Capítulo Quatorze

John Colb

Tudo acontece da forma mais lenta e torturadora possível. Meus olhos ficam fixos na cena que se desenrola em minha frente. Em um segundo Evan está sorrindo, sabendo que bateu seu tempo e fez um bom trabalho. No outro ele está com o rosto encharcado de sangue e cai do animal. É nítido que ele já não tem muita consciência, mas mesmo assim tenta se afastar do animal enfurecido. E é como perder o ar quando vejo as patas do touro de uma tonelada o pisoteando.

Perco totalmente as forças em minhas pernas e não faço nem ideia se ainda consigo respirar. Tenho a noção das pessoas gritando ao meu redor, principalmente José Victor, mas eu simplesmente não consigo me mover. É como se eu estivesse sendo pisoteado também.

Assisto pessoas correndo para dentro da arena, tentando conter o animal e o levando para longe, mas o estrago já está feito. Vejo alguns homens se colocando ao redor do corpo ferido de Evan, analisando a situação, mas ninguém se atreve a tocar nele. E José Victor está lá também, olhando tudo com horror em sua face e lágrimas caindo de seus olhos.

E eu só consigo me mover novamente, voltar à realidade, quando ouço o barulho alto de sirenes. Sinto meu estômago revirar e é como se eu pudesse vomitar a qualquer momento, mas me forço a continuar firme e fazer algo, mesmo que eu não possa ajudar.

Assim que retomo o controle sobre meu corpo, corro até o portão da arena e observo os paramédicos colocando o corpo de Evan na maca. Um dos homens fala algo com o semblante sério para o outro, e apenas ver isso me gela por inteiro. O medo parece criar raízes dentro de mim a cada segundo e sinto que posso entrar em colapso a qualquer momento.

Evan já se machucou, claro que sim, mas eu jamais vi algo como isso. O máximo foi um braço quebrado, e não ele estar inconsciente em cima de uma maca, tendo seu corpo todo coberto por sangue.

E a bile volta a subir por minha garganta ao que eles passam por mim e posso ver com mais nitidez seu rosto coberto por sangue... Pelo seu sangue.

- John! - Me assusto ao ouvir meu nome sendo gritado e pisco algumas vezes, vendo o rosto choroso de José Victor entrar em meu campo de visão.

- O quê? - Pergunto, e minha voz não passa de um sussurro.

- Nós vamos com ele na ambulância, eu preciso ligar para os meus pais. - Ele diz e eu apenas concordo com um aceno, não conseguindo falar.

José Victor me pega pela mão e me puxa com ele até à ambulância. Os paramédicos nos deixam entrar e me sento em um pequeno espaço. Evito olhar para Evan, pois não consigo o ver assim.

O veículo sai em alta velocidade e posso ouvir eles falando com alguém, mas não entendo muita coisa. No caminho até o hospital, vejo José Victor ligando para os seus pais e ele não contém as lágrimas ao dizer o que houve. E eu me sinto tão mal por imaginar como Adrian e Castiel estão ao receber essa notícia.

Quase não percebo quando chegamos ao hospital, mas fico aliviado quando isso acontece. Evan é levado com rapidez pelos paramédicos, e José e eu ficamos para trás.

Tudo para mim se passa como se eu não fizesse parte da cena. Sinto José Victor me levar com ele até uma recepção, mas não presto atenção no que eles falam. E quando tudo termina, ele me puxa com ele até uma sala ampla, cheia de cadeiras acolchoadas. Me sento em uma delas e fecho meus olhos, apoiando meu rosto em minhas mãos.

E só então deixo toda a minha frustração, medo e terror sair em forma de lágrimas. Evan é minha única família de verdade e só de pensar que algo ruim pode acontecer com ele, isso me deixa quebrado. O medo se intensifica em meu peito e só consigo pedir a Deus baixinho que não me tire a única pessoa que me ama de verdade.

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Otávio Miller

Termino de vestir meu uniforme hospitalar e amarro meus cachos com um elástico. Guardo meus pertences no pequeno armário e saio do vestiário em seguida, caminhando até à recepção.

Mas meus passos param assim que vejo um grupo de enfermeiros e médicos passando por mim. Meu corpo inteiro se arrepia e perco totalmente minhas forças ao ver a pessoa deitada na maca, toda coberta de sangue.

- Evan. - Minha voz sai como um sussurro e sinto um gosto amargo em minha boca.

É uma imagem horrível que fica marcada em minha mente e não consigo fazer mais nada, a não ser ficar paralisado no mesmo lugar. Minha mente se agita com milhares de pensamentos do que possa ter acontecido e meu coração parece uma escola de samba em meu peito.

Sinto uma sensação ruim na boca do estômago e respiro fundo, tentando manter a calma.

Você é medico, Otávio, viu situações piores. Calma e tente achar respostas.

Passo minhas mãos por meu rosto e pego o celular no bolso do jaleco. Procuro entre meus contatos e clico no nome do meu pai, ligando para ele em seguida.

- Oi querido! - A voz de papai soa alguns segundos depois e respiro fundo antes de continuar.

- Papai, você está na clínica? - Pergunto e aperto meus dedos, sentindo a ansiedade tomar conta de mim.

- Estou sim, por que? Aconteceu algo? - Ele pergunta, claramente preocupado.

- É o Evan. Ele acabou de passar em uma maca, todo coberto de sangue e médicos ao redor. Eu sei que era ele, mas eu não sei o que aconteceu. Pai, ele não está bem! - Falo apressadamente, sentindo meu coração bater ainda mais rápido em meu peito.

- Ei, calma! Estou indo para aí. Tente achar alguém que esteja acompanhando ele. - Papai diz e eu concordo rapidamente, encerrando a ligação em seguida.

Guardo meu celular novamente e ando apressadamente pelos corredores, seguindo até à sala de espera. Sei que preciso atender meus pacientes, mas eu simplesmente não consigo pensar em mais nada que não seja Evan.

E assim que passo pela porta da sala de espera, sinto meu estômago gelar ao ver José Victor e John, sentados nas cadeiras ali. John está chorando audivelmente, tendo o rosto entre as mãos. Já José Victor, tem o rosto um pouco vermelho e inchado pelo choro recente, o que faz o medo fluir em mim.

Me aproximo em passos lentos dos dois e não demora muito para que José note minha presença. Ele se levanta rapidamente e vem até mim, me apertando em um abraço. Não tenho outra reação a não ser o abraçar de volta e esfregar suas costas em carinho.

- O que houve com ele, José? - Pergunto após alguns segundos, quando ele se afasta de mim.

Ainda há algumas lágrimas teimosas caindo por seu rosto e ele as enxuga, respirando fundo antes de me responder.

- Evan estava treinando para a competição, ele já havia montado duas vezes hoje, mas esse último era muito feroz e ele não deu a devida atenção. Ele não estava usando capacete e acho que isso piorou tudo, o touro deu uma cabeçada nele. Evan perdeu o equilíbrio e caiu, sendo pisoteado logo depois. - Ele conta com a voz embargada e meus olhos ardem só de imaginar a cena.

E então as imagens de Evan na maca se juntam na minha cabeça e isso me deixa totalmente transtornado. A sensação de medo volta a apertar em meu peito e respiro fundo, contendo minha vontade de chorar.

Infelizmente eu já sabia que isso poderia acontecer e sempre foi o que eu quis evitar. Mas Evan jamais escutou, sempre achou que disse implicância minha, mas não era. Minhas brigas com ele por causa disso sempre teve um único motivo... O medo de perde-lo em algum grave acidente como esse.

- E seus pais? Eles já sabem? - Pergunto preocupado e apreensivo.

- Sim, eles estão vindo. Droga! Eu não devia ter contado daquele jeito, papai deve estar passando mal de preocupação. Mas eu não sabia como fazer isso. - José diz com frustração e puxa os fios ruivos em sua cabeça.

Toco suas mãos com calma, as tirando de seus cabelos e volto a abraça-lo.

- Ei, calma. Você tinha que contar de algum modo, só vamos torcer para dar tudo certo. Meus pais já estão vindo também. - Falo com a voz mansa e deixo um beijo em seus cabelos.

José Victor volta a me apertar em seus braços e ficamos assim por bons minutos, até ele se acalmar realmente. Entrego um copo com água para ele e pego outro para John, que parou de chorar e olha para o nada. Posso não gostar dele, mas jamais vou me fazer de indiferente ao seu sofrimento, que é parecido ou o mesmo que o meu.

- Aqui, toma um pouco. - Estendo o copo descartável em sua direção e ele me olha surpreso por um tempo, antes de aceitar.

- Obrigado. - Ele diz com a voz falha e eu assinto apenas.

Me sento ao lado de José e ficamos em silêncio por um bom tempo, até o momento em que senti meu celular vibrando. Pego o aparelho e solto um suspiro ao ver o nome César escrito na tela, e respiro fundo antes de atender.

- Oi!

- Otávio, onde você está? Seus pacientes estão esperando por você. - Ele diz sério, mas em um tom calmo.

- Desculpa, doutor Sales, mas hoje não posso atender ninguém. - Respondo, passando a mão livre por minha testa, sentindo uma dor de cabeça começando.

- Como assim não pode? Aconteceu alguma coisa com você? Está doente?

- Aconteceu, mas não comigo. É um assunto de família. Agradeço pela sua compreensão, nos falamos depois. - Falo por fim e encerro a ligação em seguida.

Olho para às horas em meu celular e percebo que já faz cerca de quarenta minutos desde que vi Evan com os médicos. Sinto a ansiedade crescer em meu peito e peço baixinho que ele fique bem. Se há uma coisa que eu não suportaria é perder mais uma pessoa que amo.

Posso estar tentando ser forte nesse momento, mas se algo realmente ruim acontecer com Evan, eu não sei o que fazer da minha vida. Perder minha filha já foi duro demais, perder o homem que eu amo seria o golpe final para mim.

- Ai estão vocês, o que houve? - Ouço a voz conhecida e ao levantar meus olhos, vejo meus pais se aproximando de nós.

Explico rapidamente aos meus pais o que houve, enquanto José Victor é consolador por eles. Minha vontade também é me juntar ao abraço e chorar um pouco, mas apenas me mantenho sentado na cadeira, apertando meus dedos freneticamente. Talvez um pouco de bebida me ajudasse a relaxar nesse momento, mas sei que não será possível ter um pouco agora.

[...]

Uma hora mais tarde eu vejo meus padrinhos e Helena entrando na sala com expressões desesperadas em seus rostos, principalmente tio Castiel, que chora compulsivamente. E confesso que fico aliviado em vê-los bem, já que estava com medo de ocorrer mais outro acidente na vinda deles.

- Meu filho, onde ele está? - Castiel pergunta em meio ao choro, sendo amparado por tio Adrian.

- Ainda não sabemos, nenhum médico apareceu e não dão notícias nem a mim. - Falo a ele, que se senta em uma das cadeiras, sem muita força.

- Eu sabia que tinha algo de errado. Tentei falar com ele o dia todo e nada. - Ele diz em meio a soluços, estando totalmente abalado.

Não sei o que falar a ele diante essa situação, pois também me encontro da mesma forma por dentro, só ainda não me deixei desabar. E eu fico surpreso quando vejo papai se aproximando dele.

- Sei que não estamos em nossos melhores momentos, mas saiba que estou aqui para você, como sempre esteve para mim. Evan é como meu filho e está doendo em mim também. Mas tudo vai dar certo, ele é um menino forte, assim como o pai dele. - Papai diz e o abraça. E fico aliviado em ver meu padrinho retribuindo o carinho.

Os dois ficam envoltos nessa pequena bolha por alguns segundos, até se afastarem. No mesmo momento um médico aparece na sala de espera e o reconheço.

- Familiares de Evan D'Ávila! - Ele chama um pouco alto e rapidamente todos se põe de pé.

- Alguma notícia, doutor Negrini? - Pergunto com ansiedade, me aproximando um pouco dele.

- O paciente ainda se encontra em cirurgia, mas o diagnóstico não é animador. - Ele diz e sinto a sensação ruim se tornar ainda maior em meu peito.

- Como meu filho está? Ele vai ficar bem, não vai? - Meu padrinho pergunta e o desespero em sua voz é palpável.

- Estamos fazendo o possível para que sim, por isso estou aqui. Infelizmente parte do membro inferior de Evan, sendo sua perna direita, foi esmagado ao seu pisoteado pelo animal que montava e não podemos fazer nada para recuperar tudo o que foi perdido com isso. Por isso eu preciso da autorização de vocês para realizar a amputação de parte da perna dele. - Ele diz e é como se o chão sumisse abaixo dos meus pés.

E vejo que acontece o mesmo com meu padrinho, que perde totalmente a cor e cai inconsciente nos braços do marido.

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Não me matem, por favor...

Se der certo, volto ainda hoje com mais um.

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

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