Cordas

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Voltaram para a mansão de mãos dadas e quietos. Seguindo pelo o atoleiro que se formou rapidamente no terreiro ao redor do casarão.

Estavam tranquilos apesar de tudo, e Alegna o envolveu com seus braços algumas vezes durante o percusso numa forma de agradecimento.

Guilherme preparou o banho para os dois assim que colocou os pés em casa. No entanto, tomaram separados. Ela era encabulada demais para sugerir que fizessem isso juntos na banheira.

Alegna ficou na suíte principal onde sua mãe costumava se banhar enquanto Guilherme seguiu para outro, na parte inferior.

 
Ao entrar no quarto deles depois do banho, se deparou com Guilherme apenas coberto com uma toalha amarrada na cintura, e o peitoral completamente nu. De fato não era um desses homens cheios de musculosos mas possuía um corpo aparentemente saudável que agradava demais os olhos dela.

Hipnotizada com o rapaz a sua frente, sentiu-se atraída, e sem dizer uma palavra sequer, ficou presa ao chão como uma estátua, apenas admirando a vista. Guilherme parou de pentear os cabelos assim que a notou, e ficou a fita-la através do reflexo do espelho.

Tinham a sensação de que qualquer palavra era extremamente proibida para os dois naquele instante. Como se o som de suas vozes fosse capaz de quebrar o desejo silencioso que se seguia por entre os poros.

Quando ele finalmente decidiu se aproximar, o coração dela quase saltou pela a boca. E tudo que ela pediu em pensamento, que ele não a beijasse. Não porque não quisesse, pelo o contrário, ela queria, e muito! A questão era o medo. Medo de ultrapassar os limites_ que ele já tinha deixado bem claro que não era muito correto.

Alegna estava casada há um tempo e ainda era virgem. E o que sabia sobre sexo, não era mais do que já tinha visto na TV, quando tinham uma, há muito tempo atrás.

Gostava bastante das comédias românticas que passava de vez em quando. Algumas com cenas mais leves, outras, nem tanto. E foi exatamente nessas últimas que ela começou a compreender certas coisas sobre o próprio corpo. Inclusive, a grande descoberta, aos treze anos, que a mulher precisava abrir as pernas para a penetração. Um verdadeiro choque saber que partes precisavam se encaixar.

Alegna não teve acesso sobre educação sexual em suas aulas particulares. Acharam que matemática e língua portuguesa eram as únicas matérias que realmente importava. Então, estudou por conta própria o assunto, nas enciclopédias espalhadas pela a biblioteca.

Crescendo dessa maneira, envolvida num tabu interminante, e tão pouco sem amigos pra conversar sobre isso na adolescência, Alegna acabou se tornando uma mulher adulta com a ingenuidade de uma pré adolescente dos anos quarenta. Onde o próprio corpo era um mistério a ser desvendado.

Guilherme sabia disso, e sentia que não podia ser tão afoito com uma pessoa assim. E por essa razão, e outras bem maiores que passava pela a sua cabeça, sempre fugia dela quando surgia momentos como aquele.

Mas naquele dia, tentou pelo menos. Sendo assim, ficou perto o suficiente para que ela sentisse a respiração quente dele. Totalmente perdida nas cores do olho de Guilherme, sentiu o arrepio na pele ao ser tocada por detrás da nuca. Com docura, tomou os lábios de Alegna, saboreando a saliva intensa e a carne gélida que sua boca se transformou. Por um segundo, ela pareceu entorpecida, deixando-se levar.

Guilherme mordeu levemente os lábio inferior dela, provocando a reacão natural em si. Pensou, que há qualquer momento, aquilo pudesse atravessar o tecido atoalhado, e  Alegna, mesmo não especialista no assunto, tinha noção que era a confirmação de que ele estava pronto. Então ela ousou com as mãos devagar para sentir melhor, e Guilherme simplesmente parou de beija-la.

_ Não podemos, Alegna!... Não agora._ sussurrou.

_ Desculpe..._ Ela disse_ Não sei o que deu em mim.

_Depois de tudo que você passou nesta tarde, não deveríamos está pensando nisso...

Guilherme se afastou indo vestir-se um moletom por baixo da toalha.

_ Tem razão... Não é mesmo o momento._ Ela tirou o roupão, ficando completamente nua enquanto pegava um vestido já separado sobre a cama.

Guilherme ficou a olhar por um segundo mas virou-se imediatamente.

_ Quer que eu traga alguma coisa pra você comer_ Disse ainda de costas.

_ Não, obrigada... Acho que vou tentar tirar um cochilo_ Alegna, num tom de frustração.

_ Faça isso_ Ele completou_ Será bom descansar a cabeça por algumas horas.

Se virou, quando percebeu que ela já estava vestida.

_ Enquanto isso, vou limpar a lama que os sapatos deixaram pela a casa_ Terminou,  beijando o rosto dela.

Ela assentiu, puxando o travesseiro e se esparramando na cama.

"Não posso duvidar dos sentimentos de Guilherme só porque se nega a fazer amor comigo"_ Pensava_ "Olha só o que fez por mim hoje! Nenhuma prova de amor seria tão grande e verdadeira quanto a de ajudar a ocultar um corpo... Não mesmo! Este homem, realmente deve me ama muito!"

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"... Mas que história é essa, Alegna?"

"Vem que eu te mostro!"

Alegna em aflição retirou o irmão da cama ainda atordoado e o guiou até o quartinho da parte mais remota da casa.

Era madrugada quando Nívad atravessou a porta e acendeu as luzes, sentindo a claridade doer forte nos olhos.

_Mas que droga!..._ Esboçou, pondo as mãos na cabeça_ Como foi isso?_ Virando-se para a irmã.

Ela apenas deu de ombros, fingindo-se intrigada.

Nívad então se aproximou da cama e imediatamente reparou algo inexplicável nas cordas.

_Você deixou algum objeto cortante por perto?_ Enquanto analisava as amarras perfeitamente cortadas.

_ Que eu lembre não..._ Respondeu, cruzando os braços.

_ Tem certeza? Porque a corda não foi desamarrada e sim cortada!

_T-talvez..._ Ela gaguejou_ P-pensando melhor agora, posso ter me distraído... Ele deve ter pego alguma das facas... Sempre trazia uma comigo pra cortar alguma coisa do prato dele...

Nívad  permaneceu pensativo por uns segundos, tentando imaginar a proeza quase inacreditável.

_ E agora?_ Ela, o tirando do raciocínio. Não era bom que ficasse tanto tempo juntando peças_ O que vamos fazer?

_ Nada_ Disse, contemplando a janelinha_ Mas me arrependo de ter deixado você cuidando dele sozinha por mais tempo do que eu. Deveria ter previsto que isso não daria certo.

Ela baixou o olhar:_ A culpa foi realmente minha. Você tem razão. Era pra ter sido mais cuidadosa, já que me encarreguei de administrar os remédios e alimenta-lo totalmente.

Ele suspirou chateado. Porque sempre ficava quando a irmã fazia drama.

_Também tenho culpa. Se não tivesse quase matando ele com os remédios e deixando a porta aberta quase sempre, você não teria se oferecido a cuidar disso pra mim... Era muita coisa em cima de você... O casamento, a casa, isso... Não tinha como ficar tão atenta a tudo de uma vez só o tempo inteiro... Só Fez pra nos ajudar... E eu acabei não  ajudando muito você e nem nós dois.

Um silêncio e ele se adiantou até a saída, dizendo logo depois:

_ Vou dá uma olhada pelos os arredores... Pode ser que tenha caído por aí durante a fuga... Estava fraco! Duvido que tenha ido muito longe.

Ela concordou com a cabeça e o irmão se retirou, deixando-a sozinha.

Alegna foi então até a cama e tocou nas cordas com decepção, pensando no tanto que foi desleixada nesta questão. E esperava realmente que o irmão tenha engolido a história das facas.

Na verdade, não gostava de mentir pra ele.

Até diria o que de fato aconteceu, afinal, foi algo inevitável.

Menezes estava doente e faleceu por conta disto.

Ora, ninguém foi responsável pela a morte dele, certo? Mas Guilherme achava que não era uma boa ideia falar. Afirmando ser desnecessário já que era um assunto enterrado, literalmente! Ele não via razão pra revelar o que fizeram com o homem depois de morto. Isso não mudaria a situação e nem traria o velho de volta... Então, que deixasse como estava, e a vida seguiria plenamente na Mansão.

"Mas não irá seguir nada plenamente, porque Nívad ficará obssecado com a ideia de que Menezes surgirá há qualquer momento com a polícia, nos acusando de sequestro!"

"Alegna, querida, isso só será nos primeiros dias. Depois que ele perceber que Menezes sumiu mesmo de vez, nem pensará mais nisso. Você vai ver. Fique tranquila... Pelo menos nós dois sabemos, que as chances da polícia entrar por aquela porta com ele, são totalmente nulas. Apenas seja paciente e dê tempo ao seu irmão, e logo ele terá esquecido essa história"

Alegna saiu dos pensamentos e pegou as cordas, levando-as para o lugar delas:

O porão!

E ficou lá até perceber que o irmão tinha voltado das buscas.

Correu então ligeiramente para o quarto. Para os braços do marido.

_ E ai, como foi?_ Guilherme murmurou, sonolento.

_ Acho que o convenci._ Ela respondeu, quase sorrindo, se aninhado nele.

_ Que bom, minha querida... Que bom.

Guilherme também sorriu, com muita satisfação, voltando ao sono dos justos!

 

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