II | Uma Noite de Halloween
ACORDO DEITADA NO ASFALTO com algo cutucando o nariz. Um garotinho com um pirulito na mão me dá um sorriso travesso.
— Oi, por que estava dormindo na rua? Você é uma mendiga?
Riu do absurdo dele me comparar a uma sem teto.
— Vá pedir doce.
Seus olhos ficam tristes. Ele está fantasiado de drácula, o colarinho grande cobre seu pescoço.
— Não consigo encontrar minha mãe.
Quase reviro os olhos, esse pestinha vai atrasar minha noite.
— Ok, vamos procura-la.
Não queria que ele começasse a chorar, atraindo uma atenção mais que indesejada.
— Onde estava quando a viu pela última vez?
Ele hesita, aponta para esquerda, mas logo indica a direita com o dedo, em uma rua interminável.
— Vai ser uma longa noite. — Divago.
Precisava encontrar os outros e espiar eles fazendo suas abominações, a noite sempre passou mais rápido assim.
— Tem algum objeto que pertence a ela?
Ele encara o pote de plástico com formato de abobora.
— Isso não é o suficiente, ela te deu, então pertence a você. Tem que ser algo dela. — Continuo, frustrada.
Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Ei, tudo bem. Vamos encontrá-la. — Ergo o dedo mindinho. — Prometo.
Ele sorri, quando nossos dedos se entrelaçam.
— Estou com fome.
Andamos para o lado que ele apontou e parei quando encontramos um restaurante. O gramado mal cuidado tinha vários enfeites de halloween.
— Doces ou travessuras?!
Um atendente vestido de esqueleto aparece.
— Dois hamburguês.
Ele sorri.
— Gostei da máscara, — Seus olhos descem para os meus peitos. — Querem algo mais?
Nego.
Um gato preto varre minhas pernas, seus olhos amarelos me encaram debaixo da mesa. O pego no colo e afundo os dedos no seu pelo.
Os gatos são atraídos por mim, além disso são ótimos companheiros. Estou precisando de um desde que o meu morreu no halloween passado.
O coloco nos braços de Henry, depois vasculho a minha bolsa e encontro uma cartela de cigarros.
— Ei amigão, vou ter que ir no banheiro. Não fale ou saia com ninguém, pode fazer isso pra mim?
Ele me dá um olhar triste, mas assente. O animal o distrairia por alguns minutos.
Entro no banheiro fétido. O espelho rachado reflete minha imagem, dou um trago no cigarro, uma beleza sobrenatural é refletida no outro lado.
Os lábios avermelhados contrastam com a pele pálida, sou boa demais para ser uma criatura das trevas. Às vezes, posso ver o mal se esgueirando nos meus olhos.
A porta é aberta. É o atendente.
— Está ocupado. — Falo, mostrando todo meu desagrado.
Um sorriso enfeita seu rosto gorducho.
— Não me importo. — Sinto cheiro de álcool quando ele se aproxima. — Você é a coisa mais linda que vi em toda a minha vida.
Suas mãos escorregadias agarram meu cotovelo.
Não faça isso. Quase imploro para ele. Não faça isso.
Sua língua escorrega na minha. Sinto a fera dentro de mim rosnar, a criatura está prestes a dar uma mordida fatal.
O empurro. Meu punho acerta seu rosto. Penso que isso é o suficiente, mas ele continua seus avanços.
— Sua puta, você quebrou meu nariz.
Meus dedos formigam. Não, não, não...
O poder sai sem minha permissão.
A fera está fora da gaiola, prestes a atacar quem a tocou sem permissão.
Fecho os olhos.
Escuto o grito de terror do atendente. Meu rosto havia se transformado em uma fumaça negra, dois olhos vermelhos cintilam na névoa.
Seu sangue escorrega no chão, nas paredes. A fera o despedaçou, arruinou seu estômago e arrancou sua cabeça.
Ela só parou quando ficou satisfeita, posso sentir sua excitação. Faz um ano desde a última vez que saiu. No halloween passado.
Onde estão os outros? Pergunto a ela. Recebo imagens de um casarão abandonado, há bebidas e está lotado. Um número aparece, um endereço.
A fera resmunga quando a empurro de volta.
Enfio o sabonete líquido na boca, tentando eliminar o gosto azedo que ele deixou.
Quando ergo os olhos, encontro o reflexo do garoto, Henry. Ele observa a cena macabra,
O corpo. Porra.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top