02

San Diego, California, 2014.

Harry POV:

— Harry, anda logo. Nós vamos nos atrasar – Anne grita lá debaixo.

— Já estou quase pronto, mãe – eu digo dobrando a última troca de roupa e colocando na mala.

Eu iria para a faculdade.

Quando minha carta de admissão na UCLA chegou eu fiquei emocionado, minha mãe chorou por três dias. Todo o esforço que eu tive, estava sendo recompensado, as noites em claro estudando; os finais de semana em casa junto com os livros.

Enquanto metade dos meus amigos iam para festas e enchiam a cara, eu ficava em casa estudando e fazendo coroas de flores.

Sempre tive um amor tão grande por elas, não sei porque. Acho que pelo fato de eu amar flores, e depois por perceber que posso fazer coroas com elas, isso me fez ficar apaixonado pela ideia. Desde que eu aprendi a fazer, nunca tirei uma da minha cabeça. Meus cachos ficam mais adoráveis com elas.

Fecho minha mala e dou uma última olhada em meu quarto, onde eu passei minha vida toda. Arrumo pela última vez a cama e fecho a porta.

Era uma nova fase que estava começando.

Desço as escadas e percebo Anne colocando a mesa, minha mãe é tão adorável.

— Você está lindo – ela diz arrumando meu suéter roxo e ajeitando minha coroa de flores.

— Eu estou nervoso – sussurro, tampando minhas mãos com a manga do suéter.

— Vai dar tudo certo, meu amor. Você está preparado para isso, você sabe que vai se dar bem – ela me conforta e coloca café em uma xícara, era a minha preferida.

— Eu sei... Mas eu tenho medo deles não me aceitarem da forma que eu sou – eu suspiro enquanto faço círculos na borda da xícara.

— É só você andar com as pessoas certas – minha mãe diz dobrando as mangas do meu suéter.

— Olá menino da faculdade – Gems entra na cozinha e deixa um beijo no topo da minha cabeça. — É nova? – ela aponta para a coroa.

— Yeah! Eu fiz ontem, acho que combina com o meu suéter – eu digo corando.

— Eu ainda acho que o curso certo para você seria moda, e não inglês.

— Mas eu amo livros.

— E coroas de flores – ela me dá um sorriso aconchegante. Eu amo tanto ela.

Termino de tomar o meu café e vou colocar a xícara na pia, talvez Gemma lave isso.

Minha mãe está na porta me esperando. Dou um último abraço em Gemma, eu espero que ela vá me ver em breve.

Pego minhas malas e olho uma última vez para minha casa.

— Vamos nessa – eu suspiro fechando a porta.

Borboletas brotam em meu estômago, espero que até chegarmos em Los Angeles elas sumam, temos duas horas e trinta minutos até isso.

Ligo o rádio e fico cantarolando uma música qualquer que está tocando. Minha mãe coloca sua mão em minha coxa e me olha com ternura, ela está tão orgulhosa de mim.

•••

— Chegamos! – Anne diz animada entrando no campus.

Ele aparenta ser grande, assim como nos folhetos e no site da faculdade. A construção é antiga, isso torna tudo mais elegante, eu gosto de coisas antigas. Olhando assim, parece ser um tanto intimidador, mas tudo me intimida. Então eu não ligo. Minha mãe para o carro e descemos.

— Boa tarde – uma morena alta vem nos recepcionar —, em que posso ajudá-los? – um sorriso branco surge em seus lábios.

— Os dormitórios, por favor! – Anne responde de uma forma educada.

A mulher não diz nada, apenas pergunta meu nome e me entrega uma chave e fala para eu seguir em frente e virar à direita.

Minha mãe agradece e nós seguimos as instruções que ela nos deu.

— Eu quero ver como anda isso aqui. Aparentemente não mudou nada desde a minha última visita.

— Mãe, isso faz mais de 20 anos – eu solto uma risada baixa  —, é por aqui, vamos.

Eu estou me sentindo livre, pela primeira vez em 18 anos! Isso é uma coisa nova.

— Qual é o número do quarto, querido?

— C28... Acho que estamos no caminho certo – olho para a parede cor de creme e vejo um grande C desenhado.

— C28! – Anne suspira parando em frente uma porta marrom orvalho; com letras douradas, indicando que esse era o meu quarto. — Preparado? – ela me olha com o mesmo brilho no olhar de sempre.

Concordo e ela abre a porta.

Eu noto que o quarto está vazio, um pouco bagunçado. Tem uma garrafa de vodka em cima da cama e um cheiro forte paira sobre o quarto.

Cigarro? Maconha?

As paredes do quarto estão lotadas de pôsteres de algumas bandas de rock, umas conhecidas e outras não.

Eu olho incrédulo para minha mãe, que está na mesma situação.

— Você quer ficar aqui? Acho que ele fuma, sua asma pode atacar – ela fala preocupada.

— Acho que está tudo bem mãe – eu falo encarando meus pés. — Ele mal deve ficar no quarto, está tudo bem mesmo. Não se preocupe — coloco minha mala em cima da cama.

— Eu não quero te deixar – Anne passa seus braços em meu pescoço —, meu garotinho cresceu. – Sinto suas lágrimas molharem meu suéter.

— Eu vou ficar bem! – envolvo meus braços em seu corpo e a levanto no ar, apertando-a. — Eu te amo tanto – deixo um beijo no topo da sua cabeça.

Ela saí do meu abraço e me encara por alguns segundos, e por fim, Anne arruma as mangas do meu suéter e minha coroa de flores. Ela sempre faz isso.

— Eu vou sentir sua falta – minha mãe diz limpando as lágrimas que caem sobre suas bochechas.

— Prometo que vamos nos falar todos os dias – puxo Anne para os meus braços novamente, inalando uma última vez o seu perfume doce. Tentando guardar esse cheiro em minha memória.

Minha mãe é a única pessoa que eu tenho, ela e a Gems. A coisa mais difícil de ter vindo para a faculdade foi ter que dizer adeus para elas.

Anne me dá um último beijo e saí pela porta do dormitório, me deixando sozinho com alguns pôsteres de bandas de rock, que estavam realmente me assustando. Eu não gosto de rock, na verdade, eu gosto. Porém, rock clássico e antigo.

Começo a desfazer minhas malas, entro no pequeno closet que há ali e noto várias roupas pretas na minha parte, se o cara que dorme aqui não estava acostumado a dividir o quarto, agora ele vai estar. Tiro aquelas roupas dali e as jogo em cima da cama dele.

Volto para o closet e começo a colocar minhas roupas nele, separadas por cor, tecido e tamanho. Eu gosto de tudo arrumado. Termino ali e volto para o quarto.

Retiro alguns pôsteres que estão do meu lado do quarto e mais uma vez jogo na cama do cara. Arrumo meu criado mudo, colocando meus livros empilhados e meu despertador em cima deles.

Aparentemente está tudo organizado. Me deito na cama e fico olhando o teto. É um tom branco, mas está totalmente amarelado e com algumas lascas saindo dele, em alguns cantos. O quarto é realmente pequeno, há duas camas e uma cômoda, nem me dou o trabalho de abri-lá. Deve estar lotada de roupas pretas.

Olho para o meu relógio, 12h45pm. Está muito cedo para dormir, então eu simplesmente me levanto e vou andar pelo campus. Tranco a porta e saio.

O lugar é muito grande, muito intimidador. Há algumas pessoas nos bancos perto dos dormitórios, eu apenas balanço a cabeça e cumprimento elas.

É tudo tão novo para mim, é tudo tão assustador.

— Olha por onde anda – um cara mais ou menos da minha altura esbarra em mim. Ele tem um topete totalmente lotado de gel, varias tatuagens, um cheiro super forte de álcool e cigarro e alguns piercings.

— D-desculpa – eu gaguejo e arrumo minha coroa de flores.

— Que seja – ele arruma seu topete e anda em direção aos dormitórios.

Ando mais um pouco e vejo duas garotas, elas têm o cabelo colorido. Uma têm ele todo roxo e a outra, com um corte curto e o cabelo totalmente rosa escuro.

Elas estão me olhando e rindo de mim, mas eu não fiz nada para elas. Abaixo minha cabeça e ando mais um pouco.

Acho que eu já vi demais por aqui, estou assustado. Só quero tomar um banho e descansar.

Volto para o meu quarto, a porta está aberta. Tem alguém gritando ali dentro.

— Anda logo Niall, porra – ele grita e eu entro no quarto. — DEUS SÓ PODE ESTAR ZOANDO COMIGO – o moreno deixa seus braços caírem ao lado do seu corpo.

É o cara do topete lotado de gel. Ele é meu colega de quarto, onde eu fui me meter?

— O-oi – eu falo. — Sou seu colega de quarto e me chamo Harry – eu estico minha mão para cumprimentá-lo.

— Que se foda seu nome, você não vai dividir o quarto comigo. Merda! – ele grita — quem mandou tirar minhas roupas do meu closet? – ele pergunta.

— O seu closet é aquele – aponto para lado do quarto dele — aquele é o meu – aponto para o meu lado do quarto.

— As coisas não funcionam assim.

— Agora vão funcionar – eu me sento na cama e fico observando a expressão de raiva que está no rosto dele. Eu estou com medo. Não sou tão corajoso assim.

Ele tem um rosto bonito, uma barba por fazer. Olhos caramelo e cílios grandes. Uma boca um tanto quanto carnuda e rosada, que dão destaque para a argola dourada que ele tem nela. Corro meus olhos pelos seus braços, um tanto quanto musculosos e percebo as diversas tatuagens que ele têm.

Ele é bonito.

— Tá me olhando por quê? Nunca viu? – ele é rude.

— Uma pessoa tão rude quanto você? Não, nunca vi – bufo e me jogo na cama.

Harry pare de querer crescer para cima dele, você é fraco demais para isso.

Ele foi guardar às roupas que estavam em sua cama e voltou alguns segundos depois, acendeu um cigarro.

— Desculpa, mas eu tenho asma. Você não pode fumar aqui, de qualquer maneira – eu digo procurando minha bombinha, já sentindo minha garganta fechar.

O moreno revira os olhos e saí do quarto. Não sei quanto tempo ele fica lá fora, mas ele demora para voltar.

Ele para em frente sua cama e começa a mexer em seu celular.

Eu me levanto e alguém bate na porta, um cara loiro e cheio de tatuagens está atrás dela. Um outro cara estica sua cabeça e me olha.

— Ainda bem que vocês chegaram – o meu colega de quarto está bufando de raiva.

— O que houve, dude? – o garoto loiro pergunta — Prazer, Niall – ele estica a mão para me cumprimentar.

— Prazer. Harry – eu o cumprimento de volta, com uma voz um pouco baixa.

— Isso aconteceu – O cara moreno diz apontando para mim —, eu já deixei bem claro que eu não iria dividir quarto com novatos – ele bufa.

Eu estou com o olhar preso na parede do quarto, já percebi que não sou bem-vindo aqui. Volto a olhar para Niall. Ele tem olhos azuis, um cabelo loiro descolorido e várias tatuagens, uma me chama atenção. É uma cobra indo em direção ao seu pescoço.

Assustador.

Resolvo olhar para o cara moreno que está atrás dele. Ele também tem piercings, e tatuagens. Ele está usando uma regata que deixa seus braços visíveis, me dando a visão de todas as tatuagens que ele tem ali. Os olhos dele são azuis, um pouco mais claros que o do loiro. Ele tem uma boca fina e rosada, uma pequena barba por fazer toma conta de seu rosto. Percebo que ele nota que estou o observando, começo encarar meus pés e brincar com as mangas do meu suéter.

— Agora vai! – o cara moreno de olhos azuis fala entrando por completo no quarto.

— Para de implicância, Zain. Ele é apenas um novato, você não deveria assusta-lo dessa forma – Niall diz, ele tem sotaque carregado, acho que não é daqui.— Hey, Harry. Gostei da coroa de flores, combina com seus cachos – ele diz me encarando.

— Obrigado! – respondo baixinho.

— Dude, vamos sair logo daqui, o pessoal deve estar chegando – Niall puxa o braço de Zain, que agora descobri ser o nome do meu colega de quarto. — Bem vindo a UCLA, onde festas, drogas e sexo são liberados – o loiro pisca para mim e saí do quarto.

O moreno de olhos azuis apenas revira os olhos e fecha a porta. Ele não se apresentou.

Me jogo na cama pela terceira vez em menos de duas horas.

— É só o primeiro dia, Harry. Vai melhorar, ande com pessoas certas, apenascoloco o travesseiro em meu rosto para abafar meu choro.

Eu não mereço o mundo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top