CAPÍTULO 47
Era hora de deixar aquele paraíso para trás. Kiorina e Gorum aguardavam a chegada de Kyle. Azus, sua esposa Zat'tza, e uma comitiva dos lagartos que libertaram em Tchilla estavam lá para se despedir. Gorum estava satisfeito de ter subido facilmente o altíssimo paredão com a ajuda da magia de Kiorina. Ambos contemplavam a bela paisagem verdejante que se estendia ao longe.
Kyle recusara a magia de contra-peso de Kiorina, pois subir fazia parte de seu treinamento físico. Nunca estivera com o físico tão forte quanto agora. Ainda estava a meio caminho. Escalar mantinha a mente em ordem. Noran orgulhava-se de Kyle e sempre o seguia de perto. Mesmo tendo tido visões horrendas, já conseguia bloquear pensamentos improdutivos e exercia com mestria o foco no presente. Na região, Noran encontrou-se com muitos espíritos antigos que habitavam o Vale do Oráculo. Aprendeu sobre a história do povo de Azus e surpreendeu-se em saber que advinham de outro mundo, além das estrelas. Felizmente, depois de tantos conflitos e guerras, seus descendentes finalmente estavam vivendo uma era de paz naquele belo vale intocado pela corrupção dos homens. Tinham muito em comum com os tisamirenses, mais do que supunha a princípio.
Kyle atingiu a plataforma onde os demais aguardavam. Seu corpo estava aquecido e coberto de suor. Kiorina deixou escapar um breve suspiro ao contemplar seus contornos esculturais. Ela sabia que estava apaixonada, mas desde o beijo, na noite em que Kyle uniu-se ao oráculo, não estiveram próximos. Às vezes sentia raiva dele, pois ia para muito longe, indiferente e distante. No meio daquilo tudo, simplesmente parecia não sobrar tempo para que o amor deles florescesse. Era apenas uma semente latente, aguardado o sol sob o solo. A ruiva deixava seu pensamento viajar projetando sonhos e enganos. Um dia talvez, depois daquilo tudo, eles teriam um lar juntos, teriam filhos, netos e muitas histórias para contar. Mas no fundo ela sabia que era apenas uma ilusão. Sabia que o tempo adiante deles não seria de alegrias, mas sim, de conflitos e sofrimento.
Azus, Zat'tza e os demais fizeram uma espécie de vênia para Kyle.
– Muitoss-zonrrrados adjudas-zeu camin-nio, Kylitz.
Kyle sorriu e respondeu – Eu é quem estou honrado por vocês terem nos recebido no lar de vocês.
– Obzigaduu amigu!
A turma de lagartos balançava a cabeça demonstrando excitação. Zat'tza comunicou-se com os seus indicando a maneira de dar adeus dos estrangeiros. Logo os reptantes fizeram fila para cumprimentar com um aperto de mãos, Kyle Gorum e Kiorina.
Azus também cumprimentou-os e ofereceu-lhes três lanças. Eram presentes para confrontarem os perigos além do vale. Kyle e os demais agradeceram e de fato, encontravam-se desarmados desde a captura pela tribo de caçadores. Apenas Kiorina havia sido capaz de recuperar parte de seus pertences que estavam na sacola do xamã. O restante, fora incendiado junto com as casas.
Zat'tza comunicou-se diretamente com os pensamentos deles desejando-lhes uma boa jornada. Ofereceu uma sacola repleta de peixe desidratado, ideal para a viagem. Gorum trazia água e Kyle algumas panelas de cerâmica e com o fogo de Kiorina, a sobrevivência básica parecia assegurada.
Logo colocaram-se em marcha deixando o belo vale e os lagartos para trás. Já ao longe, Kyle olhou uma vez mais para trás e percebeu que todos haviam partido, exceto a esposa de Azus, Zat'tza. Seus olhares se cruzaram e Kyle recebeu "É hora de encontrar a verdade dentro de você. O que é mais importante? Seu reino, o sofrimento do mundo, ou seu coração?"
Kyle sentiu o peso do mundo sobre seus ombros. Ele havia visto muito. Ainda haveria muito a ser visto. E sentia o destino de povos e amigos repousando sobre seus ombros, aguardando sua decisão. E pensou "Ninguém deveria ter tanto conhecimento." Em seguida sacudiu a cabeça, como que se quisesse fisicamente livrar-se de maus pensamentos e refletiu "Um passo de cada vez. Cada decisão em seu momento certo. Um passo de cada vez".
Com isso, voltou-se novamente para o caminho adiante e disse. – Vamos! Com sorte ainda encontraremos An Lepard e os demais em Tonuak, conforme combinado.
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