Uma Noite de Várias

                 ◆ ◆ ◆
Os irmãos ficaram sem entender as luzes através das janelas. Foi então que Guilherme explicou que havia quitado as dívidas com a companhia elétrica. Tinha feito isso numa forma de surpreender e agradar a esposa.

Agradecidos com a tamanha gentileza, desceram da carruagem, satisfeitos, adentrando no casarão.

O sol já estava findando no horizonte. Diante disso, os gêmeos lembraram que as luzes naturais foram as únicas, durante bastante tempo, e haviam esquecido como a Mansão era espetacular toda iluminada, apesar da decadência presente.

A mobília antiga, misturada aos belos quadros com pinturas renascentistas, proporcionavam elegância e fascínio extraordinários. E aquilo, de certa forma, agradou os olhos do novo morador. Nívad percebeu o encanto do cunhado e se incomodou. Ele não podia se afeiçoar a casa. Isso seria como arrancar todas as chances de se livrar dela. Mas era a primeira vez que Guilherme via o interior da Mansão Aurom sob uma claridade mais intensa então era bastante compreensível.

Alegna também se mostrou maravilhada. Mas já era de se esperar. Boquiaberta, passeou os olhos por toda a sala principal, parando sobre o majestoso lustre de ferro forjado acima de suas cabeças. Parecia até um sonho revê-lo, tão brilhante e resplandecente!
Bem vindo de volta, pensou.

E durante as primeiras horas seguidas, os três permaneceram sob esse mesmo lustre, em comemoração. Comerem quase o bolo inteiro até Nívad se fartar e resolver que não deveria ser tão mais inconveniente. O casal precisava de privacidade então se despediu deles e foi para o seu quarto, descansar.

Mas Guilherme parecia não está com tanta pressa para fazer o mesmo. Não teria se incomodado em nada se Nívad continuasse junto deles a noite inteira. E além do mais, ainda era cedo, e não se sentia assim tão afadigado.

Ficaram então conversando sobre a beleza da casa, o belo vestido que pertenceu a mãe, os retratos sobre a lareira, o auto retrato pintado a mão gigantesco de Charles na sala até chegar o momento que não houve mais assunto e o clima pareceu desconcertado para Alegna. Era como se os próximos passos para iniciarem uma noite de núpcias dependesse de um deles, mas estivesse na dúvida de quem realmente deveria tomar a frente.

Vendo que Guilherme não se acusou em nenhum momento, ela se ergueu de repente, meia sem jeito, anunciando que iria dormir. Ainda ficou esperando alguma reação dele por alguns segundos mas apenas recebeu como resposta um simples gesto afirmativo de cabeça. A vista disto, ela seguiu sozinha para os seus novos aposentos.

Descontente, sentou na beira da cama de uma vez. Deu uma boa olhada no quarto bem arrumado que havia escolhido para ser deles definitivamente_ O quarto da mãe não era mais apropriado_, Sentindo-se a mulher menos atraente do planeta.

Ela até compreendia a distinção do rapaz de meses atrás. Mas agora eles eram casados e não havia razões para agir com tanta postura daquele jeito. Tudo que ela esperava daquela noite era que ele avançasse em cima dela e rasgasse aquele vestido com toda sua energia e fervor. No entanto, Guilherme parecia inerte, como se não estivesse com a maior vontade e interesse de desposa-la.

Suspirou profundamente, enquanto os minutos se passavam no irritante tic tac na cômoda, se convencendo de vez, que a única coisa que realmente faria naquele momento, era fechar as pálpebras e se obrigar a dormir.

Foi então que Guilherme surgiu na porta.

Percebendo a presença, ela levantou a cabeça e o encarou, vendo nitidamente o nervosismo do rapaz em sua respiração acelerada. Permaneceu assim quieta, deixando apenas que ele se aproximasse.

Guilherme ficou diante dela depois de fechar a porta cuidadosamente atrás de si.  Segurou suas mãos, puxando-a com bastante vigor para junto de seu corpo. logo, Alegna sentiu o apetite poderoso e intenso dentro da roupa do homem, sorrindo satisfeita.

Após encara-la intensamente, tomou os lábios dela como se precisasse matar uma sede mortal, e sem nenhum trato, massageou os seios firmes e pequenos por cima do vestido dela, quase a machucando. Mas Alegna não reclamou. Na verdade, até gemeu de prazer, enfraquecendo as pernas de repente, sentindo que o corpo pedia por mais. Então, o arrastou pelo o colarinho, para que ele se deitasse enfim sobre ela.

Ele obedeceu. E como um animal feroz, levou as mãos duras e ásperas por dentro da saía do vestido, alcançando a intimidade de Alegna. Gemeu novamente, dessa vez, sussurrando palavras que um dia chegou a ver num desses filmes para adulto. Mais ainda, quando Guilherme enfiou os dedos_ Lembrando talvez das vezes que imaginou aquela situação em sua banheira.

Bruscamente, Guilherme parou, tampando a boca de Alegna com agressividade. Ela arregalou os olhos, quase sem ar, foi quando ele saiu de cima dela, sentando na beira da cama com as mãos na cabeça e cotovelos sobre os joelhos.

_ O que foi?_ Ela perguntou, desentendida, depois de recuperar o fôlego.

Ele ergueu a cabeça com a expressão derrotada, se aproximando dela.

_ Te machuquei?... Você..._ A analisando por inteira_ Você está bem, Alegna, querida?

_ Sim, é claro que estou..._ Ela quase sorriu.

Era algum tipo de brincadeira?

_ Só não consigo entender... Foi alguma que eu fiz?

_Não, meu amor, você não fez nada!_ Pegou o rosto dela com carinho_ Eu fui o único a estragar qualquer coisa aqui! Acabei que induzindo você a... A agir dessa maneira.

Balançando a cabeça, inconsolável.

  
_ De que maneira você está falando?_ confusa

_ Assim... Desse jeito... Quase como... _ Hesitou_ Quase como uma prostituta!

Ela ficou atônita.

_ Mas... Mas eu... _ Se conteve, tentando evitar a palavra_ Mas eu não sou isso!... Sou sua esposa!

_ Exatamente!_ Ele se ergueu, pondo as mãos na cintura_ É por isso que não deveria ter deixado você se comportar assim.

_  Mas Guilherme..._ Ainda sem compreender_ É nossa noite de núpcias... Não há nada de errado aqui.

_ Pensa assim porque é uma pessoa inocente..._ Voltou a sentar diante dela, mostrando paciência_ Não entende direito essas coisas... É tão pura, que não consegue reconhecer a indecência quando diante dela..._ Suspirou com tristeza_ Infelizmente, Alegna, eu reconheco muito bem...  Me sinto até envergonhado em ter que revelar isso mas... É preciso que saiba, que por causa das minhas experiências, me vejo agora no dever de não repeti-las... Principalmente com você_ Tocou no cabelo dela_ Você é digna demais pra ser tratada como uma mulher de rua qualquer.

_Então já esteve..._ enciumada, depois de um segundo pensativa_ Com muitas mulheres?...

_ Na verdade apenas uma... Há muito tempo atrás... _ Disse, como se tivesse preso na memória_ Mas acredite, foi o suficiente... E eu não sabia que ela era desse tipo.

Guilherme tinha um ar de quem realmente estava sendo sincero.

_ Você não tinha ideia?

_ Não!_ Interrempou_ Pessoas como ela, Alegna, facilmente engana gente como eu..._ Suspirou_ Ela se mostrava especial, diferente, mas no final, acabei descobrindo que era completamente o oposto de tudo..._ Agora como se quisesse se livrar das lembranças. E Alegna suspirou junto, sabendo que talvez também possa decepciona-la com seus segredos_ Mas não quero falar disso. Não agora. Nunca. Devemos esquecer isso...  É melhor...  Sabe o que eu acho que realmente deveríamos fazer?  Acho que deveríamos descansar um pouco!_ Indo deitar-se ao lado dela, puxando-a pra aí_ Hoje foi um dia cheio pra nós dois. Vamos tentar dormir e ficar bem agarradinhos... Quero ficar aqui, do seu lado, Sentindo seu calor e o seu cheiro...  É só disso que eu preciso!

Ela assentiu, mesmo confusa e frustada. Então, se aconchegou no peito dele enquanto a agarrava com carinho.

Alegna demorou pegar no sono.

Estava a imaginar o marido com outras mulheres. E quando finalmente dormiu, sonhou com ele. Não com essas outras mulheres. Mas com ela, fazendo um sexo de forma bruta e assustadoramente agressiva.

_____

Alegna abriu os olhos devagar e logo percebeu que o marido não estava ao seu lado na cama.

Olhou pro relógio e viu que eram seis da manhã em ponto. Podia ouvir os pássaros e o vento da manhã lá fora.

Se ergueu, coçando as pálpebras, se dirigindo em seguida para as escadas, descendo-as sem muita pressa.

Ao atravessar a sala principal, notou a porta da biblioteca aberta. Nunca a deixava aberta. Foi então que viu Guilherme folheando um dos livros. Se aproximou normalmente e ficou na soleira. Ele não se assustou, e sorriu com delicadeza para a esposa. Alegna permaneceu na porta, pousando os olhos de repente no livro de poesias que estava nas mãos dele.

_ Bom dia, querida..._ A  cara estava limpa e os cabelos penteados, como se tivesse acabado de tomar um banho e estivesse pronto pra sair_ Desculpe não acordar ao seu lado_ Fechando o livro_ Desci pra preparar seu café e acabei sendo enfeitiçado por este compartimento..._ Passando os olhos por toda a biblioteca.

_ A casa também é sua, Guilherme. Sinta-se a vontade pra conhecê-la melhor, sempre que quiser.

Menos os quartos mais reservados, por favor.

_ Sua família gostava mesmo de uma boa leitura_ Batendo o livro na palma da mão_ Tem muita coisa realmente interessante nestas prateleiras.

Alegna não tirava os olhos do livro.

Espero que ele não tenha notado que faltava algumas páginas. 

_ Meu avô era um grande colecionador... E acabou passando os gosto literários para meu pai...

_  Espero que nossos filhos sejam tão inteligentes quanto os seus antepassados_ Disse simpático, enquanto guardava o exemplar no lugar.

Ela gostou do que ouviu, sorrindo. É claro que ela queria filhos com aquele homem! Seria um sonho construir uma família. Principalmente, trazer para a Mansão Aurom, uma nova geração.

De repente, Nívad passou pela a sala também e brincou com a irmã:

_Você não vai mais tirar esse vestido?

_Bom dia, cunhado_ Guilherme, olhando através da esposa, com a voz altiva_ Pelo visto, todo mundo nesta casa gosta de madrugar.

Guilherme, rindo.

_ Estava vendo um probleminha num dos quartos do fundo..._ Falou, se justificando com leveza e energia_ Mas nada grave. Não se preocupe. Só as mesmas infiltrações de sempre. Casa velha. Sabe como é.

Alegna sentiu o nó na garganta.

Ela sabia quais eram os "probleminhas"

_ A casa precisa mesmo de alguns reparos..._ Guilherme olhou ao redor_ Se você quiser ajuda com isso ou com qualquer outra coisa, posso tirar um ou  dois dias de folga.

_ Você não está de folga nesses dias?_ Alegna pareceu surpresa_ Pensei que fosse ficar em casa está semana... Ou que pelo menos, a gente fosse ficar juntos o dia inteiro hoje...

_Eu adoraria isso. De verdade._ Se aproximou, tocando nos ombros dela_ Mas não posso deixar a farmácia fechada por tanto tempo assim. Tio Jonas está contando comigo para que os negócios continuem bem. O pobre coitado não tem ninguém, além de mim, para fazer isso enquanto fica longe. Ele confiou em mim, Alegna. Não posso simplesmente deixar tudo a Deus dará. Não quero parecer ganancioso, longe de mim. Mas farmácia fechada não gera lucro... E meu tio, mais do que nunca, precisa desse dinheiro. Esses dias mesmo, mandou notícias, e pelo o que me contou, a irmã vai precisar de uma cirurgia... Uma cirurgia muito cara por sinal.

_ Não era uma prima?_ Nívad imediatamente.

_Eu disse que era uma prima?_ Guilherme franziu a testa, bem firme.

_Eu acho que sim_ Nivad.

Guilherme tentando lembrar, Balançando a cabeça negativamente depois.

Alegna também lembrava de ser uma prima. Mas preferiu ficar quieta.

_Acho que Devo ter me confundido!_ Nívad, dando de ombros e esquecendo o assunto.

_Bom, já que não tem outro jeito..._ Ela se aproximou carinhosamente de Guilherme, ajeitando o colarinho da blusa dele_ Só me resta desejar que tenha um dia tranquilo no trabalho.

_Prometo que vou compensar com um belo jantar que eu mesmo irei preparar esta noite_Terminou, sussurrando pra ela, juntando as mãos dela e beijando_ Até mais tarde, meu amor.

Saiu, se despedindo de Nívad também.

Nívad esperou a saída de Guilherme e rapidamente  comentou_  Pelo visto não terá uma lua de mel tão cedo por conta do seu marido trabalhador, Alegna.

_ Eu o compreendo_ O defendeu_ Ele é o único que pode ajudar o tio neste momento... Não vou me chatear com isso...

_ E até que é bom que ele fique mesmo o mais fora possível de casa enquanto aquele desgraçado lá nos fundos estiver aqui_ Nívad reforçou.

_ Falando nisso... Como ele está?

_Acabei de reforçar a dose_ Mostrou o remédio que estava o tempo todo segurando fortemente nas mãos, com um sorrisinho quase diabólico estampado no rosto_ Tá dormindo mais que gato em bica!... Nem se o mundo caísse na cabeça dele, seria capaz de acordar.

Disse isso e saiu, assoviando uma cancão alegre e divertida.

Alegna esperou pacientemente que ele sumisse pelas as escadas, e resolveu então ir até o quartinho onde Menezes estava.

__________

Ela encontrou a porta semi aberta e achou um absurdo que Nívad a mantesse assim.

E se Guilherme tivesse decidido explorar não só a biblioteca minutos atrás? Já pensou a confusão que isso poderia causar? Que tipo de explicações daria ao homem que havia acabado de se casar?

Enquanto se atormentava com tais pensamentos, foi abrindo mais a porta devagar, entrando. Observou o senhor, que já aparentava mais magro e bastante debilitado, e lembrou da mulher na saída da igreja. Não saberia como reagir quando ela aparecesse para sondar juntas a região. Mas entendia que precisava se manter equilibrada pelo menos diante de Guilherme.

  Suspirando fundo, ocorreu que tinha muito mais a fazer do que ficar vigiando o sono do velho. No entanto, quando deu as costas, ouviu a voz débil dele...

_ Senhora Aurom?..._ Tossiu levemente_ É a senhora mesmo?

Ela se virou e viu Menezes com os olhos semi abertos.

Ele mal conseguia formar as frases com tanta droga que Nívad o fez tomar goela abaixo.

_Não pode ser..._ Continuou ele_ Porque a senhora... A senhora está morta...

Alegna deduziu que ele estivesse confuso por causa do traje que ela estava usando. Ele já deve ter visto pela a casa as fotografias do casamento da mãe com aquele mesmo vestido.

_ Feche os olhos e tente relaxar, senhor Menezes.

Deixe que as drogas o conduzam.

_Precisa dizer a eles... Precisa dizer que me deixem em paz, Senhora Heidi..._ Com a voz ficando cada vez mais lenta e arrastada_ Você é um deles... Pode convencê-los... Não quero... Não quero mais ouvi-los... Não quero mais vê-los... Por favor... Me ajude...

Os remédios estavam causando alucinações na pobre criatura e ela precisava tomar uma atitude quanto a isso antes que Menezes pirasse de vez.

_ Um deles... Um deles esteve aqui ontem... Não! Ontem não..._ Tossiu_ Que dia é hoje?...  Hoje é domingo? Parece domingo...  Que mês... Que mês estamos?... Agora... Agora eu não lembro... Me desculpe... Me desculpe, senhora Heidi... Eu não sei que dia é hoje... Não consigo lembrar...

_ Só está alucinando... Volte a dormir_ Ela disse com empatia.

_ Não, não era... Não é alucinação... São vozes!... Tem vozes dentro das paredes!... Menos... Menos ele... Aquele Veio... Veio de outro lugar...  Do inferno, senhora Heidi... Foi o que ele disse... _ Os olhos fechando incontroláveis_  Do inferno... O fantasma... Vá embora... Vá embora, Demônio... Eu vi ... Eu vi a morte nos olhos dele... Eram olhos mal... Olhos de quem já fez coisa ruim... Ele prometeu voltar... Ele prometeu...

Foi fechando finalmente os olhos, se entregando totalmente ao sono profundo.

Alegna viu então os fortes sedativos sobre a mesinha ao lado. Sedativos estes que pertenciam a ela e que seu irmão pegou sem sua autorização.

" Nívad vai mata-lo desse jeito" Pensou, encarando os potes de comprimidos nas mãos. O irmão estava misturando-os com alucinógenos. Acha até que ele não sabia o que estava fazendo quando dava tudo que encontrava pra manter Menezes quieto" Será melhor que eu mesma administre os remédios a partir de hoje pra evitar uma tragédia pior"

Ela sabia, por experiência própria, como se manter dopada sem o risco de sofrer alguma consequência. Então conversaria com irmão sobre isso quando tivesse a chance.

Inclusive, um dos medicamentos que Nívad estava usando no velho, era quase sempre usado em alguns países, em presos condenados a morte. Era um sedativos altamente poderoso que Jonas conseguia pra ela quase clandestinamente. Nívad então tinha que ter mais cuidado pois não entendia de remédios assim. Poderia sem querer tirar a vida de Menezes qualquer hora dessas. E ela não gostaria disso. Não agora, num momento tão feliz de sua vida. Um acontecimento de prorporcões tão graves, seria capaz de estragar seu casamento.

Onde esconderia um corpo em estado de decomposição dentro da mansão? Era quase impossível. Melhor evitar.

Balançou a cabeça, afastando a negatividade, e fechou a porta indo concentrar-se nas  atividades diárias. Começando, primeiramente, a tirar aquele vestido, pondo-o de volta no quarto da mãe.

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