Capítulo Seis
Evan D'Ávila
Me sinto um pouco cansado após a intensa sessão de abraços, mas não menos feliz. Confesso que estava morrendo de saudades das pessoas que estão aqui hoje ao meu redor, até da minha bisa Clarisse, que me fez algumas ameaças, dizendo que nunca mais fará um bolo de cenoura com chocolate para mim. Vê se pode?
- E como é essa vida de ser um cowboy famoso no mundo dos rodeios? - Pergunta Ravi com um certo interesse a mais e isso me faz sorrir, pois sei que ele tem potencial.
- É cansativa, perigosa, mas gratificante. É bom receber o reconhecimento das pessoas com aquilo que amamos fazer. Pode não ser uma profissão para alguns e realmente não é, montaria em touros é um esporte, mas é aquilo que eu amo e sei fazer. - Respondo a ele, que assente.
- Sim, você está certo. Eu até que gosto da adrenalina de montar, mas não é o que eu realmente quero. Só não sei se vou conseguir realizar meu sonho. - Ravi diz e posso notar a insegurança em sua voz e sei exatamente o porquê.
Meu primo Ravi nasceu com uma má formação em seu braço direito, onde seu membro é formado apenas até um pouco após o cotovelo. Ele já sofreu muito por isso, principalmente no colégio, e sei que ainda há preconceitos. Mas também sei o quanto ele é guerreiro e não se deixa abalar.
- Você não sabe? Pelo amor de Deus, meu irmão, se há uma pessoa que pode conseguir realizar seus sonhos é você. Você é forte, Ravi e nada diz ao contrário. - Léo diz, chegando perto de nós e passa o braço ao redor do pescoço do irmão.
- Eu concordo! Você montou em um touro aos treze anos... Tio Mau quase teve um infarto. - Falo rindo e eles me acompanham.
- Eu também quase tive um. - Léo se pronuncia e entendo seu lado, ele é um irmão super protetor.
- Ei, não deveria estar na Alemanha? - Pergunto curioso e ele arqueia uma sobrancelha para mim.
- Está me dizendo que você é um ingrato por eu ter estendido minha estadia apenas para te receber? - Ele pergunta em tom acusatório e eu levanto minhas mãos em rendição.
- Só estava perguntando, primo... Estou feliz em te ter aqui. - Falo sincero e então ele sorri.
- Também estou, estar na Alemanha é solitário, mas eu preciso manter meu profissionalismo. - Léo responde e concordo com um aceno, pois o entendo perfeitamente.
Apesar de estar longe da família, sentindo imensa saudade, não podemos simplesmente deixar tudo de lado para ter isso. Porque no final, sua família sempre estará lá para você e as oportunidades não.
- Você já comeu isso aqui? É muito bom! Aliás, estou morrendo de calor, é sempre tão quente assim por aqui? - Pergunta John ao se aproximar e solto uma risada, pois ele está um pouco vermelho.
- Sim, já comi muita feijoada na vida. E sim, aqui é muito calor a maior parte do ano. Você vai morrer se continuar com essa camiseta de mangas e calças jeans, precisa trocar de roupa. - Falo preocupado, pois ele já está ingerindo uma comida muito quente.
- Então você é o famoso John? - Ravi questiona e meu amigo se vira para ele com um sorriso, mas sei que não entendeu uma palavra do que meu primo disse.
- Ele perguntou se você é o "famoso" John. - Léo toma a frente, traduzindo o que o irmão disse.
- Sou o John, famoso eu já não sei. - Meu amigo responde com simpatia.
- Há controvérsias. - Léo retruca e John arqueia uma sobrancelha, entortando um pouco os lábios, o que me faz ter a certeza de que ele está analisando meu primo mais velho.
- E você me conhece desde quando mesmo? - John pergunta com certa ironia na voz e Léo abre um sorriso sarcástico.
- Não conheço, mas nunca foi um segredo que você não é apenas agente do meu primo. Sempre foi bem citado nas conversas de família. - Meu primo responde e sei que depois disso as coisas não vão ficar boa.
- John, acho melhor você ir tro... - Começo, mas meu amigo levanta uma mão, me calando e me entrega o prato com feijoada.
Ele cruza os braços em frente ao corpo e sorri com deboche para meu primo.
- Primeiro, minha vida não lhe diz respeito. Se sou mais que um agente para Evan, meu melhor amigo, isso é um problema nosso. E segundo, você está bem interessado em mim, mas não crie esperanças, querido, você não faz o meu tipo. - John fala, olhando em seus olhos e posso sentir a tensão se formar.
- Ok, você precisa mesmo trocar de roupa. - Falo e pego em sua mão, o puxando junto comigo.
Deixo o prato de comida na mesinha de centro e subo às escadas com John, podendo escutar algumas piadinhas vindas de Helena. Deus, quando foi que minha irmãzinha cresceu tanto?
- Ei, o que foi aquilo? - Pergunto para John, assim que entramos em meu antigo quarto.
- Ele me irritou, teve o que mereceu. - Ele responde e dá de ombros, observando o quarto ao seu redor. - Ah, que fofo... Você tinha um cavalinho de madeira.
- Você se irrita muito fácil, credo! Parece meu pai Castiel. - Falo em um suspiro e vejo ele se jogar na cama de casal.
- Ótimo, então você já sabe que não vou me calar quando encontro idiotas e seu primo é um. Viu que ele se acha? Aff! Tirou toda a beleza. - Ele diz e isso me faz rir.
- Ele te interessou, é? - Pergunto com curiosidade e me jogo ao seu lado na cama. Pego o controle do ar-condicionado na mesinha de cabeceira e ligo o aparelho em seguida, ouvindo John suspirar em contentamento.
- Como disse, não faz meu tipo. - Ele diz, mas arqueio uma sobrancelha para ele. - O que? Eu gosto de cowboys, não playboys engomados. E vamos mudar de assunto... Já pensou se vai confrontar seu ex sobre ter mesmo um filho, ou filha com ele?
- Não, estou tentando evitar isso. Sei lá, ao mesmo tempo que tenho a certeza disso, tenho medo de me decepcionar se for mesmo verdade. Eu realmente não sei o que fazer. - Respondo e sinto ele me abraçar, colocando o queixo em meu peito.
- Se eu fosse você, tiraria essa história a limpo de uma vez, ficar criando teorias só está te fazendo mal. - Ele diz sério e sei que suas palavras estão certas.
- Vou ver o que fazer. - Falo e deixo um beijo em sua testa. - Agora você vai trocar de roupa, não vou ficar viúvo porque você morreu de calor. - Brinco e ele ri.
- Eu voltaria para puxar seu pé de noite. - John diz, ainda rindo, e se levanta da cama em seguida.
Nossas malas já estão aqui em meu quarto, pois vamos dividi-lo por algumas semanas, já que todos os outros quartos da casa já estão ocupados. E enquanto John se troca, eu só consigo fechar meus olhos e pensar no que posso ou não fazer em relação a dúvida que eu tenho.
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Otávio Miller
* Dias depois... *
Termino de examinar minha mais nova paciente e sinto meu coração se apertar um pouco em meu peito, por saber de sua história de vida. Zoe tem apenas cinco anos de idade e já luta contra um câncer no estômago, algo que a impede de viver sua melhor fase... A infância. Sem contar que ela é órfã e só está aqui porque foi escolhida por um dos "padrinhos" da área de oncologia pediátrica. É tão triste pensar que alguém pode abandonar uma coisinha tão pequena dessas.
- Tio, 'tá dodói. - Ela diz em um sussurro dolorido e isso corta meu coração, mas eu preciso ser forte.
- Eu sei, anjo, mas já vai passar. - Sorrio para ela, pois acabaram de lhe dar uma dose de morfina.
Levo minha mão até sua cabeça e acaricio seus cachos castanhos, que não vão continuar ali por muito tempo. Seus traços delicados expressão a dor e desconforto que ela sente e seus olhos azuis me fitam sem parar. Seu corpo é tão pequeno, que ela fica perdida na cama hospitalar e é nesses momentos que sinto o peso maior de ser médico oncologista. Mas o que me conforta é saber que farei tudo ao meu alcance para vê-la bem.
Fico ao seu lado, segurando sua mão, até que ela durma e sua face fique serena e calma. Só então eu consigo me levantar e deixá-la com a enfermeira.
Sinto minha cabeça latejar um pouco e sigo em direção ao meu consultório, só querendo respirar um pouco. Faltam apenas duas horas para meu plantão acabar e somente isso me conforta.
Sigo um pouco distraído pelos corredores do hospital e nem percebo a pessoa em minha frente, até trombar nela. Levanto meus olhos da prancheta, com a intenção de pedir desculpas, mas me calo ao ver Arthur. Desde o episódio em que dormimos juntos, eu venho tentando o evitar, mas sabia que não duraria para sempre isso.
- Só assim para que eu te veja, não? - Ele debocha e eu reviro meus olhos, me afastando. - Ei, até quando vai ficar desse jeito comigo? Parece até que te obrigue a algo, Otávio. - Arthur aumenta seu tom de voz e percebo que não está contente.
- Eu sei que não, mas fize... Eu fiz besteira e não quero pensar nisso. - Falo em um suspiro.
- Fez besteira? Você traiu alguém ao dormir comigo? Me lembrava de você ser solteiro. - Ele diz com ironia e isso me faz sentir pior, porque sim, eu traí uma pessoa.
- Continuo sendo, mas quando dormimos juntos eu traí mesmo a confiança de alguém e não sei se posso recuperar. - Falo por fim e lhe dou às costas.
Me sinto extremamente esgotado emocionalmente e tudo o que desejo agora é um bom banho quente e minha cama.
[...]
Estaciono meu carro na garagem de casa algumas horas depois e nem acredito que posso finalmente descansar. Pego minha bolsa no banco do carona e saio do veículo em seguida, indo até à porta de entrada. Encontro tudo no mais completo silêncio e sigo diretamente até às escadas, mas uma voz me faz parar.
- Precisamos conversar, Otávio. - Ouço ele dizer e penso ser coisa da minha cabeça.
Meu corpo inteiro está arrepiado enquanto me viro, dando de cara com Evan sentado em minha sala de estar. Minhas mãos se tornam trêmulas de repente e então minha bolsa cai no chão, causando um baque surdo. Abro minha boca algumas vezes para falar, mas nada sai. Meu coração bate sem parar em meu peito e é como se eu estivesse vendo um fantasma nesse momento... Uma pessoa que esteve morta por cinco anos para mim.
Vejo Evan se levantar do sofá e caminhar em minha direção, seus olhos estão fixos nos meus e isso me deixa ainda mais sem chão. Eu realmente pensei que sua presença não me abalava mais, doce engano.
- O que faz aqui? - Pergunto quando consigo encontrar novamente minha voz e ela sai um pouco trêmula.
- Já disse, precisamos conversar. - Ele diz em um tom sério e um suspiro escapa por meus lábios.
- Tudo bem. - Respondo, mas meu coração diz totalmente o contrário.
Eu só tenho que me lembrar de que ele não é mais o meu Evan.
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E o encontro mais esperado chegou, jujubas!!
O que vocês acham que vai rolar no próximo capítulo???
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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