Otávio Miller

A vida é cheia de altos e baixos, muitas vezes mais pontos baixos e traumáticos do que momentos alegres, mas não podemos mudar isso, apenas seguir o curso. Parece até hipócrita da minha parte dizer isso, mas hoje vejo que tudo acontece por um motivo e eu não tenho controle de absolutamente nada. É difícil, é doloroso, mas um dia as coisas parecem entrar em um bom curso. Eu cresci cercado de amor, carinho, praticamente em uma redoma. Eu não sabia o que era a dor de perder algo, de não ter aquilo que você queria com todas as forças. Porém, quando crescemos e nos tornamos adultos, percebemos que nem tudo é da forma a qual queremos ou planejamos.

Quando eu era um garoto de quinze anos, tinha meu futuro totalmente planejado. Namoraria com Evan até os vinte e quatro, então ficaríamos noivos, casaria antes dos trinta e então teria nossos filhos. O quão ingênuo eu fui. As coisas nunca acontecem da forma que planejamos, tudo já está escrito e basta você seguir o roteiro... mesmo que seja um enredo difícil. Nunca esteve em meus planos me separar do amor da minha vida, nunca planejei engravidar aos dezenove anos e muito menos perder minha filha antes de conhecê-la. Nunca sonhei me viciar no álcool, viver uma vida da qual não vou me orgulhar. Nunca foi meu plano desistir, mas por algumas vezes isso pareceu mais fácil. Eu estava em um ponto em que não suportava mais sentir apenas dor. Eu não aguentava me olhar no espelho e não me reconhecer. Não me suportava.

E por um momento eu achei que seria o fim, essa seria a minha vida... um eterno fardo muito pesado. Mas não sabemos nada sobre a vida e muito menos do que foi reservado para cada um de nós. E hoje eu me sinto grato por não ter desistido, por ter resistido mais um pouco, pois agora eu vejo os bons frutos. Vejo a luz no fim do túnel. A alegria depois de muito choro. Ainda há dor, pois a que eu sinto nunca vai me abandonar, mas se tornou mais suportável. É um vazio que se tornou pequeno diante as coisas boas que foram acrescentadas em minha vida nos últimos meses.

Reencontrar Evan depois de tantos anos foi uma surpresa dolorosa, mas veio na hora certa. Foi por causa de sua chegada que pude enfrentar o passado de uma vez por todas. E a melhor parte foi me ver livre do fardo, da culpa que carreguei durante anos. Infelizmente foi uma fatalidade que nos aproximou, mas sou grato pela nova chance que tivemos juntos. Apesar de toda a mágoa e dor que causamos um ao outro, Evan sempre foi e sempre será o amor da minha vida, a minha alma gêmea... o meu oposto. Ele é perfeito em suas imperfeições e possuímos um encaixe perfeito quando estamos juntos. E eu fico ainda mais feliz em saber que eu também o ajudei em um momento tão difícil como foi após o acidente.

Zoe também é um grande elo entre nós, uma pessoinha que nos deu forças para seguir em frente e almejar novamente uma família. Sendo muito sincero, eu não me imaginava mais com filhos, para mim esse sonho havia sido enterrado junto com Luz há anos atrás. Mas como eu já disse aqui... a vida é imprevisível. E eu não pude me impedir de amar aquela garotinha desde a primeira vez que a vi lutando pela vida, mesmo ainda tão nova. Zoe veio somar em nossas vidas e trazer cores ao que era cinza e frio.

Também não posso esquecer do meu pacotinho de amor que cresce em meu ventre nesse momento. Nem em meus sonhos mais loucos eu me imaginava engravidando novamente, era um pavor muito grande depois de tudo o que aconteceu. Só que mais uma vez a vida vem e me diz que eu não tenho controle de absolutamente nada. Confesso que ainda há um pouco de medo dentro de mim, mas aos poucos esse sentimento vem se tornando menor. Eu estou a cada dia me apegando a ideia de que tudo já deu certo e meu bebê nascerá forte e saudável. Tenho certeza que ele trará ainda mais amor e felicidade a nossa família.

- Papai Tatá! - ouço a voz eufórica no mesmo instante em que sinto um movimento diferente em meu ventre.

Arregalo levemente meus olhos e abaixo minha cabeça, fitando minha barriga descoberta de cinco meses. O movimento volta a se repetir e levo minha mão até o local, sentindo meu bebê se mexer. Abro um sorriso e sinto meus olhos arderem ao me dar conta dessa sensação incrível que um dia já experimentei. As lágrimas caem sem permissão pelo meu rosto e vejo quando Zoe se coloca em minha frente, me olhando assustada.

- O que eu fiz? - Ela questiona com os olhos grandes e molhados, me fazendo rir.

- Nada, estrelinha, você não fez nada.

- Então por que tá chorando, papai? - Zoe volta a perguntar, curiosa, e coloca as mãozinhas em minha barriga.

Abro a boca para responder, mas nesse instante um novo movimento se faz presente e Zoe sente, arregalando seus olhos com surpresa.

- É por isso, amor... o bebê está te dando "oi" - falo a ela, acariciando seus cachinhos.

- Oh! Oi, bebê... espero que você seja uma menina. - Ela diz e levanto uma sobrancelha.

- Como é?

- Meninos são chatos, papai - Zoe diz e dá de ombros, beijando minha barriga em seguida. - Posso contar ao papai Eva que o bebê mexeu?

Balanço a cabeça em negação e saio do meu estado de breve paralisia. Volto a acariciar minha barriga, mas os movimentos cessaram. Acho que o bebê não gostou do que Zoe disse. Será?

- Não, amor. Vou fazer uma surpresa para ele, então vamos manter segredo, ok? - falo a ela, fechando meu roupão em seguida.

- Ok! Vovô Angie está subindo. - Ela avisa e se joga na cama do quarto, pegando meu celular em seguida.

Balanço minha cabeça, reprovando seu gesto, mas nada digo, até porque meu pai entra em meu quarto logo em seguida.

Vamos começar do início...

Hoje é meu casamento com Evan. Sim! Eu vou me casar com meu amor de infância, o homem da minha vida. E como havíamos combinado, o casamento será aqui na fazenda dos pais dele, um lugar que guarda lembranças maravilhosas de nós dois juntos, desde nossa infância até a adolescência e início da vida adulta. E não poderia fechar/iniciar um ciclo em um lugar diferente.

Finalmente eu estarei realizando um dos meus sonhos de adolescente. E sim, eu vou me casar antes dos trinta.

- Está pronto? - Papai Angie questiona ao se colocar em minha frente, tendo um sorriso no rosto e minhas roupas para o casamento em suas mãos.

- Totalmente! - respondo, sem pensar duas vezes.

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Evan D'Ávilla

Eu nunca planejei minha vida, pois sempre soube que tudo pode mudar do dia para a noite e foi exatamente isso que aconteceu. Porém, eu sempre soube que queria uma pessoa em minha vida... Otávio. Não importa o que houvesse, eu sabia que ele estaria comigo. Por isso foi um choque quando nos separamos. Mas apesar de todos esses anos longe, de termos ficado com outras pessoas, isso nunca diminuiu meu amor por ele. Mesmo se nunca voltássemos um para o outro eu sabia que só seria ele... somente ele. Seria o amor da minha vida, o meu homem, a pessoa com quem um dia sonhei construir uma família. E olha só... hoje temos uma família e prestes a oficializar nossa união diante as pessoas que mais nos amam.

Mesmo com todas as merdas que aconteceram, principalmente meu acidente, fico feliz em ter seguido em frente e ter chegado até aqui. É satisfatório.

- Sabe, acho que o chão vai se abrir daqui a pouco - John alfineta, estando sentado no sofá a uma pequena distância de mim.

Estou na sala de estar da casa dos meus pais, esperando ansiosamente o momento em que Otávio vai descer às escadas. Combinamos de entrar juntos na cerimônia, segurando a mão um do outro, estando a cada segundo juntos celebrando esse momento mais que esperado para mim.

- Estou ansioso, ok? E por que ainda está aqui? Deveria estar se preparando junto com os outros padrinhos - respondo e ouço ele bufar.

- Ainda vou me vingar de você por essa ideia idiota de me juntar a aquele troglodita - John diz com irritação, apontando seu dedo indicador para mim.

Solto uma risada, pois é engraçado ver sua indignação em estar fazendo par com Léo. Mas a ideia nem foi minha, digamos que Otávio teve esse "desejo".

- Admita que gosta dele e paro de te perturbar - retruco e ele revira os olhos, se levantando em seguida.

- I hate you! - Ele diz e me mostra o dedo médio, saindo da sala em seguida.

Ainda rindo eu me sento no sofá, pois a prótese me incomoda um pouco e espero. A ansiedade e nervosismo aumenta a cada instante e penso que vou explodir quando ouço passos na escada. Me levanto rapidamente e meus olhos se erguem, vendo meu noivo descendo as escadas acompanhado de seu pai Angie e nossa pequena. Sinto meu coração bater mais forte em meu peito e penso que ele pode fugir a qualquer momento, tamanha a velocidade de seus batimentos.

Eu me sinto hipnotizado enquanto Otávio desce as escadas e só acordo do meu transe quando meu padrinho coloca a mão do filho junto a minha.

- Não vou ser um clichê, mas espero que cuide muito bem do meu bebê - tio Angie diz, fazendo Otávio revirar os olhos enquanto ri.

- Papai!

- O quê? Você é mesmo meu bebê.

- Pode deixar, cuidarei dele com a minha vida - respondo, sorrindo, apertando a mão de Otávio junto a minha.

- Ótimo! Vamos, princesa? - meu sogro se dá por satisfeito e estende a mão para Zoe, que vai sem dizer nada mais, apenas deixando um tchau para nós.

Solto uma risada, pois essa pequena pessoa com certeza me causará muitos cabelos brancos antes da hora. Volto minha atenção para Otávio e meu sorriso aumenta, pois não sei como foi possível, mas ele está ainda mais lindo. Seus cabelos estão soltos, evidenciando os cachos que tanto amo e há pequenas tranças no topo de sua cabeça. Seu terno é da mesma tonalidade do meu, sendo de um creme com alguns detalhes em cetim.

- Você está perfeito, Tatá - elogio, deixando um beijo em sua testa e um afago em sua barriga de cinco meses.

- Obrigado, futuro marido... você também não está nada mal. - Ele responde, me fazendo rir.

- Vamos? - questiono e aponto para a porta aberta.

- Vamos!

Sua mão aperta a minha que está entrelaçada a sua e nós seguimos em passos calmos para fora de casa. O local escolhido foi a nossa árvore, onde está montado o pequeno altar. E contrastando com toda a decoração de flores naturais há o por do sol, que faz o cenário ainda mais lindo.

Seguimos juntos até o altar onde a juíza de paz está nos esperando. Sorrimos para nossos familiares e amigos, pessoas que estão verdadeiramente torcendo por nós dois e nossa felicidade. A cerimônia se dá início e presto atenção em cada palavra enquanto olho nos olhos do homem que eu amo e escolhi passar o resto da minha vida junto. O momento dos votos chega e penso que posso desmaiar de nervosismo. Eu nunca fui bom com as palavras.

- Bom, vamos lá... eu não sei falar palavras bonitas, mas vou tentar dizer o que está em meu coração - inicio, apertando nossas mãos juntas - Eu te amo desde que vi pela primeira vez e isso foi quando você ainda era um bebê. A dimensão do meu amor eu só fui perceber quando já éramos adolescentes e eu achava que você jamais olharia para mim, mas eu estava errado. Nossa história foi linda em vários momentos, mas também teve dores e uma delas vamos carregar para sempre, mas isso não anula tudo de bom que ainda virá. E eu sou grato pela nova chance que estamos tendo juntos, pela família que estamos construindo. E eu sou ainda mais grato por você ter estado ao meu lado no momento em que eu mais precisei, foi ali que eu percebi que ainda havia esperança de ser feliz. Só obrigado por existir e me amar de volta.

Sinto lágrimas caindo por meu rosto e Otávio não está diferente. Solto nossas mãos e limpo sua face com meus dedos, sorrindo para ele.

- Acho que também preciso te agradecer, principalmente por ter me perdoado quando nem eu mesmo havia feito isso. Realmente há uma dor que vai nos acompanhar para sempre, que é a ausência de Luz em nossas vidas. Mas eu sei que de onde ela estiver, ela está feliz por nos ver felizes e juntos, acho que esse era o desejo dela. Você diz me amar desde sempre e para mim também não foi diferente, Evan. Você sempre me tratou da melhor maneira possível e não é à toa que te coloquei como meu príncipe encantado de cabelos ruivos. E sobre estar ao seu lado, eu jamais faria nada diferente disso, pois mesmo com todas as nossas diferenças, o que sempre se sobressaiu foi o amor e nós estarmos aqui é a maior prova. E eu só peço que tenhamos muito anos juntos para aproveitar todo esse amor.

- Eu te amo. - É a única coisa que consigo declarar diante suas palavras, estando emocionado e me sentindo muito amado.

- Ok, acho que podemos pular a parte do "aceito" e se "tem alguém aqui contra essa união". O que acham? - A juíza questiona e não podemos deixar de rir.

- Por favor! - Otávio é quem responde por nós dois.

E em meio aos risos nosso e da plateia, nossa Zoe entra pelo tapete de pétalas de rosas com uma cesta pequena em mãos, contendo nossas alianças. Ela me entrega a cesta ao chegar até nós e deixamos um beijo em nossa pequena, que vai correndo até os tios malucos.

- Tatá, aceite esta aliança como símbolo do meu infinito amor e minha fidelidade - falo ao deslizar o círculo dourado por seu anelar esquerdo, deixando um beijo em sua mão em seguida.

- Evan, aceite esta aliança como símbolo do meu mais puro e da minha fidelidade - Otávio imita meu gesto e sinto um breve frio na barriga ao ver a aliança brilhar em meu dedo.

- Sendo assim, pelos poderes investidos a mim, eu vos declaro casados. Podem se beijar.

E ao ouvir esse comando, não espero nada mais para me aproximar ainda mais de Otávio e trazer sua boca até a minha, desfrutando dos seus doces lábios. E é ao som dos aplausos que nós selamos nossa união com um beijo. Minhas mãos escorregam até sua barriga, acariciando nosso filho através do tecido, e para minha surpresa recebo um chute na palma da minha mão aberta.

Meus olhos se arregalam e me afasto de Otávio, estando um pouco em choque. Meu marido sabe o que houve, por isso há um sorriso enorme em seu rosto e sua mão se coloca em cima da minha.

- Acho que ele está feliz igual os papais - Otávio diz e não consigo responder.

A única coisa que consigo fazer é me abaixar diante dele e colocar meu rosto próximo a sua barriga, sorrindo igual a um idiota. Sinto as lágrimas voltarem aos meus olhos e elas caem quando os chutes voltam, dessa vez com mais intensidade.

- Ei, papai Eva te ama - sussurro, deixando um breve beijo sobre o tecido da camiseta que Otávio.

- Ele também te ama, aliás... nós amamos - Otávio responde e nesse exato instante sinto um pequeno corpo se jogar em mim.

Meu sorriso se amplia e pego Zoe em meus braços, beijando seu rostinho, ouvindo sua risada. Otávio nos abraça e nesse instante eu sinto que tudo valeu a pena para eu estar aqui com a minha família.

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Confesso que eu não queria dizer adeus, por isso enrolei tanto, mas é necessário.

Espero muito que tenham gostado, jujubas, pois foi feito com muito amor. Em breve volto com o epílogo, trazendo mais amor junto a essa família.

P.s: não esqueci do bolão, calma!

Bjus da Juh 😘 😘