Anel E Cordas

   ⌑⌑⌑

Alguns dias depois, Alegna confirmou o jantar com Guilherme.

Nívad fez questão de ajudar dando um trato na casa, tirando a poeira e deixando tudo bem organizado e limpo.

Alegna preparou com capricho os filés de peixe que Nívad havia ganhado em forma de pagamento pelo um serviço prestado, e juntou tudo numa bela travessa com as batatas colhidas em sua própria hortinha nos fundos da casa. Graças as receitas que a mãe colecionava, sabia fazer uma boa refeição quando era possível e necessário.

Mamãe realmente sabia realizar um grande evento_ Lembrou com orgulho enquanto arrumava a mesa_ Não era a toa que o vovô sempre a deixava responsável pela a maioria das festas na mansão

_ Na verdade ela não tinha muita escolha_ Nívad rebateu enquanto acendia os candelários_ Foi o único modo que ela encontrou de agradar nosso avô e fazer com que ele parasse de encher o saco dela. Somente isso. Então, por favor, em memória da pobre mulher, não romantize submissão e conformismo.

Alegna preferiu não entrar em conflito, pelo menos não num dia tão feliz, e permaneceu em silêncio diante da objeção do irmão.

Lá pelas vinte horas, Nívad acendeu os últimos lampiões da casa. Gastou mais com gás e velas do que com qualquer outra coisa naquela noite, mas estavam sem eletricidade e ele não podia mais adiar aquele compromisso por conta disto.   Guilherme já tinha consciência das condições deles então não havia com o que se envergonhar. E um jantar a luz de velas era até mais romântico.

Guilherme chegou trazendo consigo ramalhete, vinho e chocolate. Nívad foi quem o recebeu primeiro, fazendo todas as honras. Após alguns segundos de conversa na sala, os dois foram agraciados com a doce presença de Alegna, que trazia licores numa bandeja.

Ao vê-la, Guilherme saltou da poltrona com grande entusiasmo, ligeiramente lhe entregando o buquê. Sorridente, enfiou as narinas, aspirando levemente o perfume das pétalas vermelhas.

Depois que agradeceu, colocou as flores numa vaso perto da lareira, anunciando em seguida que seria bom já se dirigirem para a sala de jantar antes que a comida esfriasse. E os dois a obedeceram, seguindo-a até o enorme compartimento com móveis exuberantes de madeira colonial. Guilherme sentiu como se tivesse entrado numa máquina do tempo.

Antes de sentar, Guilherme fez questão de puxar a cadeira para Alegna se acomodar primeiro, e ao começarem a saborear a boa comida, Nívad encheu as taças de vinho propondo um brinde. Logo após o primeiro gole, Alegna serviu Guilherme e iniciaram então finalmente o jantar.

A conversa durante a mesa fluiu bem, apesar de Nívad ser o que mais falava. Empolgado, não poupou os ouvidos dos outros dois, ao falar sobre os desejos de viajar pelo o mundo assim que tivesse a chance.

Alegna trocava olhares com Guilherme frequentemente como se dissesse

" Viu? É só nisso que ela pensa!"

Mas para sua decepção, Guilherme parecia está bastante interessado no papo do rapaz, e até deixou escapar algumas das suas experiências nos lugares que já visitou.

Pelo visto, ele era uma pessoa que havia estado em muitas cidades diferentes antes de Falcão Peregrino. E isso, de certa forma, agradou bastante Nívad.

" Um viajante jamais  irá se contentar com este lugar. E isso não poderia ser melhor!"

Nívad mostrava-se cada vez mais encantado, querendo saber de cada detalhe das viagens que Guilherme já fez.  Mas havia momentos que Guilherme parecia hesitar, ao notar que estava contando demais sobre si mesmo, e então, ele voltava a ser vago imediatamente, deixando as conversas quase todas incompletas. E era nessas horas que Nívad se mantinha meio frustado. Mas tentava não demostrar isso.

  Alegna também se sentia assim. Não pelas as mesmas razões do irmão, mas por concluir que um homem tão vivido jamais se prenderia a Colina. Só alguém, que teria se cansado do resto, resolveria se perpetuar em Peregrino de vez. E ela ainda não sabia afirmar se aquele era o caso.

Peregrino não era um local tão ruim assim de se morar.

No entanto, se você tiver um espírito um pouco mais aventureiro, aconselhamos  riscar imediatamente este lugar de seu roteiro de viagens. Apesar de ser bem urbano, no final, a cidadezinha não passava de um vilarejo que havia crescido graças a uma fábrica de sabão no passado.

A verdade é que os habitantes ainda eram bastantes conservadores e metódicos como há cinquenta anos atrás,  e talvez por isso, ela e o irmão não fossem vistos de forma normal perante a sociedade.

Não que os dois fossem infâmes, nada disso. O ponto em questão era simplesmente pelo o fato do povo achar que um casal de irmãos não deveriam ficar tanto tempo sozinhos numa mansão afastada e distante de todos os olhares. Como diria Padre Hermano "O Diabo têm suas armadilhas e sabe perfeitamente como usa-las. Dois irmãos, vivendo apenas em função um do outro, durante tanto tempo, poderia gerar pensamentos maliciosos"

Sobre isso, Alegna gostaria de esquecer pra sempre. O motivo de sua última vez numa missa foi justamente essas insinuações absurdas. Onde o padre Hermano, depois que todos saíram da paróquia e ficando a sós com ela, confessou que estava preocupado com os gêmeos por estarem possivelmente fazendo "coisas" que poderia não agradar a Deus"

Ele não precisou terminar para que ela saísse correndo pra vomitar lá fora.

"Jesus sacramentado! Espero que seja apenas um enjôo comum!"_ Hermano ao fazer o sinal da cruz.

Depois daquele dia, Alegna decidiu que rezar em casa também servia, e simplesmente parou de ir a igreja aos domingos. Realmente sentiu-se ofendida. E mais do que isso, enojada e muito irritada.

Mesmo sendo bastante religiosa, preferiu evitar os constrangimentos de encarar o padre depois daquela conversa tão sem sentido.

Nívad nunca soube dessa história. Primeiro porque ela teve vergonha de contar. Segundo, ele não ligaria mesmo. E ainda por cima teria feito uma piadinha sem graça e grotesca da situação. Como algo do tipo

"Nem se você fosse a última mulher do mundo, Alegna. E tivéssemos que procriar para salvar o mundo!"

E saíria gargalhando pelo o casarão feito um idiota.

Guilherme de repente pigarreou, tirando-a dos pensamentos. Em seguida, educadamente, pediu a atenção dos dois.

Ele parecia extremamente confiante quando se dirigiu a Nívad, se declarando apaixonado pela a mulher a sua frente. Depois, lançou os seus olhos nela e disse sem enrolação o quanto gostaria de tê-la sempre em sua vida.

_  Você também sente o mesmo, minha irmã?_ Nívad interveio, empolgado.

E ela olhou para o irmão, nervosa.

_ Pelo o amor de Deus!_ Nívad bateu com as palmas das mãos na mesa, assustando-a, com um sorriso quase diabólico no rosto_ Então porque não ficam juntos pra valer logo de uma vez?

Alegna engoliu em seco.

Estava super envergonhada com a atitude exagerada do irmão. Ele nem disfarçava as verdadeiras intenções por detrás daquele apoio.

_ É justamente onde pretendo chegar..._Disse Guilherme,  ainda olhando firmemente para Alegna_ Só estava mesmo esperando por um momento como este...

Pôs as mãos no bolso. E Alegna e Nívad prenderam a respiração juntos.

Guilherme prosseguiu, abrindo uma caixinha. No interior dela, um lindo anel_ Aceita se casar comigo, Alegna?

Ela soltou a respiração finalmente, e antes de responder, Nívad deu um salto  de alegria.

_ Mas é claro que ela aceita!

Meu Deus, Nívad. Só pare!  

Guilherme pediu que Alegna esticasse os dedos para colocar o anel quando ela disse um Sim baixinho e tímido. Depois ele beijou suavemente sua mão, revelando que já havia marcado a data da cerimônia.

De repente, a alegria dela foi tomada por olhos surpresos e incrédulos. Nívad também se mostrou impressionado.

_ Cara, gostei de você! Não perde tempo mesmo!_ Batendo palmas.

_Como assim? _ Ela disse, confusa_ Você marcou uma data  antes mesmo de saber se eu aceitaria ou não?

Ela achou que Guilherme devia mesmo ser uma pessoa altamente confiante em relação aos próprios sentimentos, e principalmente com os dela.

_ Meu coração dizia o tempo todo que você aceitaria...

_ Seu coração estava certo..._ Com receio que tivesse magoado ele_ Embora, uma cerimônia na igreja não seja o ideal.

_E porque não? Achei que fosse cristã_ Apontando para o crucifixo no pescoço.

Alegna apertou o pingente.

_ Eu sou. Claro que sou...  A questão é outra... Por exemplo, a igreja é um local grande,  espaçoso..._ Olhou desconcertada para os dois_ E eu não conheço pessoas suficientes para ocupar tantos lugares... Na verdade, não conheço ninguém da cidade... Sendo assim, pra quem enviaria convites?... E quem, de fato, aceitaria comparecer ao casamento de uma Aurom? Todo mundo nos acha estranhos e esquisitos. Ninguém aceitaria... Ou talvez sim, mas só por curiosidade.

Guilherme se sentiu comovido. Mas Nívad não. Nívad ficou aborrecido.

_ Simplesmente vai abrir mão de uma bela cerimônia por causa daqueles desgraçados lá em baixo? Você não pode está falando sério! Não você, que sempre disse que não ligava pra opinião deles.

_ Seu irmão tem razão_ Guilherme_ E além do mais, pelo menos pra mim, só interessa mesmo que uma pessoa esteja lá no dia: Você, Alegna..._ hesitou_ E o padre, é claro! E só porque precisa de um_Um segundo de silêncio e ele continuou_ Eu realmente não me importo com uma igreja vazia. Só preciso que você esteja lá, minha querida.

Alegna sorriu, sentindo o coração quente e mais calmo.

_ Se você não se importa... Então eu também não.

Ficaram presos nos olhares um do outro até Nívad erguer novamente uma taça.

_ Isso merece um outro brinde!...

Os outros dois o imitaram.  Prosseguiu:

_ Um brinde ao novo casal Aurom! Que Os céus os abençoe! E os anjos digam amém!

Brindaram.

_ Seja bem vindo a família! _ Terminou com um sorriso de satisfação, falando agora diretamente a Guilherme.

                      ⌑⌑

Alegna estava no porão quando ouviu as fortes batidas lá fora.  Passou a manhã inteira alí e estava exausta.

Rapidamente largou os esfregões subindo as escadas. Trancou tudo, guardando as chaves dentro do bolso do avental de plástico deixando os baldes com água suja de lado.

Observou atentamente pelas as vidraças coloridas antes de abrir e reconheceu o homem suando em bicas parado a porta de entrada. Era quase meio dia e o sol castigava a colina. Ela também sentia o calor insuportável daquela manhã e então lembrou que sempre quando ficava quente assim, era sinal de muita chuva nos próximos dias.

Alegna pensou duas vezes em abrir a porta. Não gostava muito da presença do Menezes principalmente quando Nívad não se encontrava. Pois só o irmão sabia lidar com o velho rabugento. Mas também não podia fugir de situações assim todas as vezes. Nem sempre o irmão estaria lá para salva-la de pessoas como aquela. E além do mais, ela só precisava despacha-lo mesmo.

Sendo assim, abriu só o suficiente para dizer que o irmão não se encontrava em casa. Que tinha ido limpar alguns quintais e que passaria o dia todo fora provavelmente.

Menezes tirou o chapéu exibindo os poucos fiapos emaranhados e demonstrou decepção.

_ Bom, sendo assim, posso tratar do assunto com a senhorita mesmo.

Alegna continuou segurando a porta.

_ Não tenho tanta certeza se conseguiria negociar alguma coisa comigo melhor do que com o meu irmão, senhor Menezes.

_ Não vim a negócios, senhorita Alegna... E além do mais, é só de um minuto que eu preciso. Não insistiria, se o assunto fosse mesmo de grande importância.

Alegna não ficou nada curiosa mas resolveu escuta-lo, dando finalmente espaço para que ele ultrapassasse.

Menezes agradeceu, ficando no meio da sala enquanto tirava um lenço do bolso e secava a testa. Alegna apenas o observava quieta.

_Pobre Nívad! _ Disse, guardando o lencinho de volta_ Limpando quintais pra ganhar alguns trocados... Chega a ser lamentável para um Aurom, não é verdade? Charles deve se revirar no túmulo.

Ela continuou séria, como se aquele comentário não tivesse lhe abalado.

"Você mesma disse que nunca se importou com o que pensavam... Acredite nisto e ponha em prática"

_ Não conheci seu avô mas já fiz negócios com o seu pai._ Ele disse_Mas você e seu irmão eram muito pequenos, não tem como lembrar disso... Até porque, Magno e eu, nunca nos encontramos na mansão... Nos víamos apenas no clube de poker que ele e os amigos frequentava...

O antigo clube de poker que servia de divertimento para o avô e depois serviu de refúgio para o pai.

_...Por um longo período, fiz daquele lugar meu ganha pão... costumava oferecer minhas bujigangas entre uma jogada e outra... Pra ser honesto, não tinha muita amizade com nenhum dos granfinos, mas conhecia de nome todo mundo... E todos eles sempre estavam comprando alguma coisa de mim... Uma jóia barata pra esposa... Uma gargantilha de ouro pra amante... Uma carteira de couro legítimo para o cara que limpava a piscina mas que também fazia outros serviços para a madame...   E assim, acabei me tornando um vendedor bem requisitado entre eles. Não só por ter muitas coisas mas principalmente Por ser sempre fui muito discreto. Pra mim não importava pra quem era os presentes ou quem era os ricos falidos me pedindo que encontrasse compradores para suas coisas... Aquilo tudo era apenas negócios... Eu era apenas um homem tentando ganhar a vida e não me interessava muito as fofocas...

_ O senhor disse que era um assunto importante e rápido._ Disse rispidamente o interrompendo.

_Eu vou chegar lá. Não se preocupe..._
Foi abrindo a pasta que trazia consigo sem muita pressa_ Naquele tempo, os pagamentos raramente eram feitos em dinheiro vivo... Nunca entendi porque gente rica é a que mais anda sem dinheiro na carteira mas enfim..._ Riu, voltando ao tópico_ E lá no clube, veja bem, não era diferente. Qualquer coisa que comprassem, passavam logo um cheque... Não me incomodava, contanto que tivesse fundos... _ Os olhos de Alegna identificaram imediatamente o livro que o velho retirou da pasta preta_ E talvez por causa disso... De tanto receber cheques_ Deu de ombros_  Aprendi a reconhecer a assinatura de quase todos os homens importantes desta cidade... _ Escolheu a página com paciência e jogou o livro aberto sobre a mesinha de centro_ Inclusive, a de Magno Aurom.

Alegna não emitiu nenhuma reação. Apenas pousou os olhos nas páginas. Mas mordeu os lábios quase machucando-os quando ele continuou:

_ Essa é a letra dele, não é?_ Menezes, por baixo dos óculos.

Diante do silêncio dela, ele se aproximou mais da mesinha, apontando com o dedos para os rodapés das páginas.

Havia frases escritas a lápis.

Palavras quase apagadas pelo o tempo e pelo o amarelado do papel.

_Não dá pra ver nada_ Ela rebateu friamente_ Então fica difícil afirmar alguma coisa... Honestamente, senhor Menezes, não estou entendendo.

_ Senhorita Alegna, por favor_ Alcançou o livro outra vez, esticando-o diante dela_ Pode não está muito nítido, mas ainda se ver perfeitamente a caligrafia... É verdade que já se passou bastante tempo desde a última vez que vi essa letra, mas sou um velho bom de memória. Reconheceria esses traços em qualquer lugar!

Mais silêncio.

_ Meu Deus, menina!_ batendo com força o livro na mesa  diante de tanta inércia_ Isso se encontra pelo o livro inteiro!_ folheou rapidamente mostrando mais e mais_ vai me dizer que isso não significa nada?

Ela puxou o ar e leu na mente as frases no livro...

"Me sinto muito cansado"

"Estou com medo"

"Me ajude"

_ Não sei que tipo de plano... Ou mesmo de suborno, o senhor acha que conseguirá, me mostrando tal coisa... _ Disse tranquilamente_ Assim como não sei, o tipo de técnica que usou para imitar a letra de meu pai... Mas tendo em vista, que conhecia a assinatura dele tão bem, acredito que não deva ter tido tanto trabalho... _ Seguiu para a porta, insinuando que ele já poderia se retirar_ Só que infelizmente, sua jogada falhou, senhor Menezes._ abriu a porta_  Este exemplar foi adquirido muito depois do sumiço de meu pai então, sinto informar, mas o senhor realmente perdeu o seu tempo... Agora se me dê licença, eu tenho uma casa de mais de vinte cômodos para cuidar...

  
Ela ficou esperando que ele passasse pela a porta e saísse das vistas dela. No entanto, Menezes apenas ficou  pensativo até enfim acordar como num estalo.

_ Porque eu pensaria em suborno?_ franzindo a testa, encarando-a fortemente.

Ela engoliu em seco. E ele prosseguiu, dando alguns passos devagar, ficando bem de frente com ela.

_  Eu pensei em muitas coisas quando vi isso aqui!..._ Sacudindo o livro_ Depressão, devaneios, demência... E até que alguém de fora o estivesse ameaçando por algum motivo... Mas de maneira alguma, passou pela a minha cabeça, que ele estivesse pedindo socorro de sua própria família.

_ Mas do que está falando?_ De repente, os olhos de Alegna cintilaram num ódio profundo_ Como ousa duvidar do amor que sempre tive a meu pai?

_  Foi você quem cogitou a ideia de algum tipo de aliciamento... E se pensou isso tão rápido, é porque de fato, possuiu fortes razões... Concorda?

_Criando teorias que não existe só pra vê se consegue alguma vantagem... Não é de se admirar, vindo de alguém como o senhor. Sempre se monstrou um mercenário. _ Se aproximou com energia_ Mas como já disse, está perdendo seu tempo aqui. Não terá nada de nós. Não temos mais nada.

_ Vantagem?_ questionou debochado_  Que tipo de vantagens eu teria aqui, menina? Subornar só faz sentido se a pessoa em questão tiver algo a oferecer... E como você disse, e eu sei disso muito bem, você e seu irmão, me perdoe a expressão, não passam de dois pobres coitados!.. O que eu ganharia então fazendo algo assim?... Uma casa caindo aos pedaços?_ olhou ao redor com desdém_ Uma pilha de móveis repletos de cupim?... Meu Deus do céu, minha cara, Desculpe a franqueza, mas um lugar como este, e o que sobrou dele, não é vantagem nenhuma pra ninguém! Pelo o contrário. Não passa de um verdadeiro estorvo!

Alegna baixou a cabeça sentindo-se humilhada.

Então os olhos dele mudaram drasticamente quando a analisou de cima a baixo, maliciosamente.

_ A não ser que..._ foi chegando, até ficar perto demais_ Que a senhorita fosse criativa o bastante, para formular outros meios...

Antes que o velho asqueroso tentasse tocar em seus cabelos, Alegna rapidamente desviou, e num ato frenético, o empurrou pra longe com toda força do seu ser.

Menezes cambaleou, mas se manteve firme, segurando-se numa das poltronas atrás dele.

Alegna apenas correu pra fora da casa como uma louca, e ele, mesmo com todo o peso corporal, a seguiu, correndo também.

  Ela preferiu não olhar para trás enquanto fugia. Mas podia ouvir a tosse do homem no seu encalço. Ela sabia que ele nunca conseguiria lhe alcançar pois a asma logo o atacaria e também por ser mais jovem e bem mais rápida. Só que ela não contava que tropeçaria logo adiante, machucando o calcanhar.

Alegna demorou um pouco para se recompôr por conta da dor durante a queda, e quando conseguiu se virar finalmente, viu que Menezes vinha com tudo em sua direção, ofegante mas surpreendentemente rápido. Sem saber o que fazer, pegou o objeto que a tinha feito cair e não pensou duas vezes. Deferiu a pá contra a face de Menezes sem dó.

Tudo nela tremeu enquanto olhava pro corpo estendido na areia. Extasiada, foi se erguendo devagar, ainda em alerta, com a pá em mãos, pensou se realmente desejava deferir outra pancada ou era apenas um pensamento qualquer . Ficou assim por alguns segundos, presa na própria respiração acelerada quando escutou:

_Mas que droga você fez, Alegna?

A voz surgiu atrás dela. E só não desmaiou porque lhe era famíliar.

Nívad se deparou com os olhos assustados da irmã quando ela se virou pra ele.

_O que foi isso?_ refez a pergunta.

Quis abraça-lo e ao mesmo tempo brigar com ele por deixá-la passar por aquilo sozinha.

_ E- Ele veio até aqui... T- Te procurando..._ Gaguejou_ E.. E de repente... Já estava em cima de mim, feito um louco...

Nívad se aproximou e foi logo verificando os sinais vitais do homem.

_ Ele está...?_ Ela quis saber

_ Não!_ Respondeu, antes que ela terminasse_ Mas acho que precisamos chamar a polícia.

_Policia?..._ Alegna se  desesperou mais ainda.

_ Também não gosto dá ideia...  Mas ele te atacou. Você só se defendeu... Não foi?

_Mas... Mas o que o Guilherme irá pensar disso?..._ Disse como pra si própria com as mãos na cabeça_ Ele nunca mais vai querer nada comigo quando souber de uma coisa como essa... Ele pode até pensar que... Eu não sei... Ele pode pensar que  eu provoquei isso...

Tão atirada quando estamos a sós. É claro que aquele homem percebeu seu fogo e tentou tirar uma casquinha.

Nívad ficou a refletir com o que ela tinha acabado de concluir. E concordou que talvez a irmã estivesse certa.

Sem Guilherme, sem casamento. Sem casamento... Nada de liberdade.

_ Solte isso e me ajude levá-lo para o porão_  Disse ele, pegando Menezes pelos os braços, surpreendendo-a_ Depois pensamos no que fazer.

_Não!_ Gritou_ Acho melhor não..._ Ele a olhou assustado e ela tentou concertar_ O porão...  Lá está repleto de veneno... Eu Tinha acabado de pôr quando fui atender a porta...  Deixá-lo exposto a esses produtos, naquele ambiente fechado, vai fazer muito mal a ele... Não é uma boa ideia.

_ Então vamos deixa-lo num dos quartos da parte térrea da casa por enquanto... Agora me ajude a retirá-lo daqui.

Os gêmeos carregaram Menezes até um dos inúmeros cômodos abandonados da mansão.

Escolheram o quarto mais reservado aos fundos da casa. Na verdade, era um quartinho que era oferecido aos empregados que dormiam na mansão antigamente. Era bem Simples e pequeno. Apenas com uma cama de solteiro e uma modesta cômoda do lado.

Amarraram os punhos do homem com cordas grossas nas grades de metal da cabeceira e o deixaram lá até que ele despertasse.

E não tocaram no assunto durante o resto da tarde. Era como se nada tivesse acontecido.

No início da noite, Alegna já estava tão calma que fez até chá e torradas para os dois.
Comeram em silêncio na varanda.

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