Capítulo Vinte e Três
Evan D'Ávila
É uma sensação diferente e muito incomoda, já que o local da amputação dói um pouco, mas confesso que não está sendo tão torturante igual pensei que seria. Há dois enfermeiros ao meu redor, me segurando para não ir ao chão, já que é a primeira vez que experimento a prótese e não estou nem um pouco acostumado a essa novidade.
- Sente dor? - O técnico ortopédico pergunta e assinto.
- Um pouco, está incomodando. - Respondo.
- Isso é normal, o local ainda não está cem por cento cicatrizado e essa prótese ainda não atende todos os requisitos que você necessita. Só estamos fazendo o teste para adaptar ela a você, já que o modelo é o melhor.
- Ainda vai demorar muito? - Pergunto e me sinto aliviado quando eles me deixam sentar na cama.
- Não muito, você ainda vai continuar com as sessões de fisioterapia por meses, mesmo após já estar com a prótese. Mas você já vai poder usar a definitiva em um mês. Enquanto isso você vai se locomover com a ajuda da cadeira de rodas, ou as muletas, fica a seu critério. - Ele explica e eu concordo com um aceno, vendo eles retirar a prótese de mim.
- É demorado e cansativo, mas vale a pena no final. - Arthur diz, olhando diretamente para mim.
- Espero mesmo que sim. - Falo por fim, soltando um suspiro baixo. - Vou para casa amanhã? - Pergunto, ansioso.
- Sim, sua alta será amanhã. Preciso que venha de quinze em quinze dias me ver, durante um período de dois meses, mas fora isso não há mais o que te prenda aqui. - O médico responsável por meu caso diz e isso me deixa aliviado. Já estava enlouquecendo por estar nesse hospital há tanto tempo.
- Tem mais alguma dúvida, Evan? - Arthur pergunta e eu nego com um aceno. - Então vamos te deixar sozinho, já terminamos por hoje, mas se surgir qualquer questão, nós estamos a disposição.
- Ok, obrigado! - Falo e vejo eles deixando meu quarto.
Eu me ajeito melhor na cama e fixo meus olhos no teto, tentando acalmar o turbilhão de pensamentos que há em minha cabeça. É tão estranho tudo isso, ainda não sei como vou me acostumar que tudo mudou e não sou mais o mesmo de antes. Fecho meus olhos e respiro fundo, querendo tornar minha mente uma folha em branco. E consigo isso quando uma lembrança me atinge.
Estamos deitados na grama verde que cerca a casa e Otávio tem sua cabeça em meu peito. O céu está bastante estrelado e a lua ilumina tudo ao nosso redor, inclusive nós dois. Minha mão esquerda está nos cachos de Otávio, acariciando seus fios macios. E se há algo que eu amo, é tocar suas molinhas.
- Vai mesmo fazer isso? - Ele pergunta após um tempo e um suspiro escapa por meus lábios.
- Eu sempre disse que era isso que eu queria fazer, Tatá. - Respondo, um pouco vago.
- Eu sei, mas isso não apaga os riscos que você vai estar correndo, Evan. Você mesmo já viu várias pessoas se machucando feio por causa disso. Eu só não quero que isso aconteça com você, entende? Seria como ferir a mim mesmo. - Ele diz emburrado e um sorriso pequeno se abre em meu rosto.
- Prometo tomar todo o cuidado do mundo, ok? E se...
- E se nada!
- E se algo me acontecer, você ainda vai estar do meu lado, não é? - Pergunto, dando continuidade a pergunta que ele me interrompeu.
- Que pergunta idiota, Evan... é claro que vou estar, pois eu te amo. Mas eu espero que nada aconteça, estou mesmo com medo. - Ele diz e eu o aperto em meus braços, deixando alguns beijos em seus cabelos.
- Sendo sincero, eu também tenho... de verdade. Mas eu não posso deixar de viver por isso. O que for para acontecer, vai acontecer, amor... independente de qualquer coisa. - Falo por fim.
- Eu sei! - Otávio diz em um suspiro.
Pego em seu rosto, fazendo ele me olhar e sorrio ao ver um bico em seus lábios. Aproximo meu rosto do seu e selo nossos lábios, iniciando um beijo que nos faz esquecer toda essa conversa que não vai nos levar a lugar nenhum.
- Eu te amo... O infinito é pouco para se comparar meu amor por você. - Falo e vejo ele sorrir pela primeira vez.
- Bobo... eu também te amo e é impossível quantificar esse sentimento. - Otávio responde.
Volto a abrir meus olhos quando a porta se abre e vejo meus pais entrando. Fico aliviado em ver papai mais saudável e sem as constantes olheiras abaixo de seus olhos. Algo que eu odeiei mais que minha situação, foi ter causado todo esse estresse ao meu pai, que no estado em que está não é nada bom.
- Precisa de alguma ajuda? - Pai Adrian pergunta, mas nego com um aceno.
- Não, estou bem... disseram que já posso usar a prótese em um mês. - Conto a eles e vejo os dois sorrir.
- Isso é bom filho, de verdade. - Papai diz e eu concordo com um aceno, mesmo não estando tão convencido disso.
Ok, eu estou aceitando a ideia aos poucos e me adaptando a isso, mas eu ainda não estou lá fora... no mundo real. Ainda não enfrentei os olhares, ainda não enfrentei toda a minha vida passada e sei que quando fizer isso, o baque será muito maior. A ficha ainda não caiu totalmente e é disso que tenho medo.
- Viemos te falar sobre algo. - Papai chama minha atenção e volto a prestar atenção neles, curioso.
- O que?
- Você ainda não concluiu o tratamento e aqui na Capital há muito mais recursos, por isso alugamos um apartamento para você aqui, vai ser mais cômodo para você. John ficará com você e Helena também se propôs a isso. Nós só não vamos ficar por causa do trabalho, mas vamos vir te visitar todo final de semana. Você vai estar mais amparado aqui do que lá. - Pai Adrian explica e confesso que já imaginava algo do tipo.
- Tudo bem, sem problemas. Mas diga a Helena que ela não precisa ficar, não quero atrapalhar a vida de ninguém. - Falo e como um imã, minha irmã entra no quarto assim que termino de falar.
- Ah, cala a boca garoto! Eu vou ficar sim, queira você ou não... e nem adianta fazer cara feia, peço um prato de comida para você rapidinho. - Ela diz com deboche e reviro meus olhos.
- Já que não tenho escolha... - Alfineto e ela me mostra o dedo médio.
- Ok, parou! Não sou obrigado a voltar aos tempos de creche... só em alguns meses. - Papai diz com humor e eu acabo rindo.
Minha família acaba ficando comigo no quarto e acertamos os últimos detalhes sobre eu ficar aqui para continuar o tratamento. A ideia não me alegra, mas sei que é necessário, por isso apenas concordo e fico em silêncio ouvindo tudo o que eles decidiram.
⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
゚・*:.。*:゚・♡
Otávio Miller
Aperto minhas mãos uma na outra, me sentindo um pouco nervoso enquanto olho para os meus pais. Sim, sou maior de idade, pago minhas contas, mas não é como se eu fosse dar um passo tão importante sem contar as pessoas mais importantes da minha vida. Depois de tomar minha decisão e de falar sobre isso com a terapeuta, decidi dar a notícia aos meus pais, pois eu sei que os dois serão importantes nessa trajetória.
Eu definitivamente quero Zoe em minha vida e vou lutar com todas as minhas forças para conseguir sua guarda. E mesmo que eu não consiga no final, pelo menos eu saberei que tentei e fiz tudo o que estava ao meu alcance.
- E então, por que nos intimou? - Papai pergunta com humor e acabo rindo. Não dá para ficar muito tempo sério ao seu lado.
- Não foi uma intimação. - Me defendo e ele dá de ombros.
- Há controvérsias, mas vamos lá... meu espírito de Maria fifi está curioso. - Ele diz e meu pai revira os olhos para o marido, mesmo que haja um sorriso em seu rosto.
- O senhor não tem jeito, né? - Falo e ele nega com um aceno. - Ok, vamos lá... eu decidi que vou adotar uma criança.
E é como se o mundo entrasse em câmera lenta após minhas palavras. Meus pais nem piscam e me olham fixamente, como se eu fosse um alienígena. E tipo, essa notícia não é nem tão impactante assim, é?
O silêncio se faz presente por minutos a fio e isso me deixa nervoso. Não é como se eu fosse desistir do que quero por causa deles, mas quero muito ter o apoio da minha família e esse silêncio deles está me matando.
- Uau, isso foi inesperado? - Pai Enzo diz, mas sai mais como uma pergunta.
- Um pouco, mas vocês se lembram da Zoe? A menina que eu estava cuidando? - Pergunto e os dois assentem. - Pois então, eu sempre tive um sentimento diferente por ela, mas só me dei conta disso quando ela já estava longe e com uma família querendo adotar ela. Me dói pensar nela com outros pais, sabe? Na minha cabeça seria nós dois... ela como minha filha e eu como seu pai. E não, eu não quero substituir Luz com ela, isso jamais vai acontecer. Mas Zoe me despertou esse desejo de ser pai novamente. Vocês sabem que não tenho pretensão de engravidar mais uma vez, também nunca pensei em adoção, mas Zoe me fez mudar. - Explico a eles, querendo que entendam meu lado.
- Filho, se é isso que quer, nós estamos do seu lado. Confesso que não esperava por isso, mas fico feliz que queira seguir em frente com esse passo tão importante. Eu só quero pedir que se cuide mais e por favor, não crie tantas expectativas. Como disse, há outras pessoas interessadas em adota-la também e pode ser que não consiga, e eu não quero te ver mal por isso. - Papai diz e eu entendo sua preocupação.
- Eu sei, papai. Já conversei sobre isso com a terapeuta e ela está me ajudando. Eu quero ser bom para Zoe, por isso vou me cuidar e me esforçar mais. O Otávio inconsequente não vai mais dar as caras. E isso não é só pela Zoe, é por mim também e por vocês. Não quero mais estar daquela forma, nunca quis. - Falo e vejo meus pais sorrir.
- É muito bom ouvir isso, filho. Ficamos felizes em te ver se levantando e voltando a ser o Otávio de antes. Eu sei que não é um caminho fácil, mas nós estamos aqui por você. E sobre a Zoe, vou pedir para os meus advogados te ajudar, é bom ter profissionais competentes nesse assunto. - Meu pai diz e fico contente em ouvir isso.
Eu me levanto e sigo até eles, que estão sentados no sofá em minha frente. Me jogo no meio deles, abraçando os dois de uma só vez. E mais uma vez eu me sinto grato por ter pais tão maravilhosos. Espero que no futuro, quando Zoe estiver comigo, eu seja para ela um por cento do que meus pais são para mim.
➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖
Olá, jujubas!! Primeiramente peço desculpas pela demora. Espero que tenham gostado do capítulo... nos próximos vamos ter mais interação do nosso casal e ver as coisas fluindo.
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top