Capítulo Nove
Otávio Miller
Sinto a água fria ao meu redor e mesmo com um pouco de frio, não me movo para sair de dentro da banheira. Minhas pálpebras estão pesadas e minha visão um pouco embaçada, sinto sono. Meu corpo está leve e praticamente não o sinto, é uma sensação estranha. Pisco algumas vezes, mas em certo momento não consigo mais manter meus olhos abertos e os fecho, me entregando ao cansaço.
Mas esse momento dura pouco tempo, já que meu corpo acaba afundando na banheira e acordo quando me sinto afogar. Me debruço sobre a borda da banheira e puxo o ar com força, sentindo meus pulmões queimar. Meu nariz arde por ter entrado água e minha cabeça lateja ainda mais.
E isso me faz perceber o quanto eu estou em um estado deplorável, o qual não comigo sair.
Ouço batidas fortes na porta do meu quarto, mas me mantenho em silêncio, não querendo ver ou falar com ninguém agora. Não quero que vejam a merda que eu sou.
- Otávio, eu sei que está aí... Abra pra mim! - A voz um pouco alta de Giovani chega até meus ouvidos, mas não o respondo.
Mesmo querendo muito abraçar meu irmão nesse momento, eu prefiro ficar sozinho. Giovani não precisa cuidar de mim sempre que eu preciso, não mesmo. Já cansei de ser um fardo na vida das pessoas que eu amo.
- Maninho, por favor! Não faça isso com você mesmo. - Ele volta a dizer e faz uma pausa. - Você sabe que eu estou aqui, Otávio, não precisa enfrentar tudo sozinho. Não mesmo! Nós somos gêmeos, você literalmente é minha metade e não me sinto bem se você não estiver.
Sinto meus olhos arderem e quando menos espero, as lágrimas já estão molhando meu rosto. Eu só queria não estar nessa situaçã, queria apenas voltar no passado e ser a mesma pessoa, mas eu sei que hoje isso é impossível.
Respiro fundo e com o pouco de forças que me restam, consigo sair da banheira e pego um roupão de banho, me enrolando nele. Quase escorrego no chão molhado, mas consigo manter o equilíbrio e segundos depois estou em meu quarto. Paro por um segundo e olho fixamente para a porta de madeira, sabendo que meu porto seguro está do outro lado.
- Eu te amo, maninho! - Ouço Gio dizer e abro um sorriso, me sentindo bem ao ouvir sua declaração.
- Eu também te amo! - Sussurro e sigo até minha cama, me jogando sobre ela.
Abraço um dos travesseiros, e me sentindo totalmente cansado emocionalmente, me entrego ao sono.
[...]
Acordo sentindo algo mexendo em meu cabelo, ou melhor... alguém. Abro meus olhos devagar, piscando algumas vezes para minha visão entrar em foco.
- Oh não, Thor! - Choramingo ao sentir a baba dele em meus cabelos, deixando um cheiro não muito bom nos fios. E como resposta recebo os seus latidos. - Por que está aqui, seu vândalo? - Pergunto e me sento na cama, o que faz ele vir até meu colo.
- Ei, não chama meu filho assim! - Ouço a voz de Giovani e então o vejo saindo do banheiro em meu quarto.
- Nosso filho. E como entrou aqui? - Pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
- Serve muito ter uma porta que liga nossas quartos. Às vezes é bom usar aquela entrada esquecida. - Ele diz e então levanta a garrafa vazia de bebida em sua mão. - Você não disse que queria parar?
Desvio meus olhos dos dele e respiro fundo, me sentindo um merda.
- Querer é bem diferente de conseguir. - Respondo, sincero.
- Eu sei que é, por isso disse que iria te ajudar nessa caminhada, assim como nossa família. - Ele diz em um suspiro e segundos depois sinto a cama se afundar ao meu lado. - Papai me disse que Evan veio aqui hoje. Vocês brigaram?
E só de ouvir o nome dele meu coração se aperta. O olhar magoado e decepcionado invade minha mente e eu me sinto ainda pior por tudo. Seria tão mais fácil se eu tivesse feito o certo, mas não, eu quis seguir as minhas regras por um medo idiota. Porque foi algo idiota e hoje eu vejo isso.
- Não brigamos exatamente. - Falo e então olho para meu irmão, deixando ele ver em meus olhos a resposta.
- Você contou a ele. - Giovani diz e não é uma pergunta.
Solto um suspiro e sem pensar duas vezes, me lanço contra ele, que me acolhe em um abraço apertado. Sinto as lágrimas querer voltarem aos meus olhos e não faço muito para impedir.
- Sabe o que foi pior? - Pergunto, me lembrando do episódio de horas atrás.
- O quê? - Gio pergunta com calma, enquanto acaricia meus cabelos.
- Ver ele me pedindo para vê-la. Evan não gritou comigo quando soube que eu o escondi isso, ele apenas queria vê-la, porque Luz era mais importante do que tudo. Apesar de tudo, eu não vi raiva no olhar dele, apenas mágoa e decepção, o que me doeu ainda mais. - Respondo e nessa altura já estou chorando novamente.
Meu peito dói de uma forma inexplicável e eu preciso respirar fundo para alcançar o ar.
- Eu queria ter feito tudo diferente, maninho, eu juro! Mas eu fui tão idiota, tão irresponsável... Eu só deveria ter contado, apenas isso. Se ele rejeitasse Luz seria um problema dele, mas quem ferrou com tudo foi eu. Ela nem sentiu o carinho dele uma única vez e a culpa é minha. - Falo entre soluços, mesmo doendo muito admitir isso.
- Ei, para com isso e ergue a cabeça. - Giovani se afasta de mim e pega meu rosto em suas mãos, me fazendo olhar para ele. - Não adianta mais chorar pelo leite derramado, Otávio, não adianta! Você precisa ter cabeça agora e começar a enfrentar a situação de frente. Não vou dizer que você não tem culpa por ter privado o Evan disso, mas sempre vou dizer que a culpa não é sua por tudo o que aconteceu. Às coisas se deram por uma fatalidade do destino e você não tinha como prever, irmão... Ninguém tinha esse poder. Eu sei que não é fácil, vejo que ainda não superou a morte dela, mas já está na hora de fazer isso, Otávio, pois tudo está acabando com você e sua filha não gostaria de ver o pai dela assim.
Fecho meus olhos, não conseguindo olhar para ele, pois sei que tudo é verdade. Não superei e acho que nunca vou superar a morte da minha filha... Isso é impossível. Desde que ela se foi, falta uma parte de mim e creio que sempre será assim.
- Não estou dizendo que a dor vai sumir, Otávio, isso não. E vemos isso pelo papai, que até hoje sente a falta de Davi, mas ele também é feliz, entende? E eu quero isso pra você. Talvez essa aparição de Evan tenha vindo na hora mais que certa, pois assim você enfrenta tudo de uma única vez. E eu quero muito te ajudar, meu amor, mas você precisa querer que eu te ajude, pois nos últimos anos você apenas fingiu aceitar. - Ouço ele dizer e cada uma de suas palavras são mais que verdadeiras.
Levo minhas mãos até meu rosto e enxugo as lágrimas que ainda caem, respirando fundo em seguida. Abro meus olhos e foco em Giovani, que me olha com certa expectativa, algo que eu não quero quebrar.
- Eu quero, mas não sei se consigo. - Falo com a voz um pouco falha, devido ao choro.
- Claro que consegue... Você é forte, a pessoa mais forte que conheço. - Ele sorri para mim e deixa um beijo em minha testa. - Agora, você vai tomar um banho, ficar lindo e nós vamos gravar um vídeo para o meu canal. E na segunda eu vou te acompanhar na consulta com a psicóloga... Ela deve estar sentindo sua falta.
Reviro meus olhos e bato nele com o travesseiro, rindo por um momento.
- Não vou gravar vídeo com você, Giovani. Você sempre me passa vergonha. - Falo e ouço ele rir.
- Não tenho culpa de você ser um desastre na frente das câmeras. Mas fique tranquilo, hoje vamos falar de moda. - Meu irmão responde, dando de ombros.
- Agora que não vou mesmo, vai me fazer de cobaia e me vestir com cem combinações diferentes. - Reclamo e caio na cama quando Thor pula em cima de mim. - Aí, seu monstrinho!
- Não chame ele assim, ele sente. - Gio diz e se joga ao meu lado na cama, acariciando os pelos macios de Thor.
- Sabe que estou brincando, eu amo essa bola de pelos. - Falo e beijo meu cachorro.
Ganhamos Thor aos quinze anos, logo após Loki falecer. Éramos tão apegados àquele cachorro, que foi um momento bem difícil para nós dois e toda a família, já que ele era nosso xodó. E então, no nosso aniversário, recebemos Thor para nos alegrar novamente e ele tem sido essa alegria para nós há nove anos.
- Acha que Evan vai me perdoar? - Pergunto a Giovani, quebrando o silêncio confortável entre nós.
- Claro que vai, ele te ama...
- Ele não me ama, são mais de cinco anos, Gio, não cinco dias. - Falo, sentindo meu coração se acelerar em meu peito.
- Voltando ao que eu dizia... Evan pode se sentir magoado no momento, mas ele vai entender seu lado, assim como você precisa entender o dele. Apesar dele não pensar no futuro e se jogar na vida, Evan é um homem honesto igual aos pais, ele jamais faria nada para ferir pessoas que ama. Então, pode demorar um tempo, mas ele vai sim te perdoar. - Giovani diz e eu quero acreditar em suas palavras.
- Espero mesmo que sim. Apesar de termos nos magoado no passado, eu não queria que tudo tomasse esse rumo. - Falo, frustrado.
- Você ainda o ama? - Meu irmão pergunta e me sinto um pouco surpreso com seu questionamento. Em todos esses anos ele jamais me perguntou algo do tipo, assim como ninguém.
Fico em silêncio por um tempo, pensando na sua pergunta, que na verdade já tem uma resposta.
- Nunca paramos de amar quando se é de verdade, mas acho que isso não importa mais. Já é tarde demais. - Respondo.
- Nunca é tarde demais, querido irmão. - Gio diz e se levanta da cama em seguida. - Vou te esperar no meu estúdio. Vá falar com nossos pais depois, eles estão preocupados. - Ele diz e em seguida some pelo meu closet, que é onde fica a bendita porta.
Solto um suspiro e abraço Thor mais apertado, ouvindo ele latir, não gostando do aperto.
[...]
- Está vendo o quanto o céu é imenso? - Ouço a pergunta vinda do meu namorado e me viro para vê-lo.
Abro um sorriso, admirando o quanto ele fica ainda mais bonito sob a luz da lua. Aperto ainda mais minha mão que está entrelaçada a sua e sinto meu coração bater um pouco mais acelerado em meu peito, algo comum quando estou com ele.
- O que tem ele? - Pergunto de volta e então seus olhos se encontram com os meus.
- É como meu amor por você, ele é imenso. Pode se passar o tempo que for, mas ele nunca vai se acabar. Podemos até nos separar um dia, mas sempre vai se você aqui dentro. - Ele diz e leva minha mão até seu peito, onde posso sentir seu coração batendo forte.
- Não diga isso, não vamos nos separar nunca. - Falo a ele, e o abraço apertado, deitando minha cabeça em seu peito.
- Não sabemos, anjo... A vida é uma caixinha de surpresas. Mas, se um dia isso acontecer, saiba que você sempre será o único. É impossível eu amar alguém como amo você, até porque, amor de verdade só se tem um.
- Você também sempre será o único. - Respondo por fim.
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Mais um pouco de Otávio para vocês, jujubas.
Gostaram???
Ps: Está rolando uma "votação" no Instagram para escolher um dos meus livros para ganhar uma att extra na segunda, e Opostos está na lista. Então, se quer um Cap aqui, vai lá deixar seu voto.
Bjus da Juh, até a próxima 😘😘
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