Capítulo Vinte e Cinco
Otávio Miller
Deixo as vasilhas sujas ao lado da cama, no chão e me sento ao lado de Evan, encostado com minhas costas na cabeceira da cama. Estamos em silêncio há alguns minutos, apenas apreciando a companhia um do outro e isso é confortável para os dois, eu pelo menos me sinto em paz. Fecho meus olhos por um momento e solto um suspiro baixo, percebendo o quanto a vida é louca. Quando eu me imaginaria assim com Evan novamente? Nem em mil anos.
- Ei, você ainda usa isso? - A atenção de Evan de repente se volta para mim e abro meus olhos a tempo de vê-lo esticar sua mão para o cordão em meu pescoço. - Você tinha dezesseis anos quando te dei isso.
- Eu nunca tirei, Evan... nem depois que nos separamos. - Respondo sincero e observo ele pegando o pingente em seus dedos. Sei o quanto esse cordão significa para ele, por isso é tão importante para mim.
- E isso quer dizer alguma coisa? - Ele pergunta e seus olhos se fixam aos meus, esperando por uma resposta.
E eu entendo que por trás desse questionamento há uma expectativa muito grande, porque essa pergunta carrega um fardo sobre nós. Por isso eu penso com cuidado antes de responder algo tão delicado. Respiro fundo e viro parcialmente meu corpo, tendo meu rosto de frente ao seu. Nossos olhares ainda estão fixos um no outro e esse pequeno contato já serve para acelerar meu coração em níveis inimagináveis.
- Mesmo se nossos caminhos se desviarem algum dia, promete não desistir de mim? - É isso que digo como resposta e vejo surpresa em seus olhos. - Naquele dia fizemos uma promessa, lembra?
- Sim, eu me lembro. - Evan responde e sua mão se afasta de mim. - Mas nos esquecemos dela, não é?
- Nós vamos errar durante o caminho, somos novos, imaturos... você mesmo me disse isso há algumas semanas, naquela conversa que tivemos.
- Aquela que você me disse não. - Ele diz e tenta dizer com humor, mas eu sei que não há graça alguma.
- São quase seis anos de mágoas, Evan, elas não somem do dia para a noite e sei que você também sente. Mas mesmo com todas as mágoas, todos os medos, todas as lembranças que quero um dia esquecer, eu ainda te amo. Não houve um dia sequer que eu deixei de te amar, porque não há como deixar de amar sua alma gêmea, é impossível. Eu posso ter ficado com várias pessoas durante esse tempo, mas nenhuma delas me despertou o que você sempre me fez e faz sentir. Só se ama uma vez e você já ocupou essa vaga na minha vida. Então é por isso que eu jamais tirei esse colar do meu pescoço, pois ele é uma lembrança muito bonita que eu tenho de você. E da mesma forma que esse cordão é importante para você, ele também é importante para mim. Por isso ele não saiu do meu pescoço um dia sequer, porque ele também faz parte da nossa promessa. Nós podemos ter sim se esquecido dela, mas não apagamos.
- O que quer dizer com isso? - Evan pergunta e seus olhos me analisam minuciosamente.
- Não sei se é o momento para falarmos sobre isso, mas... sim, eu ainda te amo Evan e não me vejo com mais alguém de você. Eu ainda tenho meus medos, meus complexos e um caminho longo para me livrar de um vício, posso não ser a melhor companhia, mas talvez nós possamos tentar de novo... se você ainda quiser. - Falo e vejo o rosto de Evan quase incrédulo.
O silêncio no quarto após minha fala é absurdo e diferente de antes não é algo agradável, é incômodo.
- Você quer tentar? Comigo assim? - Ele diz e faz um gesto exagerado para a perna amputada.
Um suspiro audível escapa por meus lábios e passo minhas mãos por meu rosto em frustração. Por que é tão difícil, Deus?
- Para, Evan... por favor. Você continua o mesmo para mim, não é uma perna amputada que me fará amar menos você. - Respondo frustrado e vejo ele rir, mas sem humor.
- Isso me parece pena, Otávio. Há algumas semanas atrás você estava convicto de que não poderíamos voltar a ser um casal. E agora, de repente, você quer tentar? Talvez seja a certeza de que não posso ir a lugar algum com uma perna e meia. - Ele diz e isso me pega de surpresa, me deixando chocado.
Balanço minha cabeça em negação e engulo todos os xingamentos que estão na ponta da minha língua. Esse não é o momento para entrar em uma discussão com Evan. E por mais que me doa ouvir tudo isso, eu entendo seu lado.
Então eu engulo toda a minha frustração e mágoa e me afasto dele, saindo da cama em seguida. Coloco meus sapatos e pego meu celular na mesinha de cabeceira, me preparando para ir. Penso seriamente em ir embora sem olhar para trás, pois me dói a desconfiança dele. E logo de mim? A pessoa que mais tem medo de se abrir e falar sobre sentimentos?
Mas antes que minha mão alcance a maçaneta da porta, eu olho para trás. Vejo seus olhos opacos, sem o brilho de diversão de antes e sua expressão está dura. E isso deixa meu coração ainda mais apertado.
- A última coisa que sinto por você é pena, Evan. Desculpa ter trazido esse assunto à tona, sabia que não seria um bom momento, mas fui impulsivo, como sempre. Eu poderia muito bem te fazer um discurso agora, mas não tenho cabeça para isso e eu te entendo, de verdade, por mais que esteja doendo. Se eu não aceitei te dar uma chance antes foi apenas porque não estava pronto... e dessa vez quem não está pronto é você. - Falo por fim e saio do quarto.
Fecho a porta atrás de mim e paro no meio do corredor, respirando fundo. Sinto meus olhos arderem, mas me recuso a chorar mais. Seja forte, Otávio. Por você e por ele!
Solto um breve suspiro e ajeito minhas roupas, seguindo pelo corredor até a sala de estar, onde a família de Evan está reunida. Finjo um sorriso quando todos me notam e coloco em prática a minha habilidade de que está tudo bem.
- Já vai, querido? - Tio Castiel pergunta com um sorriso breve e eu assinto brevemente.
- Sim, tenho algumas coisas para fazer, mas me liguem se precisarem de algo... serve para você, ruiva. - Falo em direção a Helena, que revira os olhos para mim.
- Aff, eu sei me virar Otávio. Relaxa! Só vou te ligar quando for bater perna, aí sim. - Ela diz e isso me faz rir sincero.
- Ok, sem noção! Vejo vocês em breve, então. - Sorrio uma última vez e aceno para todos em despedida.
Saio do apartamento espaçoso e sigo em passos lentos até o elevador. E quando estou prestes a entrar na caixa de metal, uma mão em meu braço me faz parar. Um pouco assustado, me afasto do toque da pessoa e fico surpreso ao ver John atrás de mim.
- O que foi? - Pergunto, mas vejo que ele não entende absolutamente nada, por isso preciso traduzir minha fala.
- Aconteceu alguma coisa, não foi? - Ele pergunta, verdadeiramente preocupado e eu arqueio uma sobrancelha. - Você pode enganar os outros, mas não a mim, Otávio... eu também sei fingir.
- Não sei do que está falando. - Digo e tento seguir meu caminho, mas ele me para novamente. - Ei, dá para parar de me pegar assim?
- Me fala a verdade... por favor. - Ele pede, dessa vez com mais calma e eu bufo, irritado. Cara chato!
- Basicamente eu disse que queria tentar novamente e Evan acha que estou fazendo isso por pena. Sério? Ele é um idiota se pensa assim! Minha vontade era socar a cara dele, mas me controlei e estou indo embora para essa vontade não me fazer voltar naquele quarto. - Falo por fim, e fico surpreso comigo mesmo.
- Ok, isso explica. - Ele diz e me solta. - Mas você sabe que não é verdade, não é? Evan só está confuso ainda.
- Sim, eu sei, mas isso não impede que as palavras me magoe. Poxa, eu estou tentando também... eu achei que pudesse fazer ele ver que não muda nada para mim.
- E você pode, Otávio... só dê um tempo a ele. Tenho certeza de que ele já está arrependido pelo que disse a você. - Ele diz e me sinto um pouco estranho em ver John me apoiando de certa forma.
- Hum... ok, obrigado. Mas agora eu vou mesmo ir. - Falo e ele assente.
- Tudo bem, mas não desista dele. - Pede.
- Nunca mais. - Respondo sincero e chamo o elevador, entrando segundos depois.
É, isso foi estranho, mas bom.
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゚・*:.。*:゚・♡
Evan D'Ávila
Burro! Idiota!
Acho que todos os xingamentos do mundo nesse momento são poucos para mim. E como se não fosse o bastante, a porta do meu quarto se abre alguns minutos após Otávio ir embora e sou bombardeado por almofadas, e não estou brincando. John atira os objetos com força contra mim, repetindo a cada tacada o quanto eu sou idiota e sem noção. E não, ele não está errado. Eu sou mesmo.
- Que merda você tem na cabeça, Evan? Finalmente o cara que você ama quer dar uma chance a vocês e você faz isso? - Ele praticamente grita e preciso fechar meus olhos, pois sua voz vai no meu cérebro.
- Eu me arrependo, ok? Não precisa pisar em mim. Já estou na merda o suficiente. - Falo com amargura.
- Porque você está se colocando, Evan. Você só está afastando as pessoas de você e Otávio é prova disso. Acha mesmo que alguém estaria com você por pena? Se acha tão pouco assim?
- Sim, eu me acho! - Respondo com raiva, elevando meu tom de voz e vejo os olhos furiosos de John sobre mim.
- A única pessoa com pena aqui é você, Evan. É você quem sente pena de si mesmo, mais ninguém. Nós todos estamos aqui para te fortalecer e nada além disso. Porra! Para! Veja o que você está perdendo com isso. Sério, você quer perder ainda mais? Ok, eu não entendo sua dor, mas cara... viva a porra da sua vida! Você ainda tem isso, reaja!
- Acabou? - Pergunto e vejo ele suspirar.
- Sim, terminei Evan. Volto quando meu amigo estiver aí e não esse covarde.
- Não fale sobre o que você não sabe. - Falo com raiva.
- Tem razão, vou apenas calar a minha boca. - John diz e sai do quarto em seguida, batendo a porta.
Solto um suspiro frustrado e esfrego minhas mãos em meu rosto, mas me arrependo no segundo seguinte, pois todo meu maxilar dói. E isso me faz sentir ainda mais raiva do que antes. Pego uma das almofadas jogadas em mim e escondo meu rosto ali, deixando um grito escapar da minha garganta.
Meu peito dói e a vontade de chorar é grande, mas me seguro.
Sim, eu ainda quero Otávio com todas as minhas forças, mas que merda eu tenho a oferecer a ele? Antes era diferente, eu ainda era eu... agora não mais.
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Cheguei, chegando e bagunçando a paz toda... ✌🏾 🎶🎶🎶
P.s: na vida eu sou o John 😁
Bjus da Juh, até a próxima 😘 😘
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