Capítulo Sete

" Eu prefiro estar em qualquer lugar, em qualquer lugar, menos aqui
Eu prefiro estar em qualquer lugar, em qualquer lugar, menos aqui
Eu fecho meus olhos e vejo uma multidão de mil lágrimas
Rezo a Deus que eu não tenha desperdiçado todos os meus bons anos
Todos os meus bons anos, todos os meus bons anos "

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Otávio Miller

Meu coração bate de uma forma tão acelerada em meu peito, que penso por um segundo que posso sofrer um infarto ou algo do tipo e tenho certeza que Evan pode ouvir esse som perturbador. Preciso respirar fundo uma vez e só então consigo me aproximar dele, mas mantendo uma distância segura entre nós dois. Minhas pernas estão bambas e minha garganta seca, é como se eu estivesse vendo um fantasma em minha frente. E sendo sincero, eu já imaginei um dia me encontrando com ele novamente, mas jamais imaginei que ele me causaria o mesmo impacto de sempre. É como se eu voltasse no tempo e me amaldiçoo por isso, pois não posso vê-lo assim, o meu Evan não existe mais e quem está em minha frente é alguém que eu não conheço.

E eu tento acreditar nisso, principalmente ao olhar em seus olhos azuis, que na maioria do tempo puxa para um tom intenso de verdade. Eles são os mesmos de antes, carregam uma leveza, apesar de também parecem mais maduros. A barba que antes era rala agora está emoldurando seu rosto de uma forma bonita. Os cabelos continuam no mesmo tom de ruivo e do mesmo tamanho também, e fico surpreso por não ver chapéu nenhum em sua cabeça. Na verdade, ele usa roupas casuais... Calça jeans, tênis e camiseta. E isso me faz perceber que ele está mais forte. Mas também, o que eu queria? Se passaram cinco anos, ele não iria estar da mesma forma e nem eu estou.

- Como conseguiu entrar aqui? - Pergunto ao sair do meu transe, ao analisar Evan, me sentindo curioso quanto a isso.

- Tio Enzo me deixou entrar, ele estava de saída para o trabalho e me disse que eu poderia esperar. - Ele responde e dá um passo em minha direção, o que me faz prender a respiração. - Sei que não me esperava aqui e peço desculpas por incomodar, mas eu realmente preciso conversar com você. - Evan diz de modo sério.

- Tudo bem, mas eu não entendo o que temos para conversar depois de cinco anos... Nem amigos nós somos. - Falo e confesso que me dói dizer essas palavras, mas é apenas a verdade.

Ouço Evan soltar uma risada baixa, mas nem de longe é algo com humor, há mais ressentimento do que qualquer coisa.

- Pode apostar, Otávio, por mim nós ainda seríamos os mesmos. - Ele responde e sinto todo meu corpo se arrepiar e meu estômago revirar.

Eu realmente não quero me lembrar do passado, mas se torna algo inevitável quando se está com o homem que se ama em sua frente. Minha vontade é gritar e perguntar o porquê ele não veio atrás de mim, então? Por que me deixou ir e não voltar mais? Por que em todos esses anos não me mandou uma mensagem sequer?

Mas ao invés de jogar minhas dúvidas em cima dele, eu respiro fundo e mantenho a calma. Não adianta mais chorar pelo leite derramado e correr atrás de algo que não existe mais.

- Não estamos aqui para falar do passado, estamos? Não vai adiantar de nada reabrir feridas que já estão cicatrizadas. -  Falo de modo sério.

- Fale por você, Otávio. E sim, se você me dessa a chance, eu gostaria de reabrir certas feridas. - Seus olhos me olham com certa intensidade e engulo em seco, sentindo meu coração voltar a disparar em meu peito.

- É, mas eu não quero isso. Já seguimos em frente, eu estou bem e você também. Não tem até um namorado? John, não é? Meu padrinho ama falar dele. - Respondo e me afasto dele, me sentando em uma das poltronas confortáveis da sala de estar.

Sinto um pequeno aperto em meu peito, pois só de lembrar que Evan ama outra pessoa é doloroso demais. A quem eu quero enganar? Sim, apesar das mágoas, feridas e desencontros, eu ainda amo o mesmo homem e por mais que me dê raiva admitir, percebo que isso jamais vai mudar. Não se muda quem se ama de verdade.

- John não é meu namorado, ele é meu melhor amigo, uma pessoa que eu amo demais, mas só. Eu com certeza daria minha vida por ele, pois sei que ele faria o mesmo, mas não por algo romântico e sim porque é isso que fazemos quando protegemos a família. - Evan responde e isso me pega de surpresa. - Mas também não posso mentir e dizer que nunca dormimos juntos, claro que sim! Só que sabemos que não somos as pessoas certas um para o outro.

E aí está! Ele me descrevendo na ultima frase. Apesar de também já ter dormindo com vários caras, que não sou poucos e não me orgulho disso, eu sequer cheguei a me apaixonar por algum. Sempre é a mesma coisa... Apenas meu corpo se juntando a outro enquanto minha mente está longe demais para processar.

- Ok, não vamos falar do passado e nem nós. Só quero que me responda algo e seja sincero comigo, por favor. - Ele pede após incontáveis segundos de silêncio e presto atenção nele.

Analiso seu rosto por um segundo e vejo certa expectativa em seu olhar, algo que me causa frio na barriga.

- O quê? - Pergunto e me sinto ansioso em relação a isso. Minhas mãos suam e de repente me sinto nervoso demais por algo que nem imagino o que seja.

Evan não diz de imediato, ao invés disso ele também se senta, em um sofá a minha frente, e junta suas mãos, respirando fundo em seguida.

- Isso vai parecer meio louco, mas eu só sinto que devo me preocupar mais em relação a esse fato. - Ele diz e parece um pouco nervoso também. - Há alguns dias tive um sonho, foi com uma garotinha, deveria ter uns cinco anos no máximo, era bem pequena.

Ouço suas palavras e é como se eu levasse um soco em meu estômago. Minha respiração se torna um pouco falha, mas consigo me controlar para que ele não perceba nada e continue a falar.

- Até aí tudo bem, mas quando eu reparei melhor na menina, percebi que ela tinha traços muito familiares para mim, era como se eu a conhecesse. No sonho ela me disse que eu não a conhecia, mas que me amava muito e era a minha Luz. - Evan conta e novamente sinto o arrepio percorrer meu corpo. Meus olhos ardem e uma vontade súbita de chorar me toma, mas me seguro. - Foi algo tão surreal, entende? Eu até acordei chorando, com um sentimento de vazio em meu peito... Era como se eu tivesse perdido alguém, ela, para ser mais exato.

Ele termina de dizer e vejo que seus olhos estão brilhosos, culpa das lágrimas que se acumulam ali. O silêncio se instala pelo cômodo, pois não faço ideia do que dizer a ele. Minha única vontade é me levantar e seguir até meu quarto, me encolher em minha cama em posição fetal e chorar até não haver mais uma lágrima em meu corpo.

- Isso me deixou muito paranóico e foi quando eu achei uma foto de nós dois ainda pequenos. - Ele diz e então seus olhos se encontram com os meus. Minha vontade é desviar do contato, mas não consigo, é mais forte do que eu. - Olhando nossa foto, eu percebi o quanto Luz era parecida com nós dois... Uma verdade mistura. E isso me fez pensar.

Não, por favor!

- Fez pensar? - Pergunto, incentivando ele a continuar e acabar com tudo isso de uma vez.

- Nós temos uma filha, Otávio? Você ficou grávido quando eu fui embora e por algum motivo não quis me contar? - Ele pergunta em um tom de voz tão calmo, que me faz suspirar.

Em silêncio, levo minha mão até meu peito, massageando o local, pois meu coração parece que vai saltar fora do meu peito. Respiro fundo e desvio meus olhos dos seus por um segundo, pensando no que dizer.

Eu juro que jamais teria essa conversa com Evan, não depois de tudo. E saber que ele teve uma espécie de premonição é muito surreal para mim. Ok, eu já sonhei com a minha pequena, mas eu sempre soube da sua existência, Evan não.

Me levanto de onde estou sentado e viro de costas para ele, fechando meus olhos, buscando por uma resposta. Nós não deveríamos ter essa conversa... Não mais.

- Otávio... Por favor, me responde. - Ele pede e então não consigo mais segurar as lágrimas.

" Precisa de uma chance só para respirar, me sentir vivo
E quando o dia encontra a noite, mostre-me a luz
Sinta o vento e o fogo, contenha a dor lá no fundo
Está nos meus olhos, nos meus olhos "

Eu não posso mais carregar esse fardo sozinho, não posso mais ser a pessoa que eu odeio ver todos os dias de manhã por ter escondido algo assim. Eu estou tão cansado e esgotado. E é por esse motivo, que eu me viro em sua direção e concordo com um aceno.

- Sim, nós tivemos uma filha. - Respondo e minha voz não passa de um sussurro.

Os olhos de Evan se arregalam de uma forma, que penso que eles podem saltar de sua face. E eu creio que por mais que ele estivesse buscando essa resposta, não estava preparado para ela.

- Tivemos? - Ele pergunta em um sussurro também e então lágrimas estão caindo por sua face. - Onde ela está? Eu preciso vê-la, por favor... Eu...

Ele está ofegante ao falar e é isso que me dói ainda mais. Prendo meus lábios para segurar um soluço e fecho meus olhos, sentindo a intensidade das lágrimas aumentar.

- Infelizmente você não pode. - Respondo e vejo confusão em seus olhos.

- O quê? Por...

- Ela nasceu morta, Evan. Luz não está aqui há muito tempo, nunca esteve, na verdade. - Falo e é como se uma faca estivesse rasgando meu peito de dentro para fora.

Evan me olha estático, sem muita reação a não ser seu choro e então ele cai de joelhos em minha frente, levando suas mãos ao rosto. Seus soluços são altos e meu choro aumenta ao vê-lo assim. Penso em chegar perto, mas paro meus passos ao me lembrar que não tenho esse direito.

É uma cena perturbadora e o que mais me assusta acontece, que é me lembrar daquele dia. É me lembrar de chorar da mesma forma que ele ao saber que minha filha estava morta. É me lembrar que todos os planos que fiz foram frustrados.

Não faço ideia de quanto tempo se passa, mas em certo momento o choro dele se acalma e o meu também, só restando olhos inchados e tristeza no olhar. Evan não se levanta do chão, mas seus olhos se encontram com os meus e vejo o sentimento que sempre tive medo de receber... Decepção.

- Por que não disse? Por que nunca me contou nada? Eu deveria ter a chance de saber que iria ser pai, deveria ter a chance de sofrer pela morte da minha filha. - Ele diz com a voz cansada e um pouco embargada e respiro fundo para não cair no choro novamente.

- Era seu sonho ir montar fora, não queria que ficasse apenas porque fui irresponsável e engravidei. Você poderia ter ficado e então culpar nossa filha pelo que perdeu. - Respondo e então ouço ele rir.

- Uau! Eu realmente sou um monstro na sua cabeça. - Ele diz sem humor algum na sua voz e se levanta, olhando fundo em meus olhos. - Acho que você deveria apenas ter lembrado de uma coisa...

Evan diz e limpa as lágrimas de seu rosto, se aproximando de mim.

- Antes mesmo de nascer eu fui abandonado pela pessoa que deveria cuidar de mim. Fui tratado como lixo e eu nem deveria existir se fosse a vontade dele. Mas a vida é boa algumas vezes e me deu um pai de verdade. Eu cresci sabendo da minha história e jurei que seria o melhor a um filho meu, assim como meu pai Adrian é para mim. Então não me venha com essa justificativa, Otávio, pois no fim você fez uma escolha que não era sua. Eu vivi cinco anos em uma mentira, sendo feliz enquanto uma parte minha estava morta sem eu ao menos saber e isso é horrível de se descobrir. - Ele diz cada uma das palavras, olhando em meus olhos e cada uma delas me afeta de uma maneira sem tamanho. - Mas obrigado por ser sincero comigo, eu sempre admirei essa qualidade em você.

Assim que ele termina de dizer isso, me dá as costas e caminha rumo à porta de entrada, sumindo em seguida.

E segundos depois eu me deixo desabar contra o chão, me sentindo ainda pior do que antes.

" Rezo a Deus que eu não tenha desperdiçado todos os meus bons anos
Todos os meus bons anos, todos os meus bons anos "

Good Years - Zayn Malik

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Cara, confesso que em lágrimas depois de escrever esse capítulo. 🤧

O que acharam, jujubas?? Confesso que não era minha intenção o Otávio confessar agora, mas foi melhor assim e vocês logo vão entender o porquê.

Ps: Vão no Instagram, pois hoje teremos enquete de Amor ou Ranço sobre os personagens de Opostos.

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

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