Prólogo - Parte 2
Evan D'Ávila
Ouço a voz aguda de pai Castiel gritar um palavrão e fecho meus olhos, pois dói até meu cérebro. Assim que Otávio foi realmente embora, sem sequer olhar para trás, ele me fez contar tudo o que aconteceu a ele e sua reação não está sendo das melhores.
- Que merda está acontecendo aqui? - A voz de pai Adrian se faz presente e miro meus olhos nele, vendo que meus irmãos também entram na sala com olhares curiosos.
- Pergunte ao seu filho. - Papai diz irritado e isso me faz revirar os olhos.
Todo mundo será contra mim agora? Apenas porque eu quero realizar o meu sonho?
- O que houve, Evan? - Meu pai pergunta e se aproxima alguns passos de mim, cruzando seus braços, esperando por uma resposta.
- Eu fui chamado para fazer parte dos competidores da Copa do Mundo de Rodeio desse ano, lá no Texas. - Começo e vejo meu pai abrir um sorriso enorme.
- Filho, isso é ótimo! Parabéns! - Ele diz feliz e pela primeira vez eu consigo abrir um sorriso e realmente me sentir feliz com isso, o que não dura muito tempo.
- Agora conta o resto. - Papai diz sem paciência e isso me faz bufar. Será que ele acha que tudo isso está sendo fácil para mim? Porque não está.
- Evan? - Meu pai me olha com mais atenção agora e eu me lanço no sofá, me sentindo frustrado e cansado com tudo isso.
- Otávio e eu terminamos. Ele não apoia que eu vá para longe tentar me matar e concordamos que realmente é melhor cada um seguir seu rumo. Não daríamos certo mesmo, somos o completo oposto um do outro e nunca que um futuro médico vai querer estar amarrado a um simples peão de rodeio, mesmo ele sendo rico. - Falo e me sinto incomodado com as palavras, mas elas são verdadeiras.
- Vocês o que? Você enlouqueceu, Evan? - A voz aguda de Helena chega até meus ouvidos e reviro os olhos pelo surto da minha irmã.
- Seguir meu sonho agora é enlouquecer? Quer saber? Eu cansei! Foda-se se vocês não me apoiam, eu estou sim indo embora. Não vou ficar seguindo os desejos dos outros, deixando de viver a minha vida. - Falo com raiva e acabo elevando um pouco meu tom de voz.
Me levanto do sofá com raiva e corro até as escadas, subindo apressado para meu quarto enquanto ouço os chamados em meu nome. Entro no quarto e fecho a porta de madeira atrás de mim, trancando em seguida. Deixo meu corpo deslizar sobre a superfície e logo estou sentado ao chão.
Meus olhos vão até minha cama e é impossível esquecer que há apenas algumas horas atrás Otávio e eu estávamos nos amando ali. Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e fecho meus olhos, podendo agora sentir a dor. Parece que só agora a ficha está realmente caindo de que nós não somos mais um casal. A linda história dos "primos" que cresceram juntos, eram melhores amigos e se apaixonaram não existe mais.
Apoio minha cabeça em meus joelhos e abraço minhas pernas, sentindo as lágrimas descerem com mais força agora. Nem por um segundo eu queria que as coisas fossem assim, mas infelizmente é a melhor opção. Eu amo Otávio mais que tudo no mundo, mas queremos coisas diferentes no momento e eu sei que se eu ficar apenas por ele, no futuro eu posso me arrepender e culpar ele por algo que perdi. Então é bem melhor que tudo se acabe agora do que com mais dor em alguns anos.
[...]
Ouço batidas em minha porta e abro meus olhos devagar, ainda os tendo pesados pelo sono. Me viro na cama e solto um suspiro ao ver a camiseta esquecida por Otávio em minha mão esquerda, peça essa que foi minha companheira durante a noite enquanto eu derramava todas as minhas lágrimas.
- Filho, está acordado? - A voz de papai fala do outro lado e automaticamente solto um suspiro.
- Sim, já vou. - Respondo após alguns segundos e largo a camiseta, passando as mãos por meu rosto, espantando o sono.
Tiro o edredom de cima do meu corpo e logo meus pés tocam o chão frio do quarto. Sigo até à porta e agradeço ao fato de ter dormindo com a mesma roupa que estava. Giro a chave na tranca, abrindo a porta em seguida e dou de cara com pai Castiel me olhando com calma.
- Podemos conversar? - Ele pergunta e eu apenas aceno, dando espaço para ele entrar.
Ele passa por mim um pouco acanhado e segue até à poltrona vazia, se sentando sobre a mesma. Volto a fechar a porta e me sento na beirada da cama, olhando para o chão enquanto espero ele dizer algo.
- Você é uma das pessoas que eu mais amo na vida e por alguns anos das nossas vidas só tivemos um ao outro, sabe disso, não? - Ele pergunta e eu aceno em concordância. - Eu sempre fiz de tudo para te proteger, Evan e agora não seria diferente. Você sabe que eu sempre apoiei essa loucura de ser peão, mas no fundo eu também sinto medo e com essa notícia que me deu, isso piorou. Essas competições são muito diferentes das que você já participou, são mais perigosas e podem custar a vida.
Ouço ele falar e entendo seu medo, acho que qualquer pai ou mãe sentiria o mesmo por seu filho, mas ele precisa entender que é a minha vida, então são as minhas escolhas.
- É a minha vida, papai. - Falo e olho para ele, vendo seus olhos azuis ainda mais claros.
- Eu sei, por isso estou aqui para te dar a minha bênção e saber que tem meu apoio. Você é meu filho, Evan, eu jamais ficaria contra você ou com raiva. Eu só espero uma coisa, filho. - Ele diz e se levanta, vindo até mim.
- O quê? - Pergunto e fecho meus olhos quando sua mão acaricia meus cabelos, no mesmo tom de ruivo que os seus.
- Que você não se arrependa dessa decisão. Não falo em montar... Falo sobre você deixar a pessoa que ama. - Ele diz e sinto meu coração doer novamente em meu peito.
- Posso até me arrepender, pai, mas nunca vou saber se não tentar e seguir em frente. - Respondo e abro meus olhos, vendo que ele me encara.
Ele nada diz, apenas abre um sorriso pequeno e me puxa para um abraço apertado, o qual eu retribuo com destreza.
[...]
* Três semanas depois... *
Abraço meu caçula, deixando um beijo em seus cabelos também ruivos, marca registrada de nossa família, e solto uma risada ao vê-lo chorando, já que o mesmo jurou que não iria derramar uma lágrima sequer por mim quando eu fosse.
- Para com isso, José... Em breve vamos nos ver novamente. - Falo, mas isso não parece confortar meu pequeno irmão de treze anos.
- Não confio nas suas promessas. - Ele diz e isso me faz rir ainda mais.
- Te amo, maninho! - Falo e beijo mais uma vez seus cabelos, voltando minha atenção em seguida para minha pequena família.
Eu não quis que os outros também viessem, pois são muitas pessoas e não seria legal ver tantas pessoas chorando, como se eu estivesse morrendo. Só que teve uma pessoa que não acatou meu pedido e está me olhando agora com um olhar assassino.
- Não pense que por estar longe eu não posso puxar sua orelha, moleque. - Minha bisa Clarisse diz, apontando seu dedo enrugado em minha direção e isso me faz rir, indo até ela.
- Isso jamais passou pela minha cabeça, vó. - Falo e aperto ela em meus braços, beijando sua bochecha logo após, sentindo sua pele macia e cheirosa.
- Cuidado, hein? Se você for pisoteado por um touro, pode aguardar por meus tapas também. - Ela avisa quando me afasto e assinto, ainda com um sorriso no rosto.
Olho para cada uma das pessoas aqui e sinto meu peito se apertar. Confesso que já estou morrendo de saudades de todos, mas eu preciso seguir meu caminho e ele não é aqui. Solto um suspiro e sigo até minha irmã, que tem uma expressão séria em seu rosto. Eu sempre fui muito ligado aos meus irmãos e protetor também. E por Helena ser apenas quatro anos mais nova que eu, nossa ligação é ainda maior e eu sei que ela está odiando tudo isso.
- Eu te amo, Lena! Não fique com raiva de mim por seguir um sonho meu. - Peço e vejo seus lábios trêmulos, sinal de que ela está segurando as lágrimas. Helena pode se fazer de forte, mas também tem seu lado fraco.
- Não estou com raiva. - Ela diz em um suspiro e se joga em meus braços em seguida, o que me faz acolhe-lá em um abraço. - Vou sentir sua falta, por favor... Volte para nós, tá bom?
- Eu vou voltar, maninha. - Prometo e deixo um beijo em sua testa ao me afastar.
Me viro e encontro meus pais abraçados. Pai Castiel tem o rosto banhado por lágrimas, enquanto meu pai Adrian o ampara. E eu sei que ele está sofrendo, pois é a primeira vez na vida que vamos nos afastar de verdade. Mas eu sei que ele entende também o meu sonho, por isso me deu a sua bênção, algo que foi muito importante para mim.
- Vocês são os melhores pais do mundo, obrigado por me apoiarem sempre. Eu juro que não vou decepcionar nenhum dos dois. - Falo, olhando para cada um.
- Não pense nisso, Evan. Nós te amamos, filho e somente isso que importa. - Pai Adrian diz e se afasta de papai, me puxando para um abraço em seguida. Aperto meus braços ao seu redor e me sinto uma criança novamente, sendo protegido por ele.
E não demora muito para papai também se juntar ao nosso abraço e segundos depois pai Adrian se afasta, deixando que eu abrace apenas Castiel, que chora em meu ombro.
- Me prometa que vai ficar bem. - Ele pede com a voz embargada e o aperto ainda mais contra mim.
- Eu prometo, papai. Em breve estarei de volta. - Respondo e beijo sua testa quando me afasto.
Levo minhas mãos até seu rosto e enxugo suas lágrimas, sorrindo para ele.
- Eu amo você! Amo todos vocês! - Falo e olho para cada um deles, que tem lágrimas nos olhos. E assim que termino de dizer isso, meu vôo é chamado.
Me afasto do meu pai e olho uma última vez para todos, pegando minha mala de mão em seguida. Sorrio e me viro de costas, seguindo até o portão de embarque. E enquanto ando até meu destino, sinto uma lágrima escorrer por meu rosto e uma pequena dor por saber que a única pessoa que eu mais ansiava me despedir não estava aqui, mas eu esperava o que afinal? Agora só o que importa é viver a minha vida.
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Otávio Miller
Sinto o frio em minha barriga ficar cada vez maior enquanto conto os segundos mentalmente e preciso fechar minhas mãos para conter o tremor que está nelas. Minha cabeça lateja pela dor, já que meus pensamentos não param um segundo sequer e me sinto totalmente esgotado. Fecho meus olhos, só pedindo a Deus que tudo não passe de um pesadelo, uma peça que minha mente está pregando em mim.
Solto um suspiro baixo e volto a abrir meus olhos quando ouço a porta do consultório de papai se abrir. Meus olhos logo se focam em meu pai, que sorri de forma doce para mim e caminha em minha direção com um envelope em mãos, papel esse que vai decidir a minha vida em questão de segundos.
- Quer abrir? - Ele pergunta com calma, mas eu nego com a cabeça, não tendo voz para responder.
- Tudo bem, amor. - Ele sorri pequeno e se aproxima de mim, que estou sentado na pequena maca. - Independente do resultado, saiba que seu pai e eu estamos com você, assim como seus irmãos. - Ele diz e como se de forma automática, Giovani também entra correndo no consultório.
- Desculpa, o trânsito está um caos. - Ele se justifica e seus olhos estão em mim.
Eu não preciso dizer absolutamente nada, pois logo meu irmão gêmeo está vindo até mim e me acolhe em um abraço apertado, o que me dá força. Para alguns a ligação de gêmeos pode parecer bobagem, mas eu nunca senti algo tão forte na minha vida. Meu irmão é minha base e nós sempre sabemos quando um precisa do outro, é realmente a minha alma gêmea.
- Eu estou aqui. - Gio diz baixinho e se senta ao meu lado, entrelaçando nossas mãos.
Há mais ou menos uma semana eu comecei a passar muito mal, tendo dores abdominais, enjoos e tontura. E como eu não sou um idiota e estudante de medicina, logo liguei uma coisa na outra e foi aí que meu medo se acendeu. Desde a minha separação com Evan, nós não trocamos nem uma mensagem e também não pedi notícias dele para ninguém, pois eu sei que assim é a forma mais fácil de fazer a ferida cicatrizar.
- Ok, vamos lá. - Meu pai Angie diz e vejo suas mãos abrindo o envelope com cuidado.
Sinto todo meu estômago revirar de ansiedade e tenho a sensação de que posso vomitar a qualquer momento. A mão de Giovani aperta forte a minha e é nisso que eu me concentro, apenas no toque dele.
Observo a expressão de papai e quando seus lábios formam um sorriso, eu tenho a minha resposta. Automaticamente lágrimas se formam em meus olhos, deixando minha visão turva e tenho a confirmação quando ele me estende o papel e leio a palavra destacada... POSITIVO.
- Eu vou ter um bebê. - Falo em um sussurro, pois minha voz quase não sai.
- Sim, amor... Você terá. - Gio confirma e me abraça apertado, me deixando chorar contra seu peito.
Sabe quando você se sente totalmente perdido? Bem, é exatamente assim que eu me sinto nesse momento, sabendo que eu vou ter um filho do homem que eu amo, mas ele não estará aqui para partilhar isso comigo. Eu nunca pensei que seria dessa forma que eu seria pai. Eu sempre tive minha vida planejada na minha cabeça e a questão filhos não era diferente, mas por um descuido tudo mudou e justamente na hora mais crítica para isso.
Não sei quanto tempo passo abraçado ao meu pai e irmão, mas aos poucos consigo me acalmar e pensar melhor. Independente se foi planejado ou não, eu já amo esse filho e sei que se depender de mim, ele terá tudo o que eu posso oferecer, principalmente amor.
- Filho? - Papai chama e olho em sua direção, ainda estando deitado com a cabeça no peito de Giovani.
- Não, papai. - Respondo, antes mesmo que ele fale, pois já sei do que se trata.
- Ele também é pai dessa criança, Otávio. - Ele diz de forma séria, mas eu não me abalo.
- Pode até ser, mas ele não vai saber sobre ela, não agora pelo menos. Meu filho não vai ser o culpado por estragar os sonhos dele. Deixe Evan viver a vida dele, enquanto eu vou viver a minha, cuidando do meu filho. - Falo por fim, não deixando espaço para ele argumentar.
Evan deixou bem claro para mim quais são seus planos e meu filho e eu não nos encaixamos neles. Então se eu tiver que ser pai sozinho, eu serei. O importante é cada um ser "feliz".
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Nem tudo é fácil, jujubas... O que acharam da segunda parte??
Ps: Por enquanto, não vou dar um dia para postagem, mas esse livro vai ficar no lugar de Um Amor Indomável, então assim que ele acabar, as postagens vão ficar fixas na sexta. E por enquanto vou postar quando tiver um tempinho durante um livro e outro.
Capítulo dedicado a AnnaPaulaRodriguesCa
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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