CAPÍTULO 27
O hotel Brilho d'Água tinha seu nome derivado de uma piscina circular que ficava no centro do salão no qual funcionava um movimentado restaurante. O teto acima possuía uma abertura que deixava o sol penetrar iluminando a água e todo o salão, por consequência, todo o local possuía brilhos ondulantes da luz refletida na água. Ali havia uma concentração de estrangeiros, o que diminuía a sensação de desconforto dos lacoreses e dacsinianos.
Sentados à mesa em cadeiras confortáveis feitas de couro de catiz esticado, experimentavam uma típica refeição tchilliana. Eram servidos pelo simpático Crilio Erino, um rapaz moreno de cabelos crespos que não parecia ser de Tchilla e falava bem lacorês e dacsiniano. Crilio trazia outra jarra de cerveja escura e adocicada produzida na cidade.
Kiorina estava curiosa e indagou - Com licença, senhor Erino...
- Apenas Crilio.
- Aquele homem - indicou a moça discretamente - por que está tão arrasado?
O homem a que Kiorina se referia, bebia e chorava sem parar. Possuía uma barba farta e vestia-se de maneira distinta.
- Ah, a senhorita percebeu. Pobre homem, o único filho será sacrificado aos deuses.
- Que horror! Sacrifícios humanos...
- A cerimônia é muito bonita. E quanto ao homem, talvez a senhorita esteja equivocada quanto a sua interpretação.
- Como assim?
- O pai não está triste pela morte do filho, em si.
- Não?
- Está preocupado com seus negócios. Agora que seu filho irá deixá-lo, está preocupado com a reputação e continuidade dos negócios da família.
- E por que o filho será sacrificado?
- Por escolha própria. Ele se ofereceu para Araior na esperança de que seu pai possa voltar a ter filhos.
- Isso não faz sentido. Ele já não tem um filho?
- Sim, mas apesar de serem abastados, nenhuma das dez esposas do filho engravidaram.
- Dez esposas? - Intrometeu-se Archibald.
- Dez não são tantas... Cinco esposas estão com um processo de divórcio aberto. O jovem príncipe Abenani, por outro lado, casar-se-á com mais de duzentas prometidas.
Kiorina retomou - Mas eu ainda não entendi...
- De uma forma simples, o filho é infértil e oferece sua vida em sacrifício na esperança de retornar a fertilidade a seu pai. Assim, uma nova linhagem poderá ser iniciada. Além do mais, as esposas estão muito infelizes, pois até que nasça o primeiro homem, ficam aprisionadas na mansão.
- Mas isso não faz sentido!
- Talvez não para vocês, estrangeiros...
Gorum perguntou - E o que vai acontecer com as esposas?
- Por lei, passarão para o pai. Ele terá um ano para fertilizá-las.
An Lepard terminou sua refeição e disse - Que ótimo estarem interessados neste besteirol de fertilidade, mas devo lembrar-lhes que isso não é nosso problema. Obrigado Crilio. Ótimo serviço e refeição.
- Sempre às ordens, senhor Lepard. - disse o rapaz, retirou os pratos e saiu.
- Aliás, o problema de vocês é salvar Lacoresh da garra daqueles malditos usurpadores, certo? Que tal deixarmos esse assunto de fertilidade de lado voltar à questão do oráculo?
Kiorina ficou contrariada, mas Kyle concordou - Lepard tem razão. Vamos nos concentrar em confirmar nosso caminho até o oráculo.
- Mas Kyle!
- O que?
- Essa história não está certa.
Claudine concordou - Verdade! Esses tissilians san uns tolos. Nada do que fazem nan está certo.
Kiorina balançou a cabeça - Não é o que quis dizer. Quis dizer que talvez possamos ajudá-lo.
- Ajudar tissilians? Nan conte comigo!
Kiorina fez uma careta para Claudine, e ignorando-a perguntou - DeReifos? Gorum? Kleon?
- O que tem em mente garota? - perguntou Gorum interessado.
Kiorina começou a expor o que pensava para Gorum, Kleon e Archibald. Eles estavam sensibilizados pelo sofrimento do homem.
Kyle balançou a cabeça e resmungou - Será possível que na única vez que Lepard está certo sobre alguma coisa eles arrumam uma furada para entrar?
- Nan se preocupe queridin, nós três vamos pegar as indicações necessárias para ir adiante, nan é capitão?
Lepard consentiu - Claro. Gosto pouco de estar nesta cidade...
***
Torenb Nargub, o homem desesperado, estava um pouco mais calmo. Passava por difíceis provações, mas lhe faltava um ombro amigo para desabafar. Para os conhecidos e parentes, sua situação era embaraçosa demais para ser discutida. Archibald e Kiorina entendiam um pouco de Tchilliano, mas precisavam da ajuda de Kleon para traduzir.
- Quer dizer que para o senhor o mais importante é a vida de seu filho? - traduziu Kleon.
- Sim, não é como dizem e pensam, que sou um negociante mesquinho... Na realidade, essa história toda se espalhou pela boca grande do cabeça dura do meu filho. Ele não me escuta, colocou na cabeça que é um amaldiçoado e inútil, que arruinou a família, mas eu não ligo. Ele é meu filho, entendem? Não está certo que ele morra por algo que não concordo, que morra em meu nome...
Kiorina cochichou para Archibald - Eu sabia Archie, eu senti que aquele lamento advinha de um sentimento profundo e verdadeiro.
Quando Kleon terminou de traduzir, Gorum pediu - Diga a ele que vamos ajudar.
- Mas como? - retrucou o homem.
- Não se preocupe, Sr. Nargub - traduziu Kleon - vamos encontrar uma solução.
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