Pureza


Assistiam uma comédia romântica na grande tela.

Mas Guilherme não estava tão interessado no filme. A única coisa que passava pela a sua cabeça era beijar a linda mulher ao seu lado.

Alegna realmente estava encantadora.

Principalmente pela a forma como o cabelo ficava graciosamente preso naquele rabo de cavalo. Os fios, que escapavam soltos, pareciam pedir para que ele avançasse  como naquele primeiro dia do piquenique.

Alegna atraía a sua admiração pelo um gosto bastante peculiar dele: a beleza simples e natural. Sem refúgios ou truques de maquiagem. E ela já havia demonstrado não ser muito adepta a essas coisas. Todo esse tempo nunca a viu usar um mero batom. E pra falar a verdade, ele até achava que ela não precisava mesmo, pois possuía lábios tão formosos que seria até um crime preenchê-los com cores berrantes.

As vezes ela dava a impressão de que ele estava lhe dando com uma bonequinha de gesso. Sabe, quase parecida com imagens de santinhas que enfeita àqueles altarzinhos que tem em toda casa de tia e vó. 

Jóias e bijuterias chamativas pareciam também não ser do agrado da pequena e doce criatura. Só o que ostentava era uma singela gargantilha que vinha acompanhada de um pingente em forma de crucifixo.

Perfume? Se usava, eram discretos demais. Achava até que ela não usava nenhum, e que o cheiro bom que exalava, era o de sua própria pele. E ainda assim, era algo bem mais concentrado nos cabelos. Um toque leve e suave que lembrava lavanda.

Esses detalhes era o que  Guilherme apreciava de todo o coração. Essa mistura de simplicidade e falta de vaidade junto a um pouco de nostalgia, fazia parte da essência de Alegna. Era como se ela não pertencesse de maneira alguma a este novo mundo. Alegna era de outra época, e talvez, de repente, andando numa floresta, caiu num portal do tempo, vindo parar nesse século, para a felicidade dele.

Mas saindo um instante da fantasia, os verdadeiros motivos desse seu espírito irreal, era devido a vida que levava na mansão. Qualquer  pessoa presa a um castelo ultrapassado e perdido na Era, é lógico que a deixaria semelhante a ele.

Diante disto, Guilherme não via nada de ruim. Pelo contrário. Alegna era a própria perfeição. Diferente de tudo que ela já tinha visto nessa vida. E seus modos e gestos, que não haviam se corrompido com as pragas atuais, era quase uma dádiva!

Alegna era como as moças antigas. Doce e feita exclusivamente para o amor.

Guilherme achava que tinha total propriedade neste assunto por isso pensava assim. Afinal, havia provado muito do amor desse tempo e o gosto não foi nada agradável.

Teve poucos relacionamentos, é verdade, mas isso não o impediu de tirar alguma lição deles.Todos lhe deixaram a certeza de que "As garotas de hoje não ligam para compromisso porque ninguém quer amor. Fingem querer mas no fundo só se importam com o quê lhes convém"

Guilherme não se considerava machista. Na visão dele machismo era o maltrato deferido a mulher. E um ato desse tipo, ele jamais faria com alguém que amasse verdadeiramente. Mulheres devem ser cultuadas como deusas e amadas como tal. E ele apenas gostaria de encontrar, no meio disso tudo, alguém que se doasse na mesma intensidade.

Desgraçadamente, por onde andou, não encontrou nada disso.

Até agora.

Na imagem a frente deles, os atores se beijaram em preto e branco sob uma chuva incessante. Naquele momento, Guilherme sentiu que devia pôr seus braços sobre os ombros de Alegna. E porque não? Era um ato inocente e solene.

A apertou com carinho e ela respondeu, se aconchegando mais perto, apesar da terrível timidez. Pousou a cabeça no peito dele e permaneceram assim até o final da sessão. Guilherme não se incomodou nem quando o braço começou a ficar totalmente dormente. Qualquer dor valia a pena só de tê-la ali com ele.

Após saírem da sala de cinema, Guilherme teve a ideia de levá-la para comer alguma coisa. Entraram na lanchonete logo ao lado e imediatamente foi pedindo dois milk shaiks.

Ao sentarem, Alegna pareceu nervosa com os olhares, mas Guilherme espantou a ansiedade dela inciando conversas aleatórias sobre músicas, livros e bulas de remédios. E cada vez mais descobriam que havia vários pontos em comum dos quais já sabiam. Por exemplo, Alegna descobriu que o namorado também era órfão, assim como ela.

Guilherme não falava muito sobre a família além do tio Jonas. Então pra ela foi interessante ouvir sobre os pais dele. Eles haviam sofrido um acidente de carro quando Guilherme ainda era pequeno e por isso não tinha tanto assim pra contar pois mal lembrava. Alegna se compadeceu e tocou na mão do namorado, tirando rapidamente quando notou uma turma de garotas cochichando com o atendente enquanto olhava em sua direção.

  Guilherme reparou na volta do incômodo repentino e dessa vez foi ele quem pousou suas mãos sobre as dela.

_ Sei como se sente..._ Disse, com delicadeza_ Mas não dê palco a eles, Alegna. Você mesma disse que nunca se importou com o que pensavam... Então essa é uma ótima hora para colocarmos isso em prática.

Alegna sempre mentiu sobre como se sentia com os olhares todas as vezes que saia em público. Mas com Guilherme não precisava mais fingir. Aquele era o modo como as pessoas lhe encarava, uma verdadeira atração de circo. E isso, ela não podia jamais mudar.

_ É até compreensível que me olhem assim. A maioria dessas pessoas nunca me viram pela a cidade tão tarde da noite... E ainda por cima, acompanhada com um outro rapaz que não seja Nívad.

_ Faça de conta que nenhum deles existe. E logo serão invisíveis de verdade. Nada como um pouco de desprezo para quem é verdadeiramente desprezível, querida.

Um segundo w ela quase guaguejou_ E se... E se nos beijássemos?... Talvez haja mais respeito se souberem que sou comprometida com o sobrinho do farmacêutico mais conhecido da cidade...

Guilherme arregalou os olhos perplexo, deixando-a envergonhada depois com a  ideia.

_ Não, Alegna! Jamais a desrespeitaria desta forma apenas para provar alguma coisa a alguém. Seria uma ação completamente desnecessária. Eu nunca íria te expôr dessa maneira,  beijando você assim, na frente de todo mundo como se fosse uma garota qualquer.

Ela não entendia mas pediu desculpas, totalmente desconcertada.

_ Tudo bem..._ Ele disse_ Você não tem culpa... São essas pessoas que te deixam assim, confusa..._Deu sinal para a garconete_ É melhor irmos. Esse  lugar não é para nós.

Depois de pagar a conta Se ergueu, oferecendo a mão e a guiando até o carro lá fora.

Alegna assentiu, enquanto olhava de forma tímida para os fuxiqueiros de plantão.

                     ⌑⌑⌑

Guilherme parou o carro em frente a mansão e Alegna ficou a observar as janelas, deduzindo que talvez o irmão já estivesse dormindo ou mesmo saído.

Guilherme desligou o rádio no qual vinham escutando música durante toda a viagem e depois comentou o quanto a noite tinha sido adorável. Ela concordou, sorrindo, esquecendo totalmente o mal estar que sentiu com aquelas pessoas na lanchonete.

_Eu simplesmente amo quando estou com você, Alegna_ Ele, subitamente, com olhos brilhantes.

Ela o olhou quase surpresa. Guilherme então continuou após o pio de uma coruja:

_ Você deve está pensando que é cedo demais mencionar essa palavra, não é mesmo ?

_ Eu não sei... Mas acho que não..._ Ela disse, sem muita certeza.

_ Eu não sou muito de esconder o que sinto então... Peço Desculpas.

_ Eu gostaria mesmo de dizer alguma coisa mas... Eu não sei ao certo o que falar, Guilherme_ Ela, depois de um segundo_ É tudo muito novo pra mim... A única coisa que eu sei é que... É que estou feliz que não seja tudo apenas um sonho.

_ E Se for... Não sei se quero que  me acordem.

Se encararam profundamente como se o mundo um do outro existisse apenas os dois.

Depois de muito esforço, ela levou sua mãos até a dele.

_Estamos sozinhos agora..._ Alegna sentindo arder a alma_ Queria que você pudesse me beijar.

Mas ele se manteve quieto mesmo assim, e então ela própria se atreveu, buscando com vontade os lábios dele.

Guilherme foi tomado por uma sensação avassaladora quando, além do beijo, Alegna usou as mãos para massagear o peito através da blusa de botão dele. Logo, o corpo respondeu ao estímulo, e o desejo de tocar entre as coxas dela passou pela a sua cabeça de imediato.

Mas antes que pudesse atender aos seus próprios pedidos, a consciência acusou, iluminando sua mente como um farol no meio de um mar escuro e agitado.

_ Não, Alegna..._ Se afastou com delicadeza_ Definitivamente, não sou esse tipo de homem...

Ela ficou a olhar pra ele, confusa enquanto tomava o fôlego.

_ Não sou do tipo que se aproveita da ocasião._completou.

_Não está tirando proveito de nada, Guilherme... Eu Sou sua namorada.

Ele fechou o último botão da blusa e em seguida juntou as mãos dela, segurando com firmeza e carinho.

_ Quero fazer as coisas direito. Eu nunca me perdoaria se manchasse sua integridade... Você é uma das pessoas mais puras e inocentes que já conheci nesta vida... E não é certo tirar isso de você... Tudo tem seu tempo... Eu não quero sair atropelando as coisas.

Dentro dela, àquelas palavras não fizeram sentido. Ela não via nada de indecente ou imoral fazer coisas de casal com o seu namorado. Mas respeitou os conceitos dele. Mesmo bastante frustada.

Guilherme parecia ser diferente dos rapazes da praça que Nívad sempre falava. Mal caráteres que viviam de paquerar e iludir garotas.

Guilherme não era assim. Ele era um príncipe.

Um homem raro.

Sua índole era limpa demais para criar uma intimidade mais profunda com uma mulher da qual ainda não continha laços matrimoniais. Guilherme era romântico, das antigas. E ela realmente precisava respeitar isso e deixar os seus desejos de lado por enquanto.

Ainda no carro, pensativos,  Alegna se assustou quando o irmão surgiu de repente batendo no parabrisa junto com a ventania. Nívad parecia alegre quando os comprimentou e Guilherme também respondeu com entusiasmo como se não tivesse se abalado com a chegada dele. Logo em seguida, Nívad, o convidou para um jantar durante a semana e Guilherme imediatamente olhou para a Alegna como se perguntasse o que ela achava.  Ela apenas sorriu como resposta.

Combinados então, Nívad os deixou a sós novamente, voltando pra mansão_ O que era uma visão deslumbrante a noite e que deixou Guilherme admirado assim que parou o carro diante da propriedade.

Guilherme se despediu com um beijo na testa, e antes que ela saísse do veículo, deixou claro que um jantar na companhia dela, seria um contentamento impossível de ser medido. Ela sorriu, dando um rápido selinho nos lábios do rapaz.


Quando finalmente Alegna adentrou na casa, permaneceu encostada na porta com um sorriso de orelha a orelha. Mordeu o lábio inferior fortemente várias vezes e suspirou, indo direto tomar um banho. Precisava urgente de um bom e longo banho frio. Tirou então toda a roupa enquanto a banheira enchia até a borda, depois colocou algumas gotas de um sabonete líquido que ela desconfiava que já estava vencido há muito tempo e se jogou na imensidão da espuma.

Trincou os dentes com o gelo e molhou os cabelos dando um mergulho ligeiro. Fechou os olhos por um segundo e começou a massagear os ombros e pescoço.

Dentro desse conforto quase divino, recordou da mãe e do que havia acontecido naquela  banheira. Fora ali mesmo que havia a encontrado morta quando criança. Diferente do irmão, desde aquele trágico dia, nunca deixou de usar aquele reservado. Ele nem sondava algo assim. Pior, tomar um banho naquela tina de mármore, era impensável pra ele.

"Se banhar onde uma pessoa morreu? Deus me livre! Alegna"

Mas para ela não havia sido qualquer pessoa morrer alí. Tinha sido a sua mãe. E toda vez que ela se sentia bem, se banhava naquela cantinho. E era fantástico como um ato tão simples a fazia se conectar com o espírito de Heidi. Era como se pudesse ter a mãe de volta ao ficar na mesma posição da mãe no dia de sua morte.

Ainda passando as mãos pelo o corpo, tocou os dedos levemente nos pulsos, e os imaginou sangrando, escorrendo com energia entre a pedra marmorizada do piso. E como num sonho confuso, viu Guilherme entrando pela a porta e se deparando com ela nua e jorrando vida através dos cortes profundos. Alegna sorriu feliz enquanto fantasiou,  deslizando os dedos até a abertura das coxas.

Guilherme então se aproximou devagar e ficou de joelhos ao lado da banheira. Seus joelhos se umideceram na poça vermelha e logo também introduziu os enormes dedos dentro dela.

Na sua realidade, Alegna faz o mesmo, e começam juntos os movimentos frenéticos.

Guilherme estava ali com ela. Tinha uma mente verdadeiramente forte o bastante para pensar assim. Havia praticado isso muito bem desde que conheceu Guilherme. Fazia todas as vezes logo após os encontros com ele. Mas tudo era porque o desejava demais. E pra ser honesta, não sabia quanto tempo conseguiria aguentar o respeito dele para com ela.

Guilherme era educado.

Mas ela gostaria que ele fosse um pouco menos de vez em quando.

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