Deception
Jungkook conseguiu fugir da briga, o que era bom. Ele pareceu relutar no começo, mas era óbvio que seu olhar aterrorizado venceu a vontade de defender o garoto novo que ele mal conhecia.
Ele tinha uma família para proteger. Yoongi não fazia ideia do que isso significava, mas parecia importante.
Taehyung apareceu em sua visão periférica. Yoongi tinha levado muito socos no estômago quando sua atenção foi para a fuga de Jungkook, então estava tentando se recuperar, forçando o pulmão engolir ar, doía respirar, ele provavelmente tinha quebrado uma costela, essa dor não era novidade, ele já quebrou uma costela ou duas na sua vida. Nada que não pudesse ser remendado.
Namjoon, o amigo de cabelos cinzas de Taehyung, sorriu quando se aproximou, ele estava prestes a falar algo, mas foi impedido por um toque das mãos de Taehyung em seu braço. Eles pareciam se comunicar sem palavras, era estranho ser capaz de notar esse tipo de coisa no meio de toda aquela bagunça, Yoongi sempre teve a habilidade de ver ordem no caos, talvez por ter vivido tanto tempo em um.
Taehyung sorriu, mas seu sorriso era assustador e suas mãos tremiam. Yoongi não achava que era de medo, algo lhe dizia que era algum tipo de excitação doentia.
Ele deu o primeiro soco e sorriu, o sangue do nariz de um aluno espirrou em seu rosto e agora ele ria alto.
Alguns seguranças apareceram do nada e levaram os garotos do time de basquete para longe, provavelmente para enfermaria, eles ficaram muito piores do que Yoongi previa.
Uma mulher bem arrumada, com seus 40 anos ou mais se aproximou dos remanescentes, olhando tudo com nojo e desprezo.
- Quem começou a briga? - Ela perguntou simplesmente.
Era incomum alguém querer saber quem começou uma briga, pelo menos nos colégios antigos que Yoongi frequentou era. Lá ninguém estava interessado em saber quem começou o quê. Eles só arrastavam os que não conseguiam fugir para diretoria e punia a todos, simples porém eficaz.
- Eu comecei. - Yoongi disse com dificuldade, a boca cheia de sangue espesso dificultando o movimento de sua língua e causando enjôo. Ele queria cuspir o líquido grosso no chão, mas não parecia apropriado.
O lugar fedia a riqueza e a sensação de não pertencer a lugar nenhum voltou com força, talvez nunca tivesse ido embora.
- Eu comecei diretora Rayburn. - Taehyung disse fazendo Yoongi virar a cabeça na sua direção.
Que porra ele pensa que está fazendo?!
- Eu comecei diretora. - Namjoon disse pela primeira vez, após olhar feio e tão indignado quanto eu para Taehyung.
- Alguém mais? - Rayburn perguntou vendo os alunos, que antes assistiam aquilo, se afastarem discretamente. - Ótimo. Vocês três, na minha sala.
Yoongi se levantou do chão com dificuldade, era difícil andar, piscar, engolir. Tudo.
- Precisa ir para enfermaria também? - Um dos seguranças da escola perguntou preocupado.
Yoongi negou com a cabeça e consertou a postura, mas não conseguiu deixar de cuspir sangue no chão branco impecável.
Fodam -se esses putos mimados.
Algumas drogas da enfermaria definitivamente lhe cairiam bem agora, mas ele não confiava no idiota do Taehyung, muito menos no seu amigo de cabelos cinzas e não ia deixá-los levar uma culpa que não era deles e ficar em dívida com aquela gente confusa, ele já devia uma para Taehyung e isso já era por si só um evento infeliz.
Os três entraram numa sala ostensiva, cheia de fotos da família da tal diretora Rayburn, muitos diplomas e móveis caros que ia da escala entre o bronze e o mogno.
- Muito bem. - A diretora Rayburn falou, assim que entrou na sala, onde os três estavam há quase meia hora num total silêncio. - Já falei com o Lucas, ele me disse que quem começou a briga foi o aluno Jeon Jungkook. Irei emitir uma suspensão a eles e uma advertência à vocês por tentar protegê-lo.
- Uma advertência? - Taehyung levantou uma sobrancelha incrédulo, o que fez a diretora encolher de forma estranha, como se tivesse medo do idiota do seu irmão adotivo.
Yoongi achou aquilo nada convencional, mas era provavelmente porque Taehyung era filho dos donos majoritário das ações da escola ou seja lá o que Jungkook havia falado a ele.
Jungkook.
- Eu comecei a briga. O aluno Jungkook nem estava lá. - Yoongi disse, fingindo desinteresse no assunto.
O que não deve ter adiantado, porque agora os três o olhavam com curiosidade.
- Você defende as ações do Jungkook. Sr. Min? - A diretora perguntou confusa.
Ela sabia quem ele era. É lógico que sabia, ela era porra da diretora.
Deve ter analisado a ficha dele e milagrosamente o aceitado em sua instituição, mesmo contra suas prováveis regras contra arruaceiros pobretões.
Pra ser bem sincero, talvez a opinião dela nem contasse muito. Pelo que ele entendeu até agora, os Kim's não pareciam do tipo que pediam algo ou sequer deixavam ser advertidos.
- Talvez devesse se juntar ao seu amigo numa expulsão, se sua lealdade está com ele.
- Eu defendo Jungkook porque ele não estava na briga quando ela começou. E que negócio é esse de ficar onde minha lealdade está? Foi uma briga de corredor. - Yoongi riu incrédulo, mas ninguém o acompanhou.
Taehyung o encarou sério, enquanto a diretora recitava regras sobre o lugar, alegando que ele não as conhecia ainda e por isso devia estar confuso.
- Vou pegar as instruções de bom comportamento com o conselho para que todos você assinem. Com licença.
A diretora saiu da sala, como se fosse fazer tudo, menos o que disse que ia fazer.
Taehyung olhou para Namjoon parecendo entrar naquela conversa estranha com os olhos que os dois tinham regularmente, depois Namjoon confirmou com a cabeça e virou o rosto para Yoongi.
- Tem certeza que vale a pena se arriscar pelo seu amigo? - Namjoon perguntou sério.
Que?!
Yoongi olhou para ele como se tivesse nascido uma segunda cabeça em seu pescoço.
- Ele não é meu amigo, mas também não tem culpa.
Os dois se olharam novamente, mas Yoongi desviou o olhar para encarar a diretora que voltou para seu escritório como se nada tivesse acontecido.
- Diretora Rayburn. - Namjoon começou com uma voz melodiosa e totalmente diferente de tudo que ele já ouvira antes. - Acho que podemos entrar num meio termo aqui. Estamos em época de torneios e estão todos com sangue quente e euforia de início de jogos. Talvez pudéssemos nos juntar e pendurar os cartazes dos torneios nos corredores, aliviar a secretaria e ao mesmo tempo levar nosso castigo pela bagunça do corredor mais cedo.
Nem ferrando que a mulher cairia nessa. Ele deve ter quebrado pelo menos umas três costelas hoje.
A diretora parecia um passarinho hipnotizado, encarando os meninos com os olhos vidrados.
- Talvez eu devesse juntá-los para pendurar cartazes nos corredores, aliviar a secretaria e ao mesmo tempo lhes dar um castigo pelo mal comportamento nos corredores mais cedo. - Rayburn disse de repente, como se tivesse acabado de ter a ideia.
- Achamos uma ótima idéia diretora Rayburn. - Namjoon disse como se não tivesse acabado de falar a mesma coisa.
- Tudo bem para você Sr. Min ou tem mais alguém que queira defender?
Yoongi ainda estava em choque, encarando Taehyung e Namjoon que não encaravam de volta.
- Hamm. Si...sim...é uma boa ideia diretora.
- É uma infelicidade que tenhamos nos conhecido dessa forma, espero mudar minha opinião sobre você na festa de recepção em sua casa essa noite.
Era essa noite?
- Será um prazer recebê-la diretora Rayburn. - Taehyung disse, já que Yoongi tinha perdido a habilidade da fala.
- Sobre o Jungkook? - Yoongi falou fazendo todos encararem bravos.
Qual o problema desse povo com o garoto?
- Não podemos fazer muito por ele, mas posso ver o que consigo.
- Mas isso não faz nenhum sentido…
- Yoongi. - Taehyung soltou alguma alerta com um olhar que Yoongi não entendeu.
- Ele nem tava na briga. - Yoongi tentou de novo.
- Diretora, o garoto tem razão. Jungkook é só um jovem bobo e inofensivo. É um pobre coitado. - Namjoon disse às pressas quando percebeu que Yoongi não cederia.
- Pobre coitado. - A diretora repetiu robótica.
- Vamos. - Namjoon disse levantando da cadeira.
- Mas…
- Sério garoto, não testa minha paciência. - Taehyung disse para Yoongi que não saiu do lugar. - Ela não vai fazer nada. Agora vamos. - ele disse nervoso.
Yoongi olhou a diretora que parecia prestes a babar na sua mesa de escritório, os olhos perdidos, algumas palavras sussurradas e repetitivas em seus lábios secos.
Ele resolver acompanhar os dois garotos, deixando a mulher estranha para trás.
Era tudo tão confuso. Ele não fazia ideia o que tinha acabado de acontecer, tudo o que tinha eram seus instintos alarmados, mas nada racional explicava o porquê daquela conversa estranha.
- Acha que ela vai ficar bem? - Taehyung sussurrou para Namjoon andando um pouco mais à frente de Yoongi.
- Sei lá, nunca precisei moldar tanto antes. De qualquer forma ela é mais fácil que o diretor Sexton, então espero que continue por aqui. - Namjoon deu de ombros.
- Moldar? - Yoongi sussurrou confuso, fazendo os dois pararem de andar, quase trombando nele que parou assustado e de abrupto para não bater nos garotos.
- Você não viu nada disso que aconteceu aqui. Está ouvindo? Eu tenho um limite para o tanto que devo te salvar por dia. - Taehyung disse parecendo fora de controle.
- Por que me salvou então? Eu não pedi. - Yoongi perguntou realmente querendo saber a resposta.
- Isso é sério? - Taehyung avançou na direção de Yoongi, mas foi impedido por Namjoon no meio do caminho.
- Isso é mesmo necessário? - Namjoon começou, olhando nos olhos de Taehyung. - Talvez devemos…
- Sai da minha cabeça caralho. - Taehyung gritou se soltando das mãos de Namjoon para se afastar deles quase correndo.
- Eu sinto muito por ele. Taehyung tem um gênio difícil. - Namjoon disse sorrindo pequeno para um confuso Yoongi.
- O que ele quis dizer com “ Sai da minha cabeça?” - Yoongi perguntou distraído.
Namjoon sorriu e estava prestes a falar algo, mas travou, olhando confuso para Yoongi. Ele virou a cabeça para o lado, como quando um cachorro fica curioso, mas balançou a cabeça e voltou a sorrir, tentando não parecer o louco que para Yoongi ele já definitivamente era.
- Só cuidado com quem você coloca embaixo das suas asas. A diretora Rayburn não vai ser tão boazinha da próxima vez. - Namjoon disse antes de voltar andar pelo corredor, o deixando sozinho e pensativo.
…
Talvez faltar nas suas aulas no primeiro dia, arrumar brigas com desconhecidos em corredores e quase conseguir uma suspensão não fosse a melhor forma de começar a semana ou sua nova vida naquela família, mas ele não tinham muito o que fazer com sua personalidade, afinal nascera já com ela.
Ele pensou que a Sra. Kim, sua nova mãe adotiva, ficaria irada com a bagunça no colégio hoje mais cedo, mas tudo que a mulher conseguia pensar e falar era na maldita festa de boas vindas à família ou algo assim.
Yoongi estava em seu quarto, vestido num smoking apertado, um perfume forte em seus punhos e uma dor insuportável na cabeça enquanto olhava para o espelho esperando do seu reflexo uma resposta de como amarrar a gravata azul segura em sua mãos, na base do seu pescoço.
Talvez ele devesse deixar a gravata pra lá?
Ele não entendia nada sobre etiquetas ou essas merdas, mas talvez não notassem.
- Aqui! Deixa que eu te ajudo. - Namjoon disse da porta.
Ele estava olhando Yoongi já há um tempo e pretendia permanecer com sua presença anônima, mas não resistiu ajudar quando viu que Yoongi estava prestes a surtar de tanto pensar numa solução para o uso da gravata que tinha nas mãos.
- Desculpa ter agido daquela forma hoje mais cedo. Conviver tanto com Taehyung às vezes me faz esquecer as boas maneiras.
Yoongi sorriu meio sem jeito, levantando o pescoço para Namjoon fazer o nó em sua gravata.
- Não tem problema. Eu não faço ideia do que “agir conforme boa maneiras” significa de qualquer forma.
Namjoon riu de verdade pela primeira vez, mas não disse mais nada.
Ele se mostrou bastante ágil com seus dedos longos ao redor do tecido, minutos depois, Yoongi já estava se sentindo sufocado com um nó no tecido brilhante amarrado ao redor do seu pescoço, mas não quis reclamar em voz alta.
- Achei que tinha quebrado ossos durante a briga, mas você parece perfeitamente bem. Fico feliz!
Yoongi enrugou a testa, lembrando que ele realmente tinha sentido pelo menos uma de suas costelas rachar.
- Sim. Eu fiquei bem depois de tomar um bom banho, então achei melhor não preocupar ninguém com a palavra hospital.
Namjoon olhou para o corpo de Yoongi de forma faminta e completamente imprópria, fazendo Yoongi fechar os punhos apreensivo.
- Depois do banho, especificamente? - Namjoon perguntou, tentando não soar insano mais que o necessário.
- Por que a pergunta?
Os dois se olharam avaliativos, ambos tentando não deixar o momento estranho e apreensivo entregar suas inseguranças e intenções.
Namjoon foi o primeiro a abaixar a cabeça.
- Só fico feliz por te ver bem. - ele sorriu pequeno e saiu, deixando Yoongi ainda mais cismado que antes.
…
A festa foi um total tédio. Por incrível que pareça, ninguém ali estava realmente interessado em conhecer Yoongi, eles só queriam um motivo qualquer para festejar.
Taehyung e Namjoon subiram para o quarto no primeiro momento que tiveram e algo lhe dizia que não era para conversar, então Yoongi se encheu. Correu para cozinha, roubou uma garrafa aparentemente cara de Champanhe e mandou uma mensagem para Taehyung, pedindo um endereço.
Depois de muito tempo e algumas respostas tortas, Taehyung lhe deu o endereço que procurava.
Yoongi subiu na moto que aparentemente agora era dele e foi até o lugar.
O bairro era com certeza de classe baixa. Aqueles conglomerados do governo com problemas de manutenção e estrutura arquitetônica nada adequada para aguentar alterações climáticas.
Ele entrou em um dos vários prédios iguais, um do lado do outro e apertou a campainha do apartamento 222.
Jungkook abriu a porta um pouco assustado e arregalou os olhos quando encontrou Yoongi do outro lado.
- Oi. - Yoongi deu seu melhor sorriso, mas Jungkook não reagiu, ainda o encarando assustado.
- Quem é? - Alguém falou de trás dele.
- Ninguém. - Jungkook disse, pedindo para Yoongi fazer silêncio com um sinal do seu dedo.
Uma senhora, provavelmente a avó do mais novo, assistia tv no sofá a uma distância pequena de onde eles estavam, mas a mulher não virou a cabeça e Jungkook também não o convidou para entrar e comprimenntá-la, então Yoongi só ficou quieto e parado como lhe foi ordenado.
Jungkook entrou no apartamento e pegou uma jaqueta no encosto de uma cadeira velha.
- Eomeoni, vou levar o lixo e já volto. - Jungkook beijou a testa da senhora e foi até a porta, a fechando com delicadeza.
Jungkook saiu andando pelo corredor sem falar nada, então Yoongi correu para seguí-lo, percebendo que ao invés de descer, eles estavam subindo.
- Você veio de moto? - Jungkook perguntou apontando para o capacete em suas mãos assim que eles abriram a porta de metal que dava acesso para o terraço.
Jungkook colocou um tijolo para impedir que a porta fechasse e subiu no parapeito do prédio sem se importar muito com a altura.
- Também trouxe presentes. - Yoongi tirou a garrafa de champanhe de dentro do capacete, feliz por Jungkook finalmente falar com ele.
- Legal, mas tenta cerveja da próxima vez. - Jungkook disse divertido.
- Não tem medo de morrer? - Yoongi perguntou assustado com a altura em que eles estavam sentados agora.
Os pés balançando no ar enquanto vez ou outra a canalização de vento os desequilibravam momentaneamente.
- Não tenho autorização para morrer. - Jungkook disse parecendo triste enquanto abria o champanhe com alguma técnica estranha, batendo a rolha na mureta de tijolo em que estavam sentados.
- Você não tem…ham? - Yoongi juntou a sobrancelhas confuso, pensando se ele tinha sofrido algum derrame durante a noite ou se era comum todo mundo dizer coisas estranhas para ele.
- Você não devia estar na sua festa de boas vindas? - Jungkook perguntou, ignorando a confusão de Yoongi enquanto tomava um gole da bebida. - Isso é nojento. - ele falou fazendo Yoongi rir alto.
- Hmm. Realmente terrível. - Yoongi disse quando pegou a garrafa para tomar um gole.
- Pior que deve ter custado o valor de uns três apartamentos iguais ao que eu moro.
Yoongi concordou distraído.
- Como sabia da festa? - ele perguntou curioso, pois ironicamente não viu ninguém da idade deles no lugar, além de Taehyung e Namjoon.
- Saiu nos jornais ou algo assim. - Jungkook deu de ombros.
Os dois ficaram um tempo assistindo a lua ser coberta por mantos longos de nuvens cinzas vez ou outra. O silêncio confortável e bem vindo entre eles os acalmava e a bebida tomada em goles longos parecia ajudar da mesma forma.
Era engraçado, mas Yoongi se sentia bem ao lado do garoto, não sabia porque, mas não estava interessado em tentar descobrir também.
- Obrigado pelo que fez na escola hoje. Ninguém nunca se arriscou daquele jeito por mim antes. - Jungkook disse sincero.
- Você não vai ficar todo sensível, pedindo abraços e chorando nos meus ombros não, vai?! - Yoongi perguntou divertido assistindo Jungkook rir junto.
Jungkook pegou a bebida das mãos de Yoongi e deu um último gole, jogando a garrafa vazia em qualquer canto.
- Eih! Você tomou tudo. - Yoongi disse fingindo indignação.
Jungkook sorriu, concordando com a cabeça. Os dois se olharam por tempo demais, então pareceu natural quando Jungkook se aproximou, encostou nos lábios gelados do mais velho e os chupou, sentindo gosto de hortelã e bebida cara.
Yoongi se afastou, sorrindo um pouco constrangido.
- Desculpa, eu…
- Não. Eu não devia. - Jungkook o interrompeu envergonhado.
- Eu não disse isso.
- Eu provavelmente entendi os sinais de forma errada, como sempre. - Jungkook disse ainda mais constrangido e agora com as bochechas vermelhas.
Os dois voltaram com seu silêncio. Yoongi não concordo ou negou as conclusões de Jungkook.
O silêncio voltou entre eles, não era mais tão confortável, mas ainda não era ruim.
- Seu colega de quarto, no orfanato... - Jungkook começou sem saber muito bem onde queria chegar.
- O que é que tem ele? - Yoongi perguntou, quando percebeu que Jungkook havia travado.
- Vocês estão, tipo, juntos ou algo assim?
Yoongi riu ao perceber a conclusão em que Jungkook havia chegado com sua rejeição.
- Não cara, eu e Hoseok somos realmente amigos.
Jungkook concordou, a cabeça baixa, os pés balançando no ar.
- Olha! Eu não te rejeitei se é o que está pensando. - Yoongi começou, vendo o garoto virar a cabeça para olhá-lo.
Yoongi não devia, mas queria contar o que se passava em sua cabeça, pelo menos em partes.
- Tem esse garoto…
Jungkook concordou com a cabeça, um pouco mais aliviado por existir um motivo mais simples para ser rejeitado.
- Nós não nos conhecemos pessoalmente ainda…
- Coisa de internet? - Jungkook perguntou curioso, vendo Yoongi assentir.
- Algo assim. - Yoongi disse baixo.
Falar que sonhava com Jimin e era louco o suficiente para rejeitar alguém por causa do garoto dos seus sonhos, não era a melhor forma de fazer amigos. Jungkook não acreditaria nele de qualquer forma.
- Enfim. Não sei o que eu sinto por ele, mas não consigo parar de pensar que sinto algo a mais, sabe?!
- Não?! - Jungkook sorriu pequeno para Yoongi.
Ele não sabia o que era amor e talvez nunca saberia. Isso deveria incomodar o mais novo, mas não incomodava realmente.
- Eu gostei de conhecer você. Espero que isso não tenha estragado nada. - Yoongi disse sincero.
- Não vou estragar as coisas com o único garoto que fala comigo por livre espontânea vontade. - Jungkook disse sarcástico, porém era verdade.
- Uau! Isso é muito bom. Fico feliz. - Yoongi disse no mesmo tom de sarcasmo, mas também era verdade.
- Eih! Tem uma festa anual próxima daqui. Tá afim de ir?! Você pode aproveitar e me apresentar para seu melhor amigo, Hoseok. - Jungkook disse realmente animado com a ideia
- Quando?
- Amanhã.
Yoongi deu de ombros e concordou com a cabeça, parecia uma boa ideia sair com Hoseok, ele já sentia falta do amigo.
…
Namjoon entrou na igreja mais uma vez, sentando num dos últimos bancos para admirar a pintura nas paredes.
Existia uma pintura específica em uma das abóbadas do teto. Era uma réplica, de um pintor renascentista chamado Pieter Bruegel, era uma representação da queda dos anjos rebeldes. Namjoon tinha um fraco por aquela pintura, mas não sabia dizer exatamente o porquê de tal fascinação.
Uma movimentação tirou sua atenção da pintura.
Jin apareceu na sua frente. A igreja estava fechada para a limpeza semanal e Jin deveria estar surpreso com a presença de Namjoon ali, mas ele não parecia estar, o que para Namjoon era curioso.
- Você não devia estar aqui. - Jin falou se sentando ao lado de Namjoon.
Você também não. - Namjoon pensou, mas não disse nada.
- Vejo que não foi até a praia como combinamos. - Namjoon disse, sem saber se ficava triste ou feliz com isso.
- Eu sei que não te deixei esperando, então não vou pedir desculpas. - Jin sorriu pequeno quando Namjoon apertou as mãos em punhos ao lado do corpo.
- O que quer dizer?
- Ouvi dizer que você nunca aparece em uma de suas armadilhas, apenas os soldados armados prontos para nos sequestrar. - Jin sorriu com a surpresa nos olhos de Namjoon.
- Não é um sequestro e vocês não estão seguros aqui. Só estou fazendo meu trabalho.
Jin sorriu, concordando com a cabeça.
- Eu entendo que acredita mesmo nisso, mas não precisa tentar me convencer Sr. Kim.
Namjoon se virou para o garoto, entortando sua cabeça enquanto tentava lê-lo.
- Você não tem habilidades com água tem?! Vem me manipulando desde o começo. - Namjoon disse se sentindo um tolo.
- Manipulando? Não! Só queria saber até onde está disposto ir. - Jin deu de ombros, mas não parecia achar nada daquilo trivial.
- Como soube? - Namjoon perguntou curioso e atraído pelo mistério que parecia ser Kim Seokjin.
- Eu posso ouvi-lo. - Jin bateu o dedo indicador em sua têmpora
- Você lê mentes? - Namjoon perguntou desacreditado.
- Não disse isso. Eu disse que posso ouvi-lo, tem uma grande diferença.
Namjoon não sabia o que dizer sobre aquilo, então só concordou.
- Por que a curiosidade à respeito de habilidades com água então? - Namjoon perguntou curioso.
Jin sorriu condescendente.
- Estou à procura de uma criança, ela tem uma relação curiosa com a água.
- Uma criança? Quem?
- Você é o… Como é que te chamam? Farejador?
- Caçador. - Namjoon respondeu.
- Ah sim! Um Hunter. - Jin riu de uma piada interna, mas não a partilhou. - Enfim, você é um caçador, então cace. Temo que seja a única coisa em que você é bom.
- Não me teste garoto. - Namjoon disse irritado.
- Não pretendo testá-lo. - Jin disse também irritado.
Os dois pareceram perder a habilidade da fala depois disso. O silêncio se tornando companhia um do outro.
- Por que não fugiu? - Namjoon disse cortando o silêncio abruptamente. - Se sabia que eu o caçaria. Por que não fugiu?
Jin suspirou, depois olhou para o livro deitado no banco entre os dois.
- Por que me deu uma chance?
Namjoon ficou tenso, pensando na voz de Jin, em como ele era doce e parecia inofensivo. Pensando no tipo de lugar para onde o levariam e o que fariam com ele quando descobrissem sua verdadeira habilidade.
Droga!
- Sai da minha mente. - Namjoon disse estressado.
- É estranho? - Jin perguntou. - Tantos anos manipulando a mente dos outros, como é que você chama? Moldando-as. - Jin riu seco. - Como se sente ao ter alguém mexendo na sua mente pra variar?
Namjoon travou a mandíbula tentando não pensar em nada que o deixasse em problemas.
- Isso não é relevante agora. Você está em perigo, as Indústrias Kim.Co. está disposta a ajudar seu povo…
- É o seu povo também. - Jin disse fazendo Namjoon enrugar a testa em confusão. - Caso tenha esquecido disso. - Jin completou, obviamente o alfinetando.
- As indústrias Kim.Co quer controle, como todo ser humano que se sente ameaçado na ordem da cadeia alimentar, eles surtar se desconfiarem que não estão no topo, nós somos uma ameaça aos olhos deles. Não quero ir para um lugar onde serei torturado, usado para um propósito cruel e depois descartado ou morto. Estou bem onde estou.
- E onde seria isso? Aqui? - Namjoon riu. - A Kim.Co usa suas experiências para salvar a humanidade de doenças e outras complexidades. Vocês estarão salvos e em troca ajudam o resto da humanidade que precisa, não parece um acordo ruim pra mim.
Jin concordou pensativo.
- Ainda assim, momentos atrás você pensava em como é cruel o lugar para onde me levariam. Como foi o pensamento exato que usou em sua mente? Um caminho sem volta. - Jin repetiu fazendo Namjoon levantar do banco.
- Sabe qual o outro nome que se dá para um caminho sem volta Sr. Kim? - Jin perguntou alto, já que Namjoon já tinha caminhado boa parte do corredor até a porta.
- Fim. - Jin falou sem esperar por uma resposta de Namjoon.
O maior voltou a caminhar, mas parou com as portas de madeira maciça nas mãos.
- Eles estão vindo. Você tem 24hrs para fugir.
Jin suspirou desanimado.
- Você sabe onde me encontrar se mudar de ideia - Jin respondeu, deixando claro que não fugiria.
Normalmente Namjoon admiraria tamanha coragem do garoto, mas agora ele só queria vê-lo longe e a salvo, por mais que não entendesse o porquê.
- Eu sinto muito Seokjin. - Namjoon disse baixinho fechando a porta da igreja atrás dele.
…
Yoongi não conseguiu dormir a noite toda pensando em Jimin. O garoto tinha sumido de seus sonhos e toda aquela história parecia cada dia mais com loucura de sua mente perturbada.
Talvez ele estivesse sob grande stress, com a mudança drástica de estilo de vida, talvez comer melhor e vestir roupas secas não valesse tanto a pena se o preço disso era a insanidade.
Ele falaria disso com alguém caso as coisas escalassem para algo pior, mas no momento ele só queria esquecer.
Yoongi estava se arrumando para ir na tal festa que Jungkook havia convidado na noite anterior, quando Taehyung entrou no quarto, analisando as roupas do mais velho com um olhar clínico.
- Vai onde, vestido assim?
- Não te interessa. - Yoongi resmungou.
Taehyung fez um bico triste, fazendo Yoongi soltar o ar com violência pela boca e revirar os olhos.
- Jungkook me chamou para ir numa balada ou algo assim.
- Jungkook não é boa companhia. Devia ficar longe dele.
- Anotado mãe. - Yoongi respondeu irritado.
- Ele não merece tudo que está fazendo por ele. - Taehyung se apressou em dizer, parecendo extremamente estressado com a situação.
- O que eu estou fazendo? - Yoongi levantou uma sobrancelha.
- Defendendo ele na escola, indo naquele bairro nojento visitá-lo. Agora vai sair com ele de novo.
- Taehyung eu não me meto na sua vida, sugiro que tenha a mesma consideração por mim.
Taehyung concordou com a cabeça, já que Yoongi parece ter encerrado o assunto.
- Olha! Tô pouco me fodendo se você se ferrar, mas não diga que não avisei. - Taehyung se virou para sair do quarto, achando que tinha encerrado o assunto com classe o suficiente.
- Quer ir? - Yoongi perguntou fazendo o garoto parar no meio do caminho.
- Tá zoando com a minha cara?
Yoongi deu de ombros.
- Você parece preocupado atoa, mas pode vir e conferir você mesmo. Jungkook é um cara legal.
Taehyung riu seco.
- Por que eu iria numa festa underground, se eu posso entrar VIP em qualquer balada da cidade? Aliás podemos ir juntos em uma no centro, se quiser.
- Não quero e eu te convidei porque você parece curioso o suficiente para querer ir. Te mando o endereço caso mude de ideia. - Yoongi bateu nos ombros do maior, que ainda o olhava incrédulo.
- Não vai conseguir pegar ninguém com essa roupa de rapper dos anos 80. - Taehyung disse por falta do que dizer.
- Não quero pegar ninguém Taehyung.
Taehyung enrugou a testa assistindo Yoongi pegar a chave da moto na cômoda e sair do quarto o deixando sozinho.
Ele não queria ir naquela festa ridícula, mas estava realmente curioso com o porquê do Yoongi querer. Ninguém trocava sua companhia por a de alguém como Jungkook afinal.
Yoongi e Hoseok chegaram na tal festa e imediatamente se sentiram confortáveis com o ambiente. O lugar era na verdade um balcão, onde várias pessoas se misturavam para dançar, beber e fazer o que tivessem vontade de fazer.
Vários sofás velhos foram colocados no meio do galpão e alguns grupos específicos se aglomeravam no lugar.
Jungkook estava em um desses sofás quando os meninos chegaram, agora estavam os três sentados num sofá cheirando a couro e destilados enquanto assistiam alguns caras muito bêbados tentando se equilibrar num pé só em cima de uma mesa velha de sinuca.
A única coisa que realmente se assemelha à uma festa comum, era um DJ no canto do galpão arranhando alguns discos de rock clássico.
- Mas, se você sangrou por toda sua cama, não deveria ter evidências disso? Ou sei lá, os arranhões nas costas por exemplo, você disse que sumiram? - Hoseok perguntou tomando mais um gole de cerveja.
- Eu sei que parece loucura, mas posso jurar que pareceu real pra mim.
- Então talvez seja alucinação.
Yoongi olhou revoltado na direção de Hoseok que não parecia se importar com o olhar mortal do amigo pra cima dele.
- Tudo que eu estou dizendo é que devia tentar encontrar uma explicação lógica pra tudo isso, antes de pular direto para viagem astral ou alguma merda assim.
Yoongi riu baixo, mas sem muito humor.
- Não disse que acredito em merdas astrológicas.
- Também não disse que não acredita. - Hoseok disse, fazendo Yoongi parar imediatamente de rir.
- Não quero te deixar mal Suga, mas as chances de você ter alucinado por algum motivo é maior do que esse garoto realmente existir.
Yoongi concordou fechando a cara.
Ele sabia que Hoseok estava certo, mas não quer dizer que ele queria ouvir a verdade.
Namjoon e Taehyung apareceram no lugar eventualmente.
Taehyung olhava tudo com certa curiosidade e pré julgamento de início como o bom garoto riquinho mimado que era, mas se acostumou rápido com tudo. Namjoon no entanto, parecia conhecer algumas pessoas na roda de amigos de Jungkook e pela expressão confortável, não parecia sua primeira festa em galpões abandonados.
- Fico feliz que tenha decidido vir. - Yoongi disse quando Taehyung se aproximou dele.
- Não tinha nada para fazer em casa. - Taehyung deu de ombros. - E você, quem é? - ele levantou uma sobrancelha, olhando Hoseok dos pés à cabeça quando finalmente o notou.
- Hoseok, esse é o idiota do Taehyung no qual te falei mais cedo. - Yoongi disse apontando para o garoto na sua frente.
- Ah! Seu novo irmãozinho. - Os olhos de Hoseok brilharam e a bebida ficou suspensa no ar enquanto sua mente parecia entrar em uma espécie de inércia.
- O idiota babando com a sua boa aparência é meu melhor amigo, Hoseok. - Yoongi disse fazendo Hoseok despertar do transe ao ouvir seu nome.
- Eu tenho boa aparência? - Taehyung perguntou fingindo não saber o óbvio.
- Pena que é podre por dentro. - Yoongi disse torcendo o nariz, mas Taehyung não parecia ter escutado, já que soltava alguns elogios distraídos na direção de Hoseok, que aliás, só sabia rir tímido feito idiota em resposta.
Taehyung se soltou completamente depois que conversou com Hoseok, os dois pareciam instantaneamente amigos em alguns minutos de conversa e muita cerveja.
Yoongi estava feliz pela aceitação de Hoseok a respeito de seu irmão adotivo, mas não é como se alguém fosse capaz de odiar Hoseok.
Já Namjoon, parecia desconfortável toda vez que Taehyung abraçava Hoseok, beijava seu rosto ou como agora, que Taehyung teve a brilhante ideia de chamar Hoseok pra dançar e estava rebolando no garoto sem nenhuma restrição.
Na opinião de Yoongi aquilo era uma clássica dança do acasalamento.
- Banheiro. - Yoongi disse para Jungkook que parecia especialmente quieto e isolado aquele dia, mas concordou com a cabeça em resposta.
Yoongi passou pelo aglomerado de pessoas com uma habilidade impressionante de passar despercebido, quer dizer, ele trombou em uma ou duas pessoas, mas ninguém derrubou bebida ou vomitou em seu all star, o que parecia uma vitória pra ele.
Seu rosto agradeceu a água gelada que ele jogava com as mãos em concha.
Yoongi se olhou no espelho quebrado por um tempo, pensando o que faria se fosse diagnosticado com algum transtorno psicológico. Ele não usava drogas, então as alucinações deveriam vir de algum outro lugar. Não conhecia seus pais e o orfanato não tinha nada sobre o seu passado, então não podia descartar nenhuma condição genética.
Alguém abriu a porta e Yoongi viu um vulto familiar pelo reflexo do espelho.
Ele virou a cabeça pra trás para realmente ver o que sua mente registrou no reflexo, mas a porta já tinha fechado e um garoto cheio de piercings e cabelo espetado azul tinha entrado no banheiro, fechando a porta atrás dele.
Yoongi correu, quase atropelando o garoto pra fora do lugar.
Seus olhos vasculharam o galpão feito louco. A luz piscante causava dores nas pupilas dilatadas pela escuridão, mas não parecia significante no momento.
Ele achou ter visto o vulto mais uma vez, mas agora tinha mais forma, os cabelos loiros selvagens e a calça vermelha colada nas coxas grossas parecia cada vez menos, com coisa da sua cabeça.
Dessa vez passar por aquelas pessoas foi algo um pouco mais complicado de se fazer e ele precisou atropelar alguns corpos na pressa, mas os xingamentos ficaram para trás e eram irrelevantes à medida que o vulto se tornava uma pessoa e essa pessoa não desaparecia diante de seus olhos.
- Jimin?! - Yoongi chamou um pouco rouco enquanto tocava nos braços do garoto ainda de costas pra ele.
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