Turn of events

Jimin entrou na casa abandonada suspirando baixinho enquanto se preparava para encarar mais uma manhã com seus irmãos.

- Maninho. Você demorou hoje.

Jimin suspirou desanimado e irritado com o olhar predatório do irmão.

Ele tinha dois irmãos que matavam por prazer. Não só para sobreviverem. Normalmente eles sequestraram um humano e ficavam dias sugando suas forças e os hipnotizando com seu sangue.

Sua espécie podia fazer isso. Qualquer líquido do seu corpo hipnotizava humanos, a serotonina em suas correntes sanguíneas triplicavam, os deixando quase bêbados e com uma imensa quantidade do que poderia classificar como um prazer quase doloroso. Isso estava no seu suor, sêmen, sangue, lágrimas. Simplesmente tudo.

Seres humanos não aguentavam grandes doses daquilo, por isso Jimin chamava de veneno.

Jimin era o mais novo dos irmãos e por isso seus irmãos usavam o sangue dele para venderem como droga no mercado negro.

Suas lágrimas eram conhecidas como “ lágrima de anjo” nas baladas e deixavam humanos tão drogados quanto viciados naquilo.

Jimin tinha o farol, onde ele normalmente se escondia dos seus irmãos, mas se ele não voltasse pra casa abandonada pelo menos uma vez por semana para ser picado, furado e socado, seus irmão começavam a matar desenfreados, até que ele voltasse e implorasse para que parassem.

Às vezes, os irmãos de Jimin injetavam drogas nas suas veias, para que se misturassem no seu sangue antes de coletarem para a venda.

Jimin realmente saía de lá exausto e fraco de tantas bolsas de sangue que coletavam dele.

Foi por isso que ele saiu correndo e deixou Yoongi desacordado no carro em frente a escola naquela manhã.

Seus irmãos o sentiram por perto e estavam se aproximando e se eles soubessem sobre o Yoongi, ele estava ferrado.

Jimin aguentaria o que fosse preciso, mas nunca deixariam aqueles corvos se aproximarem de Yoongi.

Jimin se segurou para não sorrir apaixonado.

Ele caiu no colchão branco e velho, sentindo a droga que colocaram no seu organismo fazer efeito.

- Você é um bom saco de dinheiro Jimin. - Seu irmão falou alargando a borracha que apertava a circulação do seu braço para que fluísse mais sangue nas bolsas transparentes.

Jimin tossiu engasgado. Ele não conseguia engolir saliva de tão dormente que seu corpo ficou com a droga que injetaram nele.

Devia ser heroína.

Seu corpo desfaleceu, finalmente, ele já estava enjoado com todas aquelas sensações.

Assim que ele acordou no limbo, ele sentiu a presença de Yoongi saindo dele.

Yoongi devia estar acordando. Jimin sorriu. Era bom vê-lo vivo.

Jimin passou meses chamando Yoongi toda vez que ele adormecia e deixava ser levado até o limbo.

Ele se sentia curioso com aquele ser peculiar indo e vindo do limbo.

Jimin podia entrar nos sonhos dos humanos, através da viagem do inconsciente, mas Yoongi era diferente. Sempre foi, desde o início.

Era como se ele fosse arrastado para mente do mais velho ao invés de puxá-lo para sua.

Jimin acordou com a cabeça latejando. Seu irmão havia tirado mais do que devia de seu sangue.

- Lee. Isso é demais.

- Eu prometi que não mataria ninguém se você nos desse sangue. Então cala boca, já tô fazendo muito por você.

- Você não precisa matar tanta gente. - Jimin resmungou tonto.

Lee o chutou, fazendo ele cair na cama, enxergando tudo preto.

Jimin não sobreviveria dessa vez. Lee tinha perdido a cabeça.

Era demais.

- Estou de saco cheio de você. - Lee gritou descontrolado. Devia estar drogado.

Jimin sentiu seu corpo enrijecer com mais um chute.

Lee finalmente cansou de espancá-lo e saiu para sugar a vida de uma alma presa por correntes no quarto ao lado. Jimin não podia impedir e não queria ficar ali para escutar impotente.

Ele sentiu, a agulha mexendo fora da sua veia e inchando o furo com seu próprio sangue.

Jimin arrancou a agulha, pressionando a própria veia estourada com seus dedos trêmulos.

Ele precisava sair dali e nunca mais voltar, pelo menos até seus irmãos voltarem com a chacina e ele se sentir compelido a salvar aquelas vidas desperdiçadas.

Jimin sabia quão hipócrita isso soava. Ele mesmo já matou muita gente, mas nunca por diversão, sempre por sobrevivência.

Não que isso justificasse.

Ele correu para fora da casa, agradecendo por só ter Lee na casa e por ele ter se distraído com facilidade.

Seu corpo estava fraco e ele tinha perdido muito sangue, então talvez fosse isso que o tenha levado direto para casa de Yoongi.

Yoongi era seu porto seguro desde quando ele não sabia quem ele realmente era. Desde quando ele só existia em sua mente dopada e inconsciente.

Taehyung o atendeu e parecia curioso com seu quase lapso na frente da mansão.

- Yoongi está? - Jimin perguntou mal se mantendo em pé.

A claridade do dia deixava sua mente confusa, sem conseguir processar exatamente o que via.

- Você o abandonou no carro hoje, agora está fraco de novo e quer usá-lo? - Taehyung perguntou irritado fazendo Jimin tremer um pouco.

Ele era um monstro por si só, mas ainda assim tinha muito medo de Taehyung. O garoto era um tipo diferente de monstro, o do tipo assustador simplesmente porque não existia um padrão para suas atitudes.

Taehyung era imprevisível.

- Meu irmão. Vai vir atrás de mim, quero que Yoongi me leve para o limbo.

Taehyung enrugou a testa.

- Quer que Yoongi te mate?

- É a única forma de parar meus irmãos. Lee me seguiu, se ele me ver morto, talvez...

- Mas você é imortal.

Jimin negou com a cabeça, interrompendo a linha de pensamento de Taehyung.

- Não sou imortal. Posso ser preso no limbo, só preciso da pessoa certa pra fazer isso. - Jimin tossiu na mão, vendo sangue escorrer entre os dedos. - Yoongi é o único que pode me prender lá.

- Como você sabe? - Taehyung perguntou confuso e curioso.

- Eu presumo. Estou perseguindo Yoongi por muito tempo, sei do que ele é capaz. Não sei como, mas sei que ele pode.

Taehyung fez um bico com a boca vermelha e brilhante enquanto pensava naquilo.

- Ele pode até ser capaz, mas não sei se sabe como.

- Só me leva… - Jimin desmaiou, caindo no chão e quase batendo a cabeça no piso, senão fosse por Taehyung que impediu de acontecer, com um movimento rápido de suas mãos.

- Você acha que Taehyung é um elemental também? - Hoseok perguntou para Yoongi enquanto voltavam de carro pra casa.

Eles tinham ido comprar comida para levar a noite no terraço de Jungkook. Yoongi queria apresentar Hoseok para Jungkook e Jin, uma reunião com álcool, Shipps e chocolate pareceu uma boa ideia.

- Taehyung é humano. - Yoongi revirou os olhos.

Seu irmão era lindo, mas Hoseok exagerava na veneração.

- É estranho imaginá-lo sendo supostamente da mesma espécie que a minha. Quero dizer, você já viu o garoto? Ele parece uma espécie de Deus vingador.

- Isso é ridículo Hoseok e eu quero que fique longe dele.

- Que? Por que?

Yoongi mordeu os lábios, mal se concentrando na estrada.

Como ele diria aquilo?

- Taehyung não é o que parece. Ele é perigoso.

- Perigoso do tipo “ Malvado por fora, mas com o coração mole” ou mais do tipo “ rebelde sem causa” ?

- Malvado do tipo, fica longe dele ou você vai acabar se machucando.

Hoseok pareceu pensar no aviso do amigo.

- Sei lá Yoon, parece mais que você tá com ciúmes. O que eu acho completamente compreensivo.

Yoongi bufou irritado, estacionando o carro o mais torto possível na garagem da casa.

- Só faz o que eu pedi.

Hoseok riu do amigo. Ele com certeza não faria isso e Yoongi de certa forma sabia.

- Você acha estranho que você possa se curar com água? - Hoseok perguntou distraído enquanto entravam na casa.

- É tudo muito estranho pra mim ainda, Hobi.

- Você se sente diferente?

Yoongi concordou distraído, por notar algo estranho no no corredor que levava para o seu quarto.

- Diferente como? - Hoseok perguntou sem nem perceber a tensão do mais novo.

- Olha! O sistema inteiro quebrou quando eu descobri que podia voltar à vida. Agora estou só abraçando o caos.

Hoseok ia falar algo, mas parou de abrupto, notando sangue por todo o chão.

…  

Taehyung deitou Jimin na cama e acariciou seus cabelos molhados de suor.

O Incubus era tão lindo, parecia quase celestial dormindo. Foi por isso que Taehyung o ajudou a fugir das instalações da sua mãe alguns meses atrás.

Ele parecia um anjo e Taehyung se sentiu compelido a ajudar.

Tae sabia que manipulação era um dos poderes daquela espécie, mas ele não se importava. Ele realmente queria ajudar o garoto e ajudou.

Ele cobriu Jimin com a manta de Yoongi. O quarto do Yoon era o único sem câmeras e no térreo, por isso ele havia deixado o pequeno ali.

Seus pés eram lentos e preguiçosos quando chegou na frente da sua casa à espera do tal Incubus que queria mal ao pequeno Jimin.

Não precisou esperar muito para o tal irmão de Jimin chegar, parecendo um lunático distraído.

- Cadê o Jimin? - O homem perguntou grosseiramente.

Taehyung levantou uma sobrancelha em questionamento. Seu sangue acelerando na corrente sanguínea, uma sensação de euforia explodindo no peito.

Lee pareceu entender o silêncio de Taehyung como uma pergunta.

- Meu irmão. Eu rastreei o cheiro dele até aqui, não tente me enganar. Sei que ele está aí dentro.

Lee estava tão irado que seus olhos vermelhos pareciam esbugalhados em seu rosto, o nariz escorrendo e  as lágrimas pela raiva excessiva.

- Ele está no meu quarto. Venha. - Taehyung disse calmo, virando as costas para o Incubus revoltado.

Lee estava tão descontrolado, que nem pensou em usar seus poderes de sedução para manipular Taehyung e o mais novo ficou triste com isso. Ele queria saber como seria sentir atração junto com seu desprezo pelo homem.

- Aqui está. - ele abriu a porta. Deixando Lee entrar no quarto de Yoongi.

O garoto estava tão drogado e fora de controle que mal caminhou até Jimin, até virá-lo na cama para beijar sua boca, sugando sua essência de um jeito perturbadoramente sexy. 

- Ele precisa estar bem fraco se eu quiser que ele colabore na festa de hoje a noite. - Lee explicou quando viu Taehyung se aproximar para assistir.

Tae estava fascinado com aquilo, mas não podia deixar Jimin morrer ou Yoongi ficaria bravo e ele gostava do irmão. Era a única pessoa que ele realmente gostava no momento.

- O que vocês fazem com ele nessas festas?

Lee riu sarcástico.

- Digamos que Jimin fica alguns dias sem conseguir andar.

Taehyung concordou. Ele gostava daquele tipo de coisa, principalmente quando relacionado a sexo, mas Jimin não parecia o tipo de garoto que gostava daquilo.

Jimin acordou em partes, choramingando de dor.

Taehyung suspirou desanimado. Ele queria assistir um pouco mais, mas Jimin estava realmente morrendo ou pelo menos sofrendo tanto quanto se estivesse.

Taehyung olhou para a cabeceira, rindo ao encontrar um caneta em cima de uma caderneta de anotações.

Ele levantou, indo por trás de Lee e o puxou para sua direção.

- O que pensa que está fazendo?

- Suga minha essência, Incubus. - Taehyung pediu beijando Lee com calma e delicadeza.

Lee não estava são para notar estranheza naquele comportamento, então seus olhos ficaram completamente negros e ele se afastou dos lábios do maior, sugando sua essência enquanto descia as mãos pela ereção de Taehyung.

Taehyung gemeu baixo, mas estava ficando zonzo e prestes a desfalecer, então não pôde aproveitar mais que isso.

- Desculpa interromper. - Taehyung disse enfiando a caneta no olho esquerdo de Lee.

O Incubus caiu ainda vivo no chão. Jimin sentou na cama em choque enquanto ouvia os gritos desesperados de Lee que tentava conter o sangue saindo do buraco em seu olho, com ambas as mãos.

- Eu tenho sua permissão? - Taehyung perguntou para Jimin que não fazia ideia de como responder àquilo.

- Eu…

Taehyung riu seco.

- Relaxa Jimin, não precisa carregar o peso de uma resposta dessas. Você não merece carregar o peso de nada, nem de ninguém. - Taehyung pegou a caneta do olho do Incubus e voltou a furá-lo com a caneta, pegando o outro olho dessa vez.

A cartilagem do olho direito era mais firme e ele infelizmente atingiu o cérebro de Lee em um dos golpes, o matando.

Taehyung queria ter se divertido um pouco mais com o Incubus, mas ele morreu, deixando uma sensação feliz e extasiante em Tae que se drogava ao entrar em contato com sangue de Lee escorrendo por suas mãos trêmulas.

- Que porra é essa Yoongi? - Hoseok perguntou, assim que abriram a porta do quarto e deram de cara com Taehyung sentado no chão, todo o ensanguentado e com um corpo imóvel no colo, provavelmente o dono do sangue que escorria pelo quarto.

Yoongi deu de ombros.

- Eu sei exatamente o mesmo que você, já que entramos ao mesmo tempo no quarto. - Yoongi foi até a cama, segurando as mãozinhas trêmulas de Jimin.

- Você tá bem ? - Yoongi notou vários roxos na pele exposta de Jimin e um imenso calombo no antebraço, junto com algumas marcas de agulhas. - O que aconteceu?

Jimin soluçou algumas palavras tentando explicar.

- Lee queria o mal para o anjinho, então eu o matei. - Tae disse meio distraído, sentindo o efeito do veneno diminuir conforme a vida do Incubus se esvaía.

- Obrigado Tae. - Yoongi resmungou tentando analisar mais partes do corpo de Jimin, pra ver se ele estava mesmo bem.

- Que porra Yoongi. Por que não me alertou sobre isso ao invés de toda baboseira que você ficou falando no caminho pra cá?

- O que você queria que eu dissesse?

- Não sei, talvez se você tivesse começado com “ O meu irmão é um assassino” tivesse surtido um efeito mais desejável para a ocasião.

- Em primeiro lugar, eu acho “assassino”. - Yoongi fez aspas com os dedos. - um termo muito pejorativo e em segundo lugar, ele é família.

- Por que diabos as aspas?  Ele é literalmente um assassino e eu não acho que chamar uma pessoa que mata pessoas de assassino, ofensivo. Ele literalmente mata pessoas, é um fato.

- Eu não pude deixar de notar que você tá usando esse tom, quase acusatório e cheio de ódio reprimido.

- Eu também notei. - Taehyung levantou a mão ensanguentada, abaixando timidamente quando os dois começaram a encarar com tipos distintos de curiosidade em seus rostos.

- Olha! Eu sei que você sempre quis uma família que te aceitasse pelo que você é, mas seu irmão é um assassino e sua mãe pode ou não ser uma líder racista muito do mal, que está tentando te transformar em uma espécie de rato de laboratório para usá-lo numa possível revolução anarquista e dizimar uma raça inteira.

- Você usou a palavra raça duas vezes, acho que alguém anda obsessivo.

- Jura? Isso que você tirou da frase inteira? - Hoseok abriu a boca em choque, encarando Yoongi que parecia tão entediado quanto o resto da sua vida.

- Olha Hobi! Você pode ou não ter razão em tudo que você está falando.

- Eu tenho razão em tudo que eu estou falando.

- Mas eles ainda vão continuar sendo minha família no final do dia.

Hoseok olhou confuso para Yoongi enquanto ele olhava Taehyung com uma espécie de carinho e apego no olhar.

- Você não ouviu o que eu disse sobre seu irmão ser um assassino aparentemente descontrolado?

- Nenhuma Família é perfeita e não é como se eu pudesse ficar trocando de família toda que vez um problema aparecer. Já passou da hora de enfrentar meus próprios problemas.

- Você está num sistema de adoção Yoongi. Trocar de família quando algo dá errado é exatamente o que “Sistema de adoção” significa.

- De novo com esse tom. Tá bem difícil lidar com você hoje.

Yoongi suspirou, negando com a cabeça aos poucos enquanto Taehyung imitava em concordância.

- Isso  é ridículo. - Hoseok riu sarcástico. - Essa situação toda é ridícula e surreal. Honestamente se você não entende o problema que é matar um bando de pessoas aleatórias. Eu desisto. - Hoseok jogou os braços pro alto indignado.

- Se não fossem pessoas aleatórias, então não seria um problema pra você? - Taehyung perguntou pensativo.

- O que? Não.

- Não? - Yoongi levantou uma sobrancelha.

- Não foi o que eu quis dizer e isso não vem ao caso. - Hoseok gritou ganhando mais negação dos dois.

- Eu odeio problema social relativo também. Tipo, nunca vou entender porque tenho que escolher entre matar um cara na cadeira de rodas ou um ônibus cheio de idosos. Quero dizer. Que diferença isso faz?

- Sem contar que seria obviamente o cara na cadeira de rodas. - Yoongi disse pensativo.

- Obviamente.

Hoseok encarou os dois em confusão.

- Quer saber? Eu desisto de verdade. Vocês dois têm sérios problemas mentais. - Hoseok sentou na cama, passando a mão nos cabelos enquanto pensava em tudo aquilo. - Espera. Por que obviamente o cara na cadeira de rodas?

- Por que ele não pode correr. - Os dois responderam juntos, fazendo aquele olhar de quem está tendo um momento.

- Wow! Isso é realmente...Por Deus. - Hoseok passou as  mãos trêmulas no rosto.

Aquilo era demais.

- Você podia tentar não chamar Deus em vão? - Jimin pediu educadamente, lembrando a todos que ele ainda estava ali.

- Lógico. Porque de tudo que aconteceu aqui. Chatear uma divindade foi com certeza a pior delas.

- Ah! Agora eu também notei o “tom” nele, Hyung. - Jimin disse um pouco mais feliz por se inteirar da situação.

Yoongi suspirou desanimado mais uma vez, como se Hoseok não tivesse conserto.

- Desculpa por ter matado seu irmão, Jiminnie-shi. - Taehyung pediu com seus olhos lacrimejantes e assustados de maneira incrivelmente aleatória e fora de contexto.

Jimin sorriu amoroso para o assassino do seu irmão, fazendo Hoseok desejar estar morto ou, se ele escolher pensar menos dramaticamente, só estar longe daquele lugar já seria algo bom.

- Ninguém nunca mais vai te machucar de nenhuma forma, pequeno. - Yoongi disse tocando nas mãos de Jimin para juntar seus dedos mindinhos.

- Owww. - O assassino destemido, também conhecido como Taehyung, resmungou, junto com um sorriso incrivelmente inocente do ponto de vista de Hoseok.

- Já deu pra mim. Eu tô fora.

- Hobi.

Hoseok interrompeu o amigo, tentando não olhá-lo nos olhos, porque provavelmente mudaria de ideia.

- Desculpa Yoon. Não posso fazer isso.

- Ele não está morto. - Jimin sussurrou, tentando não chamar muito a atenção e falhando miseravelmente.

- Como assim não está morto?

- Ele é um Incubus. Ele vai secar e ficar no limbo por um tempo, mas volta, e eventualmente. - Taehyung disse dando de ombros.

- Mas você pediu desculpas por matá-lo. - Hoseok disse sem entender e falhando ao tentar ir embora.

- Ele definitivamente perdeu essa vida. Agora vai depender de quanto tempo o viajante vai levar pra trazê-lo de volta. - Jimin deu de ombros sem nenhum interesse no assunto.

 Yoongi enrugou a testa pensativo.

Um viajante ?!

- Alguns nunca voltam. - Taehyung falou empurrando o corpo inerte de Lee para longe dele.

- Você matou ou não o cara? - Hoseok estava começando a duvidar da sua habilidade de compreensão agora.

- Ele pode ou não voltar a vida, mas definitivamente está morto. - Jimin disse educadamente, como o bom garoto que era.

Yoongi sorriu amoroso por causa das boas intenções do pequeno.

- Tae. Vai tomar banho, eu vou ligar para o Namjoon dar um jeito nessa bagunça.

- Ele vai ficar puto. - Taehyung resmungou indo na direção do banheiro do Yoongi.

- Você tem um quarto, sabia?! - Yoongi gritou irritado, mas Tae só bateu a porta do banheiro em resposta.

- Quem é Namjoon? - Hoseok abriu o frigobar, pegando uma garrafinha de água pra dar para Jimin sem saber porque estava fazendo isso.

- Não sei o que Namjoon é ainda. Não confie nele. Nunca, ok?! - Yoongi pediu.

Ele parou de falar, olhando feio para Jimin.

- Tá difícil de manter minha amizade com o Hobi pequeno. Manipulá-lo com seus poderes não vai ajudar.

Jimin fez um bico triste com os lábios chamativos dele.

- Desculpa Hobi. - ele sussurrou chateado.

Hoseok abriu a boca pasmo, sentindo a sensação quase insuportável de proteger o pequeno garoto, desaparecer aos poucos.

- Wow. Você tá fazendo isso? Pode tipo, mandar alguém fazer o que você quiser?

Jimin concordou tímido.

- Mais ou menos isso. - ele mentiu.

Na verdade ele podia fazer exatamente isso.

- Então manda eu buscar chocolate pra você.

Yoongi colocou a mão no celular, interrompendo o que falava com Namjoon ao telefone.

- Hoseok para de brincar com os poderes de Jimin. É perigoso.

Yoongi voltou ao telefone, não vendo Hoseok concordar com a cabeça, incentivando Jimin a continuar.

Jimin riu arteiro, mordendo os lábios e olhando para Yoongi para ver se ele não estava vendo

Hoseok começou a sentir seu coração apertar, lágrimas desceram pelos seus olhos e sua boca secou. Ele soluçou, tentando conter o desespero, olhando aflito pelo quarto em busca de chocolate. Parecia que o mundo ia acabar se ele não achasse nada.

O sentimento diminuiu enquanto ele planejava roubar o carro de Yoongi para ir comprar o maldito chocolate no mercado. Sua mente estava tão concentrada na tarefa, que ele quase pulou de susto com a risadinha fofa de Jimin chamando sua atenção.

- Meu Deus.

- Você gostou? - Jimin perguntou tímido e verdadeiramente interessado.

- Você é muito fofo Jimin. - Hoseok apertou as bochechas do menor que riu infantilmente. - Fofo e terrivelmente assustador. - Hoseok terminou, sentindo suas mãos tremendo.

Ainda existia a vontade de comprar chocolate para o menor, não era mais tão desesperadora e assustadora, parecia mais com a sua vontade própria de agradar o garoto. O que de certa forma, ainda era assustador.

Ele suspirou aliviado ao ver Yoongi desligar o celular e voltar a atenção para eles.

- O Namjoon já está vindo. Jimin, será que você pode me fazer um favor?

- Claro Hyung. - Jimin deu alguns pulinhos na cama animado.

- Tem um encontro com uns amigos meus hoje a noite. Você quer ir?

Jimin concordou um pouco distraído, pensando se os amigos do Yoongi iriam gostar dele ou não. Ele não queria manipulá-los.

Hoseok parecia indeciso ainda.

- Será que você consegue influenciar a decisão do Namjoon quando eu convidá-lo para ir?

- Você quer que ele vá Hyung?

- Não. - Yoongi respondeu quase desesperado. - É um encontro meio que ilegal, nas leis que ele parece seguir, então Namjoon não pode nem passar perto do lugar.

- Considere feito.

Yoongi pensou por um instante.

- Jimin isso é muito sério. Seja sutil. Se ele desconfiar disso, estamos fodidos. - Jimin sorriu malicioso para o mais velho. - E eu não tô falando no lado bom da palavra.

Jimin fez um bico, mas riu no final mesmo assim.

- Eu sei o que estou fazendo. Você ficaria impressionado com meu poder, se não fosse imune.

- Wow. O Yoongi é imune aos seus poderes? - Hoseok perguntou em choque, mas não teve tempo de responder pois a visão de Taehyung todo molhado, com uma toalha amarrada na cintura e os cabelos com água gotejantes molhando seu rosto e ombros, tomou toda a sua atenção.

- Nossa. Você é muito lindo. - Jimin sussurrou espontâneo o que todos no quarto estavam pensando.

- Namjoon  chega em 10. Tenta não matar os empregados da casa enquanto vai até seu quarto se trocar.

Taehyung concordou, desviando de uma poça de sangue para sair do quarto.

- Devíamos dividir um quarto.

- Tem literalmente dezenas de quarto nessa casa Taehyung.

- E?

- Você devia colocar um sofá aqui. - Yoongi disse pensativo enquanto sentava numa cadeira de praia velha que encontrou pelo terraço.

- Jimin é realmente incrível. Esse é o garoto por quem você negou meu beijo? - Jungkook perguntou entre um gole de cerveja.

Hoseok e Jin estavam babando em Jimin enquanto ele falava entretido, mexendo suas mãozinhas no ar e sendo super fofo.

Yoongi abriu uma lata de cerveja sorrindo com a cena.

Jimin era realmente encantador.

- Ele é muito lindo, Hyung. - Jungkook disse por cima do silêncio de Yoongi.

- Lindo de matar. - Yoongi resmungou, rindo da própria piada mórbida.

Jungkook enrugou a testa meio confuso, mas decidiu não fazer perguntas que provavelmente não seriam respondidas.

- Já se acostumou com seus poderes? - Yoongi perguntou tentando parar de encarar Jimin feito um idiota.

- Tô pegando o jeito. É estranho.

- Como assim?

- É como se eu pudesse sentir toda a terra sob meus pés. Como se eu pertencesse a ela, de certa forma.

- Parece tão confuso quanto soa.

Jungkook concordou.

- Posso ver ?

Jungkook deu de ombros, mas colocou uma das mãos no chão fazendo a areia ali vibrar, formando pequenos tufões ao redor deles.

- Parece que eu consigo manipular matéria, por causa da terra e não ao contrário.

Yoongi concordou limpando a calça quando Jungkook perdeu o controle dos tufões e caiu terra pela sua calça.

- Ainda tô aprendendo. - Jungkook se desculpou, sorrindo um pouco tímido.

- Parece que você está indo bem, não pensa muito, só deixa acontecer. - Yoongi disse calmo, vendo Jungkook concordar veementemente, como se importasse muito com o conselho do mais velho.

- Taehyung não para de encarar Jimin. - Jungkook disse distraído, rindo da cara feia de Yoongi.

- Jimin deixa todos ao seu redor apaixonado.

- A Kim.Co tá louca atrás dele.

- Você já viu Jimin antes de hoje? - Yoongi perguntou curioso.

- Eu sei que ele era uma cobaia em um dos estudos de interesse da Sra. Kim, mas ele era diferente na época.

- Diferente como?

Jungkook deu de ombros.

- Eu só o vi uma vez, talvez esteja só confuso.

Ok! Aquilo parecia muito com uma mentira.

Yoongi não queria saber a verdade por trás daquilo de qualquer forma.

Jin era um revolucionário que estava louco para recrutá-lo.

Namjoon era um caçador que poderia prendê-lo numa jaula se quisesse, literalmente.

Jimin o matava sempre que podia.

Taehyung era do mal.

Ele só não queria mais um relacionamento complicado. Com Jungkook tudo parecia natural e simples, poderia parecer egoísta, mas ele queria se prender à isso só mais um pouco.

- Você está sentindo o mesmo que eu? - Jungkook perguntou, arrastando Yoongi de volta para a realidade.

- Só vou saber quando me contar.

Jungkook suspirou.

- Sei lá. Essa sensação de que estamos no meio termo de algo grande que está prestes a estourar.

- Oh! Sim. Como o eco precedente ao caos.

Jungkook concordou com a cabeça.

- Exatamente.

- Algo está prestes a acontecer, eu posso sentir.

- Você tem algum plano para o caso de algo acontecer. Tipo, de que lado estamos?

Yoongi deu de ombros.

- Só quero proteger as pessoas que importam pra mim. O resto que se foda.

Jungkook riu.

- Um brinde à isso.

Eles levantaram a cerveja no ar despreocupadamente, o que era o exato oposto do que sentiriam.

Algo estava vindo, eles podiam praticamente sentir o gosto disso, seja lá o que isso for, no ar e não tinha como não se assustar. Os dois só eram pragmáticos demais para simplesmente demonstrar o que sentiam, mas ainda assim, o sentimento estava ali.

...

Jimin tentou não encarar Jungkook, mas era difícil. O garoto foi seu carcereiro por quase toda sua infância. Eles tinham quase a mesma idade na época e Jimin confiava no maior, até descobrir que Jungkook trabalhava para os inimigos e só estava o usando, abusando da sua inocência e excesso de confiança infantil, o forçado a fazer coisas terríveis “ em nome da ciência e de um bem maior”, era o que o moreno costumava dizer todo o tempo.

O pequeno se perguntava se Yoongi sabia quem era Jeon Jungkook, se sabia do que aquele elemental era capaz de fazer.

Jimin se encolheu assustado.

Não importa o que acontecesse à partir dali, ele só sabia que nunca mais aceitaria ser cobaia de ninguém.

Ele estava cansado. Só queria viver, ser feliz, confiar em alguém que, pra variar, não o decepcionasse. Enfim, ter uma vida normal.

Jimin não pensava em nada disso antes de Yoongi. Ele já tinha se aceitado, sabia que precisava viver assim, era o que tinha.

Toda vez que alguém o torturava ele sentia que era a vida o cobrando por todas as vidas que ele pôs um fim em nome da própria sobrevivência.

No entanto, Yoongi apareceu e deu um novo sentido para sua existência, não num sentido poético e romântico, nada disso.

Era só o que era.

Isso lhe deu esperança, um novo sentido para a vida que ele considerava amaldiçoada, uma completa virada de eventos.

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