Um Lago
هههه
Naquela noite Guilherme cumpriu com a promessa e preparou um espaguete ao Molho onde incluía manjericão, nozes picadas e tomates cereja.
Comprou inclusive uma garrafa do melhor vinho pra acompanhar e montou uma pequena mesa para eles na varanda. Alegna parecia encantada com os dotes culinários do marido e não cansava de elogiar enquanto saboreava a bela refeição.
_Onde aprendeu a cozinhar desse jeito?_ Perguntava satisfeita, enquanto limpava a boca no guardanapo.
"Uma pessoa, que um dia foi muito especial, me ensinou alguns truques"
Gostaria de revelar mas preferiu omitir a informação respondendo que tinha aprendido com a avó.
Alegna sorriu, achando aquilo extremamente fofo.
Nesse mesmo instante, Nívad surgiu entre a penumbra do jardim. Ele tinha passado o dia todo fora e estava queimado do sol. Com certeza limpando quintais ou consertando telhados pela a cidade. O povo de Peregrino estava realmente sem gente pra fazer essas coisas. Nívad, coitado, era sempre a última opção. Só era chamado para esse tipo de trabalho quando os outros encontravam-se ocupados.
_ Cheguei bem na hora!_ Disse animado, esfregando as mãos ao se deparar com a mesa posta_ Isso é que eu chamo de uma refeição de verdade!
_ Sente-se! cunhado_ Guilherme com simpatia_ Junte-se a nós e Sirva-se!
Alegna olhou fustrada para o marido.
Não era pra ser só nós dois?...
Tipo...
Um jantar romântico?
Nívad agradeceu o convite e arrastou a velha cadeira de balança que vivia na varanda para perto da mesa e começou então a se servir como se nunca tivesse visto comida na sua frente.
Ela se sentiu meio que envergonhada pelo o irmão, mas Guilherme pareceu não se importar com a voracidade do rapaz.
Logo que Nívad saboreou a primeira colherada, apreciou o prazer de cada sabor de olhos fechados.
_ Cara, isso está muito bom!..._ Disse_ Mil vezes melhor do que aquela a sua sopa, minha irmã...
Alegna desejou dar um soco nele pela zombaria, pensando, inclusive "Podia ao menos ter ido lavar as mãos! Seu Palhaço!"
Nívad passou para o vinho tomando numa golada só, e eles puderem ouvir o som constrangedor do líquido descendo pela a garganta. Logo após colocar a taça vazia sobre a mesa, secou os lábios com o próprio antebraço.
_ Hum, vocês lembram daquela senhora que parou vocês na entrada da igreja ontem?... _ De repente, dando uma pequena pausa pra ingerir os tomates_ Ela morreu!
Alegna arregalou os olhos enquanto Guilherme sem muito interesse apenas perguntou:
_ A esposa do homem desaparecido?
Nívad afirmou com a cabeça enquanto mastigava e continuou:_ Parece que sofreu um acidente onde estava hospedada... Escorregou, batendo a cabeça em alguma coisa durante o banho... Não peguei a conversa inteira... Estava longe, no jardim, aparando a grama do senhor e da senhora Antunes... Não deu pra pegar todos os detalhes enquanto comentavam sobre o assunto.
_Que sorte mais trágica desse casal_ Guilherme, tranquilamente_ O marido desaparece de repente e agora, acontece isso com a esposa..._ Terminou, bebericando um pouco.
Alegna continuou quieta.
_ Vai entender!_ Nívad deu de ombros, como se realmente se importasse _Pensei que já soubesse_Dirigindo-se a Guilherme enquanto apontava com o garfo_ Pois havia carros de polícia por toda a parte e uma multidão enorme diante do hotel... E lá não fica tão distante da farmácia assim... É impossível que ninguém tenha visto o rebuliço que a notícia causou naquela parte da cidade... O povo não falou de outra coisa... Cidade pequena é assim. Nada acontece. E quando acontece, vira um verdadeiro auê!
Guilherme tentando lembrar algum alvoroço em Peregrino. Ele não tinha visto nada daquilo.
Mas é claro, havia uma explicação...
_ Passei a maior parte do tempo organizando as coisas no estoque. Mal fiquei no balcão justamente por não ter movimento algum hoje... Mas agora fez sentido... A cidade inteira realmente deveria estar bastante envolvida com essa história... Porque de fato, ninguém apareceu pra comprar nem um Band-aid...
_Ainda bem que são acontecimentos raros. Já pensou? Se algo assim fosse comum, seu tio iria a falência..._Nívad brincou_Mas Falando sério agora, segundo o que os Antunes conseguiram ouvir dos polícias, o acidente provavelmente ocorreu durante a madrugada... No entanto, só tomaram conhecimento mesmo pela a manhã. Uma das camareiras chegou pra iniciar a limpeza dos quartos e percebeu que havia algo de errado quando a Senhora não respondeu ao chamado insistente... E foi então que resolveram abrir a porta com uma chave mestra, em seguida, a viram desfalecida, com um grande corte na cabeça... Chamaram a ambulância mas... Pelo visto, já era tarde demais. Não tinha mais o que fazer.
Ouvir que Estela foi encontrada num banheiro, despertou em Alegna o mesmo sentimento quando encontrou a mãe morta. E isso a fez se compadecer da situação.
_ Coitada..._ Como pra si mesma_ Só buscava rever o marido...
_ Mas parece que o destino não quis muito esse reencontro. _ Nívad completou, encarando a irmã de uma maneira quase sarcástica.
Alegna baixou o olhar, mexendo sua comida com os talheres.
_ Sinceramente, acho que seria melhor se a gente mudasse de assunto_ Guilherme_ Uma história tão triste dessas, não caí muito bem num momento como este. Vai acabar nos causando uma tremenda indigestão. Sugiro então..._ Erguendo a taça_ Que terminemos esta agradável noite, tratando somente de conversas verdadeiramente boas e positivas!
"Que tal sobre a venda desta casa?"
Nívad pensou em dizer, mas achou que ainda era cedo demais pra tocar neste assunto com o cunhado.
Os gêmeos sorriram, concordando e brindando suas bebidas. E logo depois de comerem e conversarem um pouco mais, os três seguiram para seus quartos. E novamente, Alegna não teve sua desejada noite de amor. No entanto, embalada nos abraços e afagos de Guilherme, dormiu em paz e rapidamente.
__________
Lá pelas as três, ela despertou com sede. Alcançou a jarra de louça ao lado, na cômoda, e viu que estava vazia. Calçou então os chinelos, colocou o robe de algodão sobre a camisola e desceu as escadas em direção a cozinha.
Guilherme nem se mexeu, e continuou desfrutando de seu sono profundo.
Alegna bebeu metade do copo enquanto olhava a escuridão da colina através das vidraças da janela de frente a pia. Apenas os feixes de luz da lua nova penetrava o interior da cozinha, iluminando seu rosto marcado pelo o travesseiro. Não pensava em absolutamente nada. Estava com a mente limpa, como se a paisagem calma lá fora, tivesse a ação de deixa-la extremamente relaxada, mesmo lembrando de relance das últimas notícias da cidade.
De repente, uma forte claridade propagou no horizonte, revelando as folhagens dançantes das árvores. Alegna imediatamente soltou o copo sobre a pia e aproximou o rosto na janela com curiosade e preocupação. Logo, identificou as luzes como sendo de faróis de carro. Sem hesitar, correu rumo a uma das portas que ficava na cozinha. Porta essa que dava acesso ao infindável terreno dos fundos da Mansão. Depois disso, era só dá mais uma grande volta pelo o casarão e chegaria o que poderia ser chamado de quintal.
O vento bateu violento nela, assim que atingiu as escadinhas no solo. Trincou os dentes de maneira involuntária imediatamente ao sentir o clima gélido da madrugada invadindo seus ossos sem piedade. Os cabelos sobrevoaram como serpentes alegres, e ela tentou segura-los enquanto seguia bastante intrigada até o clarão piscante.
Ao atravessar o campo onde ficava o galpão que Charles Aurom costumava guardar máquinarios que haviam perdido a ultilidade na fábrica de sabão, se viu surpreendida com os portões totalmente abertos. A luminosidade vinha exatamente do interior, e por pouco, não foi atropelada com o veículo que saiu de lá, avançando sobre ela. Alegna não gritou com a freada súbita, mas se assustou, segurando o capô frontal numa forma de se proteger do impacto.
Ainda bem que Nívad vinha devagar senão realmente teria feito um estrago.
_ Mas que diabos está fazendo?_ Ele saiu do veículo, batendo com força a porta_ Tá querendo se matar?
_ Fala baixo!_ Ela fez um sinal de silêncio com as mãos_ Quer acordar Guilherme?... E você?..._ Continuou_ O que você está fazendo aqui fora uma hora dessas?..._ Franzindo a testa depois_ O que vai fazer com o carro? Pra onde está levando ele?
_ O que você acha?_ Disse energicamente, voltando pro veiculo quando viu que não a tinha machucado_Tentando me livrar.
_ O quê?_ Com olhar de Surpresa, indo até a janela_ Mas do que está falando?... Ele não vai precisar do carro quando for embora?...
_ Minha querida irmã, ouça com atenção o que vou lhe dizer_ Demostrando paciência_ Não podemos de maneira alguma ficar com isso aqui... Você já esqueceu? Aquela mulher estava procurando pelo o marido, e agora, acabou de morrer! Se a polícia desconfiar de algo e realmente começarem a xeretar e de repente acharem o carro do velhote com a gente, você acha que vão concluir o quê? Que ele apenas deixou o veículo sob nossos cuidados enquanto seguia a pé "Não sei lá pra onde"?
_ Mas porque a polícia começaria uma investigação? O que aconteceu com ela foi um acidente. Não há porque ligar ninguém a isso.
_ Mesmo assim, acho melhor ficarmos prevenidos_ Girando as chaves.
_ Mas como fará isso?_ Tentando fugir da frieza, cruzando os braços e encolhendo os ombros_ Como irá se desfazer do veículo sem que ninguém o veja?... Porque é impossível passar pela a estrada sem que as câmeras daquele posto registrem?... E Se... E se o garoto que cedeu as imagens a ela, estiver lá agora? Se não me engano, o posto funciona vinte e quatro horas... Então, quem garante que ele não reconhecerá a placa?... É capaz de avisar a polícia no mesmo instante... Lembra? Ela contou tudo a ele! Com certeza, deve ter visto o vídeo e tudo.
Nívad suspirou pensativo.
_ Toda essa confusão poderia ter sido evitada, se você tivesse dito naquela mesma hora, que não havia mais ninguém morando na região além de nossa família... Ela teria ido embora naquele mesmo dia, e eu não precisava agora, torcer para que o Lago Grande, não faça só jus ao nome, mas que também possuía uma profundidade considerável..._ Suspirou novamente. Mas agora de alívio_ A sorte é que, para chegar até lá, não precisa pegar a estrada principal... Existe um outro atalho..._ hesitou pensativo_ Um atalho bem ruim e de difícil acesso, o que vai ser uma droga!... Aliás, será um verdadeiro milagre, ter que atravessar toda aquela vegetação fechada com uma sucata dessas ... Mas tudo bem! Acho que consigo.
_ Se eu tivesse afirmado que não tinhamos vizinhança alguma, ela não teria ido embora_ Rebateu depois de um segundo_ Apenas aumentado todas as chances de desconfiar de nós. E junto com os detetives que ela estava pensando em contratar, teria focado totalmente as investigações em nossa direção. Se ela tivesse a certeza que só havia nós na colina, os únicos suspeitos de alguma coisa seria a nossa família.
_ Que seja!_ Outra partida na ignição, guiando o veículo devagar enquanto terminava de falar _ Mas isso não importa mais. Agora volte pra dentro antes que pegue um resfriado... Ou pior, antes que seu marido acorde e resolva lhe procurar.
Alegna assentiu, e só entrou depois que viu o irmão se perder na paisagem tenebrosa da Colina. A calmaria de antes, através das janelas, era só uma mera ilusão. Lá fora era puro caos. Os ventos estavam loucos assim como a mente dela.
Alegna sentou na beira da cama e o marido continuava dormindo tranquilamente. E antes de deitar-se ao lado dele, juntou as mãos e orou mentalmente, pedindo que o tal Lago Grande, fosse verdadeiramente um lago bem fundo.
_________
Nívad examinou todo o interior do veículo minuciosamente outra vez.
Estava feliz por finalmente ter conseguido atravessar por entre a floresta densa. Porque de fato, foi como um grande feito. Lembrou do pai por um segundo enquanto observava o lago e logo descobriu que tinha mais o que fazer do que perder-se em memórias bobas de pescaria.
Abriu o porta luvas e pegou os documentos da pasta de Menezes, Olhou pela a última vez a foto de Menezes na identidade e enfiou a carteira com todos os outros documentos nesse mesmo compartimento do carro.
Nivad não hesitou ao girar as chaves e levar o carro até às margens escuras do lago. Ao entrar na água com paciência e sentindo que já estava no processo de afundar, saiu apressadamente do veículo, empurrando em seguida a sua traseira. Se bem que não precisou de muito esforço, pois o lago o engoliu com arroubo e agressividade. Ele se afastou, correndo, antes que fosse puxado junto.
Nos montes ao seu redor, a maioria dos bichos noturnos já se aquietava. Faltava poucas horas para o amanhecer mas ainda pôde ouvir o piar intimidante de uma coruja num vôo rasante sobre ele. Apesar do cenário nada agradável, ele não parecia amendrontado com nada daquilo. Nívad era uma pessoa acostumada a sons e fatos pavorosos. Cresceu na solidão de uma mansão infestada por ruídos insondáveis, viu a mãe sangrar até morrer, e não seria uma ave, ou a sombra de um carro submergir-se num lago no meio de uma floresta fria e escura, que o fariam sentir arrepios na espinha.
Ele esperou a caranga do maldito velho sumir completamente nas águas turvas, e quando finalmente o último borbulho se dissipou, indicando que o descanso eterno do veículo era agora as profundezas, ele retornou para casa, aliviado.
Uma sensação de paz tomava conta do rapaz durante toda a caminhada. Não se importou nem com o nevoeiro e nem com o cansaço. Só pensava no peso que tinha tirado das costas. Agora polícia nenhuma podia culpa-los de qualquer coisa que fosse. Não havia provas escondidas em galpões.
Nívad permaneceu com essa sensação por várias semanas. De que não teria preocupações tão cedo...
Até chegar o fatídico dia em que a irmã entraria em seu quarto no meio da noite, em desespero, notificando que Menezes havia sumido.
_Como assim sumiu?
Perguntou enquanto olhava pra irmã totalmente confuso e desnorteado, custando a entender que não era um simples pesadelo.
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