III | A Maldição
TRAÇO MEUS DEDOS CUIDADOSAMENTE na mente do garoto, me certificando que ele achava crível que aquilo tudo era uma encenação ultrarrealista de halloween.
Agora, precisava pensar em uma forma de encontrar sua mãe. A polícia não era uma alternativa, principalmente depois de cometer um assassinato.
Olho para o que sobrou do cadáver, precisava arrumar essa bagunça.
— Quer ver o truque final? — Pergunto, permitindo que uma fumaça enegrecida escorrendo dos dedos. — Sei fazer mágica.
Ele encara minha mão com os olhos arregalados.
— Como o Houdini?
Sorriu sinistramente.
— Melhor, querido.
A fumaça o cadáver, levando o corpo para as profundezas de um mundo desconhecido até mesmo por mim.
Sigo o endereço que a fera me mostrou, podia me teletransportar para lá com um estralar de dedos, mas... não queria enfiar meus dedos na mente daquela pobre criança novamente. Sabia dos riscos, um deslizar errado provocaria uma rachadura permanente em seu cérebro.
Meu salto alto bate contra o asfalto, minha mão segurava a do garotinho. Segundo o GPS, estou a cerca de um quarteirão da casa. Uma leve garoa caia, o céu nebuloso quase cobriu completamente a lua.
Os homens não ficariam satisfeitos por eu estar com uma criança no quadril, mas isso só seria um problema se eu me importasse.
Duvidava que as feras dos outros sentiriam algum instinto demolidor contra uma criança, e se isso acontecesse podia protege-lo.
Henry está agarrado ao gato, ainda amedrontado da cena anterior.
— Vou encontrar alguns amigos, eles vão me ajudar a te levar de volta para sua mãe.
— Eu quero ficar com você.
— A gente pode se ver depois. — Minto. — Mas você vai ter que ficar com sua mãe.
Ele balança a cabeça tristonho.
Olho as luzes violetas que escapam da janela do casarão, ainda podia sentir o gosto do homem que matei. Vincent não vai gostar nada disso, ele vai sentir o cheiro dele em mim, preciso convence-lo que queria isso.
Mentir para ele vai demandar muito da minha energia e habilidade de atuação.
Adentro a casa e sou atingida por uma música de romper os tímpanos.
Felizmente, os homens são facilmente distinguíveis. Igor, o que estar com uma máscara de palhaço, está em cima da mesa com uma garrada de vodca. Ele é o mais novo de nós, o último amaldiçoado.
Ele vira a cabeça na minha direção, após minha fera chamar a dele.
Junte os outros. Está quase na hora de ir. Falo movendo apenas os lábios, sem emitir som.
Subo as escadas procurando Vincent, uma garota tropeça no degrau e derrama cerveja em mim. Puxo o garoto para meu colo, com medo de que alguém o pisoteie.
Em meio a pessoas se agarrando no corredor está Vincent, sua língua enfiada em uma garota loira.
Me pergunto como ele conseguiu fazer isso com a máscara. Sinto uma queimação no coração. Ciúmes.
— Feche os olhos. — Sussurro para criança.
Dou mais um olhar para Vincent e sigo para um quarto vazio. O garoto se aconchega na cama, observo seus olhos ficarem pesados apesar do som alto.
— Conte uma história para mim... Por favor.
Sento ao seu lado e penso por um momento.
— Era uma vez, há muitos séculos atrás, um grupo de jovens ricos e gananciosos, herdeiros de minas de ouro e diamante; no entanto eles tinham as mãos sujas de sangue e traição. Em uma noite de halloween, eles matam a filha de uma mulher que vivia em uma casa escondida nas profundezas da floresta, era uma bruxa. — Uma lágrima cai do meu olho, como sempre acontece quando penso nela. — Eles tiveram que pagar a morte com uma maldição, a bruxa decretou que todos os anos do halloween a parte escura deles criassem vida e vagassem livremente, cada um em sua verdadeira face.
Olho para minhas mãos, o sangre envelhecido da minha irmã ainda escorria. Eu a matei, e faria de novo. A bruxa era minha mãe, ela nos amaldiçoou.
Estávamos em uma festa quando ceifei sua vida, os outros eram até então desconhecidos, eles surgiram na cena no crime e não hesitaram em se divertir roubando os últimos fiados de vida da minha vítima.
Precisei de anos de abuso para chegar a aquele ponto.
A porta é aberta.
— Você demorou. — Digo. — É quase meia noite e preciso de sua ajuda.
Os olhos vermelhos me encaram e depois o garoto dormindo.
— Ele está perdido, preciso encontrar mãe dele.
Silêncio.
O medo começou a deslizar pelo meu estômago quando ele inspira profundamente meu pescoço. Ele sabe.
— Quem?
— Eu também posso me divertir, precisava de uma distração e o homem estava lá.
Ele se aproxima do meu ouvido e sussurra:
— Se precisava de uma diversão eu estava aqui.
Engulo em seco.
Um arrepio havia percorrido meu corpo.
— Queria algo diferente.
Ele se afasta.
Respiro.
— Vou entrar na mente dele.
Hesito.
Vincent é o melhor, nunca vi ele cometer um deslize, mas... E se.
— Precisa ter cuidado, é só uma criança.
— Eu já fiz isso, Anne.
Vincent segura o rosto da criança e fecha os olhos. O rosto do garoto se contorce levemente.
— É o suficiente. — Ordeno.
Ele para.
— Minha fera quer a mulher.
Franzo o cenho.
— O que?
Ele aperta a maxilar, observa a criança dormindo.
— Vou matá-la. A mãe dele.
— O que viu?
Ele puxa a manga da fantasia de Henry, manchas arroxeadas aparecem.
— Ainda não me alimentei, mal posso esperar para extirpar aquela mulher.
Minha fera rosna na gaiola, ela também queria sangue.
— Onde ela está?
Ele se ergue da cama.
— Aqui. A vadia abandonou o garoto e foi festejar.
Minha fera arranha a barra de aço que o aprisiona.
Ainda não.
Chamo os outros, a caçada havia começado.
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