Promessas Não Podem Ser Quebradas - XI

DÉCIMO PRIMEIRO CAPÍTULO

"Vence a batalha a estratégia mais canalha, entretanto, conquista a guerra o melhor compreendedor das táticas".

— Teoria Bélica
By: magic_read_

A despedida ganha paletas amargas quando boas memórias tem peso para a ficada: minha condição era cabisbaixa, me separar de Maria era definitivamente horroroso, entretanto, retornaríamos às casas. Ela me passou seu telefone, pediu para eu ligar às terças de manhã, para lhe atualizar. Achei fofo da parte dela, foi a primeira vez que uma garota tomou atitude comigo.

Adeus era um vocábulo pequeno, insignificante para tantas lembranças.

— Até a próxima, eu acho... — cocei a minha nuca, com a bolsa montada nas costas.

— Não deveria achar, não concorda? Logo iremos nos aventurar mais.

— Que o prazo não seja tão curto na próxima oportunidade... — sorri fraco, me surpreendendo com o abraço de Maria.

Sua palma acariciava as minhas costas, a bochecha gélida batia contra o meu peito, frases confortantes saíam da boca da mulher. Ela se despediu de todos assim, carinhosamente, no entanto, me sentia especial por recebê-lo.

— Não se prenda ao que ocorreu aqui, Jungkook, você é uma joia preciosa, deverá ter liberdade para beijar quem realmente gosta — a tonalidade da voz dela sumiu lentamente, semelhante a um sussurro longevo.

Qualquer reação foi sugada do meu rosto, eu fui obrigado a lembrar que ainda amava Ayla.

A inconstância dos meus movimentos não irritava Ágatha, pelo contrário, deixavam-na com uma pulga na orelha. Como eu iria explicar? A noite anterior foi paradisíaca, beijei minha namorada e fizemos promessas quixotescas, não estava nervosa ou tímida quanto a isso, todavia, ansiosa para que aquilo se repetisse. Rachel não parou com os cafunés após o ato, meus membros não trepidavam quando a mão dela aquecia meu corpo.

Eram exatas dez da manhã dum sábado caloroso, e plantada no sofá da casa de Jeon eu ficava, em companhia da mãe do jovem.

— Tamanha alegria pode ser compartilhada? — A mulher indagou, preparando o cooler para visitar a praia.

— Dormi bem esta noite porque visitei Meneghesso, aliás, recebi muitos mimos.

A tanga florida cobria as peças de banho daquela delicada mãe, e com as pernas entre as coxas, a mulher questionou-me da resposta prévia, sentando-se do meu lado. Senhora Jeon era tão magra lateralmente...

— Foram só carícias?

— Promessas também — acrescentei, recordando-me do sexo.

— Irá cumpri-las?

— Elas sofreram algumas modificações, sobretudo, nada que mude a minha vontade.

— Bela ambição, que esta não valha a do meu marido. Ele jurou que passaríamos na praia, sendo que, o sr. Jeon está tampando uma falta no serviço.

— Então o convite repentino não foi à toa... — comentei, cruzando os braços. — Permanecerei na areia, eu vim às pressas para cá.

— Não se acanhe, secaremos a tua roupa. Pense, Jeon não teria vergonha disso, ao menos, de te ver molhada.

— Jungkook é um ser dotado de ousadia, mal sabe a senhora que ele beijou dez garotas só este m-...

Após aberta a porta da sala surgiu um mancebo esbelto, dotado de ousadia como descrito, cabelos morenos bagunçados e ginga desajeitada. Ele retornou, trouxe de volta àquela obsessão, transportava a mochila nas costas, mais conturbado do que de costume.

— Mãe! Eu chegue-... — interrompeu a si mesmo. — O que essa lazarenta faz aqui?

— Muito educado, não me chamou de desgraçada — ironizei a interrogação —; bom dia, Bunny — acenei com a palma.

Seus olhos fixaram-se nas minhas retinas, expressavam profunda confusão, pararam o tempo, deixavam claro sua inexatidão, faltavam esboços para declarar outra emoção.

— Crianças — Ágatha chamou nossa atenção, retomando ao objetivo —, Jungkook, leve sua mala ao quarto, regresse em dez minutos, apronte-se para a praia.

— Mas mãe...

— É uma ordem, sem um pio.

— Sem um pio — gesticulei a última frase, atiçando os nervos do garoto.

Assim se foi o pimpolho até o quarto, lá organizando as malas, arrumando-se no espaço e gerenciando o tempo. Esses dez minutos de silêncio foram cruciais, apreciei a obediência de Jeon e passei a xereta-lo, mesmo que de longe.

A vestimenta dele logo estava trocada, nada muito formal, pois iríamos à praia. Ele modelava uma regata branca, lisa, sem desenhos, uma bermuda laranja, leve e escorregadia, estampada por palmeiras, óculos escuros em face, de armação redonda, com lentes castanhas, além dos tradicionais chinelos.

Admito, a não rebeldia dele me pasmou, os ataques diretos a mim sequer recorreram, não presumia tamanho efeito da carta. Nenhuma intimidação grave foi desferida em quinze minutos, nosso recorde semestral.

Seria ótimo o ensejo de visitar o mar, no local iria esclarecer ao Jungkook meus incômodos, notícias, promessas... Todos os parâmetros anteriores.

Os raios solares daquele horário eram implacáveis, emanando ondas de calor insuportáveis para aquela estação, fazia lá seus trinta e cinco graus, contudo, a sensação térmica era de quarenta. O cooler, as cadeiras, a esteira e a sombrinha jaziam no porta-malas, estávamos realizando o trajeto até a praia, de automóvel, eu na frente e Jeon atrás. Ágatha tinha lá os seus favoritos.

— Vocês aqui foram reunidos por uma única razão — senhora Lacerda comentou.

— Espancar o Jungkook? — Sugeri.

— Morda minha canela, Ayla — retrucou, um tanto divertido.

— Crianças, por favor, colaborem, resolvam os conflitos.

— Desde quando esta criatura foi adotada? — Perguntou para a própria mãe, encarando-a através do retrovisor.

— Se acostume, sou a predileta dela — sorri, sapeca.

Ele bufou quanto a devolutiva, porquanto, um sorriso de canto floreou naqueles lábios.

Quando chegamos no território descarregamos os utensílios, montando um cantinho consueto e simples com tais objetos, suados pelo trabalho, cansados pelo calor, em busca de uma fresca sombra. Os banquinhos foram os últimos a serem montados, mas na altura do campeonato, a senhora Jeon espalhou o protetor e tratou de curtir as ondas.

Sentei-me ao lado do garoto, na cadeira, abaixo do guarda-sol, checando seu pé recheado de areia, sobretudo, as novas feridas espalhadas pelo corpo.

— Ganhou fetiche de pés sujos? Feridas? — Ele rebateu.

— Não, por quê?

— Você tem atração por lábios possessivos — deu de ombros, inclinando à coluna.

— Você... leu a carta?

— No estado mais deplorável — descreveu, sucinto e breve. — Qual era a finalidade dela?

— Admitir que você beija bem — fui tão precisa que suas palavras eu silenciei —, e entender o que você sente por mim.

— Já declarei sobre — murmurou.

— Então por que me ameaça?

— Porque sou obsessivo — declarou, sonoridade alterada, feito uma dinamite. — É tão difícil de entender?

Ele inspirou fundo e, em seguida, expulsou o ar dos pulmões lentamente, evitando retribuir olhares.

— Nem tanto.

Dispersa daquelas ideias intangíveis, inseri o foco nas futuras ondas às quais abordaram Ágatha, bem observando a mulher com a singela curtição. Ao menos, entre todos nós, ela estava contente.

— Prometi para Rachel que ficaria ao lado dela no que fosse, e pretendo seguir a regra à risca, contudo...

Jungkook virou a nuca, interessado.

— Posso negociar com ela, porque preciso da sua ajuda imediata — meu tom foi mais fúnebre que o normal, característica incomum vinda de mim —, topa?

Jeon acenou com a cabeça, hiper focado, atiçado quanto aos tópicos problemáticos.

— Prossiga — pediu.

— Acalme-se, passarei hoje, na nossa toca, naquele horário. Preciso voltar para casa agora, antes que meus pais desconfiem.

— Eles não permitem o nosso contato?

— Os abusos sexuais, lembra? — Descontraí o clima, sem sentir um terço da culpa. — Até às oito da noite, idiota.

— Até às oito...

Eu tinha lá desculpas para vagabundear durante o dia, sempre afirmava que estava em caminhadas matinais, passeios com as amigas, encontros com o Heitor, sendo que, na realidade, namorava Rachel e visitava a senhora Lacerda. Sair no período noturno era infinitamente mais burocrático, nem por milhares de motivos autorizada eu era, ou seja, todas as minhas escapulidas após às dezoito eram proibidas, todas sigilosas.

Meus pais estavam acordados, assistiam a televisão deitados no sofá, passos meticulosos decidiram o meu destino, determinaram a fuga pela janela e resultaram na ida daquele encontro. Andei até a casa de Jungkook, não tão distante, com as ameaças dobradas nas mãos: as cartas.

Subi as escadas fixadas no tronco e me deparei com o garoto, sentado num banquinho, dentro da casinha na árvore. Me rebaixei para entrar, fechando a portinha e desmontando no assento.

— Uma nostalgia misturada com um déjà vu, não concorda, Sunshine?

Afirmei com uma interjeição, sacando em mãos as intimidações mandadas no correio.

— Uma outra pessoa sabe — estendi os papéis.

— Que você é...

— Sim — interrompi-o, entregando-as sem receios.

Jung assumiu uma conduta analítica, responsável, lendo cada palavra com dedicação, como Rachel antes havia feito.

— Caso eu estivesse na posição deste perseguidor, adoraria te torturar — tentou refletir, matutando seus pensamentos.

— Obrigada — debochei.

— Digo sério, Ayla, ele é perigoso.

— Como garante isso?

— No dia 12 de junho, eu fui o primeiro a saber sobre a Rachel, já Clarisse, a segunda, a cronologia traça os pontos daí. No dia 28, quase declarei meu amor por você ao público. Heitor me bateu, lembra?

Confirmei.

— Está alegando que Clarisse enviou-me isto para me afastar de ti? Por ciúmes da quase declaração?

— Não, quer dizer, é uma sugestão... — não negou a hipótese —; o autor captou o que ocorria, pesquisou sobre, e obteve a informação da sua... orientação. Posteriormente, a criatura implantou a carta sabendo que você me atacaria, porque te saturei naquele período — prosseguiu —, Dia 28, data da primeira missiva e do espetáculo de horrores.

Aquela teoria era pouco xoxa para ser taxada de mentira, assemelhava-se a uma tocha em meio a escuridão, era metaforicamente brilhante, plausível e coerente.

— E no dia seis? Vocês estavam acampando.

— Outro alguém deve ter lhe entregado, isso se o lunático for da nossa turma.

— As letras abaixo referem-se a o que? Perceba o "L", "E" e "H" nas terminações.

— Seria estupidez a capitulação do réu, talvez seja o nome de Rachel de trás para frente.

Certifiquei a informação, atraída pela velocidade do rapaz.

Bunny, você tem ideia de quem seja...?

Jungkook hesitava no posicionamento, não desvencilhou uma frase até que adquirisse algum colhão, porquanto, ao enfrentar o medo, gaguejou no primeiro vocábulo, pretextando desistência por não aturar meu foco emergindo a curiosidade.

Descansou as pálpebras ao expulsar o ar dos pulmões, mordia sua boca ao dar-me estranhos documentos — todos amassados, retirados do bolso da calça dele —, e eu sequer estiquei-os para tanto me espantarem, era nítido o conteúdo pornográfico feito contra mim nas fotos. Não tratava-se apenas de nudez, e sim, da minha privacidade.

— Quem foi o maldito?!

— Me apossei delas quando avistei-as com Perna-Mole, procuro ainda conhecer os porquês de tal atitude — pressionou a visão, com a língua mordida.

— Não existem porquês, Perna-Mole pode ser o criminoso, tanto das fotos quanto das cartas.

— Ele deve ter cúmplices — comentou, despertando as pálpebras, me fitando —, Heitor tomou de mim o teu bilhete, ainda está ensandecido comigo, pois reconheci amar você.

— Aguiar escandalizaria os chifres, não é ele quem envia as missivas, e as fotos este não divulgaria, ele guarda possessão sobre o meu corpo. Sinceramente, duvido da participação dele.

— Confia nele deste modo?

— Neste caso, sim.

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