CAPÍTULO 17

A cavalgada até Pinnus foi bastante rápida. Poul e Rílkare fizeram uma breve visita ao chefe da vila para dar notícias da guerra e das investigações. Há alguns meses, após os desaparecimentos, inclusive o de Adria, esposa de Poul, o chefe solicitou a oficiais do reino para que Poul acompanhasse as investigações. As andanças de Poul o levaram aos Krenov e finalmente a Rílkare que assumiu uma das investigações oficiais. Pinnus era uma pequena vila cujo sustento vinha da extração da madeira e coleta de amêndoas e frutos silvestres.

A casa de Poul, como de muitos lenhadores, ficava afastada da área central da vila, morro acima, numa trilha a caminho dos bosques. Chegaram até a casa de Poul, antes de anoitecer. Era pequenina e modesta, mas tinha dois pavimentos. As casas de madeira eram construídas em esquema de mutirão. 

Con nunca havia visitado Pinnus e outras vilas mais distantes das principais cidades. Ficou impressionado com a qualidade da casa. Boas madeiras, bem cortadas e montadas. O poço d'água também fora parte do esforço da construção da casa. Retiraram água para os cavalos e partiram lenha para alimentar a lareira. O lenhador estava especialmente calado desde que deixaram a casa do chefe da vila. Voltar ao seu lar trazia memórias de sua esposa e suas emoções variavam entre saudade e raiva. Con ajudou Poul com as madeiras e separou para si, alguns pedaços para entalhar. 

No chão da entrada da casa, próximo à lareira, havia uma grande pele de urso de pelagem cinzenta.

Enquanto Rílkare e Con se ocupavam de atear fogo para a lareira, Poul mostrava a Örion e Eskallurè a pele de urso.

- Meu pai caçou este urso. - Informou orgulhoso - Ele era um caçador, sabe? Não um lenhador como eu. Os caçadores são muito vivos, muito espertos. Meu pai era muito esperto e tinha boa pontaria. Olha aqui. - Afastou o pelo para indicar o ponto na pele no qual a flecha havia penetrado, na região do pescoço.

Örion apertou os lábios sentido desconforto. Eskallurè riu um pouco de Örion, mas respeitava Poul e certamente seu pai. - Muito boa mira, Poul! Muito boa mesmo.

- Seu Olren? Não tem caçadores no seu povo? Na sua família?

- Poucos. A maioria entre meu povo não come carne, como sabe.

- Mas e as peles? Não sentem frio?

- Sim, sentimos frio, mas há outras maneiras.

- Eu entendo. Quando era criança, tinha pena dos animais. Pedia ao papai para não caçar, mas depois a gente se acostuma. A acaba se acostumando com quase tudo. - Disse Poul com os olhos marejados.

- Vamos Poul. Encontraremos sua esposa. De algum modo, sei que ela não se foi.

As lágrimas rolaram.

Eskallurè inclinou-se sobre Örion e sussurrou em tom ameaçador. - É bom mesmo que a esposa dele esteja viva silfo! Gosto do grandão e se estiver alimentando falsas esperanças para ele vou amassar seu belo nariz.

Örion levantou-se para juntar-se a Rílkare e Con. - Rilks, estou ficando farto do senhor Têbure!

- Não ligue para as provocações dele. Apesar de tudo, ele é um bom soldado.

Con retrucou. - Concordo, mas não podíamos arrumar um outro bom soldado menos encrenqueiro e mal educado?

- No ponto em que estamos, não. Mas vou considerar isto para depois, correto?

Con deu com os ombros e Örion coçou a cabeça. Seguiram em frente para preparar o jantar. Num caldeirão suspenso acima do fogo, prepararam um cozido e em espetos assaram pedaços de carne. As noites eram bem frias naquela região.

Örion teve pesadelos e acordou confuso, por várias vezes, mas o cansaço logo fazia-no dormir novamente.

Con levantou-se cedo, antes do sol sair. Observou o sono inquieto de Örion e em seguida ficou alerta. Ruídos no lado de fora chamaram sua atenção. "Poderia ser um animal?" pensava.

"Poderia ser qualquer coisa".

Aproximou-se da janela que ficava no lado oposto da lareira. Estava bem escuro, mas a luz do braseiro dentro da lareira permitia que caminhasse sem tropeços. Esperava que seus pés descalços contra a madeira, fizessem muito barulho, mas novamente se surpreendia com a qualidade da casa. A madeira do piso nem mesmo rangia. Da janela também vinha uma branda iluminação. Era noite de luas. Duas das menores estavam cheias, próximas do horizonte, enquanto a maioria das demais estavam crescentes, bem alto no céu. Lá fora, pode observar os contornos dos cavalos a dormir.

Por um momento, seus olhos captaram o movimento rápido do que parecia ser um inseto grande. Um tipo de libélula grande que pairava no ar. Voava em torno dos cavalos, fazendo pausas longas entre um voo e outro. Con franzia o cenho e pensava. "Aquilo não é um inseto. Não mesmo!" Seguiu para a porta, girando a pequena trava de madeira e saiu para investigar.

O solo coberto pela grama estava gelado e molhado sob os pés de Con, mas isso não era um problema. Aproximando-se dos cavalos e apesar do escuro, deparou-se com o ser voador. Logo, dois pontos vermelhos se destacaram nos contornos pouco definidos da criatura.

- Quem é? O que quer? - Indagou Con apreensivo.

- Grinda zu greb kin. - A voz da criatura sussurrou diretamente nos ouvidos do guarda.

Este voou para mais perto de Con, e ele pode distinguir melhor seus contornos. Eram contornos de um pequeno e magro ser humano. Totalmente escuro e com olhos medonhos que brilhavam como brasas.

- Xô! Xô! - Advertiu Con com um gesto agressivo.

- Xu? Hain Ain! - Veio-lhe o sussurro agudo. Em seguida voou célere para o bosque gritando. - Cá-cá-cá-cá-cá-cá-cá!

Con ainda ouviu os sons emitidos pela criatura por mais algum tempo até que cessasse, sendo encoberto por outros sons da noite. Retornou à casa para buscar uma adaga e permaneceu sentado nos degraus vigiando os arredores.

Mais tarde, ainda antes do alvorecer, escutou movimentação na casa.

- Ué? Não conseguiu dormir, seu Con? - Indagou Poul com a voz sonolenta.

- Dormi sim. Acordei há pouco. Diga-me Poul, costumam aparecer pirilampos e outras criaturas estranhas por aqui?

- Como caça-fogos?

- É... coisas do tipo.

- Hum hum - espreguiçou-se bocejando - Você viu algum.

- Vi sim. Coisa esquisita! Muito esquisita. Até falou comigo...

- Falou? Ué? Falou o que?

- Não entendi nada.

- Ah bom. Acho que o seu Olren ia entender.

- Quem sabe, não é Poul? Vamos, me ajude com os preparativos. Vamos deixar tudo pronto para quando os outros acordarem.


***

A cavalgada pelos bosques verdejantes foi agradável e revigorante. Örion lembrou-se de seu lar, a floresta de Adrastinn. Os raios do sol atravessando as copas das árvores traçavam belos desenhos no ar e no solo. Ocasionalmente, avistavam cervos, macacos e outros animais. Entre os bosques e a floresta, havia uma campina. Mais adiante, puderam avistá-la.

Quanto mais próximos da Floresta Proibida, mais ficava evidente o porquê de tantas lendas e superstições. A floresta, parecia demarcada, como se um desenho de contorno tivesse sido feito. Começava de repente, e, suas árvores eram altas e antigas. A coloração da folhas era mais escura e com poucas variações tonais. Muitos cipós e plantas trepadeiras ligavam as copas das árvores e, a certa distância, a floresta tinha a aparência de um paredão verde sombrio e espesso.

Seu interior era sombrio. Örion sentiu um nó no estômago. As montarias ficaram inquietas e um pouco difícil de serem controladas. Örion sentiu uma frieza no ambiente e vieram emoções negativas. A floresta parecia sugerir um caminho entre os troncos grossos que se elevavam como torres. No alto, formava-se um teto de copas densas. O chão era coberto com uma espessa camada de folhas em vários estados. Desde folhas murchas em tons predominantemente marrons, mas com folhas amareladas e avermelhadas aqui e ali. Em alguns pontos nos quais o sol penetrava as folhas secavam, porém a maior parte do solo era coberto por massas de folhas úmidas.

Estranhos sons podiam ser escutados. Pássaros, macacos e outros animais conversavam ao mesmo tempo que o vento fazia as folhas farfalharem, galhos rangerem e as próprias árvores pareciam murmurejar. Ao longe, escutaram águas cantando. Seguindo seu canto, chegaram em um clareira iluminada pelo sol, cortada pelo leito rochoso de rio de águas transparentes. Os cavalos tinham sede e fizeram uma pausa para descanso. O rio não era profundo, tão pouco havia fortes corredeiras. Suas águas eram gélidas, mas os cavalos não se recusaram a cruzá-lo.

Após a travessia, depararam-se com o restante da clareira e, mais adiante, uma forma curiosa lhes chamava a atenção.

- Olha lá seu Olren. Aquele tronco até parece um homem sentado.

Havia de fato, algo que lembrava um toco de árvore cinzento mais adiante. Havia um detalhe em especial: saia dele um pouco de fumaça.

- Não me parece um tronco Poul. - retrucou Örion com dificuldades para identificar a figura.

- Tronco ou não, acabou de se mover. - Informou Con. - Vamos ver o que é.

Ao chegar mais perto, percebiam o delineamento da figura com mais clareza. Com a proximidade, parecia agigantar-se. Finalmente, puderam distinguir uma face, coberta por musgo e úmida. Tinha olhos amarelados que olhavam para o céu em contemplação. A fumaça vinha de uma espécie de cachimbo que segurava com sua mãozorra.

Após exame detalhado Örion sentenciou - Acredito que é um Tardo da Floresta.

- Tardo? Isso existe? - resmungou Eskallurè.

- Ah sim, é um dos quais vocês chamam de inumanos.

O mercenário torceu a face - Óbvio, mas ele é hostil?

- Seus olhos parecem inteligentes. Talvez ele fale conosco. - Sugeriu Rílkare. - Vamos lá mais perto.

- Não fala sério? - Reclamou Eskallurè.

Örion não podia deixar passar a oportunidade - Por acaso está com medo?

- Medo? Eu? Há, olha quem fala...

Örion desmontou, avançou e anunciou - Eu vou lá.

Con e Rílkare decidiram acompanhá-lo, enquanto Poul e Eskallurè ficaram para trás com as montarias. Com cautela, o grupo chegou a pouca distância do Tardo. Örion, seguindo à frente, fez contato. - Olá? Olá senhor Tardo.

A criatura moveu-se devagar, abaixando a cabeça para observar o grupo. Tragou do cachimbo e expirou uma boa leva de fumaça. O cheiro da erva que fumava era forte e desagradável.

Com tom polido, mas com sotaque carregado falou em Saubiquense - Meu nome é Nergon. O que querem nestas terras?

Olhavam-no de baixo para cima, e o medo de uma reação negativa diminuiu um pouco após as palavras brandas do gigantesco Tardo. Sentado, era mais alto até mesmo que Poul. Ao falar, seus dentes amarelados e tortos podiam ser vistos, contornados por lábios carnudos e cinzentos. A língua era marrom escura e o fundo da boca negro. Tinha um enorme nariz e das narinas saiam tufos de cabelos negros e grossos misturados com musgo. Os olhos amarelos eram cortados por padrões radiais avermelhados e a parte branca dos olhos aparecia timidamente nos cantos. As sobrancelhas eram volumosas e podiam até ser penteadas, e, também estavam mescladas com musgo e algo parecido com pólen branco.

- Senhor Nergon, sou Rílkare Krenov. Estamos, é... hum... - Rílkare ia falar sobre os desaparecimentos, mas lhe ocorreu que a criatura poderia estar envolvida, ou mesmo, ser a responsável.

- O que querem? - O Tardo foi mais ríspido, como se estivesse perdendo a paciência.

Örion veio ao socorro de Rílkare - A propósito, sou Örion Erendon. Pode nos ajudar? Temos perguntas?

O Tardo sugou o cachimbo com intensidade e retrucou soprando a fumaça acima da cabeça do jovem silfo - Perguntas, você diz... É Erendon?

- Sim. - Tossiu duas vezes e prosseguiu - Notou forasteiros entrando e saindo da floresta nos últimos tempos?

- Forasteiros, como vocês, você diz?

- Sim, mas também qualquer um que não é destas bandas.

- Com certeza. Muito movimento. E... se eu fosse vocês, dava meia volta e saia daqui enquanto podem carregar suas vidas.

Con sentiu um calafrio. Passava em sua cabeça que se o Tardo resolvesse entrar numa luta, estariam mortos. - Nos aconselha a não seguir em frente? É isso que quis dizer?

- Sim, isso que quis dizer pequenino. Estou velho demais para ficar brigando aqui e ali, sem um motivo maior. Algum de meus irmãos mais jovens já os teria devorado, é claro.

- O que há adiante? - quis sabe Rílkare.

- Se quiser saber, vá verificar. Mas não reclame por não ter sido prevenido.

Surgiu, como do nada, um pequeno ser voador. Era da altura de uma garrafa, porém bem mais magro. Suas asas não podiam ser vistas, pois batiam numa velocidade incrível, como as de um besouro. Foi diretamente ao ouvido de Nergon e cochichou algo.

- Hum. Ah é? Huumm... Hou. Rã-rã. - Nergon escutava com interesse.

Örion aguardou o fim do relato e perguntou - E este, quem é?

- Cretàh. Cretàh é meu nome.

Con observou o pequenino com atenção. Este aproximou-se e gritou sinalizando, imitando a voz de Con - Xô! Xô! - Fez uma pausa e gargalhou irritante - Cá-cá-cá-cá-cá...

Tratava-se de uma espécie de fada, de feições angulosas e tom de pele cinzento e escuro. Tinha cabelos espetados, grossos como as cerdas de uma vassoura. Seus pequenos olhos vermelhos não chegavam a brilhar como haviam brilhado no escuro. Seu sorriso ora era maroto, ora malicioso. Mas sempre sorria, mostrando dentinhos pequenos e pontiagudos. Tinha sobre o corpo, uma vestimenta que parecia ser feita de minúsculas plantas vivas e entrelaçadas, como uma trepadeira.

- Dê-nos algum ouro, e responderemos mais perguntas - sugeriu o pequenino.

Rílkare mostrou algumas moedas. E Cretàh voou a seu redor ziguezagueando.

- Ora, ora! Ouro! - vibrou o pequenino.

- Sabem sobre raptos de humanos?

Nergon acenou com a cabeça. - Sei quem poderá lhes responder, mas como disse, não recomendo procurá-la.

- Procurá-la? Quem?

- Ardívilla. Cretàh me disse que ela está rio abaixo, nas margens do lago negro.

Rílkare curvou-se e disse - Agradecemos a ajuda de vocês dois, Nergon e Cretàh.

- Que tenham sorte em sua busca. - replicou o grandalhão.

- Obrigado - disse Örion.

- Muita sorte! Cá-cá-cá! Muita cá-cá-cá sorte! - repetia o serzinho zombeteiro.

Recuaram e subiram em suas montarias.

- E então? O que disseram? - disse Eskallurè.

- Depois explicamos. Vamos rápido, rio abaixo! Ligeiro para retornarmos antes do anoitecer.

***

A cavalgada rápida animou um pouco a viagem. Logo penetraram nas partes densas da floresta. Não muito longe de onde encontraram as duas curiosas criaturas, puderam ouvir uma bela melodia. Havia um instrumento de cordas acompanhado por uma voz suave e graciosa. Cantava uma canção sombria e pesarosa que parecia expressar um profundo desgosto ou desengano.

- Será que é a tal Ardívilla? - perguntou Rílkare.

- Sim, suponho que sim. Ela tem uma voz muito bonita, não acham?

Con acenava com a cabeça - Verdade, mas não entendo o que canta.

- Ela canta o antigo sílfico. Aprendi um pouco com meu avô.

- Uma das suas? Eu já devia saber que esses raptos só podiam se coisa de silfos mesmo.

Örion olhou furioso para Eskallurè.

- O que diz a canção, seu Olren?

- É um pouco difícil de traduzir. Fala sobre o amor. Um amor impossível, um amor interrompido, um amor à guerra. Sangue e outras coisas mais. Na realidade, essa canção está me dando arrepios. Que terrível uso para as palavras!

- Preparem-se então. Pois deve sobre algo terrível que Nergon nos preveniu. Entre as informações de que precisamos e nossas vidas, não hesitem em escolher nossas vidas, certo?

- O que, seu Rílkare?

- É o seguinte Poul, se houver uma luta, será para valer. Capturar prisioneiros para ter informações poderá não ser possível, entende?

- Certo, para cair matando.

- Isso. Vamos adiante.

Aproximaram-se do lago, mas não havia uma clareira como esperavam. O lago era na realidade uma área inundada entre as árvores, e, nesta parte as copas pareciam mais densas, deixando o local todo sob penumbra. Logo puderam ver quem cantava. Havia uma rocha grande e escura, de superfície lisa e lustrosa, parcialmente coberta de lodo, que emergia das proximidades da margem. No alto estava, como se pousasse para um pintor, a bela Ardívilla. A visão de uma linda mulher, ou melhor, silfa, deixou os cinco um pouco atordoados. Diferente das mulheres de Saubics e das damas da floresta de Adrastinn, Ardívilla usava poucas roupas. Suas pernas estavam nuas e utilizava um saiote curto, de tecido rubro e escuro. O peitoral estava coberto por um corpete de couro rígido tingido de um vermelho vibrante. Usava botas do mesmo couro tingido. Seus cabelos eram louros, compridos, finos e pareciam ser leves. O tom dos lábios era de um vermelho intenso e usava fortes pinturas no rosto, com os olhos ressaltados por uma sombra púrpura. Seu rosto era bastante simétrico e delineado com traços finos e delicados. Apoiava na pedra a harpa que tocava com dedos delicados. Atrás de si, as águas escuras e quietas do lago negro. Logo à frente, toda sua imagem podia ser vista refletida, com perfeição nas águas turvas, mas quietas.

- Tanta falação por causa de uma mulherzinha tocadora de harpa? - comentou Eskallurè num tom baixo.

- Quieto! Ela deve ser uma feiticeira poderosa.

Ardívilla tocou as últimas notas de sua melodia e disse - O rapaz tem razão. E você um dia vai morrer por causa dessa sua língua grande.

- Ela também fala nossa língua - deixou escapar Con.

- Desculpe-nos incomodá-la, mas falamos com Nergon e ele nos disse que poderia responder...

- Nergon? Aquele Tardo velho e inútil... Nem devia ter deixado vocês passarem... Quanto mais, dizer onde me encontrar.

- Pode nos respon...

- Eis a única resposta que terão aqui: ver o que acontece depois da vida! Há há há há há!

A água do lago começou a borbulhar. Emergiram cabeças e depois corpos. Homens e mulheres pútridos, alguns sem olhos, outros sem pele. Brancos, mas de tez azulada pela morte, outros com a carne exposta e escurecida. 

- Credo! - exclamou Poul. - São defuntos.

Örion sentiu-se enjoado e tonto. O cheiro era terrível. Os cavalos reagiram muito mal, empinando e dando coices. O primeiro a cair foi Örion. Rílkare saltou para acudí-lo. Os demais logo souberam que não teriam vantagem em lutar montados com seus cavalos tão agitados. Dezenas de mortos-vivos saiam da água, enquanto a necromante divertia-se com o atabalhoamento de Rílkare e seus companheiros.

Poul, instintivamente, atacou o primeiro morto-vivo com seu machado, separando a cabeça do corpo. Con dava estocadas consecutivas em uma morta que caminhava em sua direção sem muito efeito além de fazer vazar água escura dos ferimentos.

Örion segurava o vômito no alto da garganta e era acobertado por Rílkare, enquanto Eskallurè seguia os passos de Poul atacando o pescoço das criaturas. Uma espadada de Eskallurè não foi suficiente para separar a cabeça do corpo. Com a cabeça suspensa por um fio, o morto segurou o braço do mercenário com uma força que o fez gemer.

- Arrgh! Eles são muito fortes.

Poul veio ao socorro de Eskallurè arrancando a perna da criatura que tombou, sem largar o braço do mercenário.

- Droga Poul, tira ele de mim!

Poul cortou o braço da criatura fora e Eskallurè recuou.

Örion concentrava-se ao máximo para convocar uma forte brisa. Assim que o vento começou a soprar, o odor desagradável foi diminuindo. O próximo passo era acalmar os animais.

- Rilks. Segure-os por uns momentos. Vou tentar chamar e acalmar os cavalos.

- Segurar Örion? Ai! - o contrário justamente acontecia. Um dos mortos segurava Rílkare apertando com muita força. Con lançou uma adaga com perfeição penetrando o crânio através do olho direito. De imediato, o morto tombou.

- Pelos Deuses, Rílkare, acerte a cabeça! - Alertou o guarda.

A situação piorava. Mais mortos surgiam e se aglomeravam. Por mais que Poul derrubasse um a cada instante, dois ou três tomavam seu lugar.

- Agora! Vamos! - gritou Örion enquanto aos cavalos vinham ao encontro deles num galope rápido.

Zitrehidel praticamente colocou Örion em seu lombo baixando a cabeça e depois erguendo-a. Rílkare subiu em Ferro-em-brasa com facilidade. Con e Eskallurè subiram, mas Poul estava em pior situação. Örion comandou o cavalo de Poul com sua magia e este distribuiu uma série de coices furiosos contra a multidão de mortos que o rodeavam. Poul montou, mas em seguida um morto agarrou sua perna e deu nela uma boa mordida.

- Desgraçado! - urrou Poul. Reagiu com um golpe certeiro do machado contra o crânio da criatura. O crânio partiu em dois e o morto afrouxou a pegada. O cavalo escapou para junto dos demais.

- Que foi aquilo!! - exclamou Eskallurè

- A mulherzinha tocando harpa - zombou Örion.

- Ela que enlouqueceu os cavalos? - quis saber Con.

- Foi. Da mesma forma que depois eu os convoquei. - respondeu Örion.

- Vamos dar o fora daqui antes que nos alcancem. - disse Rílkare intensificando o ritmo da cavalgada.

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