06

Harry POV:

Meus olhos estão inchados por conta da noite de ontem. Liam resolveu que iria me trazer para os dormitórios; ele fez isso, mas estava bêbado demais para voltar. Eu apenas deixei ele na cama de Zain.

Zain. Louis.

Louis quase me matou por eu ter entrado em seu quarto, ele me humilhou como todos sempre fizeram e essas bolsas embaixo dos meus olhos são por culpa dele.

Eu chorei a noite toda por culpa de um projeto de pessoa! Eu não consigo imaginar que ele, Louis, tenha uma estante de livros em seu quarto, uma estante de clássicos, por sinal.

Louis é um mistério, ele é tão rude, tão idiota. É impossível que um tatuado e hipócrita como ele tenha lido todos aqueles livros, é impossível de se imaginar que Louis alguma vez já leu alguma coisa, a não ser o rótulo da bebida que ele vai beber na noite.

Ele volta a ser uma incógnita que eu não quero resolver.

Eu só queria saber por qual motivo eles faziam isso comigo, incluindo Zain. Eu mal falo com ambos. Niall é o único que pode ser gentil, mas Liam falou para eu ficar esperto com ele.

Pego uma troca de roupa e rumo ao banheiro, rezando para que ele esteja vazio. Não demoro nem quinze minutos em meu banho, pois o tempo está frio e aparentemente vai chover.

Ótimo dia para ficar na cama e assistir qualquer coisa na Netflix.

Retorno ao meu quarto e noto que Liam não está mais esticado no chão, ele foi embora. Sem ao menos se despedir, ou um até logo. Ele devia estar atrasado. Coloco meu tênis e pego meu material.

Finalmente! O primeiro dia de aula na faculdade. Eu estou ansioso, mesmo achando que a faculdade não é tudo isso, deve ser só por conta do meu colega de quarto e dos amiguinhos dele, quem sabe eu ainda me surpreenda.

Pego minha câmera fotográfica, eu preciso fotografar esse lugar. Ainda mais aqueles prédios antigos, pego minha bombinha também.

Saio do quarto e ando até a cafeteria, peço um café forte e me sento em uma mesa vazia. Algumas pessoas andam pelo pátio, todos sorrindo. Alegres. Que pena que a maioria não se sente realmente assim.

Me levanto e ando em direção a minha sala, mesmo não sabendo ao certo onde é. Eu estou no pavilhão de música quando gotas de água começam a pingar em meus livros. Abro a primeira porta que eu vejo, é um auditório. E tem alguém tocando piano bem no palco, eu fico observando a melodia ecoar pelo local. Isso daria uma ótima foto. Pego minha câmera e bato uma foto.

— Que porra você está fazendo aqui? Isso foi uma foto? – eu conheço essa voz, mesmo não querendo conhecer.

Louis anda em minha direção, os olhos estão focados nos meus. O seu tom de azul está escuro, podendo ser comparado com o oceano em um dia chuvoso.

A porta atrás de mim se fecha, me assustando e fazendo com que minha câmera escorregue da minha mão, indo em direção ao chão.

— Oops! – Louis está na minha frente e com a minha câmera em sua mão.

— Oi! – ele me entrega a máquina fotográfica.

— Desculpa te atrapalhar, está chovendo e eu não sei onde é a minha sala. – eu falo rápido demais, tentando não parecer nervoso.

— Eu não pedi explicações. Eu só quero saber por qual motivo você tirou uma foto minha. – ele fala em um tom seco.

— Eu não tirei uma foto sua. – nego.

— Para de mentir, você tirou. Eu ouvi o barulho do flash. – ele diz com um tom de sarcasmo em sua voz — eu não ligo se você quer uma foto minha em seu quarto, pedisse para Zain. — Louis fala convencido.

— Você é tão seguro de si, isso me dá nojo. – eu ando até a porta.

— E você é tão inseguro, isso me dá nojo. Vá para a sua aula e se enterre naqueles livros, achando que algum dia irá encontrar alguém que lhe faça sentir tudo que é descrito neles. – ele diz rindo.

— Falou o cara que tem uma estante de clássicos no quarto. Será mesmo que você é esse Louis que todos conhecem? Ou é apenas um fantoche que a sociedade manipula? – eu devolvo.

— Será mesmo que você se importa com alguma coisa que vem de mim? – ele pergunta.

— Sinceramente? Não! Eu só quero distância de pessoas como você. – abro a porta e saio dali, mesmo na chuva.

Ando pela parte coberta, até chegar em um corredor com letras bem grandes escrito 'HISTÓRIA INGLESA'. E essa era a minha primeira aula.

Entro na sala e todos me olham, inclusive Liam. Que merda ele está fazendo aqui? Oh, ele também estuda inglês.

— Sr. Styles. Atrasado no primeiro dia. – o professor me recebe.

— Eu não sabia onde era a sala, me desculpe.

O professor assente eu me sento na primeira carteira, que por sinal está vazia. A aula passa tranquilamente, apenas com o roteiro do que vamos aprender esse semestre e uma redação sobre o nosso momento histórico preferido.

O dia passou voando e eu me xingo mentalmente por não ter pego apenas quatro horários, estou no quinto e quase morrendo. Novamente é uma aula de literatura, literatura inglesa, para ser mais exato. Liam está sentando na primeira fileira.

— Hey, Hazz. – ele acena para que eu me sente ao seu lado.

— Hey... – coloco meus livros em cima da mesa.

— Está gostando? – Liam me pergunta, calorosamente.

— Estou cansado, mas está tudo bem. – o professor entra na sala e passa alguns exercícios para fazermos.

Tudo estava indo tão bem quando o reitor bate na porta e chama o professor Smith. Logo em seguida, ele retorna a sala.

— Bom, eu acabei de falar com o reitor e parece que vamos ter um aluno novo aqui, apenas para assistir algumas aulas, como bônus em seu currículo universitário, Louis Tomlinson, pode entrar.

Meu corpo fica estático assim que Louis entra na sala, ele me encara e solta um sorriso fraco.

— Que maravilha! – ele debocha.

— Ele é um merda. – Liam sussurra.

— O que você tem contra ele? – eu pergunto.

— Nada! – Lee me olha e sorri fraquinho, fazendo seus olhos diminuírem.

— Você parece um urso quando sorri assim.

E o professor retorna a explicação. Sinto algum movimento atrás de mim e me viro, vendo Louis sentado com o celular na mão. Ele me olha por alguns segundos e solta um sorriso, por mais falso que seja.

Cinquenta e cinco minutos se passam e aula acaba, creio que esse vai ser um dos meus horários preferidos. Tirando história, que sem sombra de dúvidas já é o meu predileto.

— Vejo vocês amanhã. – professor Smith saí da sala.

— Te vejo mais tarde? – Liam me pergunta.

— Depois que eu revisar toda a matéria de hoje, quem sabe. – eu o abraço e deixo um beijo em sua bochecha.

— Que coisa linda. Ainda bem que não vou ter que ver isso todos os dias. – Louis debocha.

— Só de segunda, terça, quinta e sexta – eu o encaro.

— Ainda acho muito tempo. Não quero pegar a inteligência de vocês. – ele arruma seu cabelo em uma franja.

— Olha, ele assumiu que é burro, quem sabe Liam pode lhe dar algumas aulas particulares. – reviro meus olhos.

— Não, obrigado. Tenho pessoas mais importantes para fazer isso, ou melhor tenho coisas mais importantes para fazer do que falar com você.

— Opa! Quem começou essa conversa foi você. – encaro seus olhos, que estão em um tom de azul celeste — Mas quem está terminando ela sou eu, passar bem, Tomlinson.

— Cada dia mais afiado, gosto disso. Passar bem, Styles.

— Se eu ficar te encontrando toda hora, eu não vou passar bem. – eu encaro seu corpo e o imagino sem nenhuma tatuagem. Louis realmente é atraente, pena que o ego dele o estragou.

— Pegue um lenço da próxima vez, a baba está escorrendo. – Louis dobra a esquina e some no meio das pessoas, mal deixando eu concluir uma resposta.

Estava tão na cara assim? Eu tenho que ser mais discreto.

•••

A semana passou tão rápido, Louis havia faltado todas as outras aulas da semana. Eu só via ele no dormitório quando tinha treino. Louis arrastava Zain pelos cabelos até o ginásio.

Enfim sexta, a primeira semana de aula está quase concluída. Eu estou na minha penúltima aula, ansioso para que ela acabe logo e eu possa discutir sobre orgulho e preconceito com o professor Smith, já que esse era o nosso primeiro trabalho.

Eu pego meu exemplar e rumo para a sala de literatura, Liam está me esperando no lugar de sempre.

— Deixa eu adivinhar, Mr. Darcy certamente é o seu herói. – Louis passa por mim e me encara.

— Na verdade, sim. Quem não teria ele como exemplo? – eu o questiono. — ou melhor, creio que você não o tenha como herói, até porque nem deve ter entendido o apelo dele. – me sento ao lado de Liam.

— Um homem rude? Que só pensa em si mesmo e não sabe como se apaixonou. Que belo herói temos aqui. Eu particularmente, se fosse Elizabeth mandaria ele para a merda e seguiria com a vida. – ele leu o livro, isso me fez voltar para o dia em que eu entrei em seu quarto, aquela estante de livros certamente é dele. Louis ganhando alguns pontos comigo.

Começo a rir sozinho com a escolha de palavras e me pego imaginando Louis lendo, deve ser adorável.

— Então você concorda que Elizabeth é uma idiota intolerável? – ele pergunta e Liam pigarreia ao meu lado.

— Não. Sem sombra de dúvidas ela é uma das mais fortes personagens que a Literatura Inglesa já teve. – Louis ri, uma gargalhada escandalosa e eu me junto a ele, fazendo com que ele pare imediatamente e me olhe, fazendo o clima ficar tenso entre nós.

Professor Smith entra na sala e muda totalmente o rumo da aula, passando uma prova sobre o livro.

— Parece que seus argumentos para defender a Sra. Bennet vão ficar para outra hora. – Louis debocha.

Acabo a prova em menos de vinte minutos e entrego o pedaço de folha ao professor, me retirando da sala e esperando por Liam. Alguns minutos depois, o rude e insignificante Louis saí da mesma e me encara, ele não diz nada, apenas se distancia.

Pego meu celular e mando uma mensagem para Gemma, perguntando quando ela vem me visitar, a resposta é instantânea. Esse final de semana vai ser repleto de doces.

— Posso saber o motivo desse sorriso? – Liam está na minha frente.

— Gemma vem esse final de semana, mal posso esperar para me entupir de doces e ouvi-la falando dos namoros que não deram certo.

— E você? Como anda sua vida amorosa? – Liam pergunta, sem sentido algum essa resposta.

— Nick foi o último, e eu não gosto de lembrar disso. – eu suspiro enquanto entramos no quarto.

— Tem festa hoje, você quer ir? – Lee me pergunta.

— Nop. – eu digo rápido.

Liam me olha e franze os lábios — Por que você chorou na outra festa? Eu só lembro de entrar no meu quarto e ver seus olhos vermelhos.

— Não foi nada... Era só dor de cabeça e o álcool fazendo efeito, você sabe, meu lado menininha chorona aparece quando eu bebo. – eu me sento ao lado dele.

— Não foi por causa do Louis ou de qualquer um? – Liam insiste.

— O que você tem contra eles?

— Merda Harry, você já me perguntou isso milhares de vezes.

— E você nunca me respondeu. – rolo meus olhos.

— Louis é um convencido de merda, que se acha no direito de fazer o que bem entender com as pessoas. E os amigos dele agem da mesma forma. Eles julgam as pessoas sem nem ao menos conhece-las. — ele suspira.

— E? Por que isso te atinge? – eu o encaro.

- Por motivos óbvios: eu era amigo deles quando entrei aqui, ainda sou, mas não na mesma intensidade, por isso fui morar na fraternidade. Eu era grudado com Louis, até ele começar a vender drogas e acabar fodendo com tudo. Ele foi pego, e jogou a culpa em mim. E até hoje, quando perguntam se ele me conhece, ele nega e não suporta as pessoas que andam comigo. Por isso eu me preocupo com você, Louis não é inocente em merda nenhuma do que ele faz, e a raiva que ele sente por mim, pode ser descontada em você.

— Mas como descobriram ele? – eu pergunto.

Josh. Ele tem algumas coisas pendentes com Louis e vendia também, acabou dedurando para o diretor, que por incrível que pareça é pai de Louis, ele pressionou o garoto e Louis acabou dizendo que as drogas me pertenciam, ele apenas vendia. Eu fiquei dois meses suspenso, voltei para Londres e escutei merda dos meus pais, não fiquei nem uma semana lá e voltei. Na fraternidade ninguém falava comigo, até Louis querer crescer pro meu lado e acabar apanhando. Agora por favor, não vamos falar disso. – ele focou seus olhos na cama de Zain — eu tive um caso rápido com ele, Zain. E isso deixou Louis mais irritado comigo, pois segundo ele, os amigos dele não deveriam sair pegando pessoas que ele não gostasse, ainda mais se o melhor amigo dele ficasse com o inimigo supremo. Louis diz não gostar de gays, mas Zain me disse que isso vem do passado dele. Então alguma coisa aconteceu lá.

— Mas você é bi, não gay. – eu deitei minha cabeça no colo dele.

— Eu sei, mas Louis acha que eu sou homossexual. Porém, eu pego a garota mais gostosa dessa faculdade.

— Eu não sabia disso – falo rindo. — Quem é ela?

— Sophia Smith, ela é filha do professor Smith, está no segundo ano de Sociologia.

— Uhh, ele namora a filha do professor. – começo a fazer cócegas em Liam.

— Cala a boca. E vá se arrumar, nós temos uma festa para ir. Eu prometo que cuido de você.

— Mas Lee... – faço bico.

—Harry Edward, pegue suas roupas e vamos logo. – ele falou sério.

— Virou meu pai? – comecei a gargalhar com a cara que ele fez.

Peguei uma troca de roupa e joguei dentro de uma mochila, e saímos do quarto, rumo a fraternidade.

•••

Já estava anoitecendo e o pessoal estava chegando, a movimentação na casa estava aumentando. Eu acabei de sair do meu banho, Liam estava no banheiro agora e eu estava no quarto dele, me arrumando.

Coloco uma calça jeans escura, mais justa do que eu costumo usar. Uma camiseta branca e por fim, uma jaqueta jeans. Sem coroa de flores hoje. Todos na faculdade amaram ela, várias garotas me pediram para fazer algumas para elas, e eu fiz.

Liam entrou no quarto com uma calça, praticamente pronto. Ele andou até o guarda roupas e pegou uma blusa azul e a colocou. Colocou seu tênis e arrumou o cabelo.

Eu estava em dúvida, converse ou um vans.

— Coloca o converse preto, vai ficar melhor com a roupa. – Liam diz arrumando seu topete

Concordo. Vou para frente do espelho e começo a arrumar meu cabelo, um emaranhado de cachos revoltados. Deixo eles em uma franja, caindo em meu rosto algumas vezes.

— Pronto. – eu falo borrifando um pouco do meu perfume.

Liam me puxa para fora do quarto. Vejo Niall no corredor e o cumprimento, ele é adorável. Descço as escadas e sentio no sofá, esperando que ninguém me notasse no meio desse mundo de gente que anda para lá e para cá com seus copos vermelhos com alguma coisa alcoólica dentro.

— Você está bem melhor assim, sem coroa de fores. – Louis está bem na minha frente, me encarando.

— Você está me elogiando, milagre. – eu me levanto e ele rola seus olhos por todo o meu corpo — quer um lenço? A baba está escorrendo.

— Oh! Styles, você realmente não faz meu tipo, pare de gabar. Estou surpreso por te ver por aqui novamente. Espero que você não chore igual uma menininha outra vez.

— Espero que você não seja rude comigo novamente. – devolvo e me afasto, Louis está com o seu olhar preso em mim, eu posso sentir seus olhos em meu corpo.

Algumas horas se passam e a festa está lotada, Liam está beijando uma morena, que suponho ser Sophia na cozinha. Eu estou sentado no sofá, com um copo de água na mão. Quando um Niall sorridente senta ao meu lado, e um grupo de pessoas tatuadas se junta a ele, e um tempo depois até mesmo Liam está nessa roda.

— Vamos brincar! – Niall grita — quer brincar do que, Harry? – ele me pergunta, seu hálito de vodka batendo em meu nariz.

— Oh, me tirem dessa.

— Qual é Hazz, vamos brincar. – Liam insiste e percebo o olhar de Louis em mim, com uma cara de deboche.

— Verdade ou desafio. – ele sugere e levanta seu copo em minha direção e no mesmo instante uma menina de cabelo roxo senta em seu colo.

— Verdade ou desafio! – todos falam alto demais, concordando.

— Passa essa garrafa. – um cara moreno de olhos castanhos me olha e aponta para a garrafa que está ao meu lado.

Eu pego ela e jogo na roda, Liam puxa meu pé e eu caio de bunda no chão.

Niall roda a garrafa.

— Harry para Tristan. – Liam grita.

— Eu não estou jogando. – eu falo baixo.

— Até parece que ele iria jogar, teria de deixar de ser o menino certinho para jogar isso.  – Louis fala e  todos riem, exceto Liam e Sophia. Isso me irritou, me irritou muito. Louis está me encarando com aquela porra de cara de deboche.

— Verdade ou consequência? - Tristan me pergunta.

— Verdade? – respondo confuso fuzilando Louis com os olhos.

— Você é gay? – ele pergunta.

— Sim. – eu reviro os olhos e todos focam no jogo novamente.

Vários desafios são feitos, Louis teve que beijar varias garotas em menos de cinco segundos, Liam virou uma garrafa de vodka sozinho. Niall virou dois shots de tequila e Zain teve que tirar sua camiseta.

A garrafa roda e novamente caí em mim e... Louis.

— Desafio. – ele responde antes mesmo de eu fazer qualquer pergunta.

— Eu... Hmm. – eu não sei o que falar.

— Tira a porra da camiseta. – Mandy fala no meu lugar, Louis coloca seu copo no chão e tira a camisa.

Seu peitoral está exposto, mostrando todas as tatuagens que ele tem ali. Isso é tão sexy. O modo como a tinta preta contrasta com a pele bronzeada dele, me faz perder o foco. Ele é fodidamente atraente e sexy. Sophia me acorda falando para eu prestar atenção no jogo. Niall acaba beijando algumas garotas, outras acabam tirando a roupa e eu me pergunto o que eu estou fazendo aqui.

— Verdade ou desafio? – Josh pergunta.

— Óbvio que ele vai responder verdade. – Louis fala dando um gole em sua bebida.

— Desafio – até eu me assusto com isso. Começo a acreditar que eu tenho a necessidade de contrariar Louis.

— Beba um shot de tequila, se o Niall deixou alguma gota na garrafa.

— Cadê a garrafa? – Louis me encara de uma forma estranha, empurrando Mandy do colo dele e focando seus olhos nos meus.

Eu bebo três shots de tequila sem tirar meus olhos dos dele. Ele continua me olhando, talvez preocupação tenha passado por seus olhos? Ou eu que já estou bêbado demais e acabo vendo coisas.

O jogo está animado, várias pessoas começam a beber descontroladamente, inclusive eu. Já bebi  de vodka demais, tequila demais, eu estava bêbado. Eu estava prestes a dar mais uma golada na garrafa que estava em minhas mãos quando fui bruscamente interrompido.

— Você já bebeu demais. - Louis tira a mesma da minha boca e a coloca no chão. Ele está preocupado?

Pego a garrafa do chão e termino com ela de uma única vez, não tirando meus olhos de certas órbes azuis.

— É legal, né? Ficar bêbado. – Niall me pergunta. Eu dou uma gargalhada. Eu estou ficando bêbado pela primeira vez em anos.

— Verdade ou desafio, Louis? – Sophia pergunta, ela estava bêbada assim como Liam.

— E você ainda pergunta, Smith? – ele a encara.

— Beija o Harry – e todo o sangue do meu corpo foi sugado. Eu estou branco. Louis está me encarando.

— Eu não vou beijar ninguém.

Louis apenas bebe um pouco do seu copo. Ele me odeia e eu o odeio, por qual motivo ele iria querer me beijar? Ele é sexy, fodidamente gostoso, mas não. Ele é rude e idiota, eu não vou beijar essa boca rosada e fina, que deve estar com gosto de cereja. Eu não vou beijar ele.

Levanto, oscilo rapidamente quando o efeito do álcool me atinge, subo as escadas com uma certa dificuldade e vou  em direção ao quarto de Liam. No caminho eu imagino Louis se inclinando e me beijando, aqueles lábios vermelhos. Antes que eu perceba estou rodando a maçaneta de algum quarto, creio que seja o de Liam.

Entro no local e vejo que não é onde eu deveria estar, vejo um exemplar de Orgulho e Preconceito ao lado da cama. Lembro de Louis comentando sobre o livro e sorrio com isso. Pego o livro e me sento na cama.

Me perco no mundo de Darcy e sua ignorância, tudo para de rodar. Está tudo calmo de novo.

— Que porra! Você não entendeu da última vez que ninguém entra aqui sem que eu chame? – Louis explode bem na minha frente.

— Eu.. desculpa.

— Saí daqui. – ele cospe as palavras.

— Não precisa ser um filha da puta me mandando sair – da onde saiu essa coragem? É o álcool fazendo efeito.

— Você está aqui dentro de novo, mesmo eu falando que não podia. Então porra, faz a merda do favor de sair logo daqui. – ele grita.

— Por que tudo isso? Por que justo comigo? – eu pergunto e o ar no quarto muda completamente.

— Por que você está me perguntando isso? – Louis abaixa o tom de voz.

— Porque desde o dia que eu pisei aqui você sempre foi rude comigo, sempre foi grosso. Sempre com uma resposta na ponta da língua. Eu nunca fiz merda nenhuma para você, por que tanto ódio? Achei que poderíamos ser amigos ou qualquer coisa do tipo.

— Nós amigos? Harry, não.

— Por quê?

— Olha para você, você é ingênuo demais para tudo. Deve ter sido criado com todos os mimos possíveis, com sua mãe te defendendo de tudo. Sempre teve tudo na mão, nunca teve que se esforçar para ter alguma coisa. Harry, olhe para você e olhe para mim. Você usa coroa de flores e eu sou um badboy todo tatuado, somos opostos. – ele termina de falar e a minha boca está aberta.

— Olha Louis, eu não fui criado assim. Passei longe de ser mimado, passei por dificuldades. Meu pai me deixou quando eu tinha seis anos de idade. Sabe por quê? Porque ele era um alcoólatra de merda, ele maltratava a minha mãe todas as noites que chegava bêbado. Minha mãe assim que se separou dele, pegou dois turnos no emprego para conseguir pagar as nossas despesas. Com 16 anos eu comecei a trabalhar para ter dinheiro o suficiente para pagar a porra dessa faculdade, para ser alguém na vida. Para ao menos dar um pouco de orgulho para a minha mãe. Então por favor, pare de me julgar só porque eu uso coroa de flores. Eu amo ser do jeito que eu sou, e não me importo se eu lhe agrado ou não – lágrimas escorrem pela minha bochecha — , e de qualquer forma, nós não podemos ser amigos.

Ando até a porta. O álcool em meu corpo me fez virar outra pessoa, uma pessoa que eu não gosto de ser. Louis desperta esse meu lado. Louis despertar o meu pior lado.

— Onde você vai? – ele me pergunta com a voz calma.

— Para o quarto do Liam – eu abro a porta e a fecho com toda a minha força.

Deixo meu corpo escorregar para o chão em frente ao quarto de Louis, e choro ali mesmo.

— Você sempre está chorando nas festas,  merda Harry. Entra aqui. Liam deve estar fodendo a Sophia nesse exato momento – ele me puxa e me coloca dentro do seu quarto.

— Acho que sim, essas foram as únicas festas que eu tive a oportunidade de participar.

— Merda! Vem aqui – ele me levanta e me coloca deitado em sua cama -, pode ficar aqui essa noite. Eu durmo no quarto do Niall – ele solta um suspiro profundo.

— Pensei que ninguém pudesse dormir aqui.

— Não! Ninguém pode, mas eu abro uma exceção. Você está bêbado e seu melhor amigo ta fodendo a namorada ali em frente. Melhor ficar aqui – ele senta na poltrona — se vomitar no meu quarto...

— Eu só preciso de água – eu o interrompo.

— Toma! – ele estica seu braço e me entrega seu copo.

— Água. Não vodka – eu reviro os olhos.

— Isso é água, não posso beber. Tenho treino amanhã.

— Você vai sentar aqui e vai ficar me olhando? Até que eu me sinta bem? – eu só quero ficar sozinho — Você faz o meu pior lado vir á tona. – falo baixinho e dou um grande gole na água.

— Isso é desagradável – ele fala e joga sua cabeça para trás. — Sim, eu vou ficar aqui e cuidar de você. Você está bêbado, e tem o maldito hábito de tocar nas minhas coisas quando eu não estou por perto. – ele senta na cama.

Eu dou outro gole na água e sinto um gosto mentolado. Louis deve estar com alguma bala na boca, e isso me fez imaginar, pela segunda vez na noite ele me beijando. O quão bom seria sentir esse gosto de menta na minha língua.

Eu fecho meus olhos por alguns minutos e viajo. Abro os olhos lentamente, notando que vou ficar zonzo se abri-los de uma vez.

— Posso te fazer uma pergunta? – depois de minutos em silêncio, Louis pergunta.

— Sim. – eu não deveria dar corda para ele.

— O que você vai fazer depois que acabar tudo isso? – Céus! Eu estou bêbado demais para responder isso. Começo a rir, mas foco a minha atenção na pergunta.

— Alguma coisa em que eu possa exercer a minha formação, quem sabe um editor ou tão pouco, um escritor. – minha cabeça está latejando, encaro Louis em busca de alguma resposta, mas nada saí de seus lábios  — os livros... eles são seus?

— Sim! – ele responde rápido demais.

— Qual seu preferido?

— Aquele que estava na sua mão hoje. – ele ri baixinho.

O livro preferido de Louis é Orgulho e Preconceito.

Talvez ele se identifique com o Mr. Darcy, ou talvez, eu esteja fazendo um belo papel de Elizabeth Bennet. Nunca vamos saber.

O silencio preencheu o quarto novamente. Eu encarei Louis.

— O que você quer fazer quando terminar tudo isso? – devolvo a pergunta.

— Não sei, quem sabe abrir alguma gravadora. Quero trabalhar no ramo da música. Ou eu no ramo dos palcos, já que meu pai me obrigou a fazer matrícula em artes cênicas.

— Você daria um ótimo ator.

— É o que todos falam! – Louis falou baixinho demais — apenas durma, Harry. Amanhã conversaremos mais.

Louis tirou um cacho de meu rosto e afagou meu cabelo. Eu adormeci ali, na cama de uma das piores pessoas que eu já havia conhecido, mas que me trouxe uma calmaria inexplicável com apenas um toque.

Ele realmente se preocupou comigo. Louis tem sentimentos, basta a pessoa certa descobrir esses sentimentos.

•••

PS: Orgulho e Preconceito é o meu livro preferido.

Xx.

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