Capítulo Um

Evan D'Ávila

Fecho meus olhos e respiro fundo, ouvindo os gritos ao meu redor. Sinto a adrenalina correndo por minhas veias e como em todas às vezes, também vem o frio na barriga, até o momento em que a porteira é aberta e o touro sai enfurecido pela grande arena. A força que mantenho em minha mão direita, que segura a corda americana é enorme e tento manter o melhor equilíbrio possível enquanto o touro corcoveia* pela arena. Sei que são questões de segundos, mas para mim são horas em que estou em uma verdadeira prova de resistência. Meu braço de equilíbrio se mantém no ar, deixando impossível o toque no animal, que pula cada vez mais alto e feroz, querendo me derrubar de seu lombo e isso realmente acontece, mas somente depois que eu ouço a sirene, indicando que os meus oito segundos foram cumpridos com sucesso.

Caio com meus pés no chão e não espero muito para correr pra longe do touro, que me olha com fúria. E confesso que essa é uma das melhores partes. Ouço os aplausos e gritos da torcida, chamando por meu nome e um sorriso se abre em meu rosto. Deixo um aceno rápido para a torcida enorme nas arquibancadas e camarotes e saio da arena quando o touro é levado de volta aos bretes.

Tiro a luva da minha mão direita e também o colete, sorrindo para alguns outros peões, enquanto sigo até uma sala montada aos fundos da arena, lugar em que podemos descansar um pouco antes de cada montaria.

- Boa prova, Evan. - John, meu agente, diz sorrindo e eu assinto para ele, pegando a garrafinha de água que ele me estende.

- Esse touro é manso comparado a outros que já montei. - Falo e ele concorda com um aceno.

- Sim, mas o que conta mais é seu desempenho e ele foi excelente. Estamos cada vez mais perto de conseguir patrocínios ainda mais altos pra você. - Ele diz e isso me deixa satisfeito.

- Isso é bom, pois eu pretendo ser campeão da Professional Bull Riders esse ano. Esse é o único título que ainda não tenho. - Falo e me sento em uma cadeira, respirando menos ofegante.

- Você é tricampeão da Copa do Mundo de Rodeio, Evan... Isso vai ser para você. - Ele diz e isso me faz rir, pois não me sinto tão confiante assim.

Há cinco anos me lancei nas competições mais sérias que existe nesse mundo de Rodeio e graças a Deus as coisas estão dando certo. Na primeira Copa que participei, acabei na segunda colocação, mas nem por isso desisti e muitos viram meu potencial, o que me fez ganhar alguns patrocinadores. Desde então a minha vida tem sido vivida na América do Norte, entre as maiores competições do mundo. E não sou modesto em dizer que hoje eu sou um dos maiores peões de Rodeio do mundo. Lutei muito para chegar onde estou e não me arrependo de ter vindo seguir meu sonho. A única coisa me causa angústia é a saudade da minha família, que nesses cinco anos vi apenas duas vezes.

Sou tirado desse momento de reflexão ao ouvir meu nome ser chamado com alegria e então olho para a TV na pequena sala, onde há minha nota estampada... Nota máxima. E é impossível não abrir um sorriso, orgulhoso de mim mesmo por isso. Abraço John, que está tão feliz quanto eu e rimos juntos.

- Acho que podemos comemorar mais tarde, não? - Ele sussurra e solto uma gargalhada.

- Com certeza. - Respondo e deixo que ele me dê um beijo rápido.

John tem trinta anos e é a pessoa mais próxima de mim aqui. Nos conhecemos poucos meses depois que cheguei aos EUA e nos tornamos amigos, já que ele faz parte desse mundo também. Não namoramos propriamente, mas temos um relacionamento que é bom para os dois, algo sem amarras e mais carnal. Ele sabe de toda a minha história, assim como sabe que eu também não estou disposto a amar mais ninguém. Uma vez já é o suficiente para uma pessoa.

Poucos minutos a montaria termina e então são anunciados os campeões da noite, comigo sendo o primeiro colocado. Sorrio amplamente e aceno para todos ao meu redor, vendo a euforia deles ao me verem recebendo o prêmio de cinquenta mil dólares. E nesses momentos eu tenho muito orgulho de tudo o que eu conquistei.

[...]

Meus olhos o observam sentado sobre a grama verdinha da fazendo e abro um sorriso involuntário ao ver seus cachos com pequenas flores que se desprendem da árvore acima dele. Sua expressão é suave, como se eles estivesse muito em paz com ele e tudo ao seu redor e isso faz um pequeno frio se instalar em minha barriga. Otávio é perfeito demais e morro de medo dele não corresponder aos meus sentimentos na mesma intensidade.

Aos quinze anos de idade ele está mais lindo do que nunca e confesso que seus lábios me chamam cada vez mais, me deixando hipnotizado e não sei se isso é certo ou não.

- Vai ficar olhando ele? Tome uma atitude, Evan. - Ouço a voz de Helena e isso me faz levar um pequeno susto.

- Tomar atitude pra que, pirralha? - Pergunto e ouço ela bufar, em seguida deixa um tapa fraco em meu braço.

- Vai e beije ele, idiota... Otávio também gosta de você. - Ela diz e levanto uma sobrancelha em sua direção.

- Está falando sério? - Pergunto, sorrindo igual a um bocó.

- Claro que estou... Agora vai logo, vou distrair o tio Enzo. - Ela me empurra e sai correndo, fazendo seus fios cor de cobre serem balançados pelo vento.

Volto meu olhar para Otávio e solto um suspiro, tomando coragem, seguindo até ele em passos lentos. Assim que chego em sua frente, seus olhos se encontram com os meus e ele abre um sorriso enorme, fazendo um pequeno gesto para eu me sentar ao seu lado.

- Você está com uma cara estranha, aconteceu algo? - Ele pergunta e suas mãos macias pegam em meu rosto, olhando cada mínimo cantinho.

- Sim, eu preciso fazer algo. - Respondo e ele me olha curioso.

- O que? Sabe que sou curioso igual ao papai Angie, então diga logo. - Ele diz e isso me faz rir.

- Posso te mostrar ao invés disso? - Pergunto e ele me analisa por alguns segundos, mas então assente.

Respiro fundo e levo minhas mãos até seu rosto, sentindo a maciez de sua pele negra sob o meu toque. Meus dedos também tocam em seus cachos sedosos e meus olhos estão fixos aos seus castanhos. Tomo coragem e então aproximo meu rosto vagarosamente do seu, deixando que nossos lábios se toquem de maneira tímida, que eu não quero o assustar.

Espero para ver se Otávio vai me afastar, mas ao invés disso suas mãos vão até meus cabelos e ele aprofunda o beijo, pedindo passagem com sua língua e isso é o suficiente para que eu me entregue de vez ao momento. Nem de longe esse é o meu primeiro beijo, mas com toda a certeza ele é o melhor e o mais esperado também, pois é com a pessoa mais especial que existe nesse mundo.

[...]

Solto um suspiro e passo minhas mãos por meu rosto, querendo afastar as lembranças que insistem em me acompanhar em todos esses anos longe. Eu pensei que com o tempo seria mais fácil, mas não é e nunca será. Otávio sempre será o único homem que eu amo na vida e sei que jamais haverá outro ou outra que ocupe seu espaço.

Olho para John, dormindo em minha cama espaçosa e por um momento eu queria sentir algo mais forte por ele, mas isso nunca acontece... Cinco anos e nada mais do que um grande carinho.

Balanço minha cabeça e me afasto da janela aberta do quarto, saindo do cômodo em seguida. Sigo até à sala de estar e meus olhos vão diretamente aos meus troféus na estante, que são numerosos. Estendo minha mão e pego um dos primeiros que ganhei após ir embora. Analiso a fivela que é quase do tamanho da minha mão, maciça de ouro vinte e quatro quilates.

- Valeu a pena sim. - Sussurro a mim mesmo, tendo a certeza de que fiz a escolha certa em seguir o meu sonho de criança.

⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
゚・*:.。*:゚・♡

Otávio Miller

Fecho meus olhos e um suspiro alto escapa por meus lábios. Minhas pálpebras estão pesadas de sono, mas eu realmente não consigo ir dormir agora, não nesse momento. Então o que me resta é apenas me lembrar e sorrir com as doces lembranças.

Seguro minha barriga um pouco grandinha de cinco meses e sigo até o centro da sala, onde um bolo esperando para ser cortado. Finalmente é o dia em que vou descobrir se ganho uma menina ou um menino e confesso que meu coração parece uma escola de samba dentro do meu peito. Sentados ao meu redor estão apenas minha família, pessoas em quem muito confio e estão me dando todo o apoio nesse momento.

meses atrás eu estava muito assustado, perdido e sem saber muito bem o que fazer, mas aos poucos tudo foi se ajeitando. Recebi total apoio da minha família em relação à gravidez e desde então estão sendo dias muito bons. Claro que ainda dói muito a ausência dele, ainda mais sabendo que um fruto do nosso amor crescendo dentro de mim, mas ele está tão feliz também, que eu decidi manter minha decisão.

Balanço minha cabeça e afasto esses pensamentos por alguns minutos, pegando a espátula que papai me estende para cortar o bolo.

- Olha, eu apostei em ser menina... Então por favor, amor. - Papai Enzo diz com humor e toca minha barriga sob a camiseta larga que eu uso.

- Eu realmente não entendo a mania de vocês com esses "bolões de bebê". - Falo e todos riem.

- Tradição, anjo. - Emília diz e isso me faz rir também.

- Ok, vamos ! - Falo e respiro fundo, começando a cortar o bolo com a decoração branca, tendo apenas alguns confetes de chocolate por cima.

Me sinto um pouco ansioso demais e então tiro a fatia, sentindo o sorriso rasgar meu rosto ao ver a cor que aparece.

- É amarelo! - Grito para todos e vejo papai Enzo praticamente pular de alegria, deixando a bengala de lado e isso me faz rir.

- Isso! É uma menina... Apolo, você me deve quinhentos reais. - Ele diz e aponta para meu tio, que tem uma cara de tacho.

- Como assim? Esse dinheiro vai pra sua neta então. - Falo com humor e ele murcha.

‐ Tudo bem, foi por ela mesmo. - Ele concorda e em seguida me puxa para um abraço apertado, que é um pouco dificultado por minha barriga. - Estou muito feliz por você, filho. Tenho certeza que será um ótimo pai. - Sua mão faz um carinho em minha barriga e ele em seguida se afasta, deixando um beijo em minha testa.

Sorrio para meu pai e o agradeço com um beijo em sua bochecha, no local de sua cicatriz. E após esse momento recebo as felicitações de todos, desejando muita saúde para a minha pequena Luz.

[...]

Volto a abrir meus olhos e miro no berço em minha frente, o que faz lágrimas descerem como uma cachoeira por meu rosto ao perceber mais uma vez que ele jamais foi usado.

Infelizmente o meu sonho se acabou três meses depois daquele dia feliz, sem ao menos eu poder ver seu rosto. Mas a dor continua exatamente a mesma durante todos essses anos, piorando ainda mais com todas as lembranças que ela me deixou, sem ao menos vir ao mundo.

Sinto uma dor dilacerante em meu peito, algo que já estou acostumado, mas hoje se torna ainda pior, pois seria seu aniversário. Hoje era para ela estar aqui em meus braços, recebendo o abraço mais apertado de todos, tendo o maior amor do mundo. Só que ela não está aqui e jamais vai estar.

- Ei! - Ouço uma voz baixa ao meu lado e ao olhar para a pessoa, vejo meu irmão.

Giovani se senta ao chão, do meu lado e logo me puxa para seus braços, me apertando em um abraço.

- Está tudo bem, amor... Eu estou aqui com você e Luz também. Ela não gostaria de ver você assim. - Ele diz em tom baixo e isso faz meu coração doer ainda mais.

- Não, ela não está. - Respondo em meio às lágrimas. - Ela nunca esteve comigo.

- Não diga isso, anjo. Luz é um anjo e estará sempre com você em seu coração, na sua alma. Eu sei que dói, não posso imaginar como, mas sinto um pouco dela também, todos nós sentimos. Então vamos fazer um combinado. - Ele diz e se afasta, pegando meu rosto banhado em lágrimas nas suas mãos. - Ao invés de você ficar aqui se martirizando por algo que não é sua culpa, nós vamos fazer uma visita a ela, tudo bem? Você vai dizer a ela o quanto a ama e sente sua falta. E então você vai se alegrar um pouquinho, pois sua anjinha não o quer assim, sofrendo.

- Não sei se consigo. - Falo com a voz falha e ele abre um sorriso pequeno.

- Consegue sim, você é forte, irmão. E eu vou estar ao seu lado, segurando em sua mão. - Ele diz e deixa um beijo em sua testa.

Respiro fundo e após um tempo assinto para ele, querendo realmente ser forte nesse momento, algo que eu não sou desde que perdi uma parte de mim.

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Olha, eu estou chorando também, ok?! Não me crucifiquem.

E então??? O que acharam, jujubas?? Eu disse que estava boa no prólogo, mas não me deram credibilidade, então mudei o esquema.

Capítulo dedicado a nicoreline

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

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