CAPÍTULO 95
Abaixo, no pátio, Archibald e Hana, ambos vestindo mantos e capuzes, seguiam procurando por uma pessoa entre os feridos. Noran indicava a Archibald onde devia procurar. Muitos dos que visitavam seus parentes e conhecidos circulavam entre as barracas.
Aquela barraca, em particular, tinha muitos pacientes em estado grave. Ao entrar e sentir aquele cheiro de doença e infecções a memória de Archibald foi de volta ao passado por longos anos até a época em que trabalhou cuidando dos feridos na guerra contras os bestiais. Refletiu que, depois de tanto, as coisas ainda continuavam as mesmas em Lacoresh. A sensação de dúvida e de falta de fé que Archibald abandonou após tornar-se sacerdote em Tchilla retornaram ali, com todas as forças. Diante de seus olhos estavam seus conterrâneos feridos e em estado grave. A violência nunca abandonava o meio, e ele sabia que não era uma condição local. Era assim em todo o mundo. As péssimas condições de tudo que os cercava era reflexo direto da dureza dos corações dos homens. Lembrou-se de imediato das palavras do iluminado irmão Naomir, fundador da ordem a qual um dia pertenceu e depois abandonou. "Não é nos deuses que os homens devem procurar a salvação. É dentro de si mesmos. É na consciência e na boa vontade que residem a chave da salvação do indivíduo, e do mundo".
Archibald deu um sorriso amargo cobrindo o nariz enquanto se aproximava do leito onde estava a pessoa que procurava. Ele pensou "Os monges Naomir, se perderam dos propósitos nobres preconizados por seu fundador, da mesma forma que a Real Santa Igreja". Archibald viu um jovem acólito que tratava dos ferimentos de uma mulher se retirar. Pensou "Enquanto houver pessoas como este rapaz, há esperanças para Lacoresh".
O ex-monge se ajoelhou ao lado do homem todo enfaixado que parecia adormecido. Tocou levemente sua mão e este imediatamente abriu os olhos, um deles desfigurado, mas ainda assim, reconheceu seu olhar. Era mesmo Vekkardi.
– Vekkardi, pode me ouvir?
A voz do homem rouca e fraca produziu um quase inaudível – Sim.
Archibald olhou a seu redor para certificar-se de que não havia acólitos da Real Santa Igreja por perto. Tirou um cordão de seu manto com um cristal de sargentium preso à ponta. Os cristais, enquanto sozinhos, não emitiam brilho que pudesse ser visto à luz do dia.
– Segure isto – ele colocou o cristal na mão do discípulo de Modevarsh.
– Você voltou – reconheceu-o a despeito do longo tempo que não se viam.
– Sim, e partirei, logo mais. Preciso de sua ajuda.
– Eu não... – Vekkardi tossiu – não tenho... – as palavras custavam a sair.
– Acalme-se, haverá tempo... Apenas procure relaxar e abra sua mente. É importante que verifiquemos que a comunicação possa se estabelecer.
– Comuni... cação?
– Segure o cristal e respire fundo, junto comigo. Inspire... Expire... Inspire...
"Vekkardi, pode me ouvir?"
"Uma comunicação mental?" ele pensou.
"Sim, que ótimo! Sou eu, Noran de Tisamir".
"Mas o que está havendo? Não compreendo".
"Calma agora. Ficarei a seu lado. Trabalharemos juntos, assim que estiver recuperado, não tema. Teremos muito tempo para conversar".
O espírito falou diretamente com Archibald "Funcionou, como esperávamos. O cristal é um perfeito canalizador para nossa comunicação".
"Ótimo. Agora é hora de seguir com o planejado" Archibald retrucou para Noran.
Ele disse em voz alta – Hana, é hora de irmos.
A princesa concordou com um aceno. Não via a hora de sair daquela horrível e fedorenta barraca.
– Adeus, Vekkardi! – disse Archibald – Deseje-nos boa sorte!
– Obrigado...
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