Capítulo 6
Do diário de Sarah Jones
28 de junho de 1946
Durante dois dias evitei Hussein tanto quanto pude, alegando estar cansada e que estava preparando minha bagagem para o retorno. Fui tão enfática que cheguei a recear que os outros membros da delegação percebessem, mas se alguém estranhou não cheguei a ser abordada diretamente a respeito, talvez eles tenham receado serem invasivos perguntando-me algo. Contudo, na noite de anteontem, estava em meu quarto quando ouvi duas batidas na minha porta.
- Quem é? – Perguntei, um tanto irritada por terem me interrompido justo quando estava prestes a preparar meu banho.
- Sou eu, senhorita Sarah, o sultão. Gostaria de lhe falar. – Respondeu a voz rouca e com sotaque que eu já conhecia bem.
- Mas a essa hora, senhor? Não só é inconveniente, como faz com que eu sinta dúvidas se posso confiar na sua pessoa, se vem ao quarto de uma donzela tarde da noite. – Ele sempre me pareceu um homem honrado, será que eu estava enganada? Ou eu passara uma impressão errada para ele durante nossa correspondência e, principalmente, durante nossa estadia?
- Não se preocupe, senhorita, dois dos meus guardas estão aqui para testemunhar nossa conversa, e desde já eu a autorizo a manter sua porta aberta, como prova de que não tentarei nada que a desonre. Mas por favor abra a porta, esse colóquio será muito importante para mim. – Seu tom de voz traía uma ansiedade que eu nunca percebera nele, por isso orei para não me expor a nada que me comprometesse e segui meu instinto.
- Está bem, eu abrirei, mas espero que o senhor mantenha sua palavra. – Disse, e abri a porta vendo-o entrar portando um turbante em sua cabeça, com uma espada na cintura e uma túnica dourada sobre sua camisa e calça, o que me espantou pois nunca o vira portando as vestes tradicionais de sultão. – Mas porque o senhor está vestido assim, majestade?
- Porque é isso o que eu sou, senhorita. Hussein Al-Rashid, o segundo sultão de Shankar, e essa é uma das vestes que uso nas solenidades oficiais. Eu a estou usando agora porque lhe falarei não só como o homem, mas como o soberano, e preciso que tenha isso em mente quando terminarmos essa conversa.
- Nesse caso, melhor nos sentarmos. – E indiquei-lhe a mesinha com duas cadeiras onde eu lia e escrevia nos momentos de folga. Ele estava tão empertigado e tenso que comecei a me preocupar, porque era tão importante para ele falar comigo, ainda mais num horário em que todos estavam se recolhendo? Ele sentou-se, e começou a falar olhando nos meus olhos:
- Nunca me esqueci do dia em que conheci a senhorita. Eu estava retornando à Inglaterra depois da minha formatura, tentando fazer uso do momento em que seu país se encontrava para beneficiar o meu, dando a eles algo de que precisavam contanto que seu governo também nos beneficiasse, e tentava parecer imponente enquanto tinha medo de não conseguir me impor. Então, uma jovem linda e distinta me abordou, dizendo que eu estava com problemas na minha veste, e ofereceu-se para consertá-la sem cobrar nada em troca. Senti-me impulsionado a conversar com a senhorita para descobrir até que ponto alguém poderia ser tão generosa, e suas palavras revelaram uma alma especial, inteligente, capaz e compassiva. Por isso cedi ao impulso de pedir seu endereço para escrever-lhe, de alguma forma eu senti que nosso contato não poderia ser restrito àquela ocasião. E de fato, cada uma de suas cartas repercutiu em meu espírito como um estimulante, ajudando-me a atravessar dias difíceis devido ao processo de consolidação do país, e me permitiram vislumbrar um pouco de sua alma sensível e sensata. Vi-me esperando sempre pela próxima, até que o término da guerra me despertou para o fato de que a sua vida voltaria ao normal, e que provavelmente isso implicaria tanto no término de nossa correspondência quanto que a senhorita com certeza teria pretendentes entre os soldados que voltaram. E essa descoberta me magoou de uma forma inesperada.
Sem coragem de falar, limitei-me a encarar o sultão enquanto ele despia sua alma diante de mim. Será que eu estava demasiado esperançosa, e aquele discurso indicava o que eu estava pensando? Alheio às minhas dúvidas, ele continuou:
- Por isso que eu organizei a viagem de vocês até aqui, queria não só agradecer ao governo inglês mas também observar como a senhorita reagiria ao conhecer minha terra. Para meu alívio, a senhorita estava sempre sorrindo e era atenciosa com todos, até que, quando eu a levei para conhecer aquela capela, aquele deslizar permitiu que eu a tivesse em meus braços por um instante. A senhorita não me pareceu indiferente, e foi quando me dei conta que aquele era o seu lugar, e não poderia mais fugir do que sinto. Por Alá, eu a amo! – E ajoelhando-se diante de mim, mostrou-me uma aliança de ouro com uma grande esmeralda no centro. – Em geral fala-se com o pai antes de conversar com a dama, mas sei que é a sua vontade que importa, por isso gostaria de lhe perguntar: Sarah Jones, aceita casar-se comigo e ser a sultana de Shankar?
- Majestade, tem certeza do que me pede? Sou uma inglesa, cristã, não sei falar turco e seus súditos podem não me aprovar. Aliás, tenho dúvidas se sequer sua família me aprova, provavelmente deve haver muitas famílias aqui que possam lhe fornecer candidatas mais habilitadas à posição de sultana. O senhor terá de enfrentar muita coisa se casar comigo, tem certeza de que valho o sacrifício? – Sim, eu ficara comovida com o seu pedido e nenhum homem me impressionou mais do que ele, mas eu precisava que ele acalmasse essas dúvidas.
- A senhorita vale esse sacrifício, não conheço ninguém mais habilitada para me ajudar a comandar este país, com o seu coração terno e sua mente ágil e audaz. Sim, eu sei que haverá dificuldades, mas não é nada que não possa ser contornado, temos ótimos professores de línguas e, com sua inteligência, não será difícil dominar o idioma ou nossos costumes. Quanto à aceitação alheia, não tenho dúvidas de que quaisquer reservas que meus súditos ou minha família tiverem serão vencidas quando eles a conhecerem tão bem quanto conheço. Há mais alguma dúvida que devo esclarecer? – O semblante dele era implacável, demonstrando que não cederia diante dos obstáculos. Confesso que isso me aliviou um pouco, levando-se em conta que ele não chegou exatamente a negar que havia quem discordasse de sua escolha.
- Sim, quero saber se eu poderei trabalhar, e se terei de me converter ao Islã. Quero deixar claro que não deixarei de ser católica, é o que sou e não vou abrir mão disso por nada nem ninguém. – Admitia que esse poderia ser um ponto delicado para ele, mas não me transformaria numa sombra de mim mesma só para agradá-lo, não havia chances do nosso relacionamento durar se eu tivesse de me tornar outra pessoa, e muito menos me reduzir apenas à sua esposa.
- Não se preocupe, Sarah, eu sei que seus estudos e seus desejos profissionais são importantes, e penso que podem ser aproveitados aqui se você coordenar a educação das mulheres e dos desabilitados do nosso país, que sofrem tanto por não saber como se manterem. Quanto à sua religião, fique tranquila, nosso estado é laico e eu não poderia, como muçulmano devoto que sou, conceber a ideia de alguém me obrigar a abrir mão de minha fé, e penso que a senhorita sente o mesmo. Contudo, nosso casamento será abençoado pelo imã de Johara, e nossos filhos terão de ser criados como muçulmanos, o conselho tem sacerdotes e não permitiria que fosse diferente. E não vou mentir, eu preciso do apoio deles.
- Não vou dizer que gosto mas entendo, sei que o senhor está correndo riscos e abrindo mão de muita coisa por mim, e preciso fazer a minha parcela de sacrifícios. Mas não me furtarei a apresentar a religião cristã a eles, e creio que eles podem seguir seu próprio caminho quando crescerem, tendo em vista que, conforme suas palavras, seu país é laico.
- Então quer dizer que a senhorita aceitará minha proposta? – Seu rosto parecia se iluminar de esperança, e de uma maneira um tanto cômica fiquei pensando se ele prestara atenção em mais alguma coisa do que eu dissera além daquela aceitação implícita.
- Sim, majestade, eu aceito seu pedido de casamento. Eu também o amo, não há nenhum outro homem que tenha deixado em mim a mesma impressão que o senhor deixou, só uma tola diria não a alguém como o senhor. Sei que nossa vida não será fácil, mas nada que é importante vem fácil. Sou de uma geração que teve de cuidar do país enquanto os homens iam para a guerra, e eu enfrentarei ao seu lado tudo que vier. A única coisa que lhe peço, Hussein, é que você me respeite e nunca tente me subjugar. – Disse-lhe enquanto pegava em sua mão.
- Eu prometo, Sarah, sempre a respeitarei e levarei sua vontade em consideração. Dedicarei o resto da minha vida a assegurar-lhe que você nunca se arrependerá de se casar comigo. – E dizendo isso, colocou o anel em meu dedo e, erguendo-me, abraçou-me, aproximou seu rosto do meu e me beijou.
Ele pode ter sido um tanto mais ardoroso do que deveria, mas não me opus. Seu beijo era como ele, forte e intenso, mas com um toque de carinho, e desfrutei com avidez daquele primeiro momento mais íntimo com um homem, reforçando o que ele dissera, aquele era o lugar a que eu pertencia. Contudo, quando o beijo estava aumentando de intensidade, ouvi batidas na porta, e nos separamos. Em seguida, um dos guardas disse alguma coisa em turco e ele me respondeu:
- Perdão, o guarda estava me recordando que eu não posso fazer nada que a comprometa. De qualquer forma, agora que tenho a sua permissão falarei com o seu pai amanhã. Tenha uma boa noite. – E encerrou a conversa beijando minha mão.
- Boa noite. – Respondi e ele saiu. Tomei um banho e fui dormir extasiada, com receio de, quando acordasse, descobrir que nada daquilo acontecera.
No dia seguinte seguimos nossa rotina, até que, no fim da tarde, meu pai veio ao meu quarto para conversar comigo.
- Sarah, o sultão me abordou hoje e disse que tinha um assunto para me falar. Em suas palavras, ele "constatou que a ama e só será feliz se a tiver como esposa", e embora já tenha obtido a sua permissão, queria me pedir sua mão em casamento. Isso procede, filha?
- Sim, papai, desde que o conheci que ele tem marcado a minha vida, e quando viajamos para cá descobri que o amo. Espero que o senhor não se oponha, acredito firmemente que não serei feliz com outro homem senão ele.
- Entendo, mas você sabe que não será fácil, não sabe? Vocês são de mundos e culturas diferentes, e além de um ter de se adaptar ao outro, vocês também terão de lidar com pessoas que não gostarão da ideia de seu soberano desposar uma cristã. Não se zangue comigo, filha, mas eu quero seu bem e preciso ter certeza de que você sabe a extensão do que terá de enfrentar.
- Agradeço-lhe pela preocupação, papai, mas eu estou ciente de tudo isso. Sei que terei de viver longe da Inglaterra, e que preciso aprender a falar turco, mas eu tenho energia suficiente para isso. Não se esqueça que as mulheres inglesas são fortes, até mesmo nossas antepassadas protegeram padres durante as perseguições do governo aos católicos. Não conheci nenhum homem que se comparasse a Hussein, e eu quero ajudá-lo a fazer de Shankar um lugar próspero.
- Bem, se é o que você quer, darei minha permissão, Sarah, sei que você tem capacidade para lidar com o que vier pela sua frente. Começarei a planejar as bodas com ele, inclusive a questão do seu dote. Só lamento a falta que você irá fazer em nossas vidas, filha, seremos separados por milhões de quilômetros e um continente. – E me abraçou, comovido ao ponto de parecer estar se segurando para não chorar.
- Não é assim, papai, creio que teremos oportunidade de ir à Inglaterra. Além disso, você e John também podem nos visitar de vez em quando. – Disse comovida ao ver que meu pai, tão sério e justo, quase não segurando as lágrimas na perspectiva de diminuirmos nosso contato.
- Espero que sim, filha, espero que sim. – Depois disso, deixou-me.
E agora escrevo essas linhas a caminho da Inglaterra, trazendo comigo um anel de noivado, um amor no coração e muitas expectativas para o futuro. Serão muitos meses para planejar tudo, mas sinto que encontrei o meu caminho.
Com muito cuidado por causa da chuva forte, o carro em que Omar dirigia chegou à cabana dos mineiros, e ao descer ele e Miguel constataram que ela estava só com a porta encostada, não havendo a necessidade de arrombá-la. Assim, entraram com toda a rapidez possível, carregando consigo a mochila de Miguel e seus celulares, e, usando as lanternas de seus celulares, fecharam a porta e se isolaram do mundo.
Examinando rapidamente a cabana, perceberam que, embora com aspecto abandonado, o que se refletia na ausência de eletrodomésticos e mantimentos, ela estava sólida e sem goteiras, até porque fora construída para abrigar trabalhadores em quaisquer circunstâncias, e não havia problema de ficarem lá por algumas horas. Ela continha vários móveis, como armários, cadeiras e uma cama, além de uma lareira com chaminé, um banheiro com chuveiro e, nos armários, lençóis, toalhas e algumas velas. Para reforçar a porta, colocaram duas cadeiras diante dela, e, para acender a lareira, tiraram duas gavetas de um armário, desmontaram-nas e colocaram fogo nos pedaços com um isqueiro que Miguel sempre trazia consigo, desde os tempos de escoteiro, reforçando a iluminação com velas posicionadas em locais estratégicos. Só então tiveram a iniciativa de falar.
- Bem, conseguimos. – Disse o jovem. – Espero que aguentemos até o fim da tempestade, Hakim me disse que a previsão é de que ela durará até amanhã de manhã.
- Vamos aguentar, pena que os celulares realmente não têm sinal. – respondeu o príncipe. – Melhor desligá-los para poupar energia.
Os dois desligaram seus respectivos aparelhos, e só então Miguel percebeu que ele e o amigo estavam ensopados. – Estamos totalmente encharcados.
- De fato, não conseguimos ser rápidos o suficiente. E o pior é que roupas úmidas, além de desconfortáveis, podem ser prejudiciais à saúde se forem usadas por muito tempo. – Lamentou o outro.
- Bem, há uma solução, podemos tirá-las, coloca-las no encosto de alguma das cadeiras para secar e, enquanto isso, nos cobrirmos com as toalhas. – Propôs o historiador.
- Será preciso mesmo, Miguel? – Perguntou Omar, vendo uma certa lógica na ideia do rapaz, mas desconfortável com a possibilidade de vê-lo com tão pouca roupa, ainda tinha as imagens do corpo dele bem vívidas na sua mente, seja o que vira durante o hamam ou quando o tivera nos braços agora há pouco.
- Omar, o que você prefere? Ficar com essas roupas molhadas e pegar uma gripe ou desfrutar da lareira e do jantar enrolado em toalhas secas? Eu prefiro a segunda opção. – E agindo no modo escoteiro de "sempre alerta", começou a tirar sua calça, camisa, tênis e meias, ficando só com uma cueca branca tipo sunga que, um pouco úmida, deixava muito pouca brecha para a imaginação, e pegou quatro toalhas num armário, enrolando uma delas na sua cintura e colocando outra sobre seus ombros. Ofereceu as outras duas a Omar, que, embasbacado diante da visão daquele corpo jovem e bem-definido ligeiramente molhado, demorou para pegá-las, só reagindo quando o outro o chamou pelo nome. Assim, decidido a não passar por tolo, o príncipe começou a se despir, até ficar só de cueca, num modelo samba-canção também de cor branca, e enrolou-se nas duas toalhas de forma idêntica ao amigo. Em seguida, Miguel abriu a mochila e começou a tirar as coisas que comprara, que consistiam num bolo de chocolate, um pedaço de torta salgada, dois sanduíches de carne de carneiro e uma garrafa de suco de uva, e arrumou-as sobre uma toalha, defronte a lareira. Tivera até o cuidado de pegar no local alguns talheres de plástico, para tornar a refeição mais agradável. Os dois tocaram na garrafa de suco ao mesmo tempo, como se simbolizassem um brinde, e começaram a comer.
- Apesar de tudo, creio que nos divertimos muito hoje. Para ser sincero, mesmo com essa chuva forte lá fora e a precariedade do nosso abrigo, sinto-me mais à vontade aqui do que entre todos aqueles potentados que tive de entreter nas últimas semanas, não abro mão de estar aqui com você por nada. – Disse Omar depois de comer, deixando escapar, talvez pelo cansaço, um pouco da profundidade de seus sentimentos.
- Eu também não trocaria estar aqui ao seu lado por nada. – Respondeu Miguel, com a sensibilidade à flor da pele. Não tivera nenhuma intenção oculta quando sugeriu que removessem as roupas, apenas reagiu automaticamente da mesma forma que fizera certa vez quando saíra com sua turma de escoteiros e foram surpreendidos por uma chuva. Mas ficou se perguntando se agira certo, a imagem do amigo ao seu lado, com pouca roupa, e aqueles músculos tentadores, meio molhados, à mostra debaixo daquela toalha que mal cobria seus ombros e deixava à mostra seu peito amplo e peludo, era tentação demais, pois embora isso já tivesse acontecido no hamam, lá eles estavam cercados pelos funcionários e pelos outros convidados, mas agora eles estavam totalmente sós. Sem contar que os últimos dias tinham sido extremamente sugestivos, com todas aquelas solenidades e, principalmente, a visita à capela, tudo reforçando a sensação de que vivia um momento especial, especialmente a última situação, onde, graças àquele deslizar no corrimão, pôde senti-lo junto a si e, tinha certeza, tão envolvido e excitado com aquela situação quanto ele. De qualquer forma, para não correr o risco de fazer algo de que se arrependesse, resolveu mudar de assunto.
- Omar, eu queria mais uma vez lhe agradecer por você ter me apoiado quando propus ao seu pai traduzir os diários de sua avó. Essa tem sido uma grande oportunidade, não só pelo desafio, e pelo contexto histórico, mas principalmente pelo privilégio de conhecer uma história tão bonita quanto a que ela viveu com o seu avô diretamente na fonte, quase como se eu visse o desenvolvimento dela. E isso é algo que não tem preço.
- Fico feliz de ver o quanto que esse trabalho entusiasma você, e, principalmente, o quanto você ficou encantado com a trajetória deles. – Respondeu com alegria genuína, amara muito a avó e a memória do avô, e ficava feliz que alguém partilhasse desse sentimento.
- Como eu não me encantaria? Uma jovem linda, cheia de vida e que não se dobrava a nada encontra um homem forte, corajoso e galante, ambos à frente do seu tempo e desejosos de trabalhar em prol do bem comum. Eles conseguiram superar todas as suas diferenças e viver uma história de amor profunda e verdadeira, sempre respeitando um ao outro, e isso é algo raro mesmo nos dias de hoje, Omar. Espero ainda viver um amor assim.
- Nunca imaginei que você fosse tão romântico. Será que esse coraçãozinho tem dona? – Não sabia de onde viera aquela pergunta, talvez fosse a curiosidade em saber mais sobre a vida privada do rapaz. Ele nunca lhe falara sobre relacionamentos, e Jordão também não comentara nada com ele a esse respeito, o que sempre o deixou com uma pulga atrás da orelha, não conseguia entender como um jovem bonito, inteligente e carismático como ele não tinha sido fisgado por ninguém. Só que a resposta, dita num tom de voz relativamente agressivo, o surpreendeu:
- Na verdade, ele tem um dono, um dono que provavelmente nunca abrirá espaço para outro. E o pior de tudo, é um amor impossível. – Miguel estava claramente zangado, se Omar nunca assumiria os seus sentimentos por ele, então porque perguntava esse tipo de coisa? Ele não merecia esse tipo de tortura psicológica, tendo o cara que desejava, e que sabia também desejá-lo, na sua frente, mas não poder sequer demonstrar o que sentia para ele!
- Miguel, eu nem sei o que dizer. – Ficara chocado ao ver o jovem admitir que era homossexual, e ainda por cima dizer que amava outro cara mas era um amor impossível. Tentou consolá-lo, mas foi repelido.
- Melhor você não dizer nada, Omar, sei o quanto sua religião e sua cultura desaprovam a homossexualidade, mas não posso mudar o que sou. Só espero que isso não cause constrangimento em você enquanto estivermos aqui.
- Como isso me causaria constrangimento, Miguel? Eu não tenho a mente estreita, convivi com os mais variados tipos de pessoas aqui, na Inglaterra e em outros locais do mundo, e sei reconhecê-las pelo que são. Você é especial para mim desde que ainda era um garoto, eu nunca o rejeitaria. – Se ao menos pudesse contar a ele que estava longe de rejeitá-lo! Mas não poderia se abrir, pois mesmo que o jovem também fosse homossexual, como aquilo garantia que tinha chance com ele, especialmente se, nas suas próprias palavras, o coração dele já tinha dono.
- Nunca me rejeitaria, é? Mas acontece que aquele garoto cresceu, Omar, qual seria sua reação se eu fizesse isso? – Não sabia se pela raiva porque o mais velho teimava em não dar o braço a torcer, ou pelos feromônios que com certeza seu corpo estava recebendo dele, resolveu agitar um pouco as coisas, quem sabe agora a situação se definiria em seu favor? Assim, sem dar tempo a ele para protestar, aproximou-se e começou a acariciar seu peito, percorrendo os pelos com os dedos e demorando-se algum tempo nos seus mamilos.
- Miguel, o que você está fazendo? – Perguntou Omar quase em desespero, ainda com dificuldade de acreditar que o jovem viu crescer estava se comportando com ele de forma tão insinuante. Por que ele estava fazendo aquilo, será que aquela sensação de desejo mútuo que sentira na descida da capela não era apenas uma impressão, como concluíra interiormente? Só sabia que, se ele continuasse naquele jogo, não se considerava capaz de responder pelos seus atos.
- Acho que está meio óbvio, não? – Pelo jeito como se comportava, era óbvio que o príncipe estava incomodado com a situação, mas também excitado, afinal não protestara nem o repelira de forma enfática. Assim, continuou a declaração enquanto o mirava com afeto e ousadia. – Você é o meu amor secreto, Omar, aquele por quem anseio há anos sem esperanças. O que é irônico, levando-se em conta que eu sei que você também me deseja. Não negue, eu senti isso quando você me segurou na saída da capela e, principalmente, eu vi anos atrás quando você gritou o meu nome, enquanto estava com aquele garoto de programa. – Disse enquanto estreitava o contato para, além das mãos, acariciá-lo com beijos na região do pescoço.
A confissão de Miguel provocou em Omar um misto de vergonha, choque e revolta, e sua reação foi querer dar um basta em tudo aquilo.
- Miguel, por favor, pare! Eu não quero relembrar um dos momentos mais constrangedores da minha vida, especialmente agora que eu sei que você o testemunhou. Você quer saber a verdade? Sim, eu desejo você, desejo com toda a minha alma! Você entrou no meu coração quando ainda era criança, e só eu sei o quanto tem sido difícil resistir a você agora que cresceu e se tornou um homem bonito, inteligente e audacioso, mas não posso ceder a isso. Nossa história não tem futuro, eu ainda estou obrigado a me casar com uma mulher para dar continuidade à família Al-Rashid, sem contar que seu pai é meu amigo e não posso desrespeitá-lo me envolvendo com você. – Disse, enquanto o sacudia para tentar afastá-lo, num movimento tão abrupto que terminou por fazer com que as toalhas que os envolviam caíssem e ambos ficassem só de cuecas novamente. No entanto, longe de assustá-lo, o gesto só redobrou a sua determinação.
- Omar, meu pai e suas obrigações não estão aqui, de alguma forma nos foi concedido esse momento a sós para que pudéssemos vivê-lo sem as restrições do mundo. Não sou um menino, sei que tudo será difícil quando retornarmos a Johara, mas eu quero aproveitar essa oportunidade. – Nesse momento, sentiu a necessidade de ser mais enfático, para ter certeza de que o outro entenderia o quanto o amava, e revelou – Eu sou virgem, e não quero que outro homem seja o meu primeiro! Sim, pode ser arcaico ou mesmo tolo, mas o máximo que me permiti com outros caras e mesmo uma ou outra garota, para ter mesmo certeza que sou homossexual, foram alguns beijos, mas nunca quis ir para cama com ninguém, pois ninguém que eu conhecesse chegava perto de você. Por favor, não me negue a oportunidade de ter a minha primeira vez com o amor da minha vida. – Disse com uma expressão suplicante, e isso comoveu o coração do príncipe.
- Você ainda vai me custar a minha alma, mas sei que não posso deixar você ter a sua primeira vez com qualquer um. Não consigo resistir, só espero que eu não me arrependa depois. – Respondeu enquanto o abraçava, e pôde sentir pela primeira vez a rigidez da ereção dele sob a cueca atritar com a sua própria.
- Não há motivos para se arrepender quando há amor, foram os seus avós que me ensinaram isso. – Concluiu Miguel com um sorriso, segurou o seu rosto e o beijou.
Envoltos naquele abraço e com os lábios colados, os dois se entregaram à paixão mútua que se construiu entre eles durante anos. Inicialmente o beijo era suave, quase como uma extensão daquele abraço, mas à medida que o contato pele com pele os aquecia foi se intensificando, com as línguas se enroscando e os corpos se atritando fogosos. Aos poucos, Miguel sentiu-se mais confiante, e começou a baixar sua cueca e a de Omar, ficando ambos nus e o toque de uma virilha na outra aumentando tanto o grau de intimidade quanto a excitação entre eles. Cedendo à luxúria, Omar percorreu as costas do jovem com os braços, distribuindo carícias lânguidas na sua pele enquanto devorava sua boca, até chegar ao seu bumbum e apertá-lo. Longe de assustá-lo, isso excitou o seu amante, que estreitou o abraço e também se sentiu livre para agarrar sua bunda. Inebriado, o príncipe pensou em deitá-los diante da lareira, mas ao dar uma rápida olhada no local viu que o chão estava nu exceto pelas toalhas, e com certeza ficaria desconfortável para ele. Assim, afastou-se rapidamente para buscar lençóis num dos armários, e só então deitou-se com ele, posicionando-o de lado e dando-lhe mais beijos calorosos. Contudo, o jovem também era voraz, e começou a percorrer seu peito com as mãos e a boca, lambendo e chupando cada saliência, inebriando-se com os pelos, que percorria com a língua, e descobrindo seus mamilos para depois suga-los. Cada carícia era respondida com gemidos, o que o estimulou a fazer o mesmo com a trilha que conduzia até o umbigo, até chegar ao seu pênis, que se erguia majestoso e ávido, primeiro pelo seu toque, inexperiente mas curioso e com um toque de malícia, e depois pelos seus lábios, que o sugaram com carinho e luxúria. Embora fosse virgem, o historiador pesquisara muito sobre o assunto, para ter certeza de que não faria feio caso tivesse a chance de fazer amor com Omar, e seu entusiasmo excitou o amante sem dificuldade, que desfrutava de sua boca e sua língua enquanto acariciava seu cabelo e suas costas e lhe dava um olhar amoroso.
Os dois ficaram nesse ritmo por alguns minutos, até que o mais velho avisou:
- Miguel, temos de parar, falta pouco para que eu goze.
- Nesse caso, vamos dar o próximo passo, Omar, por favor me possua. – Disse, e deitou-se ao seu lado de barriga para cima enquanto acariciava novamente seu peito.
- Ah, Miguel, você não sabe o quanto seu pedido me tenta, mas provavelmente vai doer, meu rapaz. Tem certeza que é o que você quer? – Perguntou enquanto acariciava seu rosto.
- Sim, eu tenho certeza. Confio em você e na sua experiência, eu vi o quanto aquele jovem desfrutou enquanto vocês estavam juntos. Não se preocupe, eu não sou inquebrável e sei que você cuidará bem de mim. – Respondeu-lhe com um beijo, para estimulá-lo.
- Está certo, mas também preciso lhe dizer uma coisa. Infelizmente não temos preservativos aqui, mas sei que você é virgem e, por causa dos preparativos para o centenário de Shankar, há muito tempo que não estou com ninguém, não me arriscaria a tentar alguma coisa com alguém por aqui e correr riscos. Mas faço exames de sangue com regularidade, e recebi o último há poucos dias. – E dizendo isso ligou o celular para mostrar o arquivo com os resultados a ele, e depois o desligou. Da mesma forma, para dissipar qualquer dúvida e retribuir o gesto de confiança, Miguel contou-lhe que também fizera exames de sangue por ocasião da viagem, e pegou seu próprio celular apenas para mostrá-lo. De forma que os últimos obstáculos à consumação do desejo deles também desaparecera.
Decidido a fazer da primeira vez dele algo que lembrasse com carinho, Omar retornou o beijo, e depois deslizou pelo corpo do amante com beijos e carícias rápidas, deu uma breve chupada no seu pênis, suficiente para excitá-lo, para em seguida descer até o seu bumbum, que abriu e começou a lamber, provocando gemidos no jovem, ao mesmo tempo em que introduzia nele um, depois outro e por último três dedos. Quando teve certeza que ele estava lubrificado e alargado o suficiente, posicionou-se de frente para ele, colocou suas pernas ao redor de sua cintura e penetrou-o.
Na hora, sentiu que o corpo do outro o envolvia como um aperto, mas também percebeu que a expressão do jovem parecia se contorcer em desconforto. Preocupado, ensaiou sair, mas ao fazê-lo sentiu-o agarrar sua bunda com as duas mãos, aumentar o aperto das pernas sobre sua cintura e, principalmente, encará-lo como se dissesse: "Não tenha medo, eu aguento!" Assim, começou a se movimentar com cuidado, tentando fazer com que o vai-e-vem estimulasse o amante, e quando o percebeu mais relaxado, se a forma como seu rosto se erguia para beijá-lo e suas mãos deslizavam por suas costas eram um bom indicativo, moveu-se com mais intensidade, estimulado pela forma como as chamas da lareira e das velas refletiam seu corpo belo em pleno vigor da mocidade. Aos poucos, os gemidos dele se converteram em sons típicos de prazer, o que também se refletia nos apertos vigorosos que dava em suas costas e na forma como a boca dele agarrava a sua, como se quisesse devorá-la. Os dois ficaram naquele ritmo por algum tempo, até que, sentindo a excitação crescer, segurou-se e começou a masturbá-lo, o que logo levou-o ao orgasmo e intensificou a sensação de aperto sobre seu pênis, o que estimulou e intensificou seu próprio prazer.
Exausto, abraçou o jovem, que lhe dirigiu o sorriso mais luminoso que já vira e lhe disse:
- Foi a melhor noite da minha vida, Omar. Eu te amo.
- Eu também te amo, Miguel. E falo sério. – E depois de um beijo rápido, os dois caíram no sono.
Bem, para quem pediu, aqui está a segunda cena hot da história, além de ser a consumação do relacionamento dos heróis. Espero que tenham gostado, continuem acompanhando, votando e divulgando – além de comentando, claro.
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