☠👁 CAPÍTULO-2 👁☠
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Sendo o único hotel da cidade ainda com vaga, cama para solteiros mas, segundo os boatos durante a viagem de trem, Rômulo ouviu dizerem que, não faz muito tempo, num dos quartos do último andar, um homem, um turista fanático por ocultismo cometera suicídio ao "mexer" com forças sombrias, o que leva ele a crer que, por causa do mesmo grupo de cultistas, no qual Junior está envolvido, essa tragédia tenha acontecido, mas Rômulo suspira fundo e dá os primeiros passos na direção do cortiço.
Então, logo ao entrar na estalagem Dom Casmurro, vê um sujeito franzino trajado como um daqueles mordomos da Família monstro e diz para ele:
- Olá.
- Boa fé e seja bem vindo, caro viajante!
O Forasteiro achou incomum aquele tratamento, mesmo naquela cidade mas, dando de ombros, chegou até ao balcão, pondo sua mochila de camping no assoalho em madeira macho & fêmea bem polido e diz, solicitando:
- Por gentileza, senhor; quero um quarto no último andar, só para mim.
- Qual a sua graça, senhor?
Pergunta o Porteiro, observando Rômulo de cima a baixo enquanto ajeita seu monóculo sobre o rosto pálido com nariz adunco. Nisso o forasteiro franze o cenho e diz, notando um triângulo com uma estrela dentro, pendurado onde deveria ter um crucifixo, na parede logo atrás do balcão, bem acima de um grande relógio de Pêndulo com símbolos ocultistas ao invés de números.
- Desculpe, mas não entendi. Minha..."graça"?
O Porteiro dá uma leve risadinha contida, de lado, e refaz a pergunta:
- Seu nome, caro viajante.
- Ah, sim! - Diz Rômulo, meio envergonhado. - Desculpe, mas eu sou de Curitiba e...
- Já entendi, caro viajante. E qual é seu nome completo, para registrar sua entrada em meu livro, senhor?
O atendente estava curioso com o fato dele estar trajando uma camisa Pollo branca com uma calça de Brin verde, boné, óculos escuros, ao invés do jeans surrado e cheio de costuras, chapel de Cowboy, botas de couro, etc, tal como todos os turistas, que já vinham trajados assim da Capital.
Meio sem jeito, ele respondeu para o solícito Porteiro, coçando sua cabeça e retirando os óculos escuros.
- Ok. Meu nome é Rômulo.
- Só Rômulo, senhor?
- Sim.
- E o senhor...pode informar seu sobrenome completo, por obséquio?
- Ah, sim, com certeza. - E coçou mais uma vez a cabeça, suspirando, antes de dizer. - Meu nome é Rômulo Gabriel Salomão del Castillo e Saturno 5°.
No que terminou de falar todo o seu nome, por extenso, o Porteiro arregalou os olhos atentamente, indagando:
- O senhor...é um...Castillo e Saturno?
Mais uma vez, Rômulo coçou a cabeça, suspirando, ao dizer sem muita vontade na voz:
- Sim, eu sou descendente do tal famoso figurão dos tempos do Brasil Império e blábláblá. Ok?
- É que, bem,...- Pigarreou o franzino homem atrás do balcão, abaixando seus olhos para o chão. - ...um outro homem deu entrada com este mesmo nome e sobrenome seu...
Rômulo então arregalou os olhos também, indagando ao debruçar-se agora sobre o pesado balcão em madeira de lei muito bem entalhado com os simbulos dos quatro evangelhos.
- Quando?
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- Bem,...creio que...
- Foi esta semana?
O porteiro olhou de baixo para ele, reticente, mas quando quis responder, um súbito e forte estalido na mobília em madeira nobre, logo atrás, onde estavam dispostos em ordem como a das quatro figuras do Evangelho no balcão, os retratos amarelados de personalidades históricas da cidade, mas decidiu falar, no entanto, se limitando apenas dizer:
- Sim.
- Um jovem magro e moreno de uns dezoito anos, usando piercings, tatuagens ou roupas pretas de Heavy Methal?
- Creio que sim, senhor Saturno 5º, mas...
- Rômulo. Só Rômulo. Ok?
- ...não lembro-me muito bem de todos os detalhes, Senhor Rômulo, todavia, as características físicas conferem.
- Ótimo, já é alguma coisa! - Reagiu o forasteiro, sentindo que estava na pista certa para encontrar Junior. - Pode me mostrar a assinatura dele? Vejo que vocês...não têm câmeras de circuito fechado aqui!
De novo, um forte estalido na mesma mobília atrás do Porteiro fez este engolir em seco e se limitar a dizer:
- Por certo que eu...que eu o faria, senhor Saturno 5º, mas...
- Já disse, me chame apenas de Rômulo, senhor...
- Duma. - Respondeu o outro, ainda mais pálido do que o de costume e todo trêmulo. - Meu nome é Duma Freemanson Di Oneiros e, os registros antigos não ficam aqui, neste...
- Registros antigos? - Inquiriu Rômulo, agora fechando a cara ao olhar fixamente para o homem. - O senhor acabou de dizer que foi nesta semana!
- Eu não disse isso, Dom Gabriel Salomão...
- Rômulo! - Repete ele para Duma, ficando vermelho e com a pressão alta. - Só Rômulo, por favor!
- Não tem orgulho das suas linhagens, senhor?
- E que te interessa isso, meu caro?
- Bem,...
- Meu filho esteve aqui, ou não?
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- Perdoe-me, nobre cavalheiro, mas...é costume, aqui em Santa fé, honrar as nossas linhagens...
- Pois para mim não é, senhor Duma. Eu só quero encotrar meu filho, são e salvo, então irmos embora de uma vez deste lugar o mais breve possível! Ok?
Disse rispidamente para o melindroso homem rodeado por objetos encontrados somente em um museu ou Antiquário, e onde o forasteiro também pode perceber a ausência de coisas como: caneta esferográfica; computador; tomadas; interruptores ; lâmpadas elétricas, nada. Tudo ali parecia ter literalmente parado nos tempos de Dom Pedro-I.
- Mas, por certo que perceberá ser de vital importância isso, senhor Rômulo.
Disse em um tom bem mais baixo e reservado do que inicialmente. Então Rômulo franziu o cenho mais uma vez, indagando:
- É o quê?
Mas o outro pigarreou cabisbaixo e tomando de um grande livro em couro lustrado com pautas, mais a caneta tinteiro, os entrega para ele, dizendo.
- Bem, aqui está, Senhor Saturno, o livro termo para seu ingresso...
- Já disse,... - Enfatizou ainda mais. - ...meu nome é Rômulo! Só Rômulo! Ok?
- Perdão, mais uma vez, Senhor Rômulo mas, é força do hábito.
Rômulo tomou a caneta em sua mão direita e se pôs a assinar o livro, observando com humor ácido:
- Escuta, Seu Duma; você não se cansa disso tudo aqui, não?
- Perdão, Senhor Rômulo. Não entendi.
- Não se cansa de viver sem um Tablet, Smartphone, uma televisão analógica com conversor, pelo menos, ou então, um radinho vintage que seja, para passar as horas até que acabe seu turno? Hêim!
- Ainda não entendi, meu senhor.
Rômulo, terminando de assinar, olhou para Duma rindo de lado e disse, sacudindo a cabeça negativamente.
- Deixa prá lá. Como meu amigo Max disse: isto aqui é um museu à céu aberto e os funcionários levam muito ao pé da letra, esse negócio de viver como nos tempos do Império.
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E tirou de sua carteira um cartão de crédito, levando com a mão até Duma, que olhou para aquilo com estranheza e disse:
- Lamento, mas nós só aceitamos moeda nacional aqui, Senhor Rômulo.
- Moeda...nacional?
- Sim senhor: Libras Atlantinas ou Libras Esterlinas.
- Mas,...isto aqui é um cartão de crédito Ouro e eu estou pagando em Dólares Americanos, homem!
- Dolar? - Devolveu Duma, olhando com curiosidade para aquele objeto retangular achatado na mão de Rômulo e enfatizou. - Mas...este nem mesmo é o Dólar que alguns outros viajantes já trouxeram para cá!
- Tá, tá! Ok, Seu Duma! - Disse fungando enquanto punha seu cartão de volta na carteira e, pegando algumas notas de Dólares, as deu para o Porteiro, inquirindo. - E isto, serve?
Duma olhou mais uma vez, sacudindo negativamente sua cabeça com cabelos pretos lisos, lambidos para os lados, escondendo a calvice, então disse ao devolver o olhar sob o monóculo.
- Lamento novamente, Senhor mas, estes não são os Dólares que já vi aqui.
- Droga! E como vou pagar pelo quarto, então, Senhor Duma? Será que terei de dormir na rua ou na estação de trem? Que droga de estância turística vim parar!
- Desculpe-me, nobre cavalheiro, mas são as normas e eu...
Neste instante, um estalido bem mais forte do que os outros dois na grossa mobília atrás de Duma, fez ele e até Rômulo se sobressaltarem, ao que o Porteiro olha para os retratos com fotos de antigos moradores da cidade, dentre os quais, um Fidalgo parecido com o pai do forasteiro, ao lado da foto de uma lúgubre Dama de preto, com seu rosto oculto por um véu, tal qual uma viúva negra.
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- Minha Nossa Senhora!
Exclamou Rômulo, olhando para os dois retratos de onde estava, ao que Duma se volta de novo para ele, dizendo.
- Passou bem perto.
- O que disse?
Mas o Porteiro ignorou sua indagação exasperada e ao notar que, no braço do forasteiro havia um lindo relógio muito antigo, cujos ponteiros e as horas tinham pequenos cristais azuis sintilantes encrustados, falou:
- Ora, isto serve como pagamento, por enquanto, até que o senhor consiga dinheiro para pagar.
Rômulo olhou para seu relógio no pulso e, meio a contra gosto, suspira dando de ombros ao retirar a joia, dizendo:
- Ok, Seu Duma; Pegue o meu relógio. Que seja então!
- Sim, que assim seja! - E entregando-lhe uma grande chave de ferro negro com desenho triangular, igual ao da parede logo atrás, finalmente dizendo contente. - Esta é sua chave para abrir a porta, que o levará até onde tem que ir, nobre viajante.
- Nossa! - Comenta Rômulo com um sorriso de lado ao pegar a pesada chave. - Todos vocês, aqui nesta cidade museu, são assim o tempo todo?
- Boa fé e...tenha uma boa noite de sonhos, viajante!
- Hah,...ok. Para o senhor também, Seu Duma!
E pegando do chão sua pesada mochila, sube as escadas em madeira já gastas, notando que nem mesmo extintores de incêndio havia ali, ou então, caixa de força, mas dá de ombros, continuando em espiral para o quarto no último andar daquela espelunca Vintage.
Ele tinha mais coisas a perguntar para o Porteiro mas, devido à dificuldade de comunicação com o homem, decidiu deixar para acertar todos os detalhes no posto policial, mais tarde e com a ajuda de seu amigo Max, assim que este chegasse.
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Sua mochila estava pesando cada vez mais à medida em que subia degrau por degrau, como se tivessem pedras ao ao invés de mais um par de sapatos para trilha, duas calças brin coringa, camisas Pollo, cuecas, meias e outras coisas que um homem precavido como ele levaria em uma viagem de vários dias.
O calor e o ar seco daquele lugar o começavam afetar, apesar de Curitiba ser, muitas vezes, parecida com Santa fé, inclusive na altitude, mas sem a proximidade da Mata Atlântica, conferindo umidade a maior parte do ano. Aqui não. Em Vale das muralhas, Deus caprixou com um tipo de cinturão de grandes paredes rochosas, impedindo que o mar ou as outras regiões do país lhe emprestassem um pouco sequer de chuva.
E subindo pelo último lance de escadas rangendo sob seus pés, Rômulo finalmente chega no terceiro e último andar, onde também não viu nada que lembrasse equipamentos de segurança em uma edificação toda em madeira, como aquela e pensou:
- "Tenho que arranjar outro lugar para ficar, depois de ajeitar as coisas neste fim de mundo; é um absurdo não ter ao menos um extintor de incêndio aqui!"
Seus confortáveis sapatos de camurça com sola de borracha diminuíram o atrito, ao finalmente pisar nas tábuas de lei do terceiro andar, indo em direção do quarto número 33, bem no fim do corredor. Então pensou, outra vez:
- "Nossa, que silêncio! Será que todos os hóspedes saíram à passeio hoje, ou sou apenas eu o único idiota ao ponto de me hospedar nesta espelunca?"
E chegando à porta do 33, ele põe a chave de dez centímetros na fechadura que, de tão grande, dava para ver tudo lá dentro, então a gira com certa dificuldade, fazendo ruídos de ferro seco, finalmente abrindo-a, provocando rangidos tal como nos filmes de terror.
- "Meu Deus!" - Pensou consigo, sentindo o mau odor de coisas antigas há muito abandonadas ali, expelido como que um jato de dentro. - "Que lugar é este; a tumba de um Faraó? "
Então, logo após abrir a pesada e barulhenta porta de madeira totalmente para dentro do quarto, com certo esforço entrou nele, olhando em todos os cantos: teto, assoalho com frestas, uma janela para a rua, pintura descascando, poucas mobílias rústicas, mas, nada que tivesse de reclamar, exceto a ausência de tomadas para recarregar seu celular.
Era só um típico quarto de hotel do Velho Oeste Norte Americano, do jeito que os turistas, encantados com a idéia de viver tal qual aos antigos habitantes daquela cidade, pagam à empresa de turismo para experimentar ali.
- "Idiotas; deixam o conforto da cidade ou de um hotel fazenda, para dormirem nestas camas de palha, para acordar depois com a coluna fora do lugar!"
Pensou, jogando sua mochila num canto e indo abrir a janela para arejar um pouco, quando encontra enfiado na fresta da mesma, um pedacinho de papel dobradura em forma de coruja faltando um pedaço, onde lê:
"[...] Fuja!
Fuja, seu tolo!
Fuja enquanto pode e saia correndo deste pesadelo!
Salve à ti mesmo, tua alma, teus sonhos..."
- O que??
Disse, engolindo em seco, quando ouve alguém bater à porta, mesmo estando aberta, e não acredita no que vê...
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(
continua...)
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