12

Tem Avenged sim, se achar ruim coloco como banda preferida do Louis.

Louis POV:

Os gritos aumentaram. Papai está gritando com a mamãe agora, ele está falando coisas sujas para ela, coisas que mamãe me ensinou a nunca dizer.

Eu desço as escadas, devagar. Observo a sala e vejo o quão bagunçado o lugar está. Mamãe nunca deixa a sala bagunçada. Ando até a cozinha e posso ouvir mais nitidamente a voz do meu pai, ele está gritando com ela. Gritando muito.

Me escondo atrás do balcão e escuto um barulho estridente ecoar pela cozinha, foi um tapa. Uma lágrima escorre em minha bochecha, mamãe sempre apanhava quando o papai chegava bêbado, primeiro era ela e depois eu. Ele deu mais alguns tapas e socos nela e subiu as escadas, certamente indo em direção ao meu quarto.

Eu saio de trás do balcão e vou correndo para os braços da mamãe, ela me aperta tão forte. Suas mãos envolvem minhas costas e minha cabeça fica na curva de seu pescoço, mandando lufadas de ar quente por todo o local.

— Vai ficar tudo bem, pequeno. – mamãe beija meu cabelo e eu posso sentir suas lágrimas caírem.

Os passos na escada podem ser ouvidos novamente, meu pai está furioso. Passos largos e rápidos, em menos de alguns segundos ele estará na cozinha. Me aperto ainda mais nos braços da mamãe e espero pelos gritos do papai. Eu deveria estar na escola.

— Aí está você, seu viadinho de merda – papai me puxa pelo colarinho. Minhas pernas estão balançando no ar. — Você ainda não apanhou o suficiente por ter me provocado, merece apanhar até não conseguir respirar mais – ele me joga no chão.

Vários chutes atingem minha costela e meus pulmões. Mamãe está chorando e tentando parar o papai, mas nada adianta. Ela acaba apanhando mais ainda e eu, eu acabo com um gosto estranho na boca e sem consciência alguma.

Um trovão me assusta e eu bato com a cabeça no volante. Estou pingando em suor e minhas pálpebras estão ardendo. Pego meu celular e desço do carro.

Uma chuva extremamente forte está caindo, e eu acabo por sair correndo no meio dela e entrar na fraternidade. O relógio marca quatro e meio da manhã, ninguém deve estar acordado. Eu devo ser o único retardado que acorda esse horário por conta de pesadelos estupidos.

Ando até a cozinha, talvez tenha sobrado alguma caixinha de chá para eu fazer. Está tudo escuro, até que uma luz bem fraca me chama atenção. Está vindo da cozinha, obviamente. Mas ela está fraca.

Sons de mastigação são ouvidos e algumas risadas, ando bem devagar e acendo a luz.

— Porra! – Niall grita cuspindo todo o cereal que está em sua boca.

— A comida some dessa casa por sua culpa. O pessoal vai amar saber disso, sério – falo abrindo a geladeira.

— Você me assustou, merda – fala e coloca uma colher bem grande de cereal e leite na boca —, o que está fazendo acordado?

— Pesadelos – respondo rápido e levo a garrafa de leite até minha boca.

— Você precisa se tratar – Niall me encara.

— Você é a segunda pessoa que me fala isso em menos de vinte e quatro horas, estou começando a ter certeza de que sou doente.

— Não só doente. Você é uma mistura de tudo, agora me passa o leite porque isso daqui tá ficando ruim – coloco a garrafa na mesa e começo a abrir os armários em busca de chá.

— Uma mistura de tudo? Não, Niall! Eu apenas não sei demonstrar o que eu sinto, até sei, mas da forma mais errada possível. Eu sou um merda quando se trata de sentimentos. – bato a porta do armário com tudo assim que pego uma caixinha de Yorkshire tea.

— Você é assim, sim. Louis, se você tivesse sua vida regrada, ou até mesmo pensada, creio que não seria assim.

Harry tem a vida assim e a creio eu que seja uma merda viver assim. Coisas anotadas, regras para seguir.

— E você tem a sua vida planejada para querer mandar eu fazer isso? – coloco água para esquentar.

— Sim. Quando eu sair da faculdade, certamente irei para algum estúdio. Irei produzir alguns caras e serei dono de uma gravadora, ou, serei um simples cara que faz demos – ele levanta e anda até a geladeira —, e você, o que vai fazer? Lembre-se que a vida não é só diversão, drogas e garotas.

— Não gosto de pensar no futuro. Talvez eu nem esteja aqui.

— Você e essas coisas, enfim, cuidado com a água – fecha a geladeira e volta a sentar no balcão —, ultimamente você não se encontra nesta dimensão.

Isso era de fato verdade. Minha cabeça estava em Harry. Desde o dia em que eu o vi pela primeira vez.

Coloco o chá na água e espero dissolver, sento novamente no balcão e olho meu celular. Não há nenhuma mensagem dele. Será que ele recebeu?

— Seu celular tá funcionando? – pergunto para Niall que acaba de colocar uma barra de chocolate na boca.

— Harry não te respondeu? – ele pergunta com a boca cheia.

— Não! – rolo os olhos e levo minha xícara para a boca.

— Hoje na faculdade você fala com ele, dê um tempo também. Convide-o para o treino, quem sabe ele curta isso – Niall sugere.

— Que treino? – pergunto confuso.

— Treino aberto. Futebol. Os jogos começam semana que vem, Louis – ele ri e volta a comer sua barra de chocolate.

— Merda! – eu xingo e me levanto.

Termino meu chá e vou para o meu quarto, minha roupa está totalmente molhada e eu estou começando a ficar com dor de cabeça. Abro o guarda roupas e pego uma calça de moletom e procuro minha toalha no meio da bagunça... Alguém entrou aqui e arrumou tudo.

— Agradeça ao Zain. Ele me chamou para arrumar tudo isso, mas eu não quis. Deve ter chamado Liam – Niall fala escorando na porta. — Não quero nem imaginar o que eles fizeram nessa cama depois que arrumaram esse chiqueiro.

— Foda-se! – chuto alguma coisa e saio do quarto, esbarrando em Niall que me xinga.

Entro no banheiro e tranco a porta, apoio minha mão na pia e olho para o espelho.

Meu rosto como sempre está inchado, bolsas roxas rodeiam meus olhos. Eu realmente estou horrível. Porém, eu não me importo. Tiro minha roupa e entro no chuveiro.

Deixo a água cair sobre meu corpo durante um bom tempo. Me perco em meus pensamentos. Várias coisas passam pela minha cabeça, e uma delas, é a minha infância.

Eu tive uma infância tão merda. Meu pai me batia sempre que tinha oportunidade, até que ele resolveu sair de casa. Minha mãe só trabalhava, mal tinha tempo para mim.

Foi ai que eu mudei. Conheci o mundo em que eu supostamente vivo hoje. A bebida se tornou algo que me acalmava, sempre foi assim e sempre vai ser. Posso ter o mesmo destino que o meu pai: um alcoólatra de merda. Mas eu realmente não me importo, esse foi o exemplo que ele me deu.

Não é porque ele é o reitor de uma das faculdades mais fodidas dos Estados Unidos que eu devo me orgulhar dele, ele mesmo não deve sentir orgulho do que ele é. As merdas que ele fez no passado certamente o cercam até hoje.

Temos demônios que sempre vão nos cercar, independentemente se você se tornar uma pessoa boa, ou continuar no mesmo caminho. Os demônios do passado sempre te acompanharam e com certeza, eles vão piorar sua vida na primeira oportunidade que tiverem.

Por isso eu me fecho para tudo. Por isso sou frio. Sempre uso da minha ironia e do meu sarcasmo, foi a única coisa que eu achei para me defender. Posso ser filha da puta com muitas pessoas, mas quando eu me tranco no quarto eu volto a ser o menino inseguro e que tem pesadelos todas as noites. O menino que apanhou do pai por ter um gosto diferente.

Fecho o registro e balanço minha cabeça, fazendo água espirrar por todo o banheiro. Me enxugo e coloco minha calça, saio do cômodo e volto para meu quarto. Niall está jogado na cama.

— Sabe, eu nunca entendi isso. Esse lance de você se trancar aqui e nunca deixar ninguém entrar.

— Você mesmo disse, 'não podemos confiar no pessoal dessa fraternidade', eu só faço isso. Não confio neles, até porque, Zain entra aqui a hora que bem entende e você também.

— Você confia na gente? – Niall para de jogar a bola de golfe no teto e me encara.

— Não confio em ninguém, meu caro Niall. – me jogo na cama e pego meu celular, esperando uma mensagem de Harry — Ele não respondeu, são quase seis horas da manhã e ele ainda não respondeu.

— Louis, deixa o cara em paz. – Niall rola os olhos e volta a jogar a bolinha, até que ela acerte sua cara e ele sossegue com isso.

— Bem feito! Que horas é o treino? – pergunto.

— Oito e quarenta, eu acho. Não preciso me importar, vou ficar no banco.

— Eu tenho aula ás sete, vou chegar atrasado. Avise o treinador e saía do meu quarto – empurro o loiro que cai de cara no chão.

— Você me paga – ele rosna e sai do quarto, batendo a porta.

Volto a olhar para o meu celular, sem resposta alguma. O sol já está nascendo e nada de Harry, merda.

Jogo o aparelho longe e coloco meu travesseiro no rosto, soltando um grito tão alto que eu mesmo fiquei com dor de cabeça depois de ouvi-lo.

•••

Estaciono meu carro e espero Niall descer, a lata velha dele deu problema e ele resolveu que iria  pegar carona comigo.

Ando até o porta malas e pego meu material, digo, meu violão, por pegar mesmo, vou deixar ele no quarto de Zain.

Só tenho aula de literatura hoje, graças a Deus. Tenho uma aula de teatro, mas não irei por conta do treino.

Pego minhas coisas e ando em direção a cafeteira, preciso comer alguma coisa. Preciso me manter acordado. Meu celular vibra e meu coração para.

'Obrigado! Eu não sei nada de você para falar algo do tipo, mas não me importo. Só seja você mesmo e tenha um bom dia. Te vejo no treino? Niall me chamou.

PS: acho que você não amarrou seu tênis. Xx, H'.

Olho para trás e vejo um sorriso de covinha me encarando. Harry está adorável, pena que ele está com uma coroa de flores. Eu o cumprimento rapidamente e ando em direção ao dormitório. A porta está trancada, sorte que eu tenho uma cópia da chave, entro no cômodo e o cheiro de morango e rosas impregna minhas narinas.

O cheiro dele.

Jogo meu violão na cama e amarro meu tênis. Tranco a porta e vou para a aula de literatura, já que é a primeira. Sento no meu lugar de sempre e espero que todos os nerds cheguem e se acomodem.

Vozes. Barulhos de chicletes sendo mascados. Saltos batendo. Isso está me irritando.

Harry entra na sala com seu copo de café e rindo de alguma coisa que Liam diz para ele. O mesmo senta na carteira ao lado da minha e me lança um olhar cortante, que porra.

— TPM, Payno? – eu cochicho em seu ouvido.

Liam apenas revira os olhos e volta sua atenção para Harry, que conta alguma coisa sem sentido para o amigo. Quando o encaracolado levanta os braços, posso notar que a tatuagem temporária ainda está em seu pulso. Ele percebe o meu olhar e logo abaixa as mangas do suéter cinza que cobre seu tronco.

Professor Smith entra na sala e começa a falar, ele só fala merda. Olho para Harry e noto o quão focado ele fica nessa aula, ou em todas. Apoio minha cabeça na carteira e fico observando o modo como ele morde a caneta; o jeito que ele escreve; a risada baixinha que ele acabou de soltar.

Fecho os olhos com força e os abro novamente, Harry continua ali. Ele não é um sonho.

Ele está sorrindo para Liam. Eu sinto a necessidade de afundar um de meus dedos em suas covinhas, isso seria tão infantil. Passo praticamente a aula toda observando Harry e seus cachos, a cada movimento que ele fazia, eles se moviam. Era a coisa mais ingênua e adorável do mundo.

Harry é muito bom para tudo isso. Harry é muito bom para mim.

O sinal toca e eu saio do transe, ando em direção a porta. Sinto uma mão cutucar meu ombro assim que fecho a mesma, mãos suaves e aquele cheiro de morango.

— Hey! – Harry aperta seus livros contra o peito.

— Olá. – respondo rápido.

— Você mal prestou atenção na aula hoje – ele me encara. As orbes verdes estão gigantes e com brilho, as bochechas estão coradas, seus lábios carnudos em um tom rubro, e eu posso ouvir seus batimentos daqui.

— Eu preferi prestar atenção em você – sussurro com a voz mais rouca que eu consigo na orelha de Harry. — Te vejo no treino – me afasto e coloco as mãos no bolso.

Não preciso olhar para trás para ter a certeza de que deixei Harry desconcertado. Um sorriso orgulhoso brota em meu rosto e eu ando calmamente para o ginásio.

Algumas garotas me cumprimentam, outros cochicham quando eu passo. Alguns até ficam me encarando.

O ginásio não é tão longe assim da sessão de Inglês, em menos de dez minutos estou dentro do vestiário.

Alguns caras andam de um lado para o outro, procurando seus armários. Zain está com uma toalha enrolada na cintura e rindo de alguma coisa que Niall falou.

É tão bom ver meus únicos amigos assim, felizes. Enquanto eu simplesmente tento entender o que estou sentindo, não sei se é um misto de desejo e paixão. Amor. Não sei e não me importo, não agora.

A risada de Niall é tão escandalosa que ecoa por todo o vestiário e vários outros jogadores começam a encara-lo. Eu me aproximo e apoio meu braço em um dos ombros do loiro.

— Temos um intruso aqui, certo Malik? – eu falo em um tom brincalhão.

— Certo, Tomlinson. Querido Horan, queira se retirar, por favor. – Zain abre espaço e manda Niall sair.

— Nem morto! – o loiro exclama.

— Não seja por isso – Zain tira sua toalha, ele está sem nada por baixo. O moreno começa a andar na direção de Niall.

Niall corre tanto que em menos de dois segundos está fora do vestiário e todos no local começam a rir, até que Josh entra. Ele encara todo mundo e para seu olhar em mim.

Ou ele é um psicopata e sua vítima sou eu, ou ele me ama muito e gosta de me perseguir. Pois, Josh saiu de Donny para estudar na mesma faculdade que eu. Na verdade, eu sai de lá, ele apenas me seguiu.

Desde o dia em que ele jurou fazer da minha vida um inferno só por ter vazado a merda do vídeo. Mas tudo bem, ele já fez o que queria. Depois daquela surra que ele me deu e ainda por cima, gravou tudo e jogou na internet. Ele transformou minha vida em uma piada, e eu sou grato a ele.

Com isso eu aprendi a ser mais frio e de quebra, saí de uma cidade do interior da Europa para estudar na capital da California.

Pego meu uniforme e me troco, Zain já está vestindo o dele. Ele apenas me olha e sorri de lado. Eu bagunço o seu topete e saímos do vestiário.

O ginásio está praticamente vazio. Alguns alunos ocupam os lugares na arquibancada; outros andam no campo. Eu apenas me sento na grama artificial e fico observando as pessoas.

Elas acabam por fingir emoções, amizades só para serem aceitas. Qual é, estamos na faculdade, quem liga para status? Quem liga em ser popular ou não? A maioria dessas pessoas ligam para isso. Principalmente as gêmeas, Mandy e Molly.

— E aí, capitão – Niall senta ao meu lado.

— Zain está por perto, cuidado – zombo com a cara do meu melhor amigo.

— Vai á merda. Eu só vim te avisar que: Harry está sentado bem atrás de você e ele está com a câmera dele – Niall levanta e me empurra, fazendo meu corpo cair na grama.

Xingo ele mentalmente e me viro para olhar um garoto de cachos com uma câmera fotográfica na mão. Harry está sorrindo, sorrindo demais para Liam que afaga seus cachos.

Me levanto assim que o treinador resolve reunir todo o time, isso é apenas um treino, mas é o primeiro treino aberto do ano e temos platéia. Obviamente é uma preparação para o jogo de semana que vem.

Ele divide o time em dois. Josh é o capitão do time adversário. E eu sou o capitão do outro time. O som do apito é ouvido e a bola começa rolar pelo gramado.

Eu me sinto tão livre quando jogo, é uma coisa inexplicável. Zain passa a bola para mim e eu tento fazer uma jogada, mas acabo com um chute na canela que me deixa possesso em raiva.

E assim o jogo anda, chutes e mais chutes. Algumas faltas; cartões. Alguns chutes na canela e outros revidados. Particularmente, foi o melhor treino até agora.

O final do treino é declarado e Zain para ao meu lado com a bola embaixo de sua chuteira e com uma garrafa de energético. Coloco minhas mãos na cintura e fico observando os alunos saírem da arquibancada e voltarem para a vida de merda que eles levam, não que a minha seja uma das melhores, mas pelo menos eu não preciso sair fingindo para conseguir amigos.

— Bom treino. – ele entrega a garrafa de energético para mim.

— Você mandou bem, bro – passo a mão em seu ombro e o puxo para um abraço. Jogo metade do energético nele.

— Olha as merdas que você faz. – Zain bufa.

Andamos em direção ao vestiário e quando chegamos lá, Niall está sentando com uma câmera na mão. Ele me entrega a mesma e fala para eu guarda-la, pode ser útil mais tarde. O loiro não deixa Zain tomar seu banho e o arrasta para fora do vestiário que aos poucos vai ficando vazio.

Ando até a ducha mais próxima e a ligo, água quente. Melhor coisa. Uma ducha quente era tudo que eu queria, então em dez minutos eu me perco ali.

Me enrolo na toalha e volto para o meu armário. Pego a câmera e a ligo, olhando as fotos. Várias fotos do treino, e uma delas me chama atenção. Momentos antes de entrar no vestiário, eu e Zain conversando. Uma bela foto, continuo passando até chegar em outra.

Eu estou nela. Tocando piano. Essa câmera é do Harry, que caralhos Niall estava fazendo com ela.

— Louis? – eu pulo no banco e coloco a mão em meu peito enquanto a outra segura a câmera.

— Fala! Porra, assuste outro. – grito, não sei quem está aqui.

— Eu te assustei? Desculpa, baby. Não tive a intenção.

— Que merda você está fazendo aqui? – pergunto.

— Eu vim te ver, como sempre fiz depois dos jogos.

— Molly, não. Por favor, saia daqui – eu empurro seu corpo para fora do vestiário.

A menina de cabelo rosa começa a me xingar de todos os nomes possíveis, até que ela para. Ouço outra voz. Molly está fingindo estar cansada, isso é estranho. Muito estranho.

Começo a me vestir. Calça skinny preta, meias e vans. Procuro por uma camiseta, mas não acho nada. A porta do vestiário abre novamente, mas dessa vez ninguém diz nada.

Consigo ouvir apenas os passos lentos se aproximando e talvez um cheiro de morango no ar.

— Hey – a voz rouca se faz presente —, desculpa te atrapalhar, eu vim pegar minha câmera. Niall falou que estaria com você.

— Ótimas fotos, Hazz – eu pego a maquina na mão e entrego para ele.

— Oh... Você viu.

— Sim, eu vi. Principalmente aquela que eu estou tocando – percebo o rosto de Harry corar, suas sardas ficam visíveis e eu só tenho vontade de beijar cada parte de sua bochecha.

— Obrigado – ele pega a câmera e nossas mãos se tocam. — Você sente isso também, esse choque?

— Sempre que estou com você, bizarro – eu me aproximo —, ele percorre todo meu corpo e eu fico com vontade de beijar cada parte do seu corpo. Cada pequena parte sua. Merda, Harry.

— Eu também... Eu sinto tanta vontade de me entregar para você, mas já vi que está em outra. Então eu vou embora – ele vira seu corpo. — Ah, você fez um bom treino hoje – sua voz está fraca e meio embargada.

— Harry, o que a Molly te falou? – pergunto.

— Que ela estava de pernas bambas e que você também estaria.

— Não aconteceu nada disso. Eu estou cansado, mas pelo jogo. Não acredite nela – eu me aproximo e começo a passar meus dedos pelo rosto de Harry.

— Você não me deve satisfações... Eu não me importo – eu coloco meu dedo em sua boca, fazendo ele fechar a mesma lentamente e deixar um pequeno beijo na ponta do meu indicador.

— Eu devo. Na verdade, não devo, mas ela insinuou uma mentira que envolvia meu nome, então eu te falei a verdade – retiro meu dedo de sua boca e passeio com ele pelo seu pescoço. — Você acha muito estupido eu querer te beijar agora?

Eu não deixo Harry responder, apenas junto nossos lábios e o empurro para os armários. Prendendo seu corpo ali. Meu beijo é forte, necessitado. Eu queria ter feito isso e mil coisas ontem, mas ele acabou dormindo.

Puxo seus cachos e faço com que ele arqueie sua cabeça, me dando a visão perfeita de seu pescoço. Beijo cada ponta dele, cada mísero lugar. O gosto de morango fica em minha boca.

Seus lábios vermelhos anseiam por mais um beijo, mas eu o provoco. Passo meu piercing em seu lábio inferior; roço minha barba pelo seu pescoço e por fim, dou uma pequena mordida em seus lábios e os colo com os meus, novamente.

Harry suspira pesadamente e puxa meu cabelo. Ele é tão delicado. Coloco minha perna entre as do encaracolado, prendendo seu corpo nos armários e fazendo com que ele se levantasse.

Ele não passa suas pernas em minha cintura, porém elas ficam presas no meu quadril.

Harry ainda está com a câmera em seu braço, eu tiro o objeto dali e coloco dentro do meu armário.

Após fazer isso o encaracolado começa a passear com suas mãos por todo o meu abdômen. Ele passa os dedos por cada tatuagem que tem ali, por cada lugar existente. Ele faz isso e a minha pele queima por mais, o desejo está me corroendo. Eu preciso disso, eu preciso de Harry.

Seus dedos andam na direção da minha calça e acabam por brincar com os passantes dela. Eu intensifico o beijo e sinto Harry fazer a mesma coisa, um de seus dedos entram dentro da minha calça.

Meu corpo todo fica tenso. Ele percebe isso e logo para de me provocar, não era para ele parar. Eu volto a beijar sua boca com mais força, minha língua passeia por cada parte. Nossas línguas dançam em perfeita sincronia, uma entende o que a outra quer fazer e assim, deixa com que ela faça.

— Eu tenho aula. – ele sussurra assim que solto seus lábios.

— Fica comigo? – eu pergunto.

— Não posso, Lou. Eu tenho aula. Essa faculdade é importante para mim.

— Só uma aula – eu imploro. Harry revira os olhos e tira suas pernas do meu quadril.

— Não! – ele arruma seu cabelo e deposita um selinho rápido na minha boca. — Me mande uma mensagem assim que acabar suas aulas, talvez a gente converse – ele sussurra tranquilamente e morde a ponta da minha orelha.

Eu bufo assim que o encaracolado sai do vestiário e me deixa aqui, com a calça totalmente apertada. Um tesão do inferno e um desejo incontrolável de querer ele para mim.

Harry esqueceu sua câmera, nada mais justo do que levá-la até seu quarto, só para poupa-lo.

O quarto está vazio. Fecho a porta tranquilamente e entro no cômodo. Meu violão ainda está no mesmo lugar, apenas a mochila de Zain de diferente no quarto. Ando até a cama de Harry e abraço seu travesseiro. Rezo mentalmente para que o cheiro dele fique em minha blusa.

Seu criado mudo contém alguns exemplares de clássicos da literatura, Jane Austen é a primeira.

Emma é a primeira obra. Logo em seguida Orgulho e Preconceito, O Morro dos Ventos Uivantes. Harry gosta de romances água com açúcar, estranho não ter achado Romeu e Julieta aqui. Arrumo os livros na ordem exata e ando até o closet dele.

Ele realmente tem algum tipo de TOC. As roupas estão separadas por cor e tamanho. Os sapatos também, isso me irrita. Harry me irrita.

O vidro do seu perfume, abro o mesmo e espirro um pouco no ar. Só para sentir o cheiro mais uma vez, não é a mesma coisa que sentir no corpo de Harry, mas é alguma coisa.

Saio do closet e coloco a câmera em cima da cama dele, com um bilhetinho nela.

'Seja mais atento! Não fique tão desconcentrado.

PS: não terei mais aulas hoje. =) L'.

Eu devo estar parecendo um louco fazendo tudo isso, mas é assim que o encaracolado me deixa. Ele me deixa louco; insano. Harry me deixa com vontade de querer cada milímetro dele, me faz querer desejar cada centímetro de seu lindo e belo corpo.

Fazia tanto tempo que eu não sentia isso, há tantos anos eu escondo meu verdadeiro eu. Eu escondo isso por conta do meu pai, ele me fez ser assim. Ele me fez ter nojo de beijar garotos, ele me ensinou que: homens e mulheres ficam juntos. O resto era considerado errado.

Eu era errado para ele, eu sempre fui o errado para ele. Na verdade, eu sou o errado para todos.

Sempre fui e sempre vou ser, não importa quem tente mudar isso, nunca irá conseguir. Eu sou errado para o mundo e o mundo é errado para mim, talvez isso seja meu carma.

Pego meu violão e saio do quarto, ando em direção ao estacionamento. Ligo meu carro e vou para a fraternidade, é uma quarta feira. Aquilo deve estar vazio.

Aumento o som no ultimo e deixo Nightmare entorpecer meus ouvidos. Os solos de guitarra dessa música são insanos, doentios. E por incrível que pareça, essa música me define. Ela define minha vida.

...Still dancing with your demons, victim of your own creation. Beyond the will to fight, where all that's wrong is right. Where hate don't need a reason, loathing self-assassination.

O amor é o próprio homicídio.

Estaciono meu carro e entro na fraternidade, como previsto, não tem ninguém aqui. Uma onda de cansaço toma conta do meu corpo.

Subo lentamente as escadas, me arrastando e pelos degraus.

Abro a porta do meu quarto e me arrasto até a cama, de uma para outra o sono me pegou. Talvez seja errado dormir para acordar vinte minutos depois gritando por conta de um pesadelo, mas eu não posso evitar.

Me jogo na cama e fecho os olhos lentamente. Me deixando levar pelos pensamentos que tanto me atormentam.

— Looooooou, vem brincar comigo – Peter, um amigo me chama para brincar com ele.

Não gosto de ficar perto dele, eu sempre fico com vergonha e começo a gaguejar por nada. Peter me deixa nervoso. Arrumo minhas mãos no suéter que tem o dobro do meu tamanho e me junto a ele.

Peter tem a minha idade. Ele tem olhos verdes e algumas sardas espalhadas pelo rosto. Seu cabelo é liso e ruivo, ele é o menino mais lindo que eu já conheci. Não sei muito bem o que eu sinto por ele, pois tenho apenas seis anos. Mas ele faz com que minhas mãos fiquem geladas toda vez que andamos juntos ou apenas conversamos.

— Eu gosto do seu cabelo, Lou. A cor dele é bonita, você é bonito – o ruivo cora ao falar isso.

— Você também é, Peet. Um dos garotos mais lindos que eu conheço.

E nesse mesmo instante, Peter junta nossos lábios. Foi um selinho, mas um selinho que transformou minha vida em um inferno.

Meu papai me pega pelo colarinho e me tira dali, me leva para o carro e me bate. Ele me bate tanto que meu nariz começa a sangrar.

Papai diz que eu preciso apanhar mais, então ele me bate até o caminho de casa. Assim que chegamos em casa, ele me joga no chão e a mamãe começa chorar. Papai fala tudo para ela.

Jay, minha mamãe me coloca em seu colo e sobe comigo para o quarto. Me dando leves beijos e falando que tudo vai melhorar. Era só uma crise nervosa do meu papai, ele teve um dia cansativo.

Papai entra no quarto e começa a gritar com ela, ele está diferente. Não é o mesmo de sempre, algo nele é tão familiar.

— Harry! – acordo gritando. — MERDA!

Harry mais uma vez apareceu em meu pesadelo, porém dessa vez ele estava no lugar do meu pai. O que isso quer dizer? Antes ele estava me salvando, agora ele estava me levando para o abismo.

Talvez seja isso.

Talvez eu salve Harry, e no mesmo instante eu acabe levando-o para o abismo. Talvez eu seja o demônio na vida de Harry.

Ou simplesmente eu sou o cara que vai virar a vida dele de cabeça para baixo.

•••

Eu tenho dó do Louis, às coisas pelas quais ele passou e mesmo assim continuou firme e forte – vocês ainda vão ver, o pai dele fez tanta merda –. Orgulho desse personagem que eu criei, pelo simples fato dele ligar o foda-se para tudo e seguir a vida. Recomendo que façam isso.

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