Namjoon olhava a estrutura velha da igreja com precaução. Não era a primeira vez que entrava por aquelas portas pesadas, mas a qualquer momento poderia ser a última.  

 O mundo em que viviam tinha uma delicada balança, onde os hemisférios carregados com alguma espécie de poder se conectavam como feitos por um nó, isso exigia equilíbrio, não o do tipo natural. Se alguém soubesse que ele andava bisbilhotando o que não devia.

Bem! Não é como se ele fosse morrer ou algo assim, mas o equilíbrio definitivamente seria desfeito e pessoas sem a devida proteção iriam se machucar.

Caos.

Seria um completo caos.

Seus olhos demoraram se acostumar com a baixa iluminação do interior da igreja. Um homem idoso pregava filosofias do velho mundo no púlpito, os bancos estavam cheios aquele dia, o que acredite, não era muito comum.

Namjoon sentou nos fundos, distraído com a estrutura antiga, responsável pela ventilação natural do lugar. A ciência moderna definitivamente tinha seus defeitos, mas Namjoon tinha certeza que o ventilador não era classificado como uma delas, nunca entendeu o porquê do Vaticano ser tão contra, apesar de que definitivamente não combinaria com a decoração gótica do ambiente.

Ele levantou a camisa social até a altura dos cotovelos, tirando o cachecol do pescoço para poder respirar melhor, costumava suar com facilidade.

O coral entrou com aquelas vestes estranhas cobrindo até seus pés. Namjoon olhou para o garoto por quem ele era encantado. Um dos coroinhas.

Encantado era uma palavra irônica para isso aliás.

Aquele garoto tinha a voz de um ser celestial, a boca de onde se originou o pecado e os olhos de quem nunca enfrentou a maldade.

Ele suspirou com as primeiras notas do garoto lindo, acompanhado pelo órgão na parede lateral.

Era uma pena que ele não podia ficar muito tempo.

Ele aproveitou o fato de que todos tinham se levantado para cantarem seus cânticos estranhos e saiu pela porta lateral, se deparando com um corredor úmido, iluminado por lâmpadas amarelas de baixa qualidade. Seus pés seguiram o caminho em que já estavam acostumados, afinal não era a primeira vez que ele invadia uma igreja. Talvez ele devesse acrescentar essa parte na lista de seus pecados também.

A porta pesada tinha uma tranca volátil e pré histórica, o que graças a modernidade, era fácil de invadir. Namjoon girou a chave mestra, puxando o ar úmido para seus pulmões ao encarar a maior biblioteca não documentada de Seul.

 Ele definitivamente amava aquele lugar.

Seus pés vacilaram entre os títulos nas paredes, seus olhos subiram pelas prateleiras que iam até o teto, carregados de enciclopédias e dados ainda não lidos.

- Você não devia estar aqui. - uma voz insegura, porém desgostosa soou atrás dele. - Ess...essa ala é proibida. - o garoto continuou.

Namjoon devolveu um dos livros em sua mão de volta na prateleira, sorrindo torto ao reconhecer aquelas cordas vocais em ação.

- Você também não deveria estar aqui. - Namjoon disse com a voz grave e calma, desestabilizando visivelmente o garoto à sua frente.

- Eu moro aqui. - O garoto disse bravo, empinando o nariz em um silencioso desafio de autoridade.

Namjoon gemeria alto com prazer , mas isso seria indelicado, então ele só continuou sorrindo.

- Você mora. - Ele disse depois de um tempo em silêncio. - Desde muito novo certo?!

Namjoon começou a dedilhar seus dedos longos nos grossos livros empilhados naquelas prateleiras antigas.

- Vo.. você não deveria estar aqui. Se não for embora chamarei o Padre Tunning.

Namjoon concordou com a cabeça, parando numa seleção específica.

- Engraçado você dizer isso. Porquê não deveria estar aqui também, certo?! - Namjoon falou do fato de que ninguém era autorizado a entrar naquela sala, além dos membros compostos pela alta hierarquia do parlamento religioso na área e isso não necessariamente significava que eram membros da igreja.

Aliás, ninguém além dele deveria saber que aquela sala ao menos existia.

O garoto respirou fundo, prendendo o ar assustado, prestes a hiperventilar.

 O que o desconhecido havia  falado estava corretíssimo. Ele não deveria entrar ali, nunca.

- Quero dizer, você não devia estar cantando? - Namjoon perguntou apontando para o som de vozes angelicais soando baixo em seus ouvidos.

O menino assustado relaxou, soltando o ar pela boca num profundo alívio.

- No entanto, não é a primeira vez que entra aqui. É? - Namjoon continuou voltando a preocupar o garoto.

Ah! O jogo de poder. Namjoon adorava brincar de gato e rato com pequenos inocentes.

Ele se aproximou do coroinha perturbado, sorrindo ao vê-lo dar alguns passos para trás.

- Kim Seokjin. O garoto dono da voz angelical e os olhos imperturbáveis.

Jin sentiu um arrepio subir por todo corpo, vindo de lugar nenhum e nunca indo embora.

- Jin. As pessoas me conhecem como Jin. - Ele disse com a voz trêmula e a boca vibrante. Esquecendo de imediato seu alívio prematuro.

- Jin. - Namjoon testou o nome em sua língua, não gostando muito de sua textura. Seokjin soava definitivamente melhor.

Ele perdeu as contas de quantas vezes sussurrou aquele nome enquanto se masturbava, desde que viu o garoto pela primeira vez, era em tudo que conseguia pensar.

- Você veio me matar? - Jin perguntou, se arrependendo amargamente de ter ido atrás do desconhecido para bancar o herói.

Tinha pelos menos uns três meses, desde que o notou pela primeira vez, no fundo da igreja, o encarando sem piscar até a metade das cerimônias, para então desaparecer pela porta lateral do salão principal, onde era expressamente proibido a entrada de pessoas não autorizadas.

Jin morava ali desde os dez anos, então ele sabia que o garoto à sua frente era um intruso, mas ao invés de notificar isso aos seus superiores, como qualquer outra pessoa faria, ele estava ali, enfrentando o ser sorridente e assustadoramente confiante, pra quem tinha acabado de ser pego fazendo o que não devia.

- Eu ainda prefiro Seokjin. Devo dizer que combina com você. - Namjoon disse, voltando a se afastar sem responder a pergunta do garoto.

- O que quer? - Jin perguntou impaciente, o homem o deixava estranho.

- Assim como você. Eu procuro por respostas. - Namjoon disse subindo na escada acoplada na parede.

- Você não pode. - Jin deu um passo pra frente, mas travou com medo, não muito longe de onde inicialmente se encontrava.

- Você também não, ainda assim vejo que a sessão de monstros marinhos perderam sua quantidade de poeira atual, assim como mutação genética na ala de ciência moderna?! - Namjoon desceu com um livro pesado, de capa dura nas mãos.

- Olha. Eu não tinha a intenção de perturbá-lo. - Namjoon disse enquanto se distraia com a escrita a mão dentro do livro antigo. - Claro que isso não teria acontecido, se você tivesse ficado lá em cima, cantando sobre como o amor e a esperança pode curar seu coração. - Namjoon sorriu malicioso para Jin que engolia em seco enquanto encarava a boca do garoto a sua frente sendo mordida com força, a deixando mais vermelha que o normal.

- Você não pode levar isso. - Jin disse apontando para o livro nas mãos de Namjoon.

Namjoon olhou para o livro em suas mãos, sorrindo para a expressão aflita de Jin.

- Eu suponho que você não gostaria de me ajudar?

Jin negou com a cabeça sem dúvidas no assunto.

- Bem! Então não tenho outra saída se não levá-lo, porém prometo devolver intacto.

 Foi a vez de Jin morder seus lábios, nervoso com o resultado daquilo.

- Vo...você é um monstro também? - Jin perguntou, vendo Namjoon se aproximar de onde ele estava.

- Ah. Qual é? Não te contaram? Monstros não existem. - Ele sussurrou agora bem perto do seu ouvido. - Porém, se quiser saber o que você realmente é. Me procura.

- Como? - Jin quase gritou, se virando para Namjoon, que agora estava na porta entre ele e o corredor.

- Vá até a praia, onde suas dúvidas começaram, daqui três dias e eu te conto tudo o que precisa saber.  Eu posso até te devolver seu precioso livro. - Namjoon levantou o livro em suas mãos.

- Como você sab...

- Espero te ver novamente Seokjin. No pôr do sol talvez? - Namjoon disse antes de sumir pelo corredor escuro.

- Jin. Meu nome é Jin. - O garoto sussurrou se sentindo confuso e assustado, mesmo que o homem desconhecido já tivesse ido embora.

…

Yoongi acordou sem saber quanto tempo tinha passado. Seu corpo inteiro estava dolorido, provavelmente pelo tempo em que ficou deitado no chão do quarto.

Sua cabeça doía. Ele apertou suas têmporas, tentando não gritar com a dor.

Sua mão voltou pegajosa de sangue.

Merda!

Seu corpo estava fraco, mas de alguma forma ele conseguiu se manter em pé, indo até o banheiro para tomar um banho.

No momento em que a ducha de água caiu sobre, o seu corpo relaxou com a sensação, vendo a água rosa escorrer pelo ralo. Ele parecia incrivelmente energizado agora, o que não deixava de ser estranho.

Seu nariz não sangrava mais, na verdade nada mais parecia sangrar. O vapor da água quente deixou Yoongi enjoado e um pouco aéreo, talv z fosse o coração acelerada e a imensa onda de energia que fluía sobre a sua pele. Ele pegou a toalha ao lado do box, desligando o chuveiro logo em seguida.

Andou distraído enquanto secava  os cabelos. Sua mão livre tentando limpar incessantemente o espelho turvo à sua frente, até que seu reflexo o encarasse impassível.

Ele puxou o ar algumas vezes, criando coragem para ver o estrago que Jimin havia feito em suas costas, com suas unhas estranhamente afiadas.

Nada.

Yoongi tentou passar suas mãos nas costas, pensando se o espelho não mentia para ele. Suas costas estavam lisas como sempre, sem arranhões ou qualquer outro vestígio do ataque de Jimin.

Mas então…

Jimin não era real?

Parecia tão real.

Mas ele não ser real, era realmente uma explicação bem mais coerente.

Talvez ele estivesse finalmente enlouquecendo.

Alguém bateu na porta, fazendo sua mente voltar para realidade enquanto seu corpo pulava assustado.

- O que é? - Yoongi perguntou seco.

- A mãe pediu para eu te levar para escola. Sai logo daí não quero me atrasar. - Taehyung disse mal humorado.

Yoongi abriu a porta com tudo, quase batendo na cara de Taehyung.

- Desculpa. Você disse escola?

Taehyung sorriu largo.

- Por que você acha que meus pais adotaram você? Você é a boa ação da família Kim depois do trágico acidente na indústria Kim.Co. e como toda boa publicidade, essa precisa ser divulgada para o mundo.

Kim.Co ?! Onde é que ele havia visto esse nome antes ?

- Acidente? - Yoongi resmungou tirando a toalha da cintura para se trocar.

Taehyung parou de respirar por um tempo, admirando aquele corpo alvo e musculoso.

Seus dentes foram de forma inconsciente para o lábio inferior enquanto ele admirava aquela bunda firme e aparentemente deliciosa. Pensou por um instante como aquele corpo ficaria, cheio de marcas roxas causadas por seus lábios e ...

- Eih! - Yoongi estalou os dedos fazendo Taehyung voltar para realidade. - Tem como parar de me olhar como se quisesse me comer? - Yoongi disse mal humorado.

- Bem … - Taehyung não parecia nem um pouco sem graça, mas parou de analisá-lo de qualquer forma. - Se quiser ir comigo para o Junior High, esteja pronto em dez minutos em frente a casa. - Ele disse saindo às pressas com um volume considerável, marcado pelas calças largas que vestia.

Yoongi sorriu torto com a ideia, mas logo voltou ao mau humor usual. Seu corpo estava exausto e apesar de não ter nenhuma marca no corpo, ele jurava que ainda podia sentir as garras de Jimin afundando em seus músculos e os rasgando até raspar os ossos.

Como combinado, em dez minutos Yoongi estava na frente da mansão esperando por Taehyung.

Yoongi estava no último ano, mas não imaginava que seus pais adotivos conseguiriam matriculá-lo no meio do ano, então ele pensou que só voltaria estudar no próximo ano.

Ele devia ter imaginado que não existe nada que a família Kim não consiga, já que eram tão ricos e bem conectados.

Taehyung saiu da garagem com um carro esporte de aparência cara que Yoongi não fazia ideia de qual era, mas reconhecia o símbolo da maserati na lataria brilhante.

- Bonito carro. - Yoongi disse um pouco debochado assim que entrou no banco do passageiro.

- É um colecionável, então pense bem antes de ofendê-lo.

- Nada contra gostos peculiares, mas roxo? - Yoongi sorriu torto enquanto comentava sobre a cor do carro.

Taehyung só revirou os olhos e pisou fundo no acelerador.

- Aquele seu amigo de ontem a noite… - Yoongi começou, tentando não parecer muito interessado.

- O que tem ele?

Yoongi deu de ombros.

- Você. O conhece há muito tempo? - Yoongi analisou Taehyung de perfil, tentando tirar algo da sua expressão, mas não conseguiu nada.

- Escuta. Eu sei que não devia ter invadido seu quarto. Só estávamos preocupados com você. Seus gritos eram assustadores, pensei que estivesse morrendo ou algo assim. Namjoon é de confiança, ele não vai contar nada pra ninguém.

Yoongi analisou Taehyung enquanto falava. Ele parecia um garoto honesto e apesar da invasão de privacidade na noite anterior, parecia honestamente preocupado com ele.

- No orfanato, nós tínhamos um código. - Yoongi disse, olhando a enorme estrutura de tijolos vermelho à frente. - Você se preocupou comigo, o que significa que eu te devo uma. - Ele completou um pouco distraído.

Vários adolescentes, vestidos com um uniforme azul e vermelho por todo o canto.

O carro de Taehyung foi devagar liberando passagem até o estacionamento ao ar livre em frente ao prédio.

Todos olhavam para o carro, alguns com olhares irritados, muitos com admiração.

Yoongi suspirou desanimado. Ele costumava ser praticamente invisível na sua antiga escola. Algo lhe dizia que andar com Taehyung não o ajudaria a manter o mesmo status ali.

- Olha!  Eu só fui ver se você estava bem ontem a noite. Não é como se fôssemos melhores amigos agora, então além do fato de que eu sou obrigado a te trazer e levar para casa todos os dias, se mantenha longe de mim, Ok?! E esteja no estacionamento no máximo vinte minutos depois do término das aulas, se você se atrasar, vai ter que voltar pra casa a pé. - Taehyung tirou um Ray Ban do porta luvas e saiu do carro, ignorando completamente a cara de choque de Yoongi.

- Idiota. - Yoongi resmungou batendo a porta do carro com mais violência do que deveria.

Algumas pessoas encostadas em carros por perto suspiraram indignadas, como se ele tivesse acabado de cometer uma atrocidade, o que ele ignorou completamente.

Não é como se Taehyung não tivesse vários outros carros para exibir vai caso algo acontecesse com aquele.

- Olá. Você deve ser o garoto dos Kim. - Um garoto magro, a pele impecável e um olhar curioso disse ao se aproximar com uma das mãos estendidas na sua direção.

- Min Yoongi. - Ele disse pegando na mão que o garoto oferecia.

O garoto enrugou a testa.

- Achei que era órfão. - ele disse confuso. - Mas você tem sobrenome. Um órfão com sobrenome.

Yoongi levantou uma sobrancelha, descrente com a audácia do garoto.

- Oh! Me desculpa, eu costumo dizer as coisas antes de pensar sobre elas. Jeon...Jeon Jungkook. - ele disse balançando as mãos de Yoongi antes de soltá-las.

- Muito prazer Jeon.

- Pode me chamar de Jungkook, sou o monitor de intercambistas e vou te levar até a diretoria para pegar seu material e uniforme, depois te mostro os departamentos do JH.

- Não sou intercambista.

- Ah! Não se preocupe com isso, é só um título.

Yoongi colocou as mãos nos bolsos da calça, concordando para o garoto todo engomadinho na sua frente.

- Você não tem aula ou algo assim? - Yoongi perguntou enquanto caminhava ao seu lado pelos corredores, desviando vez ou outra de algumas pessoas pegando materiais em seus armários.

- Na verdade eu tenho certos privilégios por aqui e sem contar que só tenho aula no segundo período hoje. Estamos com sorte!

Yoongi concordou distraído enquanto analisava o garoto ao seu lado.

Ele era lindo. Alto, a pele imaculada, os lábios finos e vermelhos, como se tivesse acabado de ser beijado. Seus olhos grandes pareciam alegres enquanto falava algo que Yoongi não prestava atenção.

A única coisa que parecia fora do lugar era um colar de metal em seu pescoço. Parecia uma coleira estranha, ele não acharia nada demais se o negócio não parecesse emitir um ruído eletrônico vez ou outra.

A pele por baixo do colar era arroxeada e repleta de cicatrizes, mas era muito sutil, ninguém repararia se não olhasse tão atentamente.

- Algum problema? - O garoto disse no final de uma de suas frases, na qual Yoongi não tinha prestado atenção.

Yoongi sorriu pequeno para o garoto, mas não se importou em ser pego bisbilhotando. Era engraçado, mas o garoto o deixava à vontade. Ele não sabia explicar o porquê.

Jungkook cumpriu com o que havia falado, o levando até a sala da diretoria.

Ele foi apresentado a uma lista de regras absurdas, entregaram dois pares de uniforme, a roupa de educação física e alguns livros pesados. Logo em seguida, na secretaria, ele pegou sua lista de aulas no semestre, os livros que precisava ler para acompanhar a turma já em andamento e um pequeno mapa das instalações subjacentes à escola, como a biblioteca e refeitório.

- Peguei seu cadeado,  somos vizinhos de armário. - Jungkook disse enquanto se aproximava do Yoongi quase coberto por uma pilha de livros.

- Deixa isso comigo. - Jungkook pegou todos os livros das mãos de Yoongi, como se não fosse nada demais.

- Obrigado. - Yoongi resmungou rodando o braço para aliviar a dor nos ombros.

Os dois foram caminhando até os armários do corredor sudeste, era mais isolado que os que ele havia visto antes e pareciam velhos, provavelmente os últimos escolhidos, o que significava que foram os que sobraram para alunos que começavam as aulas no meio do ano.

- Por que seu armário fica nesse corredor também? - Yoongi perguntou enquanto colocava suas apostilas de qualquer jeito no seu armário.

- Os garotos do time de basquete são uns idiotas sem cérebro e viviam me perturbando no intervalo quando eu ia buscar meu material.

Yoongi levantou uma sobrancelha, olhando para os braços significativamente musculosos de Jungkook, apesar de escondidos pelo terno do uniforme.

Ele parecia alguém que sabia se defender.

- Você não tá falando sério, né? - Yoongi tentou realmente entender a piada naquilo que tinha ouvido.

- Não posso arrumar briga de qualquer forma. - Jungkook deu de ombros.

- Por que não?

- Sou expulso do comitê e perco minha bolsa de estudos, sem contar que os pais da metade dessa escola tem ações na Kim.Co, podem facilmente ordenam que eu seja demitido por bater em um desses mimadinhos covardes.

- Você trabalha lá?

- Estágio.

- E o que a Kim.Co tem a ver com tudo isso?

Jungkook riu seco.

- Eles são donos majoritários  da Junior High cara.

Yoongi mordeu o lábio pensativo enquanto concordava distraído.

Isso explica muito.

- Acho que isso faz de você um riquinho mimado também, já que é o filho dos donos da metade de Seul. - Jungkook riu da careta de Yoongi, o fazendo rir também.

 Yoongi tinha se identificado ainda mais com o garoto agora. Jungkook parecia inteligente, esforçado e humilde o bastante para não esfregar essas qualidades na cara de ninguém.

- E você tem medo de ser expulso porque não quer estragar seu futuro na empresa em que esses riquinhos mimados serão seus chefes.

- Depressivo eu sei, mas não é como se eu tivesse opção. - Jungkook bateu a porta do armário, sorrindo forçado para Yoongi que sorriu meio sem graça em resposta.

Ele não queria ser um intrometido e Jungkook não parecia disposto a falar sobre o assunto.

- Você quer chegar atrasado no seu primeiro dia de aula ou matar aula escondido no ginásio até o segundo período? - Jungkook perguntou claramente tentando cortar o clima estranho entre eles.

- Opção dois, Jungkook. - Yoongi disse sério, mas acabou sorrindo no final ao ver Jungkook tentar lembrar as opções que tinha acabado de dar.

- Por aqui, Yoongi. - Jungkook disse sério também, o que fez Yoongi precisar segurar a própria risada.

Ele realmente gostou daquele garoto.

- Você mora por aqui? - Yoongi perguntou acendendo um cigarro e oferecendo outro para Jungkook, que negou veementemente, mas não parecia certo da decisão.

Yoongi deu de ombros, guardando o cigarro no bolso da jaqueta.  

- Sem chances cara. Eu moro no bairro industrial do outro lado da cidade, nos apartamentos comunitários.

Yoongi não conhecia bem aquela parte da cidade.

- E você vem de ônibus para cá?

Jungkook concordou, olhando as telhas cinzas que cobriam a arquibancada onde estavam.

- Pego dois ônibus e o metrô, na verdade.

- E você nunca pensou em se mudar pra mais perto?

- Tá brincando? E deixar meu irmão mais velho com todo quarto mofado de 2x2 que a gente é obrigado a dividir desde criança? Não. Eu não daria esse prazer a ele. Nada melhor do que respirar mofo de inverno. Não sei se conseguiria viver sem.

- Sei como é.  - Yoongi falou seriamente. - No orfanato nosso quarto era tão úmido e mofado que agora me sinto meio estranho vestindo roupas realmente secas, parece errado.

Jungkook riu alto, mostrando dentinhos avantajados que o deixava com uma aparência infantil.

- Nossa? - Jungkook perguntou quando a risada finalmente morreu.

Yoongi concordou soltando a fumaça de cigarro dos pulmões.

- Eu e meu melhor amigo, Hoseok. Nós dividimos um quarto. - Yoongi falou no presente sem perceber.

Jungkook concordou, olhando para a quadra de basquete vazia.

- Você sente falta? - Jungkook perguntou.

O que pra muitos seria ridículo, já que antes ele morava num lugar horrível, comendo gororobas intragáveis e lutando pra sobreviver e agora tinha tudo o que o dinheiro podia comprar. Yoongi nunca seria louco de reclamar em voz alta, mas nunca se sentiu mais sozinho.

As pessoas simplesmente concluíam que ele era feliz agora e ninguém perguntava como ele estava, se bem que não parecia do feitio da família nova, fazer esse tipo de pergunta.

- Sinto muita falta. - Ele disse aquilo em voz alta pela primeira vez. Fingindo que os olhos irritados e úmidos era devido a fumaça de cigarro e o coração apertado sintoma de excesso de nicotina.

- Acho que isso é o tipo de coisa que posso entender. - Jungkook disse sorrindo sem humor.

Yoongi concordou distraído mais uma vez.

Já era intervalo quando eles finalmente saíram das quadras que estavam começando a encher. Yoongi conversava sobre sua praça favorita perto do orfanato quando sua visão periférica pegou um grupo se aproximando rápido demais dos dois.

- E aí cachorrinho?! Esse aí é seu novo bichinho de estimação? - Um cara com uma jaqueta do time de basquete disse olhando para Jungkook.

Jungkook olhou ao redor, se xingando por ter se distraído e atravessado o corredor errado.

Droga!

- O que foi? Um dos seus bichinhos comeu sua língua? - Um outro garoto de cabelos rosas perguntou..

- Desculpa. Com licença. - Jungkook disse empurrando Yoongi para desviar dos caras.

- Aposto que esse aí, é mais um dos viadinhos com quem o cachorrinho gosta de andar. - outro cara disse.

- Do que você me chamou? - Yoongi disse dando meia volta para ficar à centímetros do que parecia ser o líder dos idiotas.

- Você ouviu baixinho. Agora sai da frente.

Yoongi riu seco e socou o nariz do cara que caiu de bunda no chão e com a mão no rosto.

- O que está acontecendo aqui? - O que parecia ser uma professora que passava pelo corredor, parou perguntando.

- Esse otário precisa de ir para enfermaria. - Yoongi resmungou apontando para o garoto que tentava se levantar do chão.

- Otário é você. - O garoto gritou indo pra cima do Yoongi, mas seus amigos o seguraram antes que ele conseguisse alcança-lo.

- Ok. Já chega. Todos para diretoria. - A professora disse irritada.

Yoongi arregalou os olhos enquanto tentava achar uma solução para aquele problema.

- Corre. - foi sua maravilhosa solução.

- O que? - Jungkook perguntou rouco e assustado.

- Corre, ninguém vai notar.

- Como ninguém vai not…

Yoongi se aproximou do primeiro garoto que viu pela frente e o socou também, dessa vez errando o soco e acertando um dos armários.

Os outros dois garotos foram pra cima do Yoongi. Dois prensaram ele no armário enquanto o do nariz quebrado socava seu estômago.

A professora saiu correndo.

Taehyung estava sentado em um dos bancos do corredor quando viu o que parecia ser uma briga no corredor norte, perto de onde estava.

- Não é seu irmão? - Namjoon perguntou olhando para o garoto com cara de poucos amigos no meio da roda inconstante no corredor levando a maior surra.

Taehyung bufou.

- Ele não é meu irmão. E mrsmo que fosse, não estou nem aí pra essas merdas.

Namjoon deu de ombros, voltando a rabiscar seu caderno de bolso.

- Minha mãe vai matar ele por se meter em briga no primeiro dia de aula. - Taehyung resmungou pensativo.

- Achei que não estava nem aí pra essas merdas.

Taehyung soltou o ar com violência, se levantando sem muito ânimo.

Namjoon notou a movimentação do mais novo e guardou o caderno no bolso, acompanhando Taehyung na direção do que  agora ele parecia interessado em participar enquanto calculava o tempo de detenção que aquilo daria.