detetive? — pergunta a garotinha atordoada.

    — Primeiro precisamos sair daqui, eles não me amarraram então vou tentar abrir a porta. 

     — Com o que? — diz aflita.

      Ele se aproxima dela, e tira de seu cabelo o grampo que ela estava usando.

      —Vou tentar com esse grampo. — fala, mas pelo seu tom Samantha não consegue juntar muita esperança.

      Vários minutos tinham se passado e nada aconteceu.

     — Tem certeza que você é um detetive? — exclama a garota arqueando as sobrancelhas.

     — Claro que sim. — fala revirando os olhos. — É só que hoje me dia temos kits específicos pra abrir portas, não precisamos fazer isso. — aponta pra porta e pro grampo com raiva.

     — Deixa isso pra lá; vamos subir para o sótão. — fala Sammy apontando pra cordinha pendurada ali.

         Eles fazem todo o percurso pra entrar no sótão, e quando finalmente chegam lá não sabem o que fazer.

      — Você disse que os jogos acontecem aqui certo? E você nunca viu eles levando algo suspeito na casa?

        Samantha faz que não com a cabeça.

       — Então, eles devem ter uma passagem secreta por aqui, pra levarem os corpos á outro lugar. — fala de maneira lógica. — Precisamos encontrá-la.

      Os dois reviram completamente o sótão, quando não sobra mais outro lugar, eles entram na sala em que a garota encontrou os corpos, eles mexem nas coisas vasculham, mas tudo parece em ordem. Os celulares e outras coisas que Sammy viu da outra vez tinham sumido.

        Marco Edwards uma ferramenta fora do lugar na parede em que estavam todas penduradas e estranho, ele chegou mais perto e ajeitou o martelo, foi quando uma passagem secreta se abiu diante dos seus olhos.

        Ambos encararam aquele corredor escuro com medo, mas juntaram suas mãos e trilharam aquele caminho, por toda aquela escuridão era como se olhos os seguissem, e quando chegaram ao final do corredor, uma luz brilhante surgiu. Era a luz do sol, aquele túnel, dava direto para o jardim da casa.

     — Droga, pensei que fossemos achar alguma coisa. — xinga o detetive, cansado e frustrado por não conseguir provar a verdade.

     — Como vocês conseguiram fugir, detetive? — diz o pai da garota prendendo o detetive com os braços.

        Eles começam a brigar e a coisa parece escalar rapidamente.

      — Corra Sammy, Corra! — grita o Marco aos berros, e a garota corre como se sua vida dependesse disso. O problema é que ela acaba dando de cara com as sua irmã, que entra no seu caminho.

     — O que pensa que está fazendo, Samantha?

     — Eu sei que você me odeia irmã, mas não pode estar realmente concordando com o que nossos pais estão fazendo. Eles mataram os Stone, sabe-se lá o que fizeram com Melanie.

     — Eu não sou sua irmã garota! — fala aos gritos. — Eu estou cansada... —diz chorando. — Eu sou a Melanie tá? Eu sou a filha desaparecida dos Stone.

           Samantha encara a irmã assustada.

       — Você não pode estar falando a verdade, porque os ajudaria então?

       — Por que eles fizeram da minha vida melhor, meu pai abusava de mim e minha mãe fingia não ver nada. Você tem noção da sorte que tem de ter pais tão bons. Eles me salvaram... Eles me salvaram ao matá-los. —ndisse Agatha chorando.

     — Isso não faz com o que o que fizeram esteja certo, Agatha! Eles mataram outras pessoas, inocentes...

      — Eu também fiz isso, mas você não entende, qualquer coisa é melhor do que voltar pra minha antiga vida. É por isso que não vou deixar que alguém como você venha e estrague tudo.

     Agatha puxa o cabelo de Sammy e a garotinha grita de dor, as duas brigam entre tapas e chutes, quando Samantha percebe que provavelmente vai acabar perdendo a briga, pega o jarro que estava a seu lado e o quebra na cabeça de Agatha. Ela caí imediatamente no chão inconsciente.

    A menina continua a correr, ela precisava achar o detetive, segundo ele a polícia chegaria na casa em 30 minutos e eles precisavam achar alguma coisa.

       Ela correu até o sótão e encontrou lá em cima, seu pai e sua mãe amarrados, Marcos estava sentado no chão ofegante.

     — Você conseguiu? — perguntou a garota entre o êxtase e o choque.

     — Vamos procurar os corpos... — disse se apressando e descendo a escada do sótão até a lavanderia.

     Ambos desceram os andares e começaram a gritar, chamavam o nome de Casper por toda a casa.

       O plano de Sammy consistia em chamar Casper, como seu pai havia lhe explicado o cachorro ao ouvir barulho reagia imediatamente com latidos euforia, e se eles o encontrassem, eles também achavam os corpos.

       Demorou um tempo, mas eles finalmente começaram a escutar alguns barulhos, os dois se separaram e tentaram seguir os latidos. Até que ambos se assustaram com o estrondo que se seguiu, o barulho vinha da lavanderia e os dois pensaram imediatamente que os pais da garota haviam conseguido escapar.

      Quando chegaram, viram o Golden Retriver da família, Casper, vir correndo na direção deles, o cãozinho estava mancando e tinha algumas manchas de sangue sobre o seu pelo, Sammy correu e o abraçou, além disso havia um buraco enorme na parede da lavanderia, o gesso tinha sido derrubado pelo cãozinho e havia revelado um porão.

     O detetive começou a entrar ali, e Sammy o seguiu, mas ele a parou e insistiu para que a garota ficasse na lavanderia com o cachorro, ele acabou tendo feito certo, porque a cena que ele viu ali, não é algo que pode ser visto ou descrito facilmente.

    O lugar estava coberto de sangue, dois corpos estavam estirados no chão.

      Havia pás e ferramentas de jardinagem, além disso havia todo o tipo de ferramenta cortante e armas. Era uma espécie de arsenal ali, e pelo modo como as ferramentas de jardinagem estavam sujas, era capaz de que eles estavam enterrando suas vítimas no quintal.

    — Senhor Edwards, tem algo que eu não disse ainda, a minha irmã Agatha, na verdade é Melanie Stone.

      Ele encara a garota pelo buraco que o cachorro havia feito e não sabe nem o que dizer.

      A foto da garota que desapareceu que ele tinha visto não tem nada haver com Agatha, mas... Isso não era totalmente ilógico, isso na verdade explicava muita coisa, como a razão pra pistas não terem sido encontradas sobre o sumiço da garota.

     — Tem certeza?

     — Foi ela mesmo que me contou, antes de ter tentado me matar. — diz magoada.

       — Eu achei os corpos, Sammy... Eu sinto muito. — disse Marco.

     Então era isso, seus pais eram assassinos. E além disso sequestraram uma garota e haviam a tornado uma assassina também, se ela tivesse matado Casper, esse também teria sido seu destino e seu senso de certo e errado seria mudado. Ela começou a respirar com dificuldade e se sentou no chão.

        A lavanderia parecia girar, ela escutou ao fundo sons de sirenes eles eram tão altos que obliteravam qualquer outro som da rua. Marco saiu em direção a porta de entrada e recebeu os polícias, havia toda uma equipe do lado de fora, a equipe forense começou a trabalhar e diversos homens ao receberem as instruções do Sr. Edwards começaram a cavar o quintal, eram ossos e mais ossos que eram desenterrados, como se aquilo fosse uma maldita expedição para encontrar fósseis, só que aquilo, aquilo eram pessoas.

    Sammy não ousava se afastar do detetive, ela tremia de medo e se agarrava na calda do seu casaco.

       Alguns homens subiram até o sótão e trouxeram Bárbara e Leonard, uma outra pessoa carregava Agatha que continuava desmaiada.

       — Vocês não podem fazer isso, somos servos de Deus, estamos fazendo a sua vontade! — gritou Bárbara com uma expressão de ódio e desprezo.

      — Vocês vão pagar por isso... — disse Leonard friamente, e Samantha não reconheceu seu pai.

      — Vocês estão presos pela acusação de terem organizado e executado a morte de Jordana e André Stone, além de diversas outras. Vocês tem o direito de ficarem calados, tudo o que disserem poderá ser usado contra vocês no tribunal. — diz Marco Edwards, ao algemar os pais da garotinha e colocá-los na viatura. 

     — Juro, buscar aquilo para, eu prometo, amo você, tenha medo. Samantha. — Seu pai pronunciou aquelas palavras sem nenhum sentido, a garota não entendeu e ficou assustada, o detetive foi rápido em tirá-lo de perto de sua filha e fazer com que ele ficasse calado.

      Alguém se aproxima do detetive e conta a ele algo, que o deixa com uma expressão ruim no rosto.

      — Sammy, parece que seu pai fez tudo isso porque quando ele tinha 15 anos, alguém atropelou o seu pai e não o socorreu, ele acabou morrendo.

       A garota ficou em choque, ela nunca tinha prestado atenção nas palavras amargas de seu pai, ele vivia falando sobre pecadores e suas escolhas, sobre como essas pessoas eram erradas e sobre como não mereciam segundas chances, ele fez tudo isso por conta de algo que havia acontecido com ele. E ele machucou tantas pessoas com isso, Sammy não aguentou mais e desatou a chorar.

       Marco abraçou ela, e ela observou a cena, seus pais sendo levados com expressões de ódio no rosto, as lágrimas lavando sua face e carregando uma quantidade monstruosa de negatividade, decepção e tristeza. Porque mesmo que eles tivessem feito coisas ruins ela ainda os amava, eles ainda eram família, mesmo que tivessem feito coisas ruins, mesmo que estivessem em pedaços. 

    Ela também tinha feito coisas erradas, ela estava tão presa e distraída em seu mundinho, se a irmã não tivesse chegado e a feito ter medo, inveja e ódio, ela nunca teria descoberto os segredos da família. Ela teria carregado tudo aquilo até o seu túmulo.

      Se as coisas não tivessem mudado, ela nunca teria percebido as falhas de sua própria família, ela nunca teria duvidado de nada. Nunca teria desmascarado os jogos. Ela acreditaria pra sempre que eles... Que eles eram sagrados. 

                 Três anos depois
          Reformatório Greyday

        3 anos tinham se passado e Sammy ainda não tinha esquecido de tudo o que aconteceu, os rostos ainda continuavam surgindo em sua mente, o caos, o sangue.

        Ela tinha sido mandada para um reformatório porque ficaram com medo de que ela tivesse sido afetada pelas crenças e pela loucura de sua família, e ela não conseguia julgá-los, ela mesma não sabia dizer se estava sã ou se havia enlouquecido desde aquele dia.

          As palavras de seu pai continuavam ecoando em sua cabeça, ela as escutava toda a noite, demorou dois anos, mas ela finalmente conseguiu desvendar a mensagem de seu pai.

         “Samantha, não tenha medo, amo você, eu prometo buscar aquilo para voltar. Juro.”

         Isso ainda lhe dava calafrios, seu pai queria que ela soubesse que ele ainda pensava nela, que ele ainda queria buscá-la. Ela não sabia o que seria dela se isso acontecesse.

          A garota caminhou pela sala em conjunto do reformatório e deu de cara com Patty tremendo agachada no chão de concreto. Patty tinha esquizofrenia e via monstros e coisas estranhas em todos os cantos, suas alucinações costumavam ser pesadas. Sammy se aproximou.

     — Eles estão aqui, estão por toda parte, eles são reais não são? A tia Lice disse que eles não existem, mas eu os vejo. Eu sou a única que os vê. — disse histérica.

      Samantha se aproximou com a intenção de acalmar a garota, de dizer que esses monstros não existem e que era tudo coisa da cabeça dela, mas não pode.

    — Eles existem, eles são reais. — exclamou.

      Patty a olhou de maneira assustada e gritou, enfermeiros correram em sua direção e agarraram a garota, ela esperneava e chorava, enquanto gritava as seguintes palavras.

    — Eu sabia, eles estão por toda parte... Por toda parte! — ria e gritava assustadoramente.

        Sammy ficou ali imóvel, ela não pode dizer outras palavras pra Patty, porque um dia seu pai havia dito a ela:

   — Querida, monstros não existem.

       Ela sabia melhor agora, porque ela conhecia sua verdadeira natureza, ela sabia que ele era um monstro, e que ele havia mentido ao negar com descaso, ao dizer que coisas do tipo não existem. 

   — Eles existem. — ela disse em meio a lágrimas de ódio. — Eles existem pai, porque você é um deles.

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   Chegamos ao fim desse conto, espero que tenham gostado :)
   

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