Capítulo Trinta e Três
Otávio Miller
É clichê dizer que fazer sexo com a pessoa que se ama é muito melhor do que qualquer outra coisa. Mas serei esse clichê e deixarei isso claro mais uma vez. Estar com Evan novamente foi totalmente inexplicável para mim. A forma como nossos corpos se conectaram, da mesma maneira que há anos atrás, me faz perceber mais uma vez que esse é o homem da minha vida, o meu amor. Sexo é bom e podemos fazer com qualquer um, mas sexo com amor é sem explicação... é incrível demais.
E não é apenas pelos sentimentos que me sinto tão feliz após ter feito amor com ele, é saber que ele teve confiança em mim para se mostrar da maneira que está. Eu sei que Evan ainda tem muito medo e impõe barreiras a si mesmo após o acidente, mas aos poucos eu também vejo ele voltando a viver, sendo quem ele realmente é. Evan tem uma vida inteira pela frente e tenho certeza de que ainda vai conseguir superar todas essas barreiras e se sentir útil novamente. Há tantas coisas que ele pode fazer, inclusive envolvendo sua paixão, mas com o tempo ele verá que pode tudo.
Sinto beijos em meu rosto e abro um sorriso preguiçoso. Posso dizer que após nosso primeiro round, houve mais alguns, já que estávamos louco para saciar os anos longe um do outro. E eu acabei pegando no sono em algum momento, já que meu corpo estava cansado demais e meu coração em paz.
Ainda é estranho pensar em tudo o que aconteceu com Evan e eu. Nosso amor de infância, a separação, a distância, o reencontro, as dúvidas e finalmente a reconciliação. Por um momento eu achei que nós dois nunca mais chegaríamos a nos encontrar, eu queria manter o máximo de distância possível dele, para que a culpa não viesse a bater mais forte em mim. Confesso que lá no fundo ainda me sinto culpado por tudo, mas não posso mais mudar o passado. Eu posso apenas mudar o meu presente e futuro, sendo feliz com o homem que eu amo. Remoer o passado não faz bem a ninguém e sou a maior prova disso.
Eu precisei estar prestes a perder mais uma pessoa que eu amo para acordar e dizer "chega". Eu estava acabando comigo aos poucos e no fundo eu queria isso mesmo, mas não valia a pena. Às vezes eu tenho vontade de pegar um copo de bebida e tomar apenas um gole para me acalmar do dia a dia, mas então eu paro e penso que não é isso que eu quero. Não é isso que as pessoas que eu amo também querem de mim. Então eu penso em minha Luz, penso em Zoe, em Evan e na minha família.
Solto um suspiro e me aconchego mais ao corpo quente de Evan, me sentindo em casa mais uma vez. Isso me traz lembranças de anos atrás, quando ficávamos horas abraçados, deitados na grama da fazenda, apenas curtindo a presença um do outro.
- Eu te amo - sussurro contra sua pele, sentindo seus pelos se arrepiar.
Abro meus olhos, piscando algumas vezes para espantar o sono, e meu sorriso se amplia ao ver seu olhar sobre mim. Sinto aquele quentinho bom em meu peito e a sensação de borboletas no estômago, é como estar me apaixonando novamente por ele. Aquela ansiedade gostosa toma conta de mim e somente consigo soltar alguns suspiros apaixonados.
- Também amo você, meu Tatá - Evan responde e solto uma pequena risada pelo apelido que eu tanto amo e sentia tanta falta.
- Como se sente? - pergunto e me levanto um pouco, apoiando meu queixo em seu peito, olhando para ele.
- Incrivelmente bem disposto, tivemos um dia e parte da noite bem produtivos, senhor Miller. - Ele diz, fazendo graça, e reviro meus olhos, mas acabo rindo.
- Fico feliz em ter o ajudado a ter um bom dia, senhor D'Ávila. Sua pele está mais bonito, acredita?
- É um produto natural que usei ontem, dizem que faz muito bem a pele.
- Evan! - repreendo, sabendo muito bem do que ele está falando.
- O quê? Só disse a verdade, você como médico deveria estar mais antenado nessas coisas. - Ele debocha e abro minha boca para brigar com ele, mas então me lembro de algo.
- Puta merda! Eu tenho plantão hoje - falo apressado e me levanto da cama em um pulo, correndo até o banheiro do quarto.
Ouço a risada de Evan, mas não tenho como me apegar a ela no momento. Tomo um banho super rápido, tirando o cheiro de sexo que está impregnado em mim, e visto as mesmas roupas de ontem, que por sorte estão limpas e sem amassos. E quando volto para o quarto, já pronto para ir, me surpreendo ao ver uma bandeja de café sobre a cama e Evan com sua higiene matinal já feito. Eu demorei ou ele que foi rápido demais?
- Tem tempo pelo menos para um café comigo? - Ele pergunta com um sorriso que me derrete, o que é impossível resistir.
- Bem, mais alguns minutos de atraso não vão fazer diferença - falo ao dar uma rápida olhada em meu relógio de pulso.
Eu me sento na cama, ao lado de Evan, e antes que eu possa pensar em comer algo, ele me puxa em sua direção e junta meus lábios nos seus, iniciando um beijo intenso, o qual eu corresponde sem hesitar. Minhas mãos vão de encontro aos seus cabelos ruivos e as suas pressionam de leve meu pescoço, trazendo uma pressão a mais para nossos lábios juntos. E não teria uma melhor forma de começar o meu dia.
[...]
Entro em meu consultório após checar todos os meus pequenos pacientes e me sento em minha cadeira, começando a analisar a ficha de cada um. Passo horas fazendo isso e estudando cada caso com profundidade, pois sempre quero dar o melhor atendimento a cada pequeno que está lutando bravamente pela vida. Não faço ideia de quanto tempo fico imerso em papéis e livros de medicina, e só sou puxado de volta a realidade quando ouço batidas na porta.
Pisco algumas vezes, pois meus olhos estão ardendo após tantas horas de leitura. Um bocejo escapa por minha boca e sinto meus olhos lacrimejar. Balanço minha cabeça, tentando afastar o sono e me levanto, indo até a porta, a abrindo em seguida. E qual não é minha surpresa ao ver Héktor em minha frente?
Eu o pedi perdão há meses atrás e obtive algo positivo, mas não é como se tivéssemos voltado a ser melhores amigos. E é claro que eu sinto muita falta dele, afinal de contas, eu sempre fui mais próximo dele do que aos meus outros primos. Sempre fui mais fechado em relação a amizades reais.
- Hék! Oi, posso te ajudar? Está procurando o Arthur? - pergunto, meio incerto do porquê ele estar em minha frente.
- Oi, não. Vim falar com você, posso? - Ele pergunta e, mesmo um pouco atordoado, o deixo entrar em meu consultório.
O olho por alguns segundos, sem saber o que fazer exatamente, até que fecho a porta e indico o sofá no canto da sala. Ele se senta em uma ponta e eu na outra, o olhando em ansiedade e expectativa.
- Está tudo bem? - pergunto, pois agora noto que ele está um pouco apreensivo. Suas mãos não param de apertar uma a outra em um claro sinal de sua ansiedade e isso me preocupa.
- Não sei, de verdade. - Ele responde em um suspiro e o olho confuso.
- Como assim? Está me assustando, Héktor. Posso sentir seu nervosismo e ansiedade de longe - falo a ele, mas usando um tom calmo.
- Eu confessei meus sentimentos para Arthur, ele me rejeitou a princípio, mas após um tempo também se rendeu e desde então estamos juntos como um casal. - Ele diz e sinto um pequeno sorriso se abrir em meu rosto.
- Isso é ótimo, Héktor... eu realmente fico feliz por vocês. Sei o quanto é ruim estar longe da pessoa que amamos - falo, sincero.
Porém, ele não parece compartilhar da mesma alegria que eu, seu rosto ainda permanece aflito e isso me preocupa. Eu me aproximo dele e sem pensar duas vezes, pego sua mão na minha, apertando-as em um gesto de conforto.
- Qual o problema, Héktor? - pergunto por fim, pois sei que há algo o atormentando.
E, conhecendo meu primo, isso não é nada bom para sua saúde. Héktor enfrenta desde sua adolescência transtorno de ansiedade e isso sempre preocupou todos ao seu redor, pois algumas de suas ações já o deixaram entre a vida e a morte.
- Papai Apolo nos flagrou juntos há algumas semanas e eu quase surtei, mas graças a Deus ele nos apoiou, assim como Alessa, que já sabia sobre nós. Porém, nós ainda precisamos contar para papai Lucio e precisa ser da maneira certa, mas eu não sei como fazer isso. E se ele me rejeitar depois que souber que eu amo meu irmão? - Ele pergunta e algumas lágrimas descem de seus olhos.
- Seu pai nunca rejeitaria você e Arthur, Héktor. Não coloque paranoias em sua cabeça. E pense pelo lado positivo, uma parte da sua família já está ao seu lado. Eu sei que nossa relação não é mais a mesma de antes, mas também estou ao seu lado. Sou, além de seu primo, seu amigo também, não estará sozinho. E, mesmo que o mundo esteja contra o amor de vocês, não desista dele. Vai valer a pena no final - falo com calma, querendo o passar confiança com minhas palavras.
- Eu sei, não quero e não vou desistir do Arthur, ele é o homem da minha vida. E foi tão difícil chegar até aqui e admitir nossos sentimentos. Mas está sendo tão pesado para mim, Otávio. Eu não consigo não pensar, entende? Minha mente acaba me traindo e criando vários cenários que são pesadelos para mim. Eu tento não me importar, mas se um dos meus pais estiver contra o meu amor, eu não sei o que farei. Ainda mais agora.
- Isso não vai acontecer, Hék. Você e seus irmãos são tudo para o tio Lucio, ele jamais ficaria contra nenhum de vocês. Pode ser um choque no começo, mas ele vai aceitar.
- Você acha? - Ele pergunta, como uma criança com medo, e não resisto em o puxar para um abraço apertado.
- Eu tenho certeza, Hék. Só viva sua vida sem pensar no amanhã, na hora certa você saberá o que dizer e verá que tudo irá se encaixar. Pode não ser no momento em que você quer, mas irá. Acredite em mim.
- Obrigado, Otávio. - Ele agradece e me sinto feliz quando ele me abraça de volta, me apertando em seus braços. Deixo ele chorar e se acalmar em meu abraço, me sentindo totalmente realizado em tê-lo novamente na minha vida, confiando em mim.
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