Epílogo

Otávio Miller D'Ávilla

Quatro meses depois...

Um sorriso se abre em meu rosto ao ver meus dois amores derrotados pelo sono no tapete da sala. É sábado, dia da nossa sessão de cinema. Mas meu marido e nossa filha não aguentaram a segunda rodada de filmes. Pego o controle remoto e desligo a TV. Acaricio minha enorme barriga de nove meses e respiro fundo antes de impulsionar meu corpo, para me levantar do sofá. Solto um suspiro com o peso e seguro meu ventre, dando um passo até Evan, mas paro quando sinto o líquido escorrer por minhas pernas.

Por um momento meu corpo inteiro paralisa e só volto a raciocinar quando a primeira contração se faz presente, me fazendo gemer. E eu nem preciso chamar por meu marido, Evan está acordado no segundo seguinte, se colocando em minha frente.

- Tatá! A bolsa estourou? - Ele questiona, preocupado, mas nada sai da minha boca.

É involuntário, minha mente me leva há anos atrás, quando entrei em trabalho de parto pela primeira vez, esperando ter Luz em meus braços. Sinto arrepios repassando meu corpo e todo meu corpo treme de medo.

- Ei, Otávio... eu estou aqui. - A mão de Evan segura meu rosto com delicadeza e seus olhos se fixam nos meus.

- E se acontecer o mesmo? - pergunto e só então percebo que estou chorando. Lágrimas molham meu rosto e soluços escapam por minha boca.

- Não vai acontecer, vai ficar tudo bem. Confie em mim. - Ele pede e enxuga minhas lágrimas. - Agora respira devagar e vamos pegar suas coisas e do bebê.

Me concentro em suas palavras e assinto, respirando fundo algumas vezes. Após alguns minutos consigo me acalmar e só então deixo Evan me ajudar a ir para o carro. Ele pega tudo o que precisamos e também acorda John, que está ficando em nossa casa esses dias, exatamente para quando eu entrasse em trabalho de parto poder cuidar de Zoe.

Evan segura minha mão durante todo o trajeto até o hospital e isso me ajuda a não surtar. Também aproveito para avisar nossos pais que nosso pacotinho de amor está chegando.

- Fique calmo, ok? Vai dar tudo certo, nada de ruim vai acontecer... vocês são fortes - ouço papai Angie dizer do outro lado da linha e uma lágrima solitária escorre por meu rosto.

- Estou confiante que sim - respondo, tendo firmeza da minha resposta pela primeira vez.

Infelizmente, quando se tem um trauma tão grande, é impossível esquecer de tudo que aconteceu. Luz também estava saudável, não apontaram nada de errado durante a gestação, mesmo assim ela não foi para os meus braços. Durante todos esses meses eu tentei ao máximo não deixar o medo tomar conta, mas ele sempre esteve a espreita. Mesmo eu colocando isso em foco em quase todas minhas sessões de terapia, é difícil deixar uma dor tão grande para trás. É humano, nós somos treinados para ter medo daquilo que nos causa dor.

Mas nesse momento, tendo meu marido ao meu lado enquanto entro na sala de cirurgia, eu sei que as coisas serão diferentes. Dará tudo certo porque há um anjo, minha Luz, olhando por nós lá de cima.

- Vamos começar, Otávio. Fique tranquilo. - O médico aviso e assinto, sentindo Evan apertar sua mão que está entrelaçada a minha.

Meu marido se mantém ao meu lado em todo o momento, dizendo palavras de conforto e o quanto me ama. Confesso que isso me faz esquecer de tudo ao meu redor e só sou trazido a realidade quando o choro forte toma conta de todo o quarto. Os olhos de Evan se cruzam com os meus e neles eu vejo a minha emoção refletida em forma de lágrimas.

- E aqui temos um garotão saudável e com pulmões bem fortes. - O médico brinca, nos fazendo rir em meio ao choro. - Quer cortar o cordão umbilical, papai? - Ele pergunta para Evan e incentivo meu marido com um sorriso.

Evan solta minha mão para cortar o cordão e minutos depois o vejo voltar para o meu lado, dessa vez com nosso Kiran em seus braços. Nosso raio de Luz.

Por um momento eu sinto meu coração parar de bater em meu peito, tamanha a emoção que sinto quando meu filho é colocado em meu peito. Posso ver cada pequeno detalhe dele e o amor explode dentro de mim. O seu calor me invade e só então posso ter a certeza de que sim... deu tudo certo. Meu filho está aqui, vivo e comigo.

[...]

Realmente os bebês nascem com carinha de joelho, mas vamos combinar... eu pari meu próprio marido, isso é nítido. Kiran é idêntico ao pai e não duvido nada que seus olhos sejam iguais aos de Evan. O que é totalmente injusto.

- Nove meses para gerar você, amor - brinco com Evan, enquanto admiro meu menino que está dormindo em meus braços enquanto aproveita seu mamá.

- O sangue desses ruivos é forte - meu sogro diz com graça, nos fazendo rir.

- Deve ser por isso que se apaixonou - meu padrinho alfineta.

- Sem dúvidas, meu cabelo de fogo - tio Adrian diz, abraçando o marido, deixando um beijo em sua bochecha.

- Ele ainda pode ser um ruivo cacheado - papai diz, me consolando. Ele está ao meu lado, velando o sono do neto.

- É, quem sabe... - dou de ombros. Mas sendo sincero, isso pouco me importa. Meu filho é perfeito do jeitinho que é.

- Parabéns, filho. Estamos orgulhosos da família que você construiu - pai Enzo diz e isso me emociona, mais uma vez.

- Isso só foi possível porque tive os melhores exemplos - falo, sincero.

Sinto os dois me abraçarem com cuidado e deixo um beijo em cada um. Nossos pais ficam por todo o horário de visitas e quando eles se vão aproveito para descansar.

Evan D'Ávilla Miller

É meio estranho pensar que eu sou responsável por dar origem a uma pequena vida. É ainda mais louco saber que sou responsável por essa pequena pessoa. Meu sonho sempre foi ser pai, ter uma família com Otávio e agora que tudo isso aconteceu fico extasiado.

Acompanhar toda a gestação de Otávio foi incrível, poder ajudar em cada momento, fazendo suas vontades ou apenas ali acariciando seu ventre. E ter Zoe durante todos esses meses só elevou minha felicidade. Posso dizer que sou realizado.

Antes eu pensava que ser o campeão mundial de um rodeio era ter a realização, mas não. Minha família, as pessoas que amo são a minha realização. Olhar para Zoe, Otávio e Kiran é a minha realização, a minha felicidade. Ver o sorriso da minha família, isso é plenitude... isso é ser campeão.

- Não vai se juntar a nós, papai? - Otávio pergunta, imitando uma voz fina, como se fosse Kiran a dizer.

Após dois dias já estamos em casa e hoje Zoe pode conhecer o irmão. Apesar de querer uma irmã, a princípio, ela ficou totalmente apaixonada ao ver o bebê entrando em casa. Seus pequenos olhos brilharam e pude ver o amor ali. E nesse momento nós estamos em nosso quarto, meu marido deitado na cama, Zoe sentada ao seu lado, admirando Kiran que está nos braços do pai.

Sorrio para eles e sigo até a cama, me sentando do lado de Zoe, a abraçando. Diferente do que Otávio pensou, nosso pequeno tem seus olhos escuros. O que deixou meu marido feliz, já que em suas palavras nosso filho é a minha cópia. E modéstia parte, é mesmo. Os olhinhos de Kiran olham para o pai enquanto mama seu leite na maior tranquilo e essa cena aquece meu coração de várias maneiras.

- Obrigado por mais esse presente - digo, rente ao ouvido de Otávio, vendo meu marido se arrepiar.

Seus olhos desviam para me olhar e sinto meu coração acelerar quando ele abre um sorriso. É incrível como me apaixono mais por esse homem a cada dia. Às vezes me pergunto como pude aguentar longos anos longe.

- Eu que agradeço pela família que me deu, Evan. Sem você nada disso poderia ser possível, pois só sou completo ao seu lado. - Ele diz e é impossível não me emocionar com suas palavras.

- Ei, eu tô aqui... sem romance, papais - Zoe interrompe nosso momento e não posso deixar de rir. Essa pequena é terrível.

- Sem romance? O que é isso agora? - Otávio pergunta com humor, vendo a menor séria.

- É... sem beijinhos. Tem que dar atenção ao Kiran e a Zoe. - Ela diz e eu não aguento, solto uma risada alta que acaba assustando nosso bebê.

- Ah, estrelinha... o que eu faço com você? - pergunto e ataco ela com cócegas, podendo ouvir suas gargalhadas e vários, "para, papai!".

E é nesse clima que o novo membro de nossa família é recebido em casa.

[...]

Um ano depois...

Um sorriso banguela com poucos dentinhos de leite se abre para mim e abro meus braços em um convite. Kiran bate palminhas e com um pouco de dificuldade se coloca de pé. Seu pequeno corpo cambaleia, mas ele se mantém de pé e com confiança começa a dar o primeiro passo. O sorriso em meus lábios quase rasga minha face e meu coração parece uma escola de samba em meu peito.

- Isso, vem com o papai Evan - falo com entusiasmo e Kiran solta um gritinho animado.

Zoe está atrás do irmão, igualmente animada e pronto para caso ele caia no chão. Mas isso não acontece, Kiran se mantém confiante e cada passinho seu é dado com firmeza. E não demora para que ele se lance em meus braços, rindo do seu grande feito do dia.

- Pegou isso, Tatá? - Olho para meu marido e vejo ele com lágrimas nos olhos, todo orgulhoso, enquanto tem a câmera fotográfica em mãos.

- Sim. Aí, meu bebê já deu seus primeiros passinhos. - Ele diz com emoção e deixa a câmera de lado, vindo até nós.

Deixo beijos no rostinho de Kiran e logo ele é atacado por seu outro pai.

- E está fazendo um aninho - lembro, acolhendo Zoe que se senta em meu colo.

- Parece que foi ontem que descobrimos sobre ele... o tempo passa tão rápido - Otávio diz com um suspiro, deixando mais um beijo em nosso pequeno, que nesse momento abriu sua camisa, procurando por seu Tetê e sugando seu peito em seguida.

- Sim, até a Zoe cresceu um centímetro - implico com minha filha, que faz um pequeno bico e cruza os braços.

- Não foi um centímetro, papai, foram um centímetro e meio. - Ela diz e não posso deixar de rir de sua observação.

- Oh, é mesmo... esqueci do meio centímetro, desculpe estrelinha - peço e mordo levemente sua bochecha, ouvindo sua risada gostosa.

- Ei, cadê os parabéns do Ki? - Zoe pergunta, estando louca pelo bolo que fizemos noite passada.

Hoje Kiran está completando seu primeiro aninho de vida e Otávio e eu concordamos em não fazer uma grande festa, já que ele ainda é muito pequeno e a comemoração seria mais para nós. Então decidimos fazer apenas um bolo entre nós quatro e mais tarde um almoço na casa dos meus sogros.

- Vamos cantar ele agora - respondo com um sorriso e deixo uma cócegas em sua barriga antes de me levantar junto com ela.

Posiciono a câmera fotográfica em seu suporte e vou junto de Zoe até a cozinha. Pego os chapéus de festa e dou para ela distribuir enquanto pego o pequeno bolo que fizemos. Não está uma obra de arte, mas foi feito com muito amor e bagunça.

Coloco a vela com o número um e acendo seu pavio. Seguro o bolo com as duas mãos e sigo para a sala, onde vejo Otávio segurando Kiran no colo e Zoe ao seu lado, todos com o chapéu de aniversário na cabeça. Sorrio e então começo a cantar a famosa música de todos os aniversários.

Kiran se diverte e bate palmas animado, enquanto tem a atenção toda para si. E assim que terminamos os parabéns, o ajudamos a soprar a vela. E é impossível não rir quando sua mãozinha curiosa se fecha totalmente no glacê do bolo e ele a leva até a boca, sujando todo seu rosto no processo.

Nesse momento meus olhos se cruzam com os de Otávio e não é preciso dizer em palavras a nossa declaração mútua... nós nos amamos e isso está estampado em cada sorriso, em cada olhar, em cada momento que vivemos

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E veio !!! Espero que tenham gostado do epílogo, jujubas.

Infelizmente ninguém acertou o bolão, mas farei uma maratona em breve no livro Incompatíveis.

Bjus da Juh 😘 😘

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