Capítulo Dezesseis

* Uma semana depois... *

Otávio Miller

- Evan! Pare de correr, assim não ! - Grito com ele, colocando as mãos em meus joelhos, estando cansado e ofegante.

Estamos a alguns metros da casa dos meus padrinhos e Evan corre para algum lugar, pedindo para que eu o acompanhe. é noite e o clima está um pouco frio, sendo véspera de Natal. Quase toda a nossa família está reunida aqui esse ano, comemorando não o Natal, mas também o aniversário de meu padrinho Castiel.

- Você está muito fraco, Tatá. - Evan diz com humor, parando realmente de correr e me olhando.

Ele está com as mãos na cintura e me olha em desafio, me fazendo revirar os olhos. Por que fui me apaixonar por ele mesmo?

- E você é um ridículo, que fica se exibindo. - Falo, emburrado. Me coloco de novamente e volto a andar, o alcançando.

- Ei, não tenho culpa se tenho um ótimo porte físico aos dezoito anos. - Ele de ombros, querendo exibir os músculos e eu reviro meus olhos mais uma vez.

- Oh, é mesmo? Entãoutilidade para esse porte físico e me carregue. - Falo e ele ri.

E eu até me surpreendo um pouco quando ele realmente se vira, indicando suas costas. Não me faço de rogado, então pulo nele, enlaçando minhas pernas em sua cintura, sentindo ele segurar minhas coxas. Sorrio e deito meu queixo em seu ombro, deixando um beijinho rápido em seu pescoço.

- Para onde estamos indo? Eu estou com fome e seu pai ia me deixar comer antes de todos. - Pergunto, acabando por entregar meu segredo com padrinho Adrian.

- Ah, é mesmo? Papai e meu padrinho vão adorar saber disso. - Meu namorado diz, rindo no processo.

- Você é um chato, sabia? Precisa participar e não contar nossos planos, seu rabugento! - Finjo estar bravo com ele.

- Mas amor, a graça é comer apenas na hora da ceia. Mas... se estiver mesmo com fome, tudo bem, eu ajudo seu contrabando de comida. não deixe a bisa ver, ela é pior que... Bem, você sabe.

Solto uma risada e balanço a cabeça, imaginando vó Clarisse com uma faca na mão, olhando para nós como uma psicopata. Ela realmente me dá medo às vezes, mas eu amo aquela velhinha, assim como minha bisa Emília. Aliás, amo todos os meus avós, que são maravilhosos e os melhores que a vida pôde me dar.

- Ok, chegamos! - Evan anuncia, me tirando dos meus devaneios e olho para frente, vendo o campo de rosas da fazenda.

- Uau! Quando fizeram isso? - Pergunto surpreso e desço das costas de Evan, me aproximando mais das rosas.

Tudo está completamente iluminado, dando um brilho a mais nas flores. Eu sempre amei esse lugar aqui, mas hoje está totalmente diferente.

- Papai Adrian me ajudou, eu queria deixar esse lugar ainda mais bonito esse ano. É uma memória dos meus avós, que mesmo não conhecendo, eu os amo muito. Eles são uma inspiração para mim. - Evan responde e chega ao meu lado, entrelaçando nossas mãos.

- Como assim? - Pergunto e olho para ele, deitando minha cabeça em seu ombro.

Por ainda ter dezesseis anos, Evan é mais alto do que eu bons centímetros e eu amo esse fato.

- O amor deles, isso é uma inspiração para mim. Meus avós sofreram tanto, mas mesmo em meio às dificuldades e preconceitos, viveram uma linda história de amor. E eu sinto que eles tenham ido tão cedo, sabe? Sempre será meu sonho conhecer eles. Ouço as histórias que pai Adrian conta deles e isso me deixa ainda mais apaixonado. E eu amo tanto eles, Tatá, é um sentimento que nem consigo explicar, pois eu nunca estive com eles de verdade. - Ele explica e vejo às lágrimas brilhando em seus olhos.

Abraço meu namorado, sentindo ele encaixar o rosto em meu pescoço e chorar baixinho.

- Isso é lindo, amor, pois eu sinto o mesmo com meu avô Giovani. Eu não o conheci, mas o amor com que meu pai fala dele, sinto que o conheço. E também tenho uma admiração enorme por tudo o que ele fez. Foi incrível, sabe? Ele não teve uma história de amor romântica, mas teve uma perfeita com papai. Ele foi o melhor pai do mundo, mesmo em meio a todas as dificuldades, abandono e vícios. Isso faz dele um herói aos meus olhos e sei que se sente assim em relação aos seus avós Felipe e Victor. - Falo com calma, também me emocionando ao dizer essas palavras.

É impressionante como às vezes nem conhecemos pessoalmente algumas pessoas, mas elas fazem uma diferença tão grande em nossas vidas.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas abraçados e sentindo a presença um do outro, sendo isso um gesto mais do que suficiente e satisfatório.

Mas Evan se afasta de mim algum tempo depois e me olha com um sorriso pequeno no rosto. Vejo ele pegar algo no bolso da sua calça e me estender sua mão fechada em seguida. Olho para ele confuso, até que ele abre sua mão, revelando um cordão de ouro, com pingente de rosa.

- Era do meu avô Felipe, ele ganhou no primeiro aniversário de casamento e tem um significado enorme para mim e minha família. Queria te dar um anel de compromisso, mas então, um dia conversando com papai, ele me mostrou o anel que havia ganhando do meu pai Adrian. Esse anel também era do meu avô, e ele foi dado ao meu pai Castiel com um peso a mais. Então eu me lembrei desse colar, ganhei ele aos quinze anos, presente de pai Adrian, por saber da minha paixão pelos meus avós. E eu achei que ele ficaria lindo em você, pois também é símbolo de um amor. - Evan explica e coloca a jóia em meu pescoço.

Sinto meus olhos ardendo, estando emocionado com sua declaração. É tão bom saber o quanto significamos a alguém.

- Nós vamos errar durante o caminho, somos novos, imaturos, mas se tiver amor, eu acho que vamos longe. - Seus olhos se fixam nos meus e sinto a intensidade de suas palavras, me arrepiando no processo. - Mas eu tenho uma certeza, mesmo que pareça boba aos olhos dos outros.

- Qual? - Pergunto quase em um sussurro, tendo minha voz embargada.

- Se existe mesmo uma alma gêmea para cada pessoa, você é a minha. - Evan responde e automaticamente meu coração bate mais forte em meu peito.

Deixo a lágrima teimosa cair e sorrio, pegando seu rosto em minhas mãos.

- E você é a minha. - Respondo de volta e então meu sorriso se fecha, minha expressão se tornando mais séria. - Me promete uma coisa?

- O quê?

- Mesmo se nossos caminhos se desviar algum dia, promete não desistir de mim? - Pergunto, sentindo a ansiedade me consumir por sua resposta.

- Claro que sim! E você? Promete não desistir de mim? Mesmo que a situação esteja fora de controle? - Ele questiona e eu volto a sorrir.

- Prometo! - Falo por fim e levanto meu dedo mindinho, vendo ele entrelaçar o seu ao meu em seguida.

E estando selada a promessa de dois adolescentes, bobos e apaixonados, puxo ele para um beijo, desejando que não precisamos cumprir essa promessa algum dia.

[...]

Meus olhos estão perdidos no cordão em minhas mãos, enquanto leio repetidamente a frase "O infinito é pouco para se comparar meu amor por você."

- Essa é sua lembrança mais forte sobre vocês? - A voz da psicóloga chama minha atenção novamente e volto meus olhos para ela.

- Não, a mais marcante foi da nossa separação, mas essa me lembra do amor que ainda sinto por ele. É tudo tão confuso, entende? - Pergunto, mas não espero por uma resposta sua. - Às vezes eu só queria voltar no tempo e estar naquela época novamente. Não havia dor, não havia mágoas, não havia o sofrimento de hoje. - Falo a ela, que me olha atentamente.

- Sim, eu te entendo. Todos os seres humanos são assim, Otávio, queremos o conforto, os momentos bons e não os traumáticos. Mas nós precisamos ir por partes, ok? Essa é sua segunda sessão e ainda há muito o que ser dito e trabalhado e você sabe qual é a raiz de tudo, não? - Ela pergunta com calma e eu concordo com um aceno.

- Sei sim. - Falo com desânimo e volto à colocar o cordão em meu pescoço. Algo que eu nunca tirei, mesmo depois de tudo.

- E quando você me dará essa abertura? - Flávia volta a perguntar. Sei que ela não está me pressionando, só quer que eu me abra mais, mas ainda é difícil.

- Acho que na próxima sessão, já está na minha hora. - Respondo rapidamente e me levanto, arrumando amassados invisíveis em minha roupa.

- Tudo bem. Não esqueça a reunião, ok?

- Impossível me esquecer dela, querida Flávia. - Falo com um pouco de deboche, mas ela me conhece.

Já fui paciente de Flávia há alguns anos, mas larguei tudo em um momento de raiva e me entreguei totalmente para a escuridão que estava e ainda me consome. Mas eu resolvi tentar mais uma vez, antes que seja tarde demais para mim.

- Ok, nos vemos na próxima semana, Otávio. Você tem meus contatos e sabe que pode me contatar a qualquer momento. - Ela diz solícita e eu sorrio minimamente.

- Sim, eu sei. Obrigado, Flávia! - Agradeço e sigo até à porta.

Saio do consultório e respiro fundo quando me vejo "livre". Muitos acham que é uma maravilha ter sessões com psicólogos, terapeutas e etc, mas não... Isso é uma tortura. São nessas sessões que enfrentamos nossos maiores medos, traumas, ansiedades, angústias. Tudo o que está preso em nossas mentes e corações saem e nos tornamos totalmente frágeis. Mas eu sei que tudo é parte de um processo e, no final desse, eu espero já ter encontrado minha cura.

Coloco meu jaleco novamente e começo a andar pelos corredores pouco agitados do hospital. Meus pais e irmãos insistiram que eu tirasse alguns dias de licença, logo após os acontecimentos, mas eu sabia que não seria uma boa ideia. Eu gosto de ocupar minha mente, pois assim os demônios não me incomodam tanto.

Desvio a minha rota no meio do caminho e sigo até o local que ainda não tive coragem de ir. Sinto um pouco de frio quando vou me aproximando da UTI e me encolho um pouco em meu jaleco. Sei que não posso ficar ali muito tempo sem autorização, por isso fico satisfeito quando encontro a chefe de enfermagem no caminho. Ela me autoriza, por poucos minutos, a entrar no leito em que Evan está e eu a abraço em agradecimento.

Faço todo o processo de higienização, para não correr o risco de levar alguma bactéria ou vírus para ele e respiro fundo antes de entrar no quarto.

É uma sensação ruim e forte que me atinge quando o vejo deitado na cama, estando totalmente diferente desde a última vez que o vi. Evan está entubado, respira com a ajuda de aparelhos ainda, mesmo após uma semana de tudo. Há fios ligados em seu tórax, o monitorando. Hematomas roxos por seu corpo, curativos enormes em seu rosto, onde sei que houve uma cirurgia delicada. E outro em sua perna direita, marcando sua amputação, que é um pouco acima do joelho.

Ver isso me causa um embrulho no estômago e perco um pouco das forças em minhas pernas. Fecho meus olhos por um momento, não querendo desabar logo agora.

Seja forte uma vez, Otávio. Uma única vez.

Volto a abrir meus olhos e com cuidado, me aproximo dele. Soube por alto que ele está em coma induzido, por conta de todos os traumas. E é tão triste o ver nessa situação, pois ele em nada se parece o Evan forte e de espírito livre que eu conheço.

- Desculpa não ter vindo te visitar antes, só não parecia certo. - Falo baixinho, tocando a beirada da cama, tendo medo de o tocar realmente.

- É triste ver você assim, amor. Nunca imaginei um cenário como esse, mesmo morrendo de medo que algo acontecesse com você. No fundo eu acreditei que você realmente era inatingível, mas infelizmente ninguém é. Não sei se está me ouvindo, e, se estiver, com certeza não vai se lembrar, mas... Eu estou aqui, ok? E não é por pena, ou algo do tipo, mesmo que você ache isso. É por amor, pois esse sentimento é mais forte. - Paro de falar por um momento, sentindo o nó em minha garganta e respiro fundo.

- Lembra do dia em que me deu aquele cordão? Naquele dia fizemos uma promessa e eu me esqueci dela, nós dois nos esquecemos. Mas ela ainda está viva em meu coração e não vou deixar morrer. Pode haver mágoas, pode haver dores, mas vai dar tudo certo. Eu ainda preciso melhorar também, Evan, mas te ajudarei no processo, pois ele será doloroso para nós dois, mais do que já foi. - Me inclino um pouco sobre a cama, ficando próximo a ele, mas não o tocando de fato, apenas fixo meus olhos em seu rosto machucado e ainda muito inchado.  - O infinito é pouco para se comparar o meu amor por você.

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Alguém vivo após esse capítulo???

Feliz Natal, jujubas!!!

Bjus da Juh, até a próxima 😘😘

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