Capítulo Onze
Ângelo Lima Miller
Deixo o celular cair da minha mão, indo de encontro a cama e fecho meus olhos com certa força, soltando um suspiro pesado. Eu jamais imaginei que estaria em uma situação como essa agora. Nunca foi minha vontade, mas também não dependia só de mim. O que eu seria se não apoiasse meu próprio filho?
- Ei, o que foi? - Ouço a voz do meu marido e abro meus olhos, o encontrando parado em minha frente, ostentando um olhar preocupado.
Enzo usa apenas uma calça de moletom e seu tronco está nu, me deixando ver as gotículas de água que escorrem por seu peito e abdômen. Em poucos segundos ele se senta ao meu lado e me abraça, o que faz eu derramar as lágrimas presas.
- Castiel já sabe de tudo. Evan deve ter contato para todos. - Respondo e sinto o nó em minha garganta aumentar. - Eu não o culpo, na verdade, fomos nós que erramos em esconder tudo, mas eu não queria perder uma parte da nossa família. Castiel está arrasado e com razão, se sente traído por mim.
- Mas era uma situação difícil, anjo. Ou você traía seu melhor amigo e a família, ou traía nosso filho. A culpa não é só sua, eu também compactuei com isso, mesmo sabendo ser errado. Mas, poxa, era nosso filho fazendo um pedido. Ok, eu admito, nós mimamos demais Otávio, assim como nossos filhos, mas a situação pedia que ficássemos ao lado do nosso filho. - Enzo diz e sei que ele tem um pouco de razão.
- Eu sei, amor. Mas eu me coloco no lugar deles também, entende? Eu sei que não é isso, mas me faz lembrar do Apolo e sua mãe. Eles passaram anos enganados, praticamente não sabendo da existência um do outro. - Falo e ouço Enzo soltar um suspiro pesado.
- Falando assim, soa de uma maneira muito horrível. - Ele diz e eu solto uma risada amarga.
- E é horrível, Enzo. Eu com certeza poderia fazer tudo novamente, mas me arrependeria da mesma forma. Isso não prejudicou somente o Evan e o resto da família, prejudicou a todos nós, principalmente Otávio. Deveríamos ter sido os adultos e contrariado ele um pouco, e hoje não estaríamos nessa situação. Se Evan não quisesse Luz, o que era e é impossível, tudo bem, problema dele, mas a culpa agora está somente em nós. Um término e ele ir embora não justifica nada, entende? - Pergunto e me afasto um pouco do meu marido, para vê-lo melhor.
- Sim, eu entendo. Mas não há mais como mudar o passado. - Ele diz de forma séria. E, sei que mais do que ninguém, ele sabe o que atitudes como essa podem causar na vida de alguém.
- Mas podemos mudar o futuro, pelo menos eu quero isso. - Ouço a voz de Otávio, quebrando o silêncio momentâneo e miro meus olhos na porta entreaberta do nosso quarto, vendo meu filho parado ali.
E pela sua expressão, sei que ouviu praticamente toda a nossa conversa.
- Desculpa por tudo isso, papai... Eu não queria. - Ele diz com a voz embargada e eu sei que é verdade.
Enzo e eu podemos ter nossos filhos em uma grande redoma de vidro, mas isso é porque amamos demais os três. Otávio, Giovani e Cecília são nossas razões de viver. Então sim, podemos nos cegar para algumas atitudes às vezes.
- Eu sei que não, mas vamos esquecer isso por um momento. - Falo e abro meus braços, em um convite para ele vir até nós.
Segundos depois sinto meu filho me abraçando e o aperto em meus braços. Meus filhos podem ter a idade que for, mas sempre serão meus bebês, e por isso eu o acolho com o maior carinho do mundo.
- Como está, filho? - A pergunta vem de Enzo, que observa Otávio com atenção. - Não nos disse nada sobre a conversa com Evan. Fiz bem em o deixar entrar?
- Claro que fez, papai. Eu deveria ter dito tudo há anos atrás e não só agora. E, confesso, se não fosse ele vir até mim, eu não teria coragem para ir atrás dele apenas para contar toda a história. - Ele responde em um suspiro e se afasta, se deitando na cama com a cabeça em meu colo. - Sobre como eu estou? Não sei, de verdade.
Otávio me preocupa há alguns anos, já que após a morte de Luz, ele desenvolveu alguns vícios... Sendo eles sexo e bebida, a combinação do desastre. Enzo e eu, assim como toda a família, sempre tentamos trazer ele de volta. Já tentamos terapia, retiros, até pensamos em o mandar para um lugar mais calmo, mas nada adianta. Porque no final, tudo depende dele e em todos esses anos Otávio quis se destruir ao invés de melhorar.
- Vou voltar as sessões com a psicóloga, Gio vai me acompanhar. Eu sei que estou fazendo tudo errado, estou trazendo dor as pessoas e quero mudar isso. Eu não sou assim. - Otávio diz e então as lágrimas estão descendo por sua face.
Meu coração se aperta e sinto novamente as lágrimas descendo novamente por meu rosto.
- Claro que não é... Você é uma pessoa forte, doce, decidido e um profissional incrível. E essa sua decisão só fará ainda melhor a você, meu amor. - Falo com um sorriso pequeno e deixo um beijo em sua testa.
- Sabemos o homem que você é, filho. Não deixe um erro ou a dor parar sua vida. Você merece e terá o melhor. - Enzo diz ao meu lado e toca na bochecha de Otávio, que sorri com carinho para o pai.
Me sinto mais tranquilo ao ouvir a decisão do meu filho, pois só quem é pai e mãe sabe o quanto nossos filhos valem para nós. E ver um filho se destruindo é uma das piores dor que existe.
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゚・*:.。*:゚・♡
Otávio Miller
Sinto o frio em meu estômago, enquanto espero a porta ser aberta para mim. Me sinto completamente nervoso e não sei como tive coragem de estar aqui agora, mas eu sei que precisava fazer isso. Só assim eu conseguirei recomeçar de verdade.
A porta de madeira com detalhes entalhadados se abre pouco tempo depois e recebo um olhar não muito receptivo de Héktor, que apenas se afasta, me dando passagem, e me dá as costas.
- Arthur não está aqui. Alessa saiu com algumas amigas e meus pais estão fazendo algo que não sei, longe daqui. Então, não há muitas opções para você. - Ele diz, se afastando e reviro meus olhos.
- Eu sei que está com raiva de mim, mas nós sabemos que você é o sensato aqui. Então, por favor, converse comigo. - Peço e vejo seus passos parando, antes de alcançar o corredor que leva aos quartos.
- Conversar sobre o que, Otávio? Que você é um péssimo amigo? Alguém em quem não se pode confiar? - Ele joga as perguntas e se vira novamente para mim, com seus olhos inflamados de mágoa, o que me deixa super mal. - Porra! Eu não ligaria de você transar com ele, sabendo que há algum sentimento envolvido, mas não há. Você sabe porque fez aquilo e minha maior raiva é que não consigo odiar você. - Héktor diz e me sinto um pouco surpreso com suas palavras.
A sala entra em um silêncio um pouco desconfortável demais e respiro fundo, querendo acabar com tudo de uma vez.
- Se eu tivesse com o mínimo de consciência naquele dia, jamais faria aquilo. Sei que nada justifica o que eu fiz, Héktor, porque já virou algo automático para mim, mas eu quero muito que me perdoe. Nunca, jamais, eu queria machucar você, que sempre foi tão bom comigo, mas eu sei que te feri e me sinto um merda por isso. E mesmo que não me perdoe, ainda sim quero te dizer obrigado... Aquilo que você disse naquele dia era realmente o que eu precisava ouvir. Você está certo... Eu me perdi há muito tempo, desde que minha filha morreu, mas eu estou tentando me reencontrar novamente. - Falo com calma, sendo o mais sincero possível. Não quero pena de ninguém e muito menos me fazer de vítima, mas eu preciso falar a verdade e é essa.
Héktor me observa por alguns minutos em silêncio e me sinto ansioso com isso, apertando meus dedos das mãos uns nos outros.
- Eu já te perdoei, Otávio. Como você mesmo disse, não tinha consciência plena naquele momento. Mas não posso te dizer que nossa amizade e minha confiança em você continuam as mesmas, pois não é assim. Apesar de te perdoar, eu ainda me sinto magoado. E dói ainda mais saber que nem tenho esse direito, pois Arthur nunca ficará comigo ou corresponderá meus sentimentos. - Ele diz e vejo uma lágrima descer por seu rosto.
Um pouco hesitante, me aproximo dele e toco em seu ombro.
- Você tem todo o direito do mundo de sentir mágoa sim, afinal, é o homem que você ama. Pode parecer confuso, muitos vão se assustar, mas o que importa é a felicidade de vocês. Então, para saber se é correspondido ou não, você deve dizer isso a ele, não? Não cometa o mesmo erro que eu, faça enquanto ainda dá tempo, ou pode ser tarde demais. - Falo a ele, olhando em seus olhos azuis.
- Obrigado pelo conselho. - Ele diz e isso me faz sorrir.
- Amigos são para isso. Aconselhar e puxar a orelha também. - Respondo e ele abre um sorriso pequeno. - Posso te abraçar? - Pergunto com cautela e fico feliz quando ele assente, concordando.
Quebro a distância entre nós dois e o envolvo em meus braços, ficando feliz que essa história está resolvida. Agora só falta eu resolver a maior e mais intensa de todas.
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Olá jujubas!! Um pouco de calma para vocês e seus corações.
Ps: Não vim semana passada, pois estava impossibilitada de escrever.
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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