Capítulo 15
Salua
Do diário de Sarah Jones Al-Rashid
17 de março de 1958
O funeral de Hussein foi realizado com realizado com pompa e respeito, várias autoridades de todas as partes do mundo vieram prestar suas homenagens, e quem não veio mandou mensagens escritas, como o presidente dos Estados Unidos. Papai veio com John e a família dele, e, na qualidade de sogro, leu mensagens que lhe foram confiadas pela rainha e pelo senhor Churchill. O povo está profundamente triste e revoltado com o que aconteceu, tanto que a família do assassino pediu licença para sair do país, devido a represálias. Não me opus a isso, sei que ele não gostaria que inocentes fossem penalizados, mesmo quando fosse a vítima.
Infelizmente a investigação sobre sua morte não deu maiores resultados, a única coisa que descobriram foi que o homem estava muito infeliz nos últimos meses e começara a falar umas coisas estranhas, provavelmente estava envolvido com algum grupo radical, embora não saibamos qual. Mas a pior consequência da morte do meu marido foi que começaram a proliferar revoltas, com alguns grupos radicais dizendo que ele foi um traidor da fé e teve o fim que merecia, enquanto outros se recusam a serem governados por uma mulher ocidental até Harum atingir a maioridade. Para meu choque, alguns desses radicais chegaram a marchar até o palácio para tentar nos intimidar, mas as forças comandadas por Salim conseguiram debelá-los.
Anteontem, Hassan pediu para conversar comigo.
- Sarah, a situação é muito séria, obtive informações de que alguns grupos planejam invadir o palácio e levar Harum, uns por considerarem que não somos devotos o bastante para criá-lo, outros porque o consideram uma "semente ruim". Isso me preocupa.
- Hassan, faça alguma coisa! Meu filho é o herdeiro desse sultanato, precisa ser protegido para no futuro assumir o que é dele e garantir a continuidade do legado de Hussein. Não meça esforços para isso! – Respondi.
- Há uma possibilidade, mas não sei se você concordará.
- Diga-me o que é, nunca rejeito propostas sem ouvi-las.
- Eu poderia me esconder com ele, durante algum tempo, até o país se pacificar. Enquanto isso, você e Salim combateriam esses grupos e, quando estivesse tudo estabilizado, voltaríamos. Sei que pode parecer radical, mas você confia que estou do seu lado?
- Por mais que me doa me separar do meu filho quando ele precisa tanto de mim, creio que você está certo. Prepare tudo o quanto antes, o que importa é a segurança dele. – Falei com um esforço supremo, não quero meu filho distante de mim mas tempos de exceção requerem medidas de exceção.
Conversei com meu filho, que chorou muito diante da possibilidade de se separar de mim, mas expliquei-lhe que homens maus como os que feriram o seu papai queriam fazer mal a ele, e até que eu resolvesse a situação iríamos protegê-lo. Além disso, ele ficaria com seu tio e a esposa dele, e eu daria um jeito, por meio de um mensageiro, de eventualmente mandar cartas e guloseimas para ele.
Hoje cedinho Hassan chegou, para evitar suspeitas eles viajarão uma parte do caminho de carro e depois farão o resto do trajeto montados em cavalos, ainda bem que o próprio Hussein se encarregou, quando ele ainda era pequenininho, de ensinar nosso filho a montar. Entreguei suas roupas a meu cunhado, e abracei-o.
- Meu filho, espero que algum dia você entenda que não faço isso porque quero, mas porque não tenho outra saída. Mas nunca se esqueça: a mamãe te ama muito, viu? A mamãe amava muito o papai, e você é a melhor lembrança que ela tem dele. Não dê trabalho ao seu tio, e seja sempre um bom menino. Assim que tudo melhorar, você volta. – Disse tentando conter as lágrimas.
- Eu também te amo, mamãe. – E pôs os seus bracinhos de volta no meu pescoço, momento em que não aguentamos e choramos bastante.
Depois que ele deu a mão para o tio, fui para a sacada e de lá vi o carro tomando distância até sumir completamente. Para quem foi tão feliz, tenho sofrido muitas dores, uma após a outra, espero ter tomado a decisão certa.
- O que é que você está me dizendo, Lâmia, foram o meu pai e o primeiro-ministro, seu pai, que armaram aquela cilada para Miguel? Sei que os dois nos querem juntos e são muito ambiciosos, mas não consigo acreditar que chegariam a esse ponto! – Sem dúvida aquele fora o maior choque que Omar já vivenciara, tinha acabado de chegar do hospital com Miguel e, depois que o historiador cumprimentou e tranquilizou todos, foi descansar um pouco, sempre acompanhado de um segurança. Nesse momento, Hakim e a namorada disseram ao príncipe que precisavam conversar com ele em particular, e que o melhor lugar para fazerem isso seria no seu gabinete. Sendo assim, foram para lá e foi nesse momento que a turismóloga lhe contou das suas conclusões.
- Infelizmente é a verdade, Omar, quando Miguel foi raptado e Hakim me contou o que fizeram com ele, achei a história muito estranha, pois só eu, Hakim e Vossa Alteza sabíamos do encontro de vocês na tenda, e nenhum de nós o prejudicaria. Contudo, a frase que os raptores disseram dava a entender que ele era o alvo do ataque, mas que provavelmente não deveria ser morto. Fiquei pensando quem poderia saber de alguma coisa, e me lembrei que minha criada foi comigo para a casa de campo, e como ela trabalha para meu pai há muitos anos poderia estar passando informações para ele. Não quis falar com Hakim, ele estava muito ocupado com os seus afazeres e também corria o risco de alguém indevido perceber, então pedi ajuda a Salua para conseguir dois seguranças dignos de confiança, chamei minha criada para cá e a confrontei com a ajuda deles. Foi difícil, mas ela acabou admitindo que foi pressionada pelo sultão e pelo meu pai a vigiar todos os nossos passos, e acabou percebendo tanto a sua proximidade com Miguel como a minha com Hakim. Segundo ela, quando contou isso para meu pai ele pediu que continuasse nos observando, e aparentemente ela conseguiu me ouvir conversando com um dos funcionários da empresa que montou a tenda. Meu pai repassou o fato ao sultão, que conseguiu descobrir tudo, e os dois contrataram os caras que raptaram Miguel. Aparentemente, o objetivo dele era dar um susto em Miguel, para que ele voltasse à Inglaterra e os planos dos dois transcorressem conforme queriam. Ela está trancada num dos quartos deste palácio, para que não escape, e pode lhe confirmar tudo.
- Não é possível, eu vivo com esse homem há mais de quarenta anos, e eu não o conheço! – De tão revoltado ao saber que fora seu pai que atacara o homem que amava, Omar tinha dúvidas se não daria no mínimo um bom soco nele se o visse naquele exato momento. – Lâmia, é verdade que ele sempre foi autoritário, exigente e nunca abriu mão de fazer a sua vontade, mas também foi ele que me ensinou o quanto era importante eu ser honesto e dedicado à população de Shankar, bem como que eu sempre respeitasse aqueles com quem me relacionasse. E agora eu descubro que ele comete um gesto extremamente desumano, só para atingir seus objetivos, será que ele tem ideia do que fez?
- Creio que ele tem ideia sim, meu amigo, se há algo que o sultão nunca foi é tolo. O que você pretende fazer? – Perguntou Hakim.
- Estou tão atordoado que não tenho ideia, mas acho que provavelmente a primeira coisa que devo fazer é dar um jeito de tirar Miguel daqui, obviamente ele está correndo perigo. E depois acho que vou ter de ao menos fazer com que ele pense que estou disposto a fazer a vontade dele, ao menos por algum tempo, nem que eu tenha de arrumar um noivado falso.
- Você vai envolver a Lâmia nos seus problemas, Omar? E abrir mão do amor da sua vida? – Perguntou Hakim com um quê de revolta, agora que encontrou novamente o amor não abriria mão dele, nem para ajudar o melhor amigo.
- Não se preocupe, Hakim, não serei um empecilho à felicidade dos dois. Mas eu preciso pensar em algo, talvez eu precise abrir mão de Miguel para garantir a segurança dele, sempre soube que um dia nossa história teria fim. Mas dói tanto só de pensar nisso, é como se eu arrancasse um pedaço de mim! Será que é tão errado eu querer ser feliz e viver a minha história de amor? – Indagou com angústia.
- Não, não é, vossa alteza. E eu posso lhe ajudar a conseguir isso.
O som de outra voz naquela sala que julgavam fechada surpreendeu os três, até que se depararam com a porta do gabinete aberta e Salua na sua entrada. A governanta estava elegante como sempre, com uma roupa escura e um véu no mesmo tom que deixava à mostra seu cabelo longo, liso e ainda negro, numa beleza que com certeza fora magnífica na juventude mas ainda era perceptível, com seus olhos verdes, traços marcantes e pele clara. Em todos aqueles anos, sempre fora uma autoridade a ser respeitada no palácio, mas nunca aparecera tão digna de si como naquele momento.
- Minha mãe, o que a senhora faz aqui, e como entrou? – De todos, Hakim seguramente era o mais chocado.
- Vim ajudar vocês, meu filho. Percebi que havia algo muito errado desde o sumiço de Miguel, e quando vocês me contaram tudo o que ocorrera tive certeza, especialmente quando Lâmia me pediu que encontrasse seguranças dignos de confiança para confrontar sua criada. Imaginei que, se vocês debatessem algo, seria num destes gabinetes, e na qualidade de governanta fui pegar as cópias destas chaves. Quando vocês se dirigiram para cá, esperei que entrassem e abri a porta levemente, apenas o necessário para ouvir o que vocês diziam. – Omar pareceu que iria dizer algo, mas ela o interrompeu com um gesto. – Provavelmente minha atitude chocou vocês, mas uma mãe tem direito a fazer certas coisas quando se trata da felicidade dos seus filhos. E falo isso não só em relação a Hakim, mas também a você, Omar, em parte por ter ajudado Farah a criá-lo, em parte por razões que vocês saberão agora.
- Que razões são essas, Salua? Nunca lhe vi tão misteriosa. – Perguntou o príncipe, perguntando a si próprio se àquela altura ainda se chocaria com notícias novas.
- Um segredo que guardei por mais de quarenta anos, e que eu adoraria levar para o túmulo. Contudo, nem sempre a vida é como queremos. O que, na verdade, aprendi por experiência própria.
Só peço a vocês que me deixem contar sem interromper, e tentem não me julgar. Muitas vezes, as pessoas se vêem obrigadas a deixar de lado o que muitos consideram certo para contornarem dificuldades.
- Não se preocupe, Salua, pode falar. – Tranquilizou-a Lâmia.
- Sendo assim, começarei a contar. Como vocês devem saber, cresci nesse palácio, sendo a filha caçula do chefe da segurança do sultão e da melhor amiga da sultana, e desde tenra idade suas majestades ajudaram minha família. Tanto que eu e meus irmãos éramos muito próximos de Harum, embora ele tenha mudado desde que o pai morreu, ainda consigo lembrar dele mais risonho e carinhoso, depois ele ficou mais sério e fechado, embora sempre nos tratasse bem. De qualquer forma, a sultana sempre insistiu para que tivéssemos uma educação do mesmo nível da dele, mas quando ele foi para a universidade quase não nos víamos, ele estava ocupado com os estudos e com a necessidade de aprender seus deveres, ele queria já estar formado quando chegasse aos 21 anos. Tanto que só acompanhei a cerimônia em que ele foi nomeado sultão de longe, até um pouco chateada porque era meu aniversário de 17 anos e ninguém me dava atenção.
- Vivíamos nossas vidas longe dele, até que, quando fiz 18 anos, a sultana achou que merecia uma grande comemoração, e como eu sempre perguntava por Harum ela insistiu para que ele estivesse presente depois de ter sua própria festa. Lembro que naquele dia eles demoraram, cheguei a pensar que não viriam, mas minha mãe me acalmou, dizendo que sua amiga sempre cumpria suas promessas. E de fato, um pouco depois, ela apareceu de braços dados com ele, muito mais alto e bonito visto de perto, com aquele uniforme militar, parecia uma cópia do falecido sultão Hussein. Para minha surpresa, ele sorriu para mim, comandou os parabéns e, quando recebeu o primeiro pedaço do bolo, fez questão de partilhá-lo comigo.
- Quando se despediu de mim, disse que se lembrava de mim quando criança, e perguntou se haveria algum problema em vir me ver eventualmente. Respondi que não, mas me perguntei o que eu teria de interessante, afinal ele era o sultão e eu não passava da filha do chefe da segurança e da sua ex-babá. Ele me respondeu que era exatamente isso, ele estava cansado de ser visto apenas como o sultão, queria mais contato com alguém que pelo menos uma vez o visse apenas como Harum. Não sei por ingenuidade ou porque eu queria acreditar naquilo, mas concordei.
- Começamos a marcar encontros nos jardins privados do palácio, onde ele me pedia para que falasse o que eu gostava e esperava da vida, assim como eu deixava que ele falasse do que quisesse. Fiquei encantada com o Harum que aparecia diante de mim, por mais sério que ele parecesse era só um rapaz tenso que queria corresponder ao papel que esperavam dele, e tinha muito medo de nunca ser um sultão tão marcante como o avô e o pai dele foram. Ele me contava dos autores e das músicas que gostava, e, quando me dei conta, já estava seriamente apaixonada por ele. Isso foi tão difícil para mim que, quando me encontrei com ele de novo, expliquei isso a ele para justificar que não podia mais vê-lo, e para minha surpresa ele me disse que também estava apaixonado por mim, só tinha receio de confessá-lo por medo da rejeição. Explicou-me que as coisas estavam difíceis e que eu precisaria ter paciência, mas um dia ele conseguiria fazer de mim sua sultana. Depois, perguntou se eu me ofenderia se fosse beijada, e quando disse que não, ele foi o primeiro homem a me beijar.
- Começamos a nos encontrar escondidos num quarto de outra ala do palácio, inicialmente só para conversarmos e trocarmos beijos, até que os nossos instintos ficaram mais fortes e consumamos nossa relação quase por impulso. Sei que eu me arrisquei demais, mas éramos jovens e era tudo muito intenso, eu não vi nada de errado em me entregar a ele, pois eu já pensava ser sua esposa. Vivemos assim durante alguns meses, até que um dia ele me mandou um bilhete dizendo que precisava falar comigo com urgência. Assim que cheguei no nosso esconderijo, eu vi que havia algo errado, ele estava vestido com as roupas solenes e parecia um completo estranho, frio e nada interessado em mim. Para minha surpresa, ele me disse que já acertara o seu casamento com a integrante de uma das famílias mais conceituadas de Shankar, e por isso nosso relacionamento precisava acabar. Eu disse que não entendia porque ele fazia isso, eu o amava e ele também me amava, e a resposta dele foi de que o amor não era para soberanos como ele, ele chegou a ser tolo por algum tempo mas acordara e não colocaria os seus caprichos acima do país. Ele chegou ao cúmulo de dizer que esperava que eu me portasse com a dignidade que sempre tive e não fizesse nenhum escândalo, ele já tomara sua decisão e era irreversível. Em seguida, saiu deixando-me sozinha, uma garota com o coração partido que achava ter cometido pecados irremediáveis.[
- Fiquei deprimida durante semanas, mas por mais que minha família me perguntasse eu não tinha coragem de dizer o que tinha ocorrido. Contudo, acabei tendo de voltar ao mundo real quando minha irmã mais velha, a única que sabia do nosso relacionamento, percebeu que minha menstruação estava atrasada e me arranjou um teste de gravidez que, para meu choque, deu positivo.
- Sem saber o que fazer, marquei novamente um encontro com Harum, que a essa altura planejava seu casamento, e contei a ele da gravidez, eu ainda tinha esperanças de que quando soubesse que era pai ele desistisse dos seus planos e ficasse comigo. Só que não foi o que aconteceu, ele ficou revoltado e me acusou de ter engravidado só para prendê-lo, mas ele não deixaria que eu arruinasse sua vida. Nesse ponto, eu fiquei revoltada e disse que ele nem pensasse em me fazer abortar, por nada no mundo eu abriria mão do meu filho. Isso só aumentou sua ira, pois ele disse que, como muçulmano devoto que era, jamais concordaria com um aborto, mas que já tinha uma solução: ele me arranjaria um marido de conveniência, para registrar a criança, e garantiria os estudos e as melhores condições de vida para ela, além de me empregar como a governanta do palácio. E que esperava que eu colaborasse, caso contrário minha família ficaria em desgraça.
- Mas isso é um absurdo, Salua, com certeza a minha avó nunca concordaria com esse tratamento, o meu pai pelo jeito sempre foi um monstro. Como ele pôde fazer tantas coisas terríveis e ainda assim viver com tranquilidade durante todos esses anos? – De tão revoltado com aquelas revelações, Omar mal processou uma das implicações da história que ouvia.
- Creio que fiquei um tanto atordoada com a frieza dele, e não quis arriscar, o que mais importava ali era garantir o futuro do meu filho. Assim, disse que concordava com os planos dele e esperei que ele me apresentasse meu futuro marido, que ele me apresentou na mesma semana. Era um jovem oficial do Exército que fora pego em atos considerados obscenos com outro homem, a quem lhe foi oferecida a chance de ter esse delito apagado dos seus registros e ainda progredir na carreira, desde que aceitasse ser pai do filho bastardo do sultão. Ele quis se garantir até de que, mesmo casada, eu não teria relações conjugais com outro homem. De qualquer forma, nos casamos pouco depois, e para convencer minha família eu disse que fui apresentada a ele por intermédio de Harum e nos interessamos, e precisávamos casar logo porque ele seria transferido para um quartel mais distante, como de fato aconteceu.
- Esse oficial era meu pai, e a criança que a senhora esperava era eu, não é? – Perguntou Hakim quase com um gemido.
- Sim, meu filho, era Ahmad, que se tornou seu pai para todos os efeitos. Harum não esperava, mas ele me deu um presente e tanto quando o designou para meu marido, ele desde o começo se mostrou sensível e interessado tanto no meu bem-estar quanto no seu. Ele sabia que, por sua orientação sexual, dificilmente seria pai, e por isso abraçou esse papel com carinho e dedicação. Foi ele que segurou minha mão quando você nasceu e colocou um favo de mel em seus lábios, foi ele que se preocupou que você crescesse um bom homem e respeitasse todas as pessoas independente do que eram. Quando você já estava um pouco crescido, fomos convocados de volta a Johara, Harum em uma nova posição no Exército e eu para assumir minha posição como governanta, para ajudar a nova sultana, que acabara de dar à luz a você. – Disse para Omar.
- E mesmo com tudo o que você passou, você sempre foi uma excelente amiga para minha mãe, Salua, ouvindo-a, estimulando-a e confortando-a. Nunca poderei lhe agradecer o suficiente. – Constatou o príncipe emocionado.
- Era muito fácil gostar da sua mãe, Omar, ela era tão jovem, bondosa e frágil, amava muito o seu pai mas não conseguia atingir o coração dele. Nunca tive raiva dela, eu sabia que, se havia alguém inocente naquela trama, esse alguém era ela. O pior é que, depois de alguns anos, quando o casamento deles estava definitivamente desgastado, ele chegou a me propor que retomássemos nossa ligação, e eu simplesmente respondi que eu jamais me submeteria a ele depois de tudo que ele me fez, e que se ele não respeitava a esposa eu respeitava meu marido. Ele ficou chocado ao saber que eu preferia um homossexual a ele, e retruquei que, ao contrário dele, aquele homossexual era meu melhor amigo e o melhor pai que o filho que ele gerou poderia esperar. Depois disso, ele não falou mais comigo além daquilo que é próprio do meu cargo.
- Mas como ele conseguiu manter um casamento com você, desejando outros homens? – Perguntou o assessor, tentando entender a confusão que tinha se tornado sua história, que era tão convencional até aquele momento.
- Ele tinha os relacionamentos dele, alguns desses você até conheceu, eles vinham jantar conosco eventualmente, mas sempre procurou ser discreto para que não falassem a meu respeito. Como eu poderia negar apoio a ele, depois de todo o apoio que ele sempre me dera? Eu até me senti feliz que ele encontrasse alguém que o amasse como homem em vez de amigo, era o que ele merecia.
- Não a julgo, minha mãe, ele e a senhora sempre estiveram do meu lado e me apoiaram, só lamento que a senhora tenha sofrido tanto. Mas não consigo pensar no sultão como pai, especialmente depois de tudo o que descobrimos sobre ele.
- Ahmad foi o seu pai em tudo o que importa, Hakim, só estou contando isto porque esse ciclo de seguir as convenções em vez do amor tem de ser quebrado. Exceto seus avós, Omar, muitos dos seus familiares preferiram o dever, foram infelizes e fizeram outros infelizes. Não deixem que isso aconteça com vocês, lutem pelas pessoas que vocês amam, é o que todos merecem.
- Você está certa, Salua. E farei isso a partir de agora. – Disse o príncipe, e deixou o gabinete.
Capítulo longo e extenuante, marcado por grandes revelações. Espero que tenham gostado, agora é só o final e o epílogo.
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