Capítulo Trinta

Otávio Miller

Meus olhos seguem até o relógio pendurado na parede do meu consultório e me sinto ansioso para meu plantão acabar. Hoje é aniversário da minha caçula e tudo o que eu queria era passar o dia totalmente com ela e não preso no trabalho, mas fazer o que? Foi a profissão que escolhi para a vida.

Volto a prestar atenção em meus prontuários, atualizando as fichas dos meus pacientes. Fico concentrado em meu trabalho até que duas batidas na porta tomam a minha atenção. Peço para a pessoa entrar e segundos depois vejo César passar pela porta. Ele está impecável, como sempre, e se eu fosse qualquer outra pessoa, estaria suspirando por ele nesse exato momento, mas acontece que não há efeito nenhum sobre mim.

- Oi, César! - Abro um sorriso educado e volto minha atenção a ele.

- Oi... Humm, hoje é sábado e eu estava pensando se não queria sair para jantar comigo? - Ele pergunta sem rodeios e mordo meu lábio inferior.

César é um ótimo médico, um homem muito bonito e bom também, mas ele chegou tarde demais. Se Evan não existisse em minha vida, talvez, pouco provavelmente, eu poderia me apaixonar por ele, mas a realidade é outra. E como não estou a fim de brincar com os sentimentos de ninguém, eu resolvo deixar as coisas claras entre nós.

- César, você é um cara incrível, sério..., mas entre nós dois não pode acontecer nada. Eu já sou apaixonado por uma pessoa e estou em um relacionamento, então não quero que crie falsas esperanças comigo. Eu realmente espero que seja feliz, mas não será comigo. - Falo tudo de uma vez, querendo acabar logo com isso.

César merece alguém especial, mas não sou eu. Meu coração, eu, já pertenço a outra pessoa.

- Uau! - Ele diz e se senta em minha frente, olhando fixamente para suas mãos.

- Desculpa, mas eu não quero enganar você. - Sou sincero e ele nega com um aceno.

- Não, não me peça desculpas. Obrigado por me dizer a verdade, só é um pouco doloroso. - Ele diz em um suspiro.

E eu realmente me sinto mal por ele. Desde que cheguei a esse hospital César se mostrou interessado em mim, mas eu nunca dei liberdade. Até que houve o bendito dia em que dormimos juntos e acho que isso fez seus sentimentos se tornarem maior por mim. O que é uma pena. Claro que me sinto lisonjeado por alguém gostar de mim assim, mas também me sinto péssimo em não poder retribuir. Com os outros foi apenas sexo, com César ele não viu dessa forma. Infelizmente.

- Só me diz uma coisa. - Ele pede, me olhando, e eu aceno em concordância. - É o Evan, não é? O cara do acidente com o touro? - Pergunta e eu aceno.

- Evan é literalmente meu primeiro amor, nos conhecemos desde que nasci e por mais que estivemos um tempo longes, isso não diminuiu o amor que sentimos um pelo outro. E o acidente que aconteceu só serviu para que eu me desse conta de que não posso viver sem ele, sabe? É como se fosse perder mais uma parte de mim. - Sou sincero em cada uma das minhas palavras e vejo César sorrir.

- Espero que ele te faça muito feliz e quem sabe um dia eu tenha a sorte de encontrar alguém que me ame como você o ama. - Ele diz por fim e se levanta. - Nos vemos segunda?

Assinto diante sua pergunta e sorrio para ele, algo sincero e de coração.

⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
゚・*:.。*:゚・♡

Evan D'Ávila

Minhas mãos estão sobre a barriga um pouquinho arredondada de papai e o sorriso idiota não consegue deixar o meu rosto por um segundo sequer. Eu acompanhei toda a gravidez dos meus irmãos, mas parece que essa é diferente. A pequena pessoinha crescendo ali dentro é como uma esperança para mim, uma âncora... mais um motivo para que eu possa ser feliz e superar tudo.

- Já sabem o sexo? - Pergunto e olho para papai, que também sorri, mas para mim.

- Ainda não, vamos esperar completar os quatro meses. - Ele responde e uma de suas mãos acariciam meu cabelo. - Está feliz, filho?

Sua pergunta vem com um peso a mais e seus olhos me analisam por inteiro. Estamos papai e eu em meu quarto, ele e pai Adrian chegaram há algumas horas junto ao meu irmão. E a melhor parte foi vê-los felizes em me ver de pé, indo atender a porta. Isso por si só já compensou muita coisa para mim.

Deixo um beijo no montinho em sua barriga e abaixo sua camiseta, me deitando com a cabeça em suas coxas. Sua mão continua acariciando meus fios e seus olhos me encaram, esperando uma resposta.

- Otávio e eu nos acertamos, ainda não sei se estamos namorando novamente, mas estamos juntos de novo. - Conto e vejo o sorriso se ampliar no rosto do meu pai.

- Isso é bom, meu amor. Espero que dê tudo certo a partir de agora.

- Sinto que vai dar, papai. Otávio está sendo muito importante para mim agora, mesmo eu sendo um babaca com ele, não desistiu e me entendeu. Ele está me ajudando a resgatar o Evan e eu sou grato por isso. Eu quero me aceitar, pai, quero mesmo, e ele está me mostrando a cada dia que eu continuo o mesmo. Ele ainda me ama e me ama assim. - Falo e fecho meus olhos, soltando um suspiro.

- Nunca duvidei do amor de vocês, apesar de tudo, é impossível não ver esse sentimento em vocês. E eu fico tão feliz em te ouvir falando assim. É doloroso para mim quando você ou seus irmãos estão passando por algo ruim, eu só estou feliz quando vocês estão. - Ele diz e meus olhos voltam a se abrir.

- Então eu te prometo ser sempre feliz. - Respondo e vejo algumas lágrimas caindo de seus olhos.

- Eu te amo tanto, filho. - Sua declaração vem acompanhada de um beijo em minha testa e meu coração se aperta de amor.

Eu amo meus pais por igual, vivo e morro pelos dois, mas com papai eu tenho uma ligação sem igual. Acho que isso se deve pelo fato de ter sido apenas nós dois por dois anos da minha vida. Desde a minha existência em seu ventre ele fez de tudo por mim. Pude sentir suas dores, seus medos e principalmente seu amor incondicional por mim. E agora eu entendo o que é amar um filho. Não há amor maior do que esse.

- Eu também te amo muito, pai, e por isso não quero que fique guardando mágoas pelo que houve no passado. - Falo e vejo sua expressão vacilar.

- Ev...

- Pai, o senhor e tio Angie são irmãos, eu sempre admirei o amor que vocês tem um pelo outro. Sei que a confiança foi quebrada, mas vocês pode reconstruir, não? A vida é tão curta para guardar mágoas e nós sabemos isso mais que ninguém. O senhor não quer viver sem sua metade, não é? Eu sei que não. - Falo e vejo ele sorrir em meio às lágrimas.

- Minha metade?

- Sim, ué! Nós temos o amor da nossa vida, mas também temos uma espécie de alma gêmea que não se trata de romance e sim de uma pessoa que te compreende melhor que ninguém. Otávio tem Giovanni, eu tenho John, o senhor tem o tio Angie. - Falo o óbvio e ele balança a cabeça em negação, mas está sorrindo.

- Você não existe, foguinho.

Reviro meus olhos, pois detesto esse apelido que meu padrinho me deu, mas relevo. Volto a fechar meus olhos e aproveito os carinhos em meus cabelos, o que me faz em algum momento pegar no sono.

⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
゚・*:.。*:゚・♡

Ângelo Lima Miller

Analiso cada detalhe da mesa de jantar, checando se não há nada fora do lugar. Gostaria de estar fazendo uma grande festa para minha bebê? Gostaria! Mas já que a adolescente é antissocial e não gosta, pelo menos o jantar deve estar impecável.

- Evan acabou de chegar com a família. - Me assusto com as mãos que seguram em minha cintura, mas me acalmo ao ouvir a voz de Enzo.

- Estão todos? - Pergunto, ansioso.

Apesar de ter convidado toda a família, eu não tinha certeza de que Castiel viria. Nós estivemos mais próximos no hospital, mas não é como se nossa relação estivesse melhor e toda vez que eu queria tocar no assunto, ele me cortava. E eu totalmente entendo a mágoa do meu melhor amigo, mas não posso mais mudar o passado, apenas o futuro.

- Sim, Castiel e Adrian também vieram. - Meu marido responde e eu suspiro.

- Ok, vamos lá. - Sorrio e me viro em seus braços, deixando um beijo rápido em seus lábios. - Está um gato, marido. - Pisco para ele.

- E você está um espetáculo, anjo... vai roubar o brilho da aniversariante. - Ele diz e eu rio do seu exagero.

Entrelaço nossas mãos e seguimos até a sala de estar, onde já estão todos os convidados. Automaticamente sorrio ao ver Evan e Otávio sentados em um dos sofás, em seu próprio mundo. Eu literalmente pulei de alegria quando meu filho contou a novidade para nós.

Com o coração acelerado e uma dose a mais de nervosismo seguimos até o casal perto do Hall de entrada. Castiel é o primeiro a nos notar e seu olhar quase me faz vomitar.

- Boa noite, fico feliz que vieram. - Cumprimento os dois e Adrian sorri.

- Não perderíamos o aniversário de nossa outra boneca. - Meu cunhado diz e fico feliz por isso.

- Cecília e nós ficamos felizes por isso. Adrian, comprei um novo whisky, quer experimentar? - Enzo toma a frente, sabendo que precisamos de um momento a sós e agradeço ao meu marido por isso.

Adrian segue o amigo sem hesitar e me sinto um pouco deslocado com o silêncio. Mas respiro fundo e assumo o controle.

- Podemos conversar? - Pergunto por fim e meus olhos se encontram com os de Castiel,

- Estava esperando seu convite. - Ele responde e eu aceno.

Começo a seguir até o escritório de Enzo e sei que Castiel está logo atrás de mim. Assim que estamos nós dois no cômodo, fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, organizando meus pensamentos.

- Você tem todo o direito do mundo de estar chateado comigo agora e não vou te dar desculpas, não há. Eu só quero que saiba que nunca fiz nada com maldade, jamais quis te machucar. Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, Cas. Esteve ao meu lado em todos os meus piores e melhores momentos. E são por esses momentos que eu não quero que nossa amizade termine. Meu Deus, somos irmãos desde que me entendo por gente e nunca me vi tanto tempo longe sem compartilhar algo com você. Não quero te perder logo agora. - Falo e minha voz acaba embargando. - Sei que não confia mais em mim, mas... será que podemos recomeçar? Voltar do começo? - Peço.

O silêncio que toma o cômodo a seguir é algo totalmente incômodo e me sinto cada vez mais ansioso. Tudo o que eu disse é sincero, eu não quero perder uma das pessoas mais importantes da minha vida. Castiel é meu tudo também e dói demais não tê-lo ao meu lado. Não somos apenas amigos, somos irmãos e meu amor por ele é inexplicável.

- Eu não poderia viver sem minha metade, nem se eu quisesse. - Castiel diz após incontáveis minutos e olho para ele.

- O quê? - Pergunto confuso.

- Eu não posso viver sem você, idiota. Eu te amo demais para te odiar. Sim, há mágoas, mas é como Evan me disse hoje, não posso deixar isso crescer em mim. Só me prometa nunca mais mentir ou omitir algo de mim. Traição é algo que não posso suportar. - Ele diz e eu me aproximo.

- Eu juro que jamais faço isso novamente. - Respondo e estendo meu mindinho para ele.

Castiel olha para meu dedo esticado e ri, mas aceita e sela nossa promessa.

"Ninguém disse que seria fácil
É uma pena nos separarmos
Ninguém disse que seria fácil
Mas também ninguém nunca disse que seria tão difícil
Oh, me leve de volta ao começo"

Coldplay - The Scientist

➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖➖

4/4

Maratona entregue, espero que tenham gostado e curtido cada capítulo, jujubas.

Feliz dia das Crianças!!! 💜💛❤💙💖

Bjus da Juh, até a próxima 😘 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top