Capítulo 4 - 💡💡

     Há poucos metros de distância do Hotel Rochedo Verde, Saulo foi deixado com a impressora em mãos por um Alan apressado. Aflição transpirava do policial que evitava encarar o hotel enquanto dava ré na viatura, sem pronunciar uma única palavra; assim como durante toda a rápida viagem. "Esses caras são muito esquisitos", aos sons dos roncos vindos de seu estômago, Saulo caminhava pela calçada que parecia existir apenas em torno do estabelecimento. Analisando o alto, ergueu o cotovelo, ajeitando a alça da mochila que lhe escorregava pelo ombro; ali, havia um letreiro luminoso, que não passava de uma seta escura devido à falta de energia. Igual o restante da cidade naquele começo de noite; tudo se encontrava sob as sombras. Pelo menos, a chuva havia dado uma trégua, deixando somente poças pelos buracos da estrada.

     Diante da entrada logo à frente, esta feita com dois postes de madeira, localizava-se pendurada entre os dois, uma placa preta, na qual ao lado do desenho em forma de pedra verde, continha o nome do lugar: Hotel Fazenda - Rochedo Verde. Saulo só pôde ler as tais letras brancas graças à pequena e fraca, iluminação naquele ponto. Ato que ele não fez por muito tempo, pois, feito um vulto, um rapaz de moletom e capuz, deixou o local com pressa; perturbado. Entretanto, no instante em que pôs os olhos no turista, parou ao seu lado, mirando-o com suspeitas, de baixo à cima. Saulo deduziu de imediato qual era o motivo daqueles olhos esbugalhados.

     — Quem é você? Dane-se, não me interessa. Tem isqueiro?

     — Uhm... Não. Sabe me dizer se tem luz no hot... — Saulo riu, desgostoso ao ver o sujeito simplesmente seguir seu trajeto. — Obrigado por nada — resmungou, por fim andando pelo curto caminho de pedras. Enfim no hall de entrada, suspirou de alívio ao topar com algumas lâmpadas acesas. — Olá! Boa noite! — Acenou na direção do móvel alto, para aonde correu, ganhando a atenção da moça do outro lado, a qual saía da sombra e permitiu que Saulo pudesse ver seu rosto bem maquiado, embora visivelmente amedrontado. — Desculpa! Te assustei?

     Pôs a impressora no chão, junto da mochila.

     — Nã-ão, não. É que... está escuro, pensei que fosse... — Meneou a cabeça, exibindo um sorriso teatral. — Boa noite! Deseja um quarto?

     — Sim, por favor. Aqui tem energia, né?

     — Então... Temos um gerador, mas ele é apenas para as prioridades do hotel. — A jovem de cabelos presos em um longo e ondulado rabo de cavalo, fungou discretamente, torcendo para o possível cliente não notar seus olhos marejados.

     — Ah, claro. — Ele devia ter imaginado, uma vez que a maior parte do local se encontrava apagado. — Tudo bem, não preciso de energia para dormir. — Sorriu, descontraído. — E lavanderia? Tem aqui?

     — Temos. Quer adicionar esse serviço?

     — Sim! — Tirou o cartão de crédito da carteira.

     O qual foi recusado pela recepcionista.

     — Infelizmente não aceitamos cartões, mas temos um caixa eletrônico.

     Saulo acabou optando pelo quarto mais caro, o qual saiu mais barato do que ele imaginava. Jamais conseguiria um pacote completo em Panópolis por tão pouco dinheiro.

     A moça, virou-se ao painel contendo as chaves dos quartos disponíveis, apanhando o primeiro em ordem crescente.

     — Aqui. — Entregou a ele a chave exibindo o número do quarto. — Ficará no 6. Basta seguir por aquele corredor. — Apontou. — O jantar estará pronto em breve. Prefere que seja entregue no quarto ou servido na área de alimentação?

     — No quarto. E, se não for incomodar, tem como me avisar quando o telefone ou Internet estiver disponível?

     — Desculpe, não entendi.

     Saulo repetiu palavra por palavra, de modo mais lento e iria tentar fazer isso com frequência a partir daquele dia.

-

     De volta à delegacia, Alan topou com o delegado debruçado sobre sua mesa; cotovelos em cima do inquérito e rosto coberto pelas mãos, as quais tinham a companhia dos fios grisalhos tombados para frente.

     Pigarreou, despertando Fabrício.

     — Me atualiza. — Sentou-se diante da mesa do delegado, encarando os olhos cinza que desviaram do contato visual.

     Durante o respirar profundo, o mais velho jogou as costas para trás, relaxando-as na cadeira. Cabelos ainda cobriam sua testa, formando uma franja torta.

     — Primeiro ouve isso. — Empurrou seu celular na direção de Alan. — O Biro me mandou. E... depois olhe as fotos.

     Sem demora, o policial deu play no tal áudio, levando o aparelho ao ouvido.

     — "Bom dia, Fabrício! Preciso que venha aqui no laboratório, de preferência hoje. Encontramos as digitais do suspeito nos dois multímetros. No primeiro, achamos em maior quantidade, a maioria feita com sangue. Agora preste atenção nessas fotos."

     Com o encerramento do áudio, Alan analisou as duas fotos abaixo, ambas com círculos em torno de marcas arranhadas no plástico amarelo.

     — Escuta o outro áudio. — Fabrício gesticulou, apontando seu próprio celular nas mãos de Alan. Ele por sua vez, obedeceu.

     — "Repare nesses arranhões, nos dois aparelhos, que descobrimos com o exame microscópico. Estão curiosamente no mesmo lugar e no mesmo formato. Se repetem de maneira perfeita. Se eu não soubesse que têm dois, diria que são o mesmo multímetro."

     Alan pôs o celular de volta na mesa.

     — Então, foi ele. — Levantou-se, parando as mãos no encosto da cadeira na qual antes sentara. — Bom, caso quase encerrado. Só falta mandar o relatório pro Ministério Público.

     — Não! Ainda não. — Fabrício negou de imediato; dedos entrelaçados foram completados com os cotovelos novamente na mesa. — Esquece a parte do caso do Seu Roberto e foca nas fotos. Fui lá e vi com meus próprios olhos, os arranhões são idênticos! — sussurrou.

     — Arranhões que ele deve ter feito. Psicopatas costumam ter manias de repetições — retrucou. Nisso, assistiu Fabrício se colocar de pé, virando-se de costas enquanto jogava os cabelos para trás e suspirava ao guardar o inquérito na gaveta metálica. — Tem mais coisa, né?

     — Tem. — Mantendo-se de costas, puxou um cigarro do maço, depressa acendendo-o. Tragou, caminhando pela delegacia apenas para não encarar o jovem policial, o qual passou a segui-lo com os olhos. — Ele... Esse garoto é... — Soltou no ar a fumaça venenosa. — idêntico ao... Nick. Mesmo sotaque, mesma cor dos olhos... Só muda a falta da barba e o temperamento. O Nick era mais revoltado. — Enfim, focou o rosto de Alan. — Parecem a mesma pessoa! Igual os multímetros! — O fato dele abusar dos cochichos, deixou claro que tais afirmações eram difíceis de ouvir, ainda mais vindas de sua própria boca.

     Após coçar a cabeça abaixo do coque, o escrivão cruzou os braços, fitando o superior de modo confuso. Fabrício estava lutando, obrigando-se a ignorar aquelas semelhanças, convencer a si mesmo não passarem de uma sensação errada, contudo, encontrava-se agoniado e precisava colocar para fora aquilo tudo.

     — Aquele Nick que teve um... rolo contigo e... — sussurrou a parte que para ele, era um tanto delicada, contudo, achou melhor não tocar na continuação que também envolvia aquele nome.

     — É! Assim que vi o retrato falado pensei que fosse coisa da minha cabeça; daí ele apareceu! — Respirou fundo, esfregando a nuca. — Parece piada, né?! Juro por Deus, se eu tivesse bêbado quando vi a cara desse garoto pela primeira vez, teria matado!

     — Ok, ok. Você... guardou alguma foto dele? — questionou, recebendo o aceno negativo de Fabrício. — Então, como tem tanta certeza que se parecem? Isso já faz quanto tempo? Uns vinte anos?

     — Vinte e um.

     — Tá vendo?! Isso deve ser só impressão sua. — Cutucou mecanicamente, uma espinha nascendo sob a sobrancelha. — Uh... já que estamos falando dele... Nunca comentei isso com ninguém por motivos óbvios, mas... Eu também gostava do Nick — revelou, ganhando a atenção total de Fabrício, com seu cigarro pendurado no canto da boca. — Mesmo sendo bem pequeno, lembro perfeitamente de como ele me ajudou a entender o que acontecia comigo.

     — Até a minha mãe gostava dele! Aquele maldito soube enfeitiçar todo mundo!

     Alan assentiu, concordando.

     — É por isso que você não quer o miúdo preso? Porque ele se parece com o Nick?

     — Quem disse que não quero?! Só preciso descobrir a razão dessa semelhança. Talvez eles sejam parentes e eu consiga achar o desgraçado do Nick e enfiar uma bala na testa dele!... Inferno! — Soprou o jato branco com ódio.

     — Já pensou na minha proposta?! — tornou a insistir, Beterraba, conforme sacudia as barras de ferro.

     Curioso, Alan ergueu uma das sobrancelhas, aguardando qualquer descrição do delegado.

     — Ele disse que sabe quem matou o Seu Roberto.

     — E só me diz isso agora?! Quem foi?

     — Não perguntei... ainda. Melhor deixar o Beterraba um pouco mais desesperado. — Arremessou a bituca apagada pela janela antes de puxar o paletó já quase seco e jogá-lo sobre o ombro. — A energia não vai voltar hoje pelo visto. Vamô embora.

     Sob os gritos do prisioneiro largado no escuro da cela junto à sua refeição intocada, os policiais civis deixaram o posto, lacrando as portas por meio de cadeados e correntes. Fabrício não morava longe da delegacia, razão de ele raramente usar o carro policial e, em especial, a moto esquecida na garagem de sua casa; moto a qual lhe trazia boas e más lembranças. Alan, por outro lado, andava para baixo e para cima na única viatura de Irazal.

     — Passa na Elaine — pediu, Fabrício, batendo a porta do carona ao resolver não ir direto para casa. — Preciso comprar cigarro.

     — Tá. Vou aproveitar e pegar velas.

-

     Assim que passou pela porta após alguns minutos de espera, o primeiro pensamento de Saulo foi: "Se o melhor quarto é este, nem quero ver o pior". O valor não era baixo à toa. Ainda que aquela área de Irazal não fosse tão rural como o restante, continuava a fazer parte de uma cidade pequena, e Rochedo Verde não passava de um hotel fazenda simples e sem luxo. Entretanto, uma coisa ele não podia negar: o fato de a iluminação ser moldada por velas, tanto em seus castiçais vintages, nas paredes, quanto no lustre no centro do teto, deixou o local no mínimo exótico.

     Suspirou, enquanto deixava a impressora sobre a mesa redonda de tom canela — a qual seguia o mesmo padrão de cores do painel de TV, cama e guarda-roupa — para que pudesse trancar a porta. A mochila por sua vez, foi parar em cima da cama de casal, que além de tudo, estava super convidativa. Ou talvez, fosse somente seu cansaço gritando. Do frigobar marrom, estilo retrô, apanhou uma garrafinha d'água ainda fria, apesar da falta de energia e, nesse instante, a porta entreaberta à esquerda, mostrando pela fresta o mármore claro do lavatório, roubou suas íris amarelas. Saulo carecia desesperadamente de um banho; a vontade de tirar de seu corpo aquele cheiro horrível de cela, era maior que o sono e até, a fome.

-

      Embora o interior do restaurante se encontrasse quase que completamente no escuro se não fosse pela claridade apenas das velas quadradas nas mesas, os policiais sabiam que naquele horário sempre haveria movimentação no estabelecimento; falta de luz não era motivo para aquelas pessoas ficarem em casa em plena sexta-feira. E, notando a sombra agitada atrás do balcão, Fabrício foi na frente, logo vendo o rosto da dona do lugar com mais clareza.

     — Se vieram pelo jantar, chegaram atrasados. Só temos bebidas — avisou, Elaine.

     — A gente só quer velas e cigarro, mas uma cervejinha cai bem.

     As cervejas que não estavam tão geladas como de costume, foram servidas em copos ali mesmo no balcão. O ambiente, muito semelhante a uma casa noturna, trouxe dificuldade até para Fabrício enxergar a espuma no copo e o rosto de Alan.

     Bateu com a unha no copo, emitindo o som no vidro e chamando a atenção do escrivão que verificava o sinal de celular.

     — Sabe aquele brinquinho que ele usa?

     — O alargador?

     — Tanto faz o nome. — Deu um gole na cerveja, ajeitando o copo novamente sobre o guardanapo de papel. — Tinha um igual na cena do crime — murmurou.

     — Agora que você falou... Porra! Não percebi — assumiu, também tomando a bebida.

     — Sobre o que estão cochichando?

     — Nada. — Sem delongas, Fabrício cortou a curiosidade da mulher que secava um copo atrás do balcão, o que gerou uma risada reprimida em Alan.

     — Aposto que tem a ver com a morte do Seu Roberto. Amanhã completa uma semana e até agora o assassino está a solto — pressionou-os. Elaine não era a única indignada com essa demora; vez ou outra ouvia os comentários ácidos de seus clientes a respeito.

     Para uma vila tão pequena, não fazia sentido tanta dificuldade em encontrar o culpado.

     — Faz o seguinte, Elaine, tome conta só das suas panelas!

     — O tempo passa e ele consegue ficar ainda mais bruto, não é? — Riu, mirando Alan, o qual preferiu ficar quieto por respeito, apesar de querer concordar com Elaine. — Nem parece aquele pirralho obediente que pulava a minha janela de madrugada. Mas a beleza continua a mesma. Aliás, por que voltou a fazer a barba? — Acariciou o rosto de Fabrício, vendo-o se esquivar a seguir.

     Alan ocupou a boca com o copo para não ter que participar da conversa.

     — Que inferno, Elaine! Sua filha tá ouvindo!

     Alan e Elaine encararam a ponta do balcão, confirmando que de fato, Bianca prestava atenção na conversa; um tanto enojada. Mesmo assim, a mãe somente deu de ombros; Irazal inteira sabia sobre o passado dos dois.

     Nesse meio tempo, a viúva, já se aproximando dos sessenta anos, respirou fundo.

     — Que saudade dos anos dois mil — completou, com o pensamento distante e logo, sacudiu a cabeça, retornando ao presente. — Como anda o tratamento, Alan?

     O entusiasmado em responder, só não foi visto na face do policial por conta do escuro.

     — Melhor impossível! Tirando as espinhas. — Sorriu, contagiando Fabrício e Elaine com sua alegria espontânea. O jovem escrivão estava a cada dia mais satisfeito e feliz com os resultados. — Dizem que virei outra pessoa.

     — Jura? Nem reparei. — Risos ecoaram pelo restaurante escuro. — Ah! Contei que a reencarnação do Nick esteve por aqui? — comentou tranquilamente, causando palpitações e um arrepio na espinha de Fabrício; até aquele momento, ele tinha a esperança daquela ideia de semelhança ser apenas loucura, brincadeira de sua mente. — Inclusive, ele arrumou a campainha. — Apontou o aparelho, embora estivesse oculto pelas sombras.

     — O Nick morreu? — Alan se mostrou surpreso.

     — Tomara! Assim me poupa do trabalho de mandar aquele maldito pro inferno! — Virou o copo entre os lábios, esvaziando-o de uma vez antes de ecoar a batida ao depositá-lo com força no balcão. A passos firmes, deixou o restaurante com o produto cancerígeno no bolso e a conta para Alan pagar.

-

      Ainda que o banho não tivesse sido na sua temperatura ideal, Saulo deixou o banheiro enrolado no roupão super relaxado e disposto a dormir por uns três dias seguidos; apesar do queixo tremendo. Pegadas úmidas deixadas no trajeto, foram interrompidas ao encontrar a cama e, se aquelas costas falassem, agradeceriam por serem enfiadas no colchão macio.

     Dos pés da cama, puxou a mochila, apanhando o celular para saber se havia algum resquício de carga; o aparelho nem ligou. "Égua!" Sentia-se estar perdido em outro planeta; um ridiculamente atrasado. "Estou aqui há mais de 48 horas... será que já sou considerado desaparecido?" Nisso, algo rolou de dentro da mochila:

     O rádio misterioso.

     Aconchegado e umedecendo os travesseiros com seus micro-cachos, analisou o aparelho de madeira que era pouca coisa maior que seu celular. Girou-o, topando com um furo onde deveria conter um cabo de alimentação, o que lhe informou que, nem se houvesse energia elétrica, ele poderia pôr o tal rádio para funcionar. De volta à parte frontal, na direita superior, acariciou cada uma das letras, em alto-relevo, entorno do botão também no tom de metal envelhecido.

     Mais de uma vez.

     — Tesla — sussurrou antes de balançá-lo próximo ao ouvido. O cheiro de antiguidade, o qual se assemelhava a óleo velho e madeira seca, já havia tomado conta de seu ar. — Nada solto — constatou.

     Naquele momento, o único som captado pelos seus ouvidos, foi do retorno da chuva, a qual banhava as folhas da bela árvore no lado de fora. Uma árvore especial; a qual se, acima da mesa, a grossa cortina bege estivesse aberta diante da janela, ele teria visto aquele tronco... de novo.

     Sem nada melhor para fazer e cruelmente abandonando pelo sono, Saulo rodou o primeiro botão preto, vendo por consequência, uma das setas se movimentar dentro do painel como esperado. Ele sabia que aquele controle de estação era simples e mecânico, dispensando eletricidade, no entanto...

     Sentou-se depressa na cama, espantado.

     Por alguma razão, que Saulo não saberia responder, um chiado soou do rádio; um tanto baixo e ofuscado pelas trovoadas. Intrigado, mirou a televisão fixada na parede, a qual exibia somente uma tela apagada. "Como?!" Pôs novamente o aparelho no ouvido, mas dessa vez, nada ouviu. Tornou a girar e apertar todos os botões, sempre colando a orelha na saída de som entre um giro e outro...

     Estremeceu, assustado.

     E a culpa, foi das batidas desavisadas na porta.

     — Já vai!

     Guardou o rádio na mochila e logo deixou os cobertores sentindo o corpo pesado. Ao destrancar a porta, encontrou a mesma jovem da recepção, na qual notou de primeira, um botão solto no terninho verde musgo, formando o decote, algo que não estava ali anteriormente; se estivesse, ele de fato teria percebido. A moça de sorriso simpático, segurava o carrinho de dois andares contendo um cesto acoplado.

     — Boa noite! Vim trazer seu jantar e buscar as roupas sujas.

     Saulo conferiu, com discrição, se o roupão se encontrava bem amarrado; sentiu um leve desconforto por se apresentar inteiramente nu sob aquele pano branco.

     — Pode colocar na me... — Correu e transferiu a impressora para o chão, liberando a pequena mesa. — Pronto.

     — Você é novo por aqui, né? — comentou o óbvio, puxando assunto enquanto ajeitava a jarra de suco e copo, ao lado da bandeja.

     — Uhum. Eu... Estou à procura de novos ares; quis fugir um pouco da cidade grande — explicou, lembrando de soar lento.

     — Fez bem e escolheu um ótimo lugar! Se quiser, posso te apresentar a cidade. Não parece, mas temos lugares lindos em Irazal.

     "Duvido!"

     — Isso seria... — Juntou todas as peças de roupas e em seguida as depositou dentro do cesto, antes vazio. — legal. Muito legal! — Saulo estava com nenhuma vontade de conhecer Irazal, contudo, da mesma forma não queria recusar o convite de uma garota tão bonita. — Claro, se não for te atrapalhar... Égua! Esqueci de perguntar seu nome. O meu você já sabe. — Sorriu, relembrando os passos do check-in. Porém, seu sorriso murchou ao topar com a expressão sem graça da moça. Depressa entendeu o porquê. — Égua é gíria. Minha vírgula, na verdade.

     — Ah, sim. — Também sorriu. — Me chamo Luana. Mas não se preocupe; claro que não vai me atrapalhar! Vai ser divertido! — Já se retirando do quarto, manteve a curva nos lábios. — Depois a gente combina. Boa refeição!

     — Obrigado, Luana!

     "Até que enfim alguém que preste neste lugar", constatou após o rangido da porta ecoar pelo cômodo ao ser fechada. Bocejou. Se o cheiro hipnotizante de comida caseira não estivesse tão bom, Saulo certamente teria ignorado aquela bandeja fechada sobre a mesa e hibernado. O que não fez, uma vez que sem hesitar, sentou-se com pressa e levantou a tampa metálica, inalando todo o vapor de olhos fechados. Os talheres não tardaram a serem removidos do guardanapo em tecido, tão pouco desfiarem a carne assada. Sentindo falta de um pouco de farinha naquele prato, desmanchou o montinho de arroz através da faca, umedecendo e tingindo os grãos brancos com o molho dourado de perfume adocicado, os quais mandou tudo à boca acompanhado do purê de batata... "Ué?!"

     Sua empolgação esfriou no momento que o alimento lhe tocou a língua. Pensou em voltar para a recepção e pedir pelo menos, um vidrinho de sal. "Preciso apresentar o coentro para essas pessoas." Mesmo assim, continuou a comer, pois, como dizia a sua mãe: O melhor tempero é a fome.

    A distração com o jantar, impediu-o de perceber aquele animal moldado em penas claras, lhe espiando pela brecha da cortina, na janela.

Notas Finais

Quando se trata de leitura online, amo emperequetar, por isso, estou criando um book trailer e dream cast todo bonitinho (ficará em um capítulo separado, para quem não é fã dessas coisas, só pular) 💙

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