Vende-se Mansão na Colina

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No início da noite daquele sábado, aconteceria uma feira de livros na praça da igreja organizada pelo o padre Hermano. Nívad, claro, logo se interessou pelo o evento e falou com o vigário dias antes que gostaria de participar.

Todos os anos, naquela mesma época, a igreja realizava algo parecido para alavancar fundos  e convidava então todos os fiéis.

Os anos anteriores se basearam apenas em barraquinhas de comidas típicas e de artesanato mas Hermano dessa vez quis diferenciar um pouco, trazendo a literatura como foco, porque segundo ele, a juventude estava abandonando o hábito. Era preciso incentivar!

"Nada com teor muito apelativo, pelo o amor de Deus! Tragam somente livros leves e de censura livre para a nossa feirinha"

Quem tivesse exemplares para  oferecer, se cadastrava na igreja e ganhava seu espaço na praça pra montar sua barraquinha. Uma terço iria para a reforma da capelinha do santo protetor da cidade. Nívad topou, e Hermano lhe deu a permissão para trazer parte da biblioteca de Charles Aurom.

Três enormes caixas foram  enchidas com alguns dos livros da biblioteca. Nívad deu preferência aos mais antigos e os de primeira edição, pois sabia que esses eram mais valorizados. Precisava então se apressar pois já passava do meio dia e ainda tinha que arranjar alguma mesa velha perdida no galpão. Ela serviria como bancada pra exibir os livros na praça, e além disso, precisava encontrar também um jeito de levar toda essa bagagem pesada até Peregrino. 

No instante que pensava em como realizar o feito, a resposta surgiu com a chegada do cunhado com sacolas nas mãos. Guilherme tinha a picape da farmácia e poderia muito bem ajudá-lo a carregar as coisas.

No entanto, quando Guilherme perguntou a razão de conduzir os livros até a cidade, Nívad prontamente esclareceu, deixando o farmacêutico um tanto chateado.

_ Você realmente não precisa fazer isso, Nívad_ Disse Guilherme_ Na verdade não precisa mais fazer nada dessas coisas... Não sou um homem rico... Mas com o que ganho na farmácia, dá pro sustento da casa.

Nívad imediatamente rebateu, dizendo que não gostaria de passar o resto da vida dependendo do marido da irmã. Não era certo. Por isso seguia com seus próprios planos para conseguir algum dinheiro. Agora que não tinha mais Menezes, ele mesmo teria que oferecer as velharias da Mansão. E também porque queria juntar uma grana pois pensava seriamente em deixar a mansão ainda no final daquele ano.

_ Então pensa mesmo em ir embora?_ Guilherme.

_ Sim_ Respondeu, fechando a última caixa_ E acho que você e minha irmã deviam fazer o mesmo... Principalmente se desejam ter filhos..._ Deu uma pequena pausa enquanto o encarava com sinceridade_ Acredite, eles irão terminar tão infelizes quanto nós se forem criados neste museu no meio do nada!...

Um segundo pensativos e Nívad continuou:

_ Honestamente? Sabe o que nós dois deveríamos fazer? Tentar  convencer Alegna a vender de uma vez por todas o casarão... Isso aqui, meu caro amigo, é uma maldição!... Ou alguém desaparece, ou acaba morrendo!...

De repente Guilherme lembrou de Menezes mas permaneceu escutando Nívad.

_ ... É como se este lugar dissesse o tempo inteiro que nunca foi feito pra alguém viver... É tudo relativamente parado! Sem vida! Sem tempo! Porque de fato, em nenhum tempo, este espaço se encaixa... Nem era pra ter existido, na realidade_ Quase riu em zombaria_ Essa droga toda, não passou de uma loucura de um rico esnobe... Meu avô não tinha a mínima noção do que estava fazendo quando ergueu estas paredes... Tanto dinheiro gasto... E pra que?..._ O tom de voz de Nívad era de revolta e desconsolo_ Charles Aurom era só um velho que queria aparecer. Só isso. Não há nada de extraordinário ou especial que sirva de inspiração e que nos impeça de se livrar desta casa... Nunca foi um sonho de vida, como muitos pensam. Apenas uma maneira boçal, de esfregar na cara das pessoas, que tinha mais poder do que qualquer um lá embaixo. A colina se tornou uma espécie de trono para o velho. Daqui de cima, ele se sentia Rei. O herói que empregava metade da população, e garantia a economia de Peregrino com a maior fábrica de sabão da região... É claro que quem olhasse pro alto, jamais se esqueceria disto, e com certeza, seria grato pra sempre!... Isso não é tudo que um rico cretino como Charles Aurom gostaria? Ter a ralé aos seus pés? Bajulando e ovacionando incansavelmente o grande salvador?

Nesse mesmo instante em que Nívad mal fechou a boca, Alegna surgiu pela a porta.

Ela vinha tranquila com o resto das compras do supermercado. Até notar as caixas no chão e as prateleiras desfalcadas.

_ O que está fazendo?_ Diretamente ao irmão.

_ Nada. Apenas separando alguns exemplares pra feirinha da igreja.

_ Não mesmo!_ imediatamente, com a expressão brava, pondo as sacolas sobre uma mesa.

Guilherme só olhou pra esposa, permanecendo quieto.

_ Os objetos dessa casa também me pertencem, Alegna... Então posso mexer neles e fazer o que eu quiser!_ Nívad.

_ Mas os livros não são seus! Eles são de nosso pai!

Nívad a encarou por um segundo.

_ Nosso pai não está mais aqui há anos..._ Tentando manter a calma_ Então por favor não vamos entrar nestas questões mais uma vez!

Ela se aproximou, desafiando-o, dizendo cada sílaba com força.

_ Nenhum desses livros irá deixar essa casa... Nem uma pequena página sequer, entendeu?

Ele engoliu em seco.

Teria feito um estardalhaço se estivesse a sós com a irmã mas por conta da presença de Guilherme, achou mais prudente se conter. E apenas a fitou profundamente e se retirou, descontando na porta, fechando com agressividade.

Guilherme continuou na dele. E Alegna apenas o olhou como se dissesse" Viu o que tenho que lidar? Isso não é um inferno?"

Depois desse episódio, Guilherme almoçou e se arrumou para voltar ao trabalho.

Alegna então aproveitou o momento a sós para pegar as caixas_bastante pesadas por sinal_ arrastando-as até o porão. Depois, pensou melhor e achou que o ideal seria levar a biblioteca inteira. Lá, guardou todas as obras e as protegeu do irmão. Mas antes de deixar o porão, se ajoelhou diante das caixas e examinou cada livro, um por um.

O medo dela era que houvesse mais mensagens como aquelas escondidas entre as páginas de um exemplar e outro, e pessoas iguais a Menezes, mais tarde, tentasse se aproveitar disso.

" Confiei tanto em você..."

Sussurrou, enquanto passava as páginas vagarosamente com atenção.

"E estava simplesmente tramando pelas as minhas costas!"_ Gritando agora furiosa, lançando um dos livros no espelho.

"Como pôde fazer isso comigo?"

Uma lágrima cortou-lhe a face quando achou várias páginas infestadas por palavras escritas a lápis nos rodapés, nas contra capas de inúmeros exemplares.

Alegna acabou com o espelho atirando os livros nele, num choro afligido.

______

Ela estava extremamente cansada quando acabou de conferir tudo. Trancou o porão e olhou pro relógio. Já tinha passado horas então decidiu tomar um banho e em seguida fez um rápido lanche. 

Era quase seis horas da tarde quando despertou do rápido cochilo que havia se entregado no sofá, quando de repente, ela vê Nívad entrando pelo o salguão, se dirigindo rapidamente para a biblioteca.

Alegna ficou apreensiva, sabendo o quanto ele ficaria zangado quando não encontrasse as caixas e nem o resto dos livros nas estantes.

E realmente ele voltou com os olhos em faíscas, exigindo satisfação. Intimidada pelo o aspecto agressivo dele, quase que as palavras não saíram ao afirmar que havia guardado tudo. Parecia bem mais fácil enfrentar o irmão com Guilherme por perto. Mas o marido ainda não havia chegado. Infelizmente, teria que encarar Nívad sozinha. Como sempre fez.

Nívad insistiu e Alegna não respondeu. Então, ele mesmo deduziu, se encaminhando para os fundos da casa.

Alegna deu um salto do sofá,  correndo atrás dele. Sabendo pra onde ele se dirigia.
 
Quando chegam quase juntos diante da porta do porão, Nívad pede as chaves a ela. E Alegna simplesmente sente que há qualquer instante desmaiaria de tão aflita. Mas mesmo assim se negou. Então Nívad faz o impensável (ou não) ergueu uma das pernas e desferiu sobre a porta vários pontapés violentos.

Alegna gritou, implorando que o irmão parasse, entrando numa crise de choro e desespero. E só quando ela se ajoelhou, exausta, é que Nívad pareceu se compadecer e interrompeu imediatamente as tentativas de arrombamento. Até porque, uma madeira grossa e com trancas tão fortes, não iriam ser abertas facilmente.

Sim, ainda restava portas e janelas firmes e resistentes na mansão. E a do porão, era incrivelmente uma delas!

_ Entenda de uma vez por todas que a casa não é só sua!_ Esbravejou_ As decisões, não são só suas! Você não tem o direito de me impedir! Está me ouvindo? Você não é a única dona desse lugar de Merda! _
Saiu, desistindo do porão. Deixando a irmã em soluços rente ao chão.

______

Exatamente as oito horas da noite, Guilherme encerrou as atividades na farmácia e pegou o carro com destino a mansão. No percusso, viu a pracinha da igreja lotada de gente. Havia  jovens e crianças zanzando pelas as  barraquinhas já montadas, e velhos senhores sentados a apreciar o pequeno evento.

Havia também vendedores de pipoca, sorvete, algodão doce e carrinhos de cachorro quente. A feirinha parecia bastante animada afinal e com certeza Padre Hermano conseguiria cumprir com os objetivos referentes a sua igrejinha.

Guilherme dirigiu devagarinho no intuito de avistar Nívad no meio do povo, e só depois de alguns minutos o identificou entre a multidão. Ele estava exatamente bem posicionado nas escadarias da igreja  entregando o que parecia ser folhetos a todos que passavam a sua frente.

Guilherme então decidiu parar a picape e ficou observando por alguns instantes. De repente, Nívad se aproximou do padre Hermano que vinha saindo da igreja e prontamente lhe entregou um amontoado dos panfletos que carregava, partindo de volta as pessoas na praça com a metade dos papéis, distribuindo novamente. Muito curiosamente, Guilherme percebeu a expressão de surpresa dos que não se recusavam a pegar. Então, quando uma dessas pessoas se aproximou para atravessar a rua, jogando o panfleto numa lixeira logo depois, imediatamente Guilherme saiu do carro, resgatando-o.

" Mansão Aurom a venda. Interessados, falar com Nívad Aurom"

Guilherme quase não acreditou naquilo e rapidamente_mas com discrição_se dirigiu até Nívad,  tocando em seu ombro, pedindo gentilmente para que o acompanhasse até o carro.

Nívad pareceu nada surpreendido com Guilherme alí, afinal ele trabalhava naquele mesmo quarteirão. Então, tranquilamente, o seguiu até onde a picape estava estacionada, e entraram ambos no veículo.

_O que é isso?_ erguendo o folheto, indo diretamente ao assunto.

_ Estou finalmente pondo a mansão a venda_ Nívad  respondeu meramente.

_ E sua irmã sabe disso?

_ Eu já a notifiquei tantas vezes..._ Num tom irônico_ Que acho que não é mais necessário ficar avisando...

_Só que ela nunca concordou em nenhuma dessas vezes. Creio eu.

_ Ela não entende, que agora, mais do que nunca, precisamos realmente nos livrar daquele lugar.

_ É por causa daquele homem? Seu Menezes?_ Guilherme foi direto mais uma vez, surpreendendo Nívad.

_ Como?

_ Eu já sei de tudo, Nívad.

_ Então ela te contou._ Foi uma afirmação.

_ Somos casados! Porque me esconderia algo assim?

_Bom, se já tem conhecimento do caso, então não preciso lhe dizer que tive que mante-lo daquele jeito. Ele era perigoso... E quis fazer mal a ela.

_ Eu sei..._ Guilherme suspirou compreensivo_ E acho que teria feito o mesmo, acredite!... Mas..._ Hesitou_ Não estou me referindo exatamente ao motivo... Ou mesmo o fato de tê-lo aprisionado... Estou falando basicamente... Da morte dele!

Nívad arregalou os olhos, totalmente espantado.

_ Isso mesmo_ Guilherme respondendo ao espanto com tranquilidade_ Menezes está morto. Então, se essa sua pressa em se livrar da casa é também o medo de que ele procure a polícia após ter fugido, acho que você pode ficar despreocupado.

_ Agora faz sentido!_ Guilherme olhando admirado pra ele_ As cordas realmente foram cortadas!... Mas não por ele.

_ Mas do que você está falando?_ Guilherme quase riu_ Sim, eu cortei as cordas! Porque precisava tirar o corpo de lá. Mas o pobre homem já estava sem vida há muito tempo!...

_ Alegna era responsável pelos os remédios..._ Nívad pensativo_ Mas sinceramente eu não acredito que ela tenha se enganado em relação a isso_ O encarou profundamente_ Minha irmã não é médica, mas entende tudo de bulas e jamais administraria uma dose errada.

_ Então... Não sobra muitos suspeitos nesta história..._ Guilherme rebateu quase ironicamente.

_ E porque diabos eu mataria um velho desgraçado daqueles?_ Nívad, sentindo-se atingido_ O que ganharia com isso?

_ Um bom investigador, lhe mostraria milhares de motivos... O primeiro deles, é que o homem tentou assediar a sua irmã... Afinal, não foi essa a principal razão de tudo começar?..._ Retraindo os ombros enquanto o olhava_ E tem a casa também... Seria meio difícil vender uma casa com alguém escondido num dos quartos, amarrado a cama, você não concorda?

_ Você também se encaixa perfeitamente como um belo suspeito, "caro cunhado". Não se esqueça: Foi a sua noiva que ele tentou violentar._ Foi a vez de Nívad mostrar o veneno_ Então por favor, não comece com delírios e suposições completamente absurdas referentes a mim.

_ Não tinha conhecimento da presença dele entre nós até procurar Alegna pela a casa e a encontar dentro daquele quartinho junto do corpo._ Guilherme era incrivelmente calmo_ Dentro desta narrativa, não sei se me encaixo tão adequadamente assim.

_ Isto, é o que você diz! Palavras não contam como provas.

Um grande silêncio pairou entre os dois, dando a sensação de que depois daquela conversa, os cunhados não seriam tão mais amigáveis como sempre mostraram ser. Uma grande confiança e admiração, pelo menos na parte de Nívad, havia se trincado, e isso o fez se sentir mais cauteloso em relação a Guilherme.

_Nivad, sua irmã não merece que aja dessa forma_ Guilherme chacoalhando o panfleto_ Não será assim que conseguirá o que deseja. Você sabe muito bem, que pra vender a casa, precisa da permissão dela... E de mim também! Afinal, nos casamos... Somos marido e mulher agora! Seria necessário que eu aprovasse a transação junto com ela... E vou ser bem sincero com você: Não faria nada que a magoasse!

_ Ah! qual é? _ Nívad franziu a testa_ Vocês sequer passaram por um cartório! Só fizeram uma simples celebração religiosa! Nada de mais! Não há registro formal algum indicando que vocês são realmente casados... Então, meu amigo, sinto informar mas você não tem direito algum sobre a mansão! E sobre qualquer outra decisão! A casa pertenceu ao meu avô! Depois aos meus pais! E agora, a mim e a minha irmã! E é isso que Alegna precisa enfiar na cabeça! Ela não é a única dona da propriedade! E muito menos você!

Saiu enfurecido, batendo a porta e voltando a entregar os folhetos.

Nívad estava com raiva. E mais ainda decepcionado, arrependido. Ele acreditou que teria um parceiro que o ajudaria convencer a irmã, mas  pelo visto, Guilherme pensava igual a Alegna, e jamais concordaria com a venda.

"Maldita hora que incentivei esse namoro e esse casamento!... Agora são dois idiotas que tenho que lutar contra!..."

"Mas que Merda!"

"... Mas eles não vão me deter!  Vou conseguir encontrar um comprador que seja bastante abobalhado que queira aquela porcaria de casa! Nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida!"

____

Guilherme chegou finalmente em casa quando encontrou Alegna quietinha sobre a cama com o rosto inchado de tanto chorar.

Ele se aproximou com delicadeza e sentou ao lado dela na beira da cama. Massageou seus cabelos e disse que ela não precisava mais se preocupar.

Mostrou então o panfleto a ela, deixando-a atônita com a atitude de Nívad, e depois o rasgou em mil pedacinhos bem na sua frente, continuando...

"Não vou deixar isso acontecer. Eu prometo!"

Chorosa, suspirou aliviada com as promessas, abraçando o marido e sentindo-se totalmente acolhida.

_____

No outro dia, Guilherme decide procurar Hermano. Pois lembrou que o padre havia recebido das mãos de Nívad vários dos folhetos durante a feira. Ele tinha quase certeza que Nívad pediu ao vigário para distribui-los após as missas.

Assim que Guilherme chegou na cidade, foi direto para a igreja. Encontrou Hermano diante da pia batismal, resmungando sobre só Deus sabe o quê e ficou esperando que fosse finalmente notado.

O homem de batina ergueu o olhar e logo o reconheceu. Hermano parecia ter uns cem anos, mas a vista não. E foi logo comentando sobre a venda da mansão. Querendo saber se já havia propostas.

_ Era exatamente sobre isso que eu gostaria de falar com o senhor, padre Hermano_ Guilherme, aguardando que ele viesse, lentamente.   

_ Pois fale, meu filho... No que posso ajudar? ... Saiba que hoje mesmo, assim que a missa acabar, começarei a distribuição dos panfletos... A mim as pessoas darão mais atenção... Pode ter certeza. Não se preocupe.

_ Na realidade, peço o contrário disto...  Vim aqui pedir, encarecidamente ao senhor, que não promova essa situação.

_ Porquê? O que houve?_ Pondo as mãos uma sobre a outra, intrigado_ Desistiram? Foi isso?

_ Bem, na verdade, nós nunca pensamos na possibilidade.

_ Como assim? Mas não foram vocês que imprimiram aqueles folhetos?  Não foi uma ideia que surgiu dos próprios Aurom,s?

_ Só de Nívad. Minha esposa e eu nem chegamos cogitar a ideia.

_ Mas que coisa!... _ erguendo as sobrancelhas em protesto_ Pois  se eu soubesse que era desse jeito, jamais teria concordado em ajudar.

_ Nívad gosta de fazer raiva a irmã. E com essa história, quis fazer uma brincadeira de mau gosto_ Suspirou chateado, colocando as mãos no bolso enquanto dava de ombros_ Uma pessoa totalmente Infantil! Em que o único passatempo, é encher a paciência da pobre Alegna.

Hermano fez um som com a boca em um ato de reprovação enquanto balançava a cabeça.

_ Aquele rapaz sempre foi problemático! Não era a toa que o pai, Magno Aurom, demonstrava preferência a gêmea menina. Apesar de aparentemente esquisita como Nívad, era uma criaturinha bem mais doce e comportada_ De repente se deu conta das palavras_ Desculpe. Não era exatamente isso que eu quis dizer...

Guilherme se mostrou compreensível.

_ Ele dava tanto trabalho assim aos pais?

_  Aqueles coitados comeram o pão que o diabo amassou!_ levou a mão aos céus e ao peito com a heresia dita dentro do templo como se pedisse perdão _ Deus sabe que não é exagero. Nívad deixou o casal de cabelos brancos antes do tempo! Arteiro que só ele.

_ Não deve ter sido fácil aceitar o fato de que apenas a irmã ganhasse todos os elogios_ Guilherme depois de um segundo_ Talvez tenha se revoltado com isso. Tem gente que leva esses traumas de infância pra vida toda.

_ Revoltado por causa disso?  Mas ela era uma boa menina! Se ele queria ser merecedor de alguma coisa também, que fizesse então como a irmã. Que sempre foi uma criança comportada e mais obediênte... Mas optou por ser mau educado e travesso! Quem poderia culpar os pais? Tiveram ambos a mesma criação. Não tem justificativas para tais comportamos. De jeito nenhum!

_ Parece que conheceu bem a família.

_ Fui muito amigo do avô deles. Mas depois que Charles morreu e aconteceu aquela tragédia com a senhora Heidi, eles me afastaram completamente, assim como fizeram com o resto do mundo. Não pude mais visitá-los, e também deixaram de frequentar as missas... Alegna até um certo tempo vinha... Raramente, mas aparecia... Mas logo se isolou de vez e ninguém mais a via na cidade. A não ser pra ir na farmácia, é claro. Este, realmente, foi o único lugar que ela nunca parou de ir_ O padre refrescando a memória_ Teve um período, que as pessoas concluíram que ela devia estar muito doente, pois voltava pra casa com a sacolinha cheia de remédios quando visitava a farmácia... Então, um dia, seu tio Jonas me confidenciou que não era nada demais. Apenas enxaquecas comuns... E desde esse momento, sempre achei que o isolamento é o que claramente nunca fez bem a nenhum dos dois. Fez de Nívad um moleque mais do que já era, e de Alegna, uma moça sem muita saúde... _ Fez uma pequena pausa e quase sorriu_ Espero que ela esteja melhor agora... Principalmente depois que se casou... Você me parece ser um bom rapaz. E com certeza deve de ser um bom marido. Só de ter vindo até aqui, esclarecer as coisas e desfazer as piadas sem graça de Nívad, a favor de sua esposa, já garante isso. 

_ Obrigada, Padre Hermano..._ Guilherme mostrou um rápido sorriso_ Realmente tento. E não faço nada, que não seja o certo e o melhor pra manter Alegna bem_ Suspirou_ E graças a Deus, apesar das inconveniências do irmão, ela se encontra bastante feliz no momento.

De repente, Guilherme se atentou, que desde que passou a dormir com Alegna, ela nunca demonstrou ter insônia ou algum distúrbio do sono como costumava dizer. Então ele pensou, que de fato, a alegria de estarem casados, a tenha feito se sentir mais plena, e com isso, finalmente, ter boas noites dormidas.     

_ Ótimo! Fico muito satisfeito em saber. É justamente esta a verdadeira intenção de uma união. Bem estar, compreensão e atenção um com o outro! Meu amigo Charles, se estivesse vivo, estaria lhe agradecendo por  cuidar de forma tão carinhosa e digna da neta..._ Hermano foi se dirigindo pra flores de plástico do altar examinando se havia pó_ Pobre Charles... Não teve tanta sorte... As pessoas que tentou cuidar, nunca lhe foram gratas... Rezarei para que Alegna sempre reconheça o que faz por ela... Porque de ingratidão, este mundo não suporta mais, não é verdade?

Guilherme ficou curioso com o que Hermano quis dizer sobre a sorte do amigo Charles, mas se conteve. Então só agradeceu a atenção e foi para o trabalho na farmácia, satisfeito, sabendo que o problema com a divulgação da venda havia se resolvido.

Hermano com certeza desmentiria a suposta venda da mansão pro resto da cidade, e assim evitaria de surgir algum possível comprador na Colina. 

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