O Sombrio Passado Da Curandeira - IX
NONO CAPÍTULO
"A magia é crível e ordinária quando submetida aos hediondos homens, os quais postergam qualquer encanto para ferir os inocentes".
— Band-Aid.
By: magic_read_
Pernoitar pela segunda vez longe de casa não foi tão desagradável, até os execráveis mosquitos pareciam inexistentes à medida que eu sonhava acordado. Hoje era um novo dia, um novo começo e, por mais que eu estivesse machucado, teríamos atividades renovadoras no acampamento.
Bastou pouco tempo para eu despertar do sono, aliás, não seria o único eufórico daqui, e assim como muitos, espalhei repelente no corpo e vesti roupas leves, próprias para o processo. Além do guia, mentores nos acompanhariam, dentre eles, a Maria estaria conosco, teria chances de me comunicar com ela, talvez declarar meu apreço significativo.
Fora da barraca, aguardei o agrupamento da classe, discutindo com a garota os planos para o passeio.
— Serão formadas duplas para vocês não se perderem sozinhos — a garota emitiu a informação para mim.
— Jura? Então você ficará comigo? — Questionei-a, pigarreando, vislumbrando seus cachos escuros.
— Incorreto, serei monitora de quatro duplas de alunos — fiquei abismado pelo tom severo —, seu acompanhante correspondente ao sorteio foi o Gabriel, sinto muito.
— Perna-Mole... — revirei os olhos, encostando uma palma na testa.
— Perdoe-me, nada pude fazer para evitá-lo, por mais que eles de má fé tenham agido, o acampamento foi pago para o entretenimento. Garanto que a escola não deixará em branco a agressão.
— Entendo... — dei de ombros, depreciando a falta de punições.
A culpa foi minha por não ocultar meus sentimentos.
Funguei, inerte naqueles episódios, aos comportamentos dele, retornando a conjuntura graças ao chamado de Maria:
— Zelarei você, em minha presença nada Gabriel tentará! — Garantiu, depositando sua mão nas costas da minha palma.
— Na minha cabeça, você é quem mais devo temer — alarguei meus lábios, um tanto malicioso, encarando o ato carinhoso.
Os alunos estavam dispostos num espaço térreo, composto somente pelas cabanas de madeira num vazio espaço, aguardando a diretoria local pôr em prática as ideias disseminadas pela manhã. Heitor fofocava com Gabriel, e eu odiava isso.
Na organização dos devidos grupos, 20 duplas foram formadas, ao todo, resultando 5 tutores, com cada um destes gerindo 4 duplas na trilha. Os responsáveis pela formação vestiam coletes leves, de cores fluorescentes, assim como os devidos participantes, nuances de amarelo, laranja, verde, rosa e azul eram encontradas.
Como prometido, Maria me selecionou para a equipe, como consequência, trazendo consigo Perna-Mole, totalizando oito pessoas escolhidas, ou seja, quatro duplas. Dentre elas, inclui-se seres como: Cassandra, Felipe, Ana Clara, Ezekiel, Paulo, João Pedro (Pirulito), Gabriel (Perna-Mole) e eu, os nove camuflados de verde marca-texto.
Cada qual no seu caminho, cada equipe com o destino, não fora divergente com o nosso caso, pelo contrário, seguimos rumo ao norte com as instruções da garota, cada indivíduo com a dupla. A desgraça parecia menor quando ao lado dela ficava, todavia, indiciado fui de abandonar meu companheiro umas milhares vezes e, Maria, por mais que justiceira, parecia frustrada com a minha desobediência, mas juntar-me com ele não era tarefa fácil.
Com o distanciamento de Gabriel do grupo, levantei graves suspeitas sobre seu comportamento, alguma coisa de fato estava estranho, sua solidão repentina não era emoção compatível. Finalizei as discussões com Maria e tratei de caçá-lo, com o único objetivo de exterminar a desconfiança.
Esse afastamento me parece errado.
Me escondi entre as árvores de maneira ligeira, aguardando os passos dele alcançarem a minha toca, num curto espaço de tempo; acompanhei-o recheado de sigilo, espectando com penetração cada mínimo ato cometido por Gabriel.
Fotos, imagens estranhas eram tiradas de sua bolsa, os contornos eram nítidos mesmo a distância, sobretudo, inacreditáveis na visão de um perseguidor:
— O que as fotos da Ayla fazem na sua bolsa? — Queixei-me, alto o suficiente para amedrontá-lo.
— Que fotos? — Perguntou, escondendo as fotografias atrás de si.
— Não silencie elas, Gabriel, eu vi o conteúdo — minha voz rouca foi austera, ferrenha enquanto afundava os pés no chão. — Me dê antes que eu te denuncie, essas imagens são pornográficas.
— Não estou comercializando-as, Jungkook, então se afaste — refutou, tão cabal quanto —, não permitirei a exposição dela.
Ele não divulgará? Então por qual intuito a teria?
— Pouco importa, me dê elas — Ordenei.
— Do que adianta entregá-las se há outras cópias?! — Rebateu, colérico do que afirmava. — A sua carta também terá réplicas, aguarde, todas elas serão espalhadas pela escola.
— Bela intimidação, Gabriel, contudo, alegações fantasiosas não funcionam comigo.
— Não será uma fantasia caso tais habitem nas mãos erradas — avisou.
O resquício de tolerância no qual eu tive dele evaporou, aquele alerta fora o estopim para o início do alarde; por Deus, a paciência restava pouco, Maria, Maria foi o motivo da calmaria, foi esta a rédea que me controlou. Por ora, meus dedos se prenderam no colete dele e, para a tristeza do garoto, todos queriam saciar a sua bochecha.
— Seus lábios violaram ela, sente orgulho disso, Little Bunny? Ser o talarico do melhor amigo? — Foi irônico, descartando qualquer temor causado.
— É ele quem carrega esse título há anos — apertei a sua gola, espremendo seu pomo-de-adão —; me entregue as fotografias, ou sua exposição ganhará um novo capítulo.
— Boa sorte — desejou sarcasticamente, transigindo o acordo, deste modo, dando-me as imagens. — Faça bom uso, canalha.
Porcaria, porque cedi tão facilmente a briga?
Meus dedos atingiram com força o alvo, acertaram seu braço, o qual desviou-se para o rosto a fim de se defender e, nesse frenesi amargurado, ressentido fiquei por chamar tamanha plateia, que no mínimo, contava com 7 indivíduos.
— Jungkook — Maria estava ofegante, mãos nos joelhos e postura entortada, enumerando os suspiros até prosseguir. — O que aconteceu? Você está bem?
— Pouco sei o que houve, instrutora, mas decerto relato que a vítima é Jeon.
Pirulito esclareceu para a moça perdida, atentamente fixado no estado de Gabriel, fazendo com que a qual se voltasse de fúria contra mim.
— Nã-não é minha culpa! — Afirmei, guardando com velocidade as fotografias pornográficas.
— O que oculta em sua palma? — Ana Clara interrogou, atiçada, e por mais que não fosse o objetivo, me tornou réu da tragédia.
Nenhuma resposta seria cabível, tratava-se de um item seletivo. Eles não vão acreditar na verdade, grotescas foram as encruzilhadas que já entrei pela Ayla.
— Meus documentos — minha voz desvencilhou, todavia, seguiu um fluxo ferrenho eventualmente. — Enfrentei Gabriel por desrespeito às particularidades, e peço com delicadeza que ninguém, quem dirá você, Maria, toque neste assunto.
— Vejo sua autoridade demarcada aqui, Jeon? — Desdenhou, me fitando de pé a cabeça. — Mostre-me já o que tem em mãos, ou chamarei de imediato a diretoria do acampamento.
— Por que antes não o fez? Subornada foi para não chamá-los no toalete? — Rosnei palavras cruéis.
— É uma decepção tal atitude vinda de ti — expressou seu lamento, retornando nossa equipe para o acampamento —, vamos, time.
— Lamúrias tenho por não vê-la agir antes — dei minhas últimas palavras a ela pacientemente.
O que valem as lágrimas quando depositadas em intimidações tão singelas?
Perna-Mole tinha aquelas fotos intimidadoras, poderia eu relatar a verdade, desmascará-lo para a diretoria sem saber o seu viés, porquanto, era suspeita essa resolução tão simples. Escondi as fotos, entregando para a coordenação os meus documentos.
— E por qual motivo seria a briga? — Maria perguntou.
— Ayla — respondi, simplista.
Refleti, à beira de um sacrifício iminente, não seria a água originada dos olhos que me fariam hesitar, seriam secreções respingadas da testa as quais escapavam devido a análise de Ághata. O tirano usava termos sarcásticos, próprios para veicular a carta sem prejudicar a sua imagem.
"06 de Julho de 1995.
A sua garganta arde por eu saber o que você oculta? É uma pena, digo, não há meios de pagar, também não sabes quem sou para me atacar. O barco está afundando, Ayla, e é você a âncora dos seus conhecidos.
Não temas! Serão eles as seguintes vítimas.
H."
Encarei minha amada, lhe entregando a carta após a declamação.
— Quantos limões devo espremer? — Queixei-me, com a cabeça no seu colo, vislumbrando seus dourados fios adornando sua face angelical.
— Você deve cantar para espantar tantos males — foi severa ao relatar, partindo para práticas baixas como cafuné no meu cabelo. Ela averiguava o bilhete, tendo a atenção voltada para aquilo.
— Muito escrupuloso, sequer sugestão tenho de quem tenha escrito — comentei —; Clarisse viu, suponho que ela tenha disseminado sobre, não guardo tamanha desconfiança de Jungkook.
— Ainda ando aguçada, porquanto, sua turma está em viagem, logo voltará, e deduzo que mais correios lhe serão enviados.
— Hoje meu pai não verificou o destinatário, quase leu por pensar ser dele o bilhete — alertei a gravidade para Meneghesso.
— Justamente quando estamos bem! — Murmurou, aludindo às dificuldades do relacionamento.
— Trata-se de mais um obstáculo para a nossa comédia romântica — levei sua palma para os meus lábios, beijando-as delicadamente —, enfrentamos monstros terríveis, piores do que estes.
— Difíceis eu confirmo, mas piores eu não sei, meus pais talvez tenham sido razoáveis apenas.
— Seu tio foi, Rachel, ele se aproveitou de você, do seu corpo! — Tornei a ficar sentada, revoltada, as lembranças me deixavam ensandecida. — Prefiro ser expulsa de casa por ser quem eu sou do que me encontrar com esse cara.
— A desgraça foi de minha autoria, se ao menos tivesse lhe apresentado com mais antecedência — proferiu com firmeza —, ou senão, ter dedicado meu tempo a ser uma filha melhor.
— Cala boca! Você é formada em medicina e é a melhor aluna de ginecologia. Tem orgulho maior que esse?
— Nossa, que incrível, sou formada em medicina e não vejo meus pais há dois anos.
— Você seria a filha perfeita para os meus! — Afirmei, como quem criticasse num confronto, todavia, percebi que meu lado sensível não foi acolhedor.
Tratei de me aproximar ainda mais dela, mantendo os olhos cravados na bela garota; céus, ela se dedicou tanto ao me amar, seus sacrifícios partem meu coração quando recordados: Rachel teve um pai turbulento, da espécie mais podre na qual agride a esposa, sua mãe consentiu quieta as agressivas atitudes do marido, renegando sua própria filha com aquele nojo indescritível.
O que era sexualidade para eles, seres tão hediondos, que pouco questão fizeram de ajudá-la a crescer?
O tio dela, André, irmão de seu pai, Marcos Meneghesso, acolheu a garota em sua casa, sobretudo, para cada gesto benevolente se há um pagamento e, pela discrepância de caráter, Rachel foi estuprada incontáveis vezes pelo parente. Demorei longos meses para descobrir, ainda mais para tirá-la daquele vínculo decadente, tanto no quesito financeiro quanto no emocional.
— Aquele terror feito na casa de seu tio não mais se repetirá, nunca irei permitir qualquer ato contra você — acariciei o ombro dela, prestativa quanto às suas sensibilidades, pupilas penetradas nas íris azuis —; meu pai adoraria saber que ganho juízo contigo.
— Ah, claro, ganha muito sim — puxou um sorriso de canto, contornando com o dedo a minha orelha, retirando também os fios à frente dela. — Me prometa, Ayla, ponha seus dedos no fogo por mim.
— Pois não? — Tombei a nuca.
— Não se culpe com o que não é de sua autoria.
— Eu não me responsabilizo pelo ato do seu tio, apenas faria de tudo para que essa memória não existisse, produziria mil tsurus se fosse possível reverter o passado.
Puxando os lábios para o lado, a garota se permitiu dar aquele sorriso singelo.
— Mil tsurus para um amor tão impróprio? — Queixou-se.
— Mil e um tsurus — deitei novamente no colo da maior — para um amor tão consolidado.
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