Epílogo
Três anos depois
- Bom dia, senhor Passos Al Rashid. – Disse Omar ao marido preguiçosamente, enquanto sugava seu pescoço e, tateando por baixo do lençol, localizava seu traseiro e o trazia para perto do seu membro excitado.
- Bom dia, senhor Al Rashid, definitivamente esta é uma ótima maneira de acordar. – Respondeu Miguel, entregando-se às sensações que aquele cavanhaque e aqueles lábios despertavam em seu corpo.
- Acha que dá tempo de fazermos uma comemoração privada, antes de começar o tumulto de mais tarde? – Perguntou o príncipe, olhando para o historiador. Naquele período, Miguel amadureceu muito, inclusive na aparência, adotando um cavanhaque que lhe dava um aspecto mais sério e responsável. Mas continuava aquecendo seu corpo e seu coração cada vez que o via, ainda se impressionava com o fato de que, entre todas as pessoas do mundo, encontrou sua alma gêmea num rapaz que conhecia desde criança.
- Creio que sim, se formos rápidos. – Era um tanto difícil, levando-se em conta o quanto Omar era meticuloso, especialmente quando fazia amor, mas sempre poderiam tentar.
- Nesse caso, vamos lá. – E beijou-o.
Com a familiaridade de quem já conhecia bem o seu corpo e o do parceiro, eles se comunicaram sem necessidade de palavras, apenas usando a sensibilidade e o desejo para tocar e acariciar seus membros. Mantendo-se de lado, Miguel permitiu-se ficar à mercê de Omar, recebendo seus beijos e suas carícias enquanto ele o penetrava. A posição era um pouco desconfortável à primeira vista, mas com um pouco de prática ela proporcionava uma sensação de aconchego que intensificava o ardor com que se entregavam. Além disso, permitia a Omar, ao mesmo tempo em que tomava impulso no corpo do homem que amava, agarrar seu pênis e masturbá-lo, enquanto o mantinha na posição com o apoio da outra mão e das próprias pernas. Com o passar do tempo, aprenderam a contrabalançar o fôlego do jovem com a experiência do príncipe, aliado ao ardor de ambos, e desfrutaram plenamente de seus orgasmos.
- Três anos, e nossa interação na cama só melhora. – Disse o historiador, virando o corpo para beijar o homem que amava. – Só sei que eu não me arrependo de nada do que vivemos, nosso relacionamento não seria especial se não tivesse enfrentado os obstáculos que enfrentou.
- Sem dúvida, mas agora vamos tomar um banho. Temos de tomar café e, depois, acertar os últimos detalhes para o evento. – Disse o príncipe, e levantou-se, sendo acompanhado do marido.
Horas mais tarde, os dois se encontravam diante da sede da BBC para, numa sessão solene, estrelarem o lançamento de "Oriente Proibido: A história de dois amores interculturais", livro escrito por eles e que contava tanto o romance de Hussein e Sarah quanto o deles próprios. Com efeito, a minissérie foi um sucesso mundial, pois reunia vários ingredientes favoráveis ao sucesso: história, romance, relações interculturais, diversas figuras de referência, vilões ardilosos e misteriosos e bastante drama. No total, os adaptadores procuraram se manter fiéis à história, embora, para suavizar o impacto da morte de Hussein, eles tenham, nos dois últimos capítulos, dado ênfase à luta de Sarah e Salim para reprimir os rebeldes e manter o legado do sultão, bem como, no retorno de Harum para casa, mostraram-no muito mais emotivo e sensível à sua mãe do que realmente foi, além de, na cena final, terem tomado licenças poéticas e criado uma cena onde Sarah, já idosa, escrevia num diário e, de repente, Hussein aparecia diante dela e dava-lhe a mão, conduzindo-a rejuvenescida para a eternidade. Esse sucesso, que também se devia aos méritos da equipe técnica e do elenco, muito bem escolhidos, proporcionou muito dinheiro tanto à Omar, como produtor, quanto a Miguel, como autor do argumento, e incrementou o turismo em Shankar, especialmente nos cenários verdadeiros onde foram gravadas algumas cenas, como o palácio real e a capela subterrânea.
E foi exatamente o sucesso da série que inspirou a iniciativa daquela noite, pois, quando repórteres brasileiros foram entrevistar Miguel querendo descobrir como um brasileiro constava como autor do argumento de uma história ocorrida num país árabe, ele acabou contando sobre seu relacionamento com o príncipe, desde a época em que era criança até o desabrochar do amor dos dois durante o centenário da independência, tomando o cuidado de não revelar os detalhes mais controversos, como o seu sequestro e o comportamento questionável do sultão. Impressionado com o que ouviu, um repórter disse que aquela história era tão marcante quanto à da minissérie, e depois de conversarem com algumas pessoas os dois decidiram escrever um livro contando os dois romances reais, para celebrar o amor e reafirmar a importância de se respeitar o diferente e combater os preconceitos.
A solenidade foi planejada durante semanas, e além dos autores, vestidos em trajes de gala, tinha a presença de toda a família de Miguel, incluindo suas irmãs, uma prova de que, apesar das desconfianças, Jordão e Cíntia perderam o receio diante do romance do amigo com o seu filho, principalmente depois que o príncipe abriu mão do trono por ele, e, numa presença especialíssima, os atores que interpretaram o casal real de Shankar, vestidos com as mesmas roupas do quadro em que Hussein e Sarah posaram com o pequeno Harum. Eles foram saudados por muitos fãs quando entravam no recinto, e até autografaram alguns livros.
Perguntado por um repórter sobre qual a importância daquele livro, num intervalo entre os autógrafos, Omar respondeu:
- O que nós queremos é reafirmar a capacidade do amor construir novas realidades, seja no progresso de um país ou no amadurecimento das pessoas. O período em que meu país mais progrediu foi enquanto meus avós o governaram, e quando eu e Miguel assumimos que nos amávamos percebemos que a maior parte dos obstáculos que nos separavam não eram tão importantes. É uma lição que muitas pessoas precisam aprender.
- E como está sua situação profissional, agora que você não é mais o herdeiro do trono? – Perguntou um membro de um determinado tablóide.
- Está muito bem, meu caro. Continuo sendo o representante de meu país no cenário internacional, meus amigos e colaboradores sabem que podem contar com minha honestidade e lisura nos negócios do mesmo jeito que já contavam. Além disso, o sucesso da minissérie já nos animou a pensarmos em outra com o mesmo tema, Miguel e alguns historiadores de Shankar já estão pesquisando outras figuras históricas do país que também são dignas de interesse.
- Vocês voltarão lá para essas filmagens? – Insistiu o jornalista.
- Por que não? Meu passaporte diplomático está válido, e o de meu marido está em dia. – De fato, nada impedia que retornassem ao sultanato, e eles chegaram a fazer pequenas viagens durante as filmagens para averiguar o apuro da equipe com os detalhes, mas tendo em vista o distanciamento de Omar do sultão evitavam ao máximo cruzar com ele, só o fazendo nas ocasiões em que isso era necessário, tanto que a última visita ocorreu um ano antes. Ainda falava com Harum por telefone, mas era como se uma barreira persistisse entre eles.
Nesse ponto, Miguel se aproximou dos dois com uma expressão bastante séria e disse:
- Senhor repórter, preciso falar com meu marido por um instante. Poderia me dar licença?
- Claro, senhor Passos. – E afastou-se.
Percebendo a seriedade do semblante do historiador, o príncipe indagou:
- Porque essa cara séria num dia de festa, Miguel?
- Hakim acabou de telefonar, Omar. E as notícias que ele me deu não são nada boas.
- Algo a ver com o país? – Pressentindo que seria algo grave, sentiu um calafrio percorrendo sua espinha.
- Sim. O seu pai está morrendo e temos de ir para lá assim que possível. – Disse com expressão compassiva. Chocado, o príncipe se limitou a desabar em uma cadeira.
Depois de autografarem mais alguns livros, foram para a residência de Omar arrumar suas malas e compraram as passagens para Shankar. Depois de várias horas, foram recebidos por Hakim, e este os conduziu até o carro.
- Como ele está? – Perguntou o príncipe.
- Ele está lúcido, mas o câncer está avançando com rapidez. Todos os médicos são unânimes em dizer que ele não passará das próximas horas. Ele não para de chamar por você, ainda bem que vocês chegaram a tempo.
- Mas como isso aconteceu? Ninguém me falou nada! – Queixou-se.
- Na verdade nem nós sabíamos, ele vem sofrendo com esse câncer já há algum tempo mas escondeu de nós enquanto pôde. Só tomamos conhecimento há poucas semanas, mas ele me proibiu de contar a você, até que ele progrediu mais depressa do que havíamos esperado, e quando disseram a ele que não havia mais chances, ele me pediu para chamá-los, ele não quer partir com assuntos pendentes.
- Tudo bem, embora eu não saiba se há algo que ainda possa ser dito.
Para sua surpresa, a expressão de Hakim foi compreensiva.
- Sei que ele fez coisas terríveis, mas nesses três anos convivi mais com ele, especialmente nos últimos dias, e percebi que ele não é tão mau. Ele até convenceu a mamãe a casar com ele, não por esperar que ela ainda o ame, mas porque ele disse que é o mínimo que pode fazer por ela, para garantir que ela seja reconhecida como sultana.
- Reconheço que esse é um belo gesto. – Raciocinou, pensando que definitivamente não conhecia seu pai.
Quando chegaram foram recebidos por Lâmia, que estava grávida em um estágio bem adiantado.
- Parabéns pelo rebento, Lâmia, pena que seja nessas circunstâncias que estamos nos revendo. – Disse Miguel quando a abraçou.
- As coisas são como são, Miguel, uma vida que se vai, e outra que está prestes a vir. Mas fico feliz que vocês conseguiram chegar a tempo, vou conduzi-los até os aposentos do sultão.
Quando percorriam os corredores, notaram diversas pessoas ajoelhadas orando a Alá que o sultão tivesse uma boa partida, e Omar percebeu a sinceridade em suas feições. Apesar de autoritário e nem sempre ter sensibilidade para os dramas alheios, não podia negar que Harum Al-Rashid sempre foi dedicado ao seu país de corpo e alma, só lamentava que muitas vezes isso se traduziu em negligenciar sua família e tentar sempre impor sua verdade como única. Mas, o que era o passado diante de uma despedida definitiva?
Quando entrou no quarto, quase se assustou. O sultão estava deitado, com Salua ao seu lado segurando sua mão, e não lembrava em nada o homem forte e imponente que fora seu mestre e também eventualmente seu crítico, comandando Shankar com força e altivez durante 51 anos. Ele emagrecera muito no decorrer do ano, seu cabelo escasseara e sua pele perdera o viço e a cor, tornando-se pálida e amarelada, e ele tinha um soro ligado ao seu braço. Envolto naqueles lençóis, parecia ter encolhido mas, quando o contemplou, viu que seu olhar continuava lúcido e agudo.
- Que bom que chegaram. – Disse com voz baixa e um pouco entrecortada, e estendeu os braços. – Eu precisava vê-los, tenho de dizer algumas coisas.
- Não se desgaste, meu pai, melhor o senhor poupar suas energias. – Disse Omar, e segurou sua mão.
- Não, eu preciso falar. Há 3 anos que evitamos tocar nesse assunto, meu filho, mas você está certo, eu fiz coisas terríveis. Só que eu preciso explicar a você porque eu sou como sou. Não sei se você irá me perdoar depois disso, mas pode ser que me entenda. – Nesse ponto, Miguel começou a se afastar, para dar-lhes privacidade, mas o sultão lhe dirigiu a palavra. – Por favor, fiquem todos, inclusive você, Miguel. De certa forma, isso também lhe diz respeito.
- Se você faz tanta questão disso, eu lhe escutarei. Mas por favor, não se esforce demais. – Pediu o príncipe.
- Já vivi o que tinha de viver, ao contrário do meu pai, que foi abatido no auge de sua vitalidade. Só que ele viveu o suficiente para fazer grandes coisas, enquanto eu só me ative ao dever, às obrigações. Ele é amado até hoje, enquanto eu sou apenas respeitado. – Afirmou com melancolia.
- Não fale assim, meu pai, muitos shankarenses o amam. – Disse Hakim pela primeira vez, e a dificuldade dele em chamar o sultão de pai era perceptível, só a proximidade da morte arrancava isso dele.
- Amam a figura que eu sou, não o homem. Só houve três pessoas que me amaram como o que eu era, e não valorizei nenhuma delas. – E pelo olhar que deu a Salua, ficou óbvio que ela era uma dessas pessoas. – Meu pai, por outro lado, era tão caloroso e autêntico que despertava amor por onde andava, via-se que o sorriso das pessoas quando estavam diante dele chegava aos seus olhos. Eu o amava tanto, ele sempre estava tentando me ensinar alguma coisa ou buscando formas criativas de eu aprender. Só eu sei o quanto eu chorei quando ele morreu, eu sabia que perdera alguém precioso, e que nunca seria um sultão da mesma estirpe do dele. – E pela expressão que fazia, ele parecia propenso a chorar mais uma vez.
- Mas o senhor chegou a dizer que ele era um fraco! Se o admirava tanto, porque não valorizava sua memória? – Indagou o príncipe.
- Porque eu fui induzido a acreditar que ele era assim. Pouco tempo depois dele ser enterrado, houve várias rebeliões em Shankar, e minha mãe precisou me afastar daqui para me proteger, cabendo a meu tio Hassan se esconder comigo numa área mais distante. Afastado do mundo numa choupana, precisei me apegar a alguém, e acabou sendo ele, que me falava coisas sobre a história do país e a nossa religião. Eu não percebi, mas ele tinha segundas intenções quando fez isso.
- E quais eram? – perguntou Miguel, que nunca foi muito fã do irmão de Hussein pelo que lera sobre ele. Talvez não fosse um homem mau, mas era muito teimoso e arcaico.
- Quando ele conquistou minha confiança, começou a fazer comentários isolados, sempre no sentido de que eu precisava me fortalecer para que não acontecesse comigo o mesmo que aconteceu com meu pai. Depois, disse que minha mãe realmente o amava, mas insinuou que foi por amá-la que ele faleceu, começando por desafiar as famílias de Shankar ao desposá-la, e depois quando seguia as ideias dela para modernizar o país. E que eu tinha de ter cuidado para não me influenciar demais por ela, se não quisesse ter o mesmo destino. Até então eu era muito ligado à ela, mas depois de ouvir tantas coisas, meu coração começou a esfriar, perdi o gosto por responder suas cartas e telefonar para ela, só consegui fazer essas coisas encarando-as como uma obrigação. Sei que eu deveria ter sido mais forte, mas como você pode exigir senso crítico de uma criança cujo mundo desmoronou? – Nesse ponto, tossiu e Salua pediu-lhe que descansasse.
- Não, eu preciso falar! Ele trabalhou tão bem a minha cabeça que quando voltamos para cá eu sequer agradeci minha mãe por ela ter pacificado meu país, eu só queria saber de retomar o controle das mãos dela quando eu tivesse idade para isso. Assim, concentrei-me nos estudos e em conversas com pessoas que meu tio me indicava sobre como elas viam o país, sempre tendo em mente que eu tinha de cumprir a promessa que fiz ao meu pai e defender Shankar até o último suspiro, dedicando-me especialmente em dominar estratégias militares e o comércio internacional.
- Depois que me formei e completei 21 anos, fui empossado o sultão de Shankar, mas logo percebi que o poder não era suficiente para aplacar meu vazio, vazio esse que não soube explicar, até que, no meu aniversário seguinte, fui por insistência da minha mãe ao aniversário da filha mais nova de minha ex-babá, família que eu apreciava muito quando era criança mas que não quis muito contato enquanto crescia. Eu me lembrava dela quando menina, mas fiquei surpreso ao vê-la moça, e tão linda! Acho que por um instante eu me dei conta do que meus pais sentiram quando se conheceram, ela me atraía como um imã com seu frescor e lealdade. Tentei não me apegar a ela mas não consegui, pela primeira vez, sem ser os meus pais e desde que eu era adulto, eu tinha alguém que me amava pelo que eu era, e não pelo meu trono. Eu sabia que era errado, mas me vi ansiando cada vez mais pela presença dela, e não hesitei em tomar sua inocência, eu até acreditava que isso me ajudaria a desposá-la.
- Então, como as coisas mudaram? – indagou o príncipe. Já ouvira a versão de Salua daquela história, talvez a de seu pai esclarecesse algumas coisas.
- Novamente, o meu tio mudou tudo. Ele foi me procurar um dia dizendo que arranjara meu casamento com a filha de uma importante família de Shankar, e eu protestei dizendo que não precisava, eu já tinha uma pretendente. Ele me perguntou quem era, e depois que eu falei que era Salua, ele me pediu que lhe contasse tudo e eu não lhe escondi nada, admitindo até mesmo que tirara sua virgindade. Foi então que ele me disse que seria um grande erro se eu a desposasse, ela não era de uma família de estirpe, ao contrário até mesmo de minha mãe, e ainda por cima sua mãe era inglesa. Além disso, talvez eu devesse desconfiar da maneira como ela me entregou sua virgindade sem culpa, talvez ela estivesse sendo preparada pela família para ser a nova sultana. Não, eu tinha de ser racional e fazer diferente do meu pai, casando-me com a mulher que era a mais adequada para o país, uma que não fizesse a minha cabeça nem fosse alvo de críticas! Novamente, ele foi tão convincente que aceitei tudo o que ele falou como a verdade absoluta. De forma que comecei a cortejar Farah, que era uma moça linda e delicada, e rejeitei Salua sem a menor piedade, fiz mesmo questão de ser grosseiro. E nem a gravidez dela me demoveu, para mim me pareceu mais uma prova de que ela fizera tudo de caso pensado. De qualquer forma, eu não poderia abandonar o meu filho, por isso procurei um marido de conveniência para ela, e quando chegou às minhas mãos o processo de um jovem oficial flagrado em atos de sodomia, me pareceu perfeito, ele tomaria conta dos dois mas não teria relações com ela.
- Meu pai pode ter sido homossexual, mas foi o melhor pai que eu poderia ter tido, senhor, eu nunca me envergonharei dele. – Afirmou Hakim, disposto a jamais deixar Ahmad ser desrespeitado.
- E folgo que seja assim, meu filho, ele foi um pai melhor do que eu jamais seria, e não consegui ser com Omar. Tentei fazer tudo como me disseram para fazer, mas por mais que tentasse não consegui cuidar bem de sua mãe, filho, a verdade é que meu coração já tinha dona. – E olhou para Salua novamente. – Assim, enrijeci-me e concentrei-me no trabalho e no empenho em tornar Shankar um país a ser respeitado pelas potências mundiais, custasse o que custasse. No fim, fui infeliz e fiz outras pessoas infelizes, principalmente sua mãe. E se eu não tivesse lido sua tradução do diário da minha mãe, Miguel, jamais me daria conta disso.
- O senhor a leu? Mas nunca comentou nada a esse respeito comigo! – Acusou Omar.
- Eu era um homem velho demais para admitir meus erros, filho. Mas depois daquela nossa conversa, comecei a folheá-la e foi como se a visse novamente diante dos meus olhos. Aquelas anotações me ajudaram a relembrar algumas coisas, como o quanto os dois eram dedicados ao país e a mim, nunca deixando de brincar comigo e me ajudando a aprender inglês e turco. Ela era tão linda, sempre sorrindo, me encorajando a andar com minhas próprias pernas e me repreendendo quando eu fazia algo errado. Ela nunca desistiu de mim, nem mesmo quando eu crescia e, influenciado por palavras a que nunca deveria ter dado crédito, tratei-a com educada frieza. O pior é que eu via a dor nos olhos dela quando eu lhe negava carinho, mas procurava ser indiferente com medo que ela me transformasse num fraco, como eu achava que ela tinha feito com meu pai. Só agora me dou conta do quanto eu a magoei, espero ter a oportunidade de pedir perdão a ela em breve.
- Não se desgaste, meu pai, isso é passado. – Comentou Omar, finalmente entendendo um pouco melhor o sultão. Não justificava tudo o que ele fez, é verdade, mas infelizmente ele dera atenção a conselhos equivocados e, no final, pagara por isso.
- Mas é um passado que ainda repercute nas vidas de todos. Por isso que os chamei, preciso pedir perdão a todos. A você, Salua, que eu seduzi, usei e desprezei, mesmo que eu não tenha deixado de amá-la um único dia; a você, Hakim, a quem neguei o meu sobrenome, mesmo que o tenha visto crescer e volta e meia me visse pensando que você sem dúvida seria – e será – um excelente sultão; a você, Omar, por nunca ter expressado adequadamente o amor que sempre tive por você, bem como por não ter dado à sua mãe o carinho que ela merecia; e a você, Miguel, por ter colocado, mesmo sem ser a minha intenção, sua vida em risco. Vocês me perdoam? – Perguntou com uma expressão tão súplice que era impossível ser indiferente a ela.
- Perdoamos. – Disseram todos ao mesmo tempo.
- Eu lhes sou muito grato, agora posso partir em paz. Miguel, Lâmia, me dêem suas mãos. – Os dois estenderam os braços para ele, que os segurou e lhes disse: - Cuidem bem dos homens que vocês amam, eles precisam muito de amor. E principalmente, ensinem às crianças que serão o futuro de Shankar que não tenham medo de amar nem de serem elas mesmas.
- Cuidaremos, fique tranquilo. – Respondeu Lâmia, acariciando sua barriga.
- Me dêem um beijo, meus filhos. – Pediu o sultão e, aproximando-se, Hakim e Omar beijaram cada um uma bochecha do pai, Omar com todo o amor represado durante anos e o mais velho tentando entender seus sentimentos. Por um instante, Omar pousou o rosto em seu peito e, percebendo que o coração do pai parara de bater, levantou os olhos e lhe pareceu que ele já não respirava. Consultando seu pulso, se deu conta de que o pai não estava mais com eles e, reunindo suas forças, fechou os olhos dele.
- A Alá pertencemos e para Ele é o nosso retorno. – Disse, e ouviu a sala se encher de gemidos e sons de choro.
- Ele agora se reuniu aos pais, Omar. Foi difícil mas no fim, o legado deles foi mantido. – Disse Miguel, enquanto acompanhava o imã entoar as últimas orações pelo sultão.
- Sim, e sou grato a você por ter contribuído para que ele percebesse a importância dos dois. Vai cumprir o que ele pediu e cuidar de mim? – Perguntou o príncipe.
- Sempre, ou você duvida disso? – E dando-se os braços, os dois saíram do cemitério juntos, como sempre estariam. Ainda tinham muito que lutar, mas tinham o apoio dos que os amavam, e, principalmente, um ao outro.
Pessoal, gostaria de agradecer a vocês pela constância de terem acompanhado essa história ao longo dos últimos oito meses. Sei que eu deveria tê-la terminado há mais tempo, mas essa também foi a história que me exigiu mais pesquisa, fiz todo o possível para não desrespeitar a cultura árabe. Se aos olhos de alguém eu o fiz, peço desculpas.
Gostaria de dedicar essa história a alguém que sempre leu e apoiou tudo o que escrevi, meu amigo Ivan Kadozhki, autor de histórias quentes e inusuais como "O patrão", "A ilha" e "A tentação mora ao lado", que desapareceu do Wattpad justo quando estava escrevendo uma de suas melhores histórias, "Henry e Tony". Não sei o que aconteceu a você, Ivan, mas espero que um dia você volte, você tem talento e suas tramas sacudiam a pasmaceira.
Caso tenham gostado, não se esqueçam de divulgar em outros grupos, e aproveitem para adicionarem a nova história que começarei a escrever em breve, "Coroa de programa", que provavelmente será a mais sensual que escrevi e cuja sinopse já se encontra no meu perfil.
Um abraço!
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