CAPÍTULO 67

Aquela estranha dimensão fizera que perdessem a noção do tempo por completo. Não havia dia, ou noite. Era sempre claro, mas de algum modo, tudo parecia coberto por uma estranha penumbra.

– Há quanto tempo estamos andando? Dias, semanas? – Ector falou para escapar do tédio.

– Quieto fedelho! – retrucou Yourdon com rispidez – já disse! Sem conversinha.

– Admita Yourdon – Calisto tinha um sorriso debochado – Estamos perdidos.

– Não, muito pelo contrário, vejam! – O mago indicou um brilho mais intenso atrás da colina para a qual se dirigiam.

– Ah sim – retrucou Calisto – mais uma maldita colina!

– O brilho púrpura, não veem?

Calisto e os demais não viam brilho algum, mas Ector sim – O que é Chris?

– A saída... Um portal para nossa dimensão. Atravessá-lo, talvez, seja um problema.

– Como assim? – indagou Vekkardi.

– Entrar neste lugar é realmente fácil, mas para sair, precisaremos derramar sangue.

– Sangue? – Ector pigarreou receoso – Nosso sangue?

– Não fedelho, precisaremos enfrentar o Golem Netéreo criado por Thoudervon para guardar o portal.

Derek gargalhou – Eu pensei que aquela besta da torre tinha sido a coisa mais louca...

– E o querido Sr. ossada não lhe deu nenhuma chave para abrir este cadeado? – Calisto encarou Yourdon.

– Eu pedi algo assim quando ele me enviou. Ele disse que havia um jeito trivial de contornar seu golem, mas que confrontá-lo seria um bom teste para você, Calisto, pois ele planeja enviá-lo numa nova missão neste plano, em breve.

– Se é assim, vou confrontá-lo sozinho.

Derek riu-se – Isso vou querer ver.

Calisto devolveu um olhar fulminante para o cavaleiro.

Ector suspirou aliviado. A última coisa que queria era se meter numa nova luta contra alguma coisa daquela dimensão.

Caminharam morro acima e puderam avistar o portal. Era uma passagem oval cravada num paredão rochoso. Num degrau, acima da porta cujo brilho púrpura apenas os magos podiam ver, estava uma besta adormecida. Era um lagarto de pele alva e lustrosa. Parecia uma escultura de mármore polido. Tinha o corpo musculoso e o porte de um touro, mas duas vezes maior.

Calisto engoliu seco e pensou "Thoudervon só pode estar de brincadeira". Seguiu adiante e viu que os demais ficaram para trás.

– Devemos mesmo deixá-lo confrontar aquela coisa sozinho? – ponderou Vekkardi.

– Talvez – retrucou Yourdon – mas em qualquer caso, fiquemos preparados para atuar, afinal, precisamos sair deste lugar, de qualquer maneira.

Calisto aproximou-se do portal, e com isso, os olhos da criatura se abriram. Possuía olhos de brilho azul, semelhante aos de Calisto naquela dimensão. Isto fez Yourdon divagar sobre algumas de suas teorias sobre as crianças de olhos negros de Lacoresh. Haveria alguma ligação delas com o Plano Netéreo? Qual seria o verdadeiro papel destas? Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Calisto.

– Em nome do poderoso Thoudervon, lhe ordeno: deixe-nos passar!

O monstro saltou na direção de Calisto com ferocidade. O rapaz sondou a mente da criatura e esta não emitia sinais ser um ente vivo. Ele deu um passo para trás e forçou um ataque mental sobre o golem. Todos puderam ver que o ataque partiu de seus olhos na forma de dois feixes de energia azulada. Ao atingir o monstro, este guinchou, mas isto não o impediu de avançar.

O contra-ataque do monstro veio com violência. Instintivamente, Calisto concentrou-se numa maneira de se defender. Ergueu um escudo psíquico que, naquela dimensão, podia ser visto a olho nu. Placas hexagonais de energia azulada se ergueram e se uniram à esquerda de Calisto fazendo o ataque da besta refrear. Ele suspirou aliviado, e, usando força semelhante, projetou uma barreira de hexágonos justapostos contra o oponente repelindo-o uns poucos metros para trás. O contragolpe veio rápido pegando Calisto desprevenido. A besta girou seu corpo usando a cauda grossa e espinhosa como um chicote que atingiu as suas pernas com violência, fazendo-o girar e cair.

Tonto e de costas no chão, Calisto perdeu a concentração e suas defesas se dissiparam. O golem saltou sobre ele para cravar suas garras no peito. Um cordão de energia vindo de Yourdon laçou um dos braços de Calisto puxando-o para trás. Evadiu do ataque no último instante. Vekkardi avançou com o Jii fluindo visivelmente em torno de sue corpo. Ali, podia disparar golpes distantes com certa facilidade. Ele emitia uma série de sons guturais que denotavam esforço acompanhavam cada disparo que partia de seus punhos fechados e zuniam contra o corpo do lagarto de mármore. Porém, o efeito esperado por ele não ocorreu. Esperava que a criatura sofresse severamente, do mesmo modo que a lagarta que derrotaram fora atingida. O golem parecia absorver os disparos como se fossem apenas fortes jatos d'água que imprimiam força contrária a seu avanço, porém sem causar danos. Dagon e Derek partiram lado a lado contra o oponente. O machado de Derek emanava um brilho esverdeado e a espada de Dagon assumiu o tom negro de seus ossos. Cada um dos golpes soaram como fortes pancadas de metal contra rocha faiscando e mordendo a pele criando pequenas rachaduras. A besta cobriu-os de safanões projetando-os no ar a muitos metros de distância. A estranha gravidade daquele plano fez com que a aterrissagem não fosse traumática. Ao mesmo tempo, Ector e Yourdon ajudaram Calisto a ficar de pé.

Yourdon deu instruções a Ector – Fedelho, para fazer a magia funcionar aqui é preciso reverter o fluxo energético, por exemplo, para produzir fogo, pense em gelo, para atrair, pense em repelir.

Ector concentrou-se para lançar um feitiço de levitação contra a criatura. O efeito foi o esperado. Os passos do monstros ficaram pesados, deixando seu avanço mais lento. Isto deu tempo para Calisto pensar numa nova estratégia. O escudo psíquico havia funcionado, então... Placas de energia psíquicas manipuladas por ele surgiram e se uniram umas as outras. Ele as juntava e compactava, fazendo o brilho mais intenso à medida que acumulava forças. Uma espada de lâmina larga, maior que a de Dagon formou-se nas mãos de Calisto. O rapaz avançou e brandiu-a contra a cabeça somando força física à projeção psíquica. A batida teve efeito mais forte que os golpes dados por Dagon e Derek. O contragolpe poderia ter-lhe custado a cabeça, mas Calisto agachou-se para escapar. Rolou no chão e atacou novamente. Ele havia absorvido tais habilidades ao penetrar na mente de vários espadachins no passado. Sua perícia era comparável à dos profissionais. Um golpe de sua espada psíquica atingiu a perna esquerda da criatura precisamente na fenda deixada pelo golpe de Derek. Pedaços de pedra voaram e rachaduras se espalharam como raízes provocando a separação do membro do resto do corpo.

O monstro perdeu o equilíbrio. Antes que voltasse a combater, recebeu repetidos golpes de Calisto que atacava com um misto de fúria e extrema concentração. As rachaduras se espalharam em fortes estalos fazendo-o ruir e converter-se num monte de escombros.

– Uhu! – Saltou Ector – Conseguimos derrotar o guardião!

– Não fique aí todo feliz, fedelho! Seus próximos passos o levarão ao covil de meu mestre na Necrópole. Quero vê-lo sorrir quando nos encontrarmos com Thoudervon.

Aquilo cortou o barato do rapaz e fez Vekkardi se lembrar de sua visita àquele lugar sombrio em tempos passados.

Derek se aproximou e disse – Lutou bem, Calisto.

O rapaz respondeu com um aceno. Derek ainda achava estranho olhar para ele e vê-lo com olhos normais, azuis claros.

– Isto eleva para dois – riu Yourdon.

– O que? – Derek perguntou.

– O número de vezes que salvei a pele de Calisto.

– Ao inferno com sua maldita contabilidade! – Voltemos ao nosso mundo.

Yourdon fez pouco caso da irritação de Calisto e retrucou – Tecnicamente, ainda estamos em nosso mundo.

– Certo, certo – Calisto avançou para o portal. Foi o primeiro a atravessar e foi seguido pelos demais.

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