Capítulo Dez

Evan D'Ávila

Termino de tomar meu banho e saio do banheiro com a toalha enrolada na cintura. John está deitado na cama e mexe no celular despreocupadamente. Sigo até minha mala no chão do quarto e me visto apenas com uma boxe. Volto até à cama e me jogo nela, abraçando John parcialmente, como uma criança manhosa.

- Tem uma mensagem de voz pra você, até pensei em atender, mas não me senti nesse direito quando vi o nome do contato. - Ele diz e levanto meus olhos, o observando e então entendo.

- Otávio? - Pergunto, um pouco surpreso.

- O único. - Ele responde com certo humor na voz e reviro meus olhos.

Me afasto um pouco dele e pego meu celular na mesinha de cabeceira. Vejo que há mesmo um correio de voz e clico para ouvir a mensagem. E confesso que meu coração se acelera um pouco mais em meu peito nesse momento.

Seleciono a opção de ouvir a mensagem e respiro fundo, fechando meus olhos.

- Eu sei que tem todo o direito de se sentir bravo e me odiar, mas nunca fiz isso para te magoar, Evan. - Ouço ele dizer e após toma uma respiração profunda. - Durante vários momentos da gravidez eu quis você por perto, mas nunca me dei o trabalho de sequer ligar e saber como você estava. Eu só era imaturo e estava com medo, havia acabado de perder o homem que eu amava e aquilo doía tanto que me deixou perdido. Mas isso não justifica ter te deixado de fora e eu sei que nada vai tirar essa culpa de mim. E se um dia quiser visitar ela, eu te levo até lá... Luz ficará feliz em ter você por perto.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto ao terminar de ouvir a mensagem e respiro fundo, deixando meu celular de lado em seguida. Volto a me deitar e fecho meus olhos, me sentindo completamente perdido.

Eu não odeio Otávio, isso é totalmente impossível, mas dói muito saber que ele me excluiu de algo tão importante. E essa dor só aumenta ao saber que minha filha está morta. Deus! Isso tudo é tão surreal, que penso estar vivendo um pesadelo muito ruim.

O pior é pensar que se eu não fosse atrás dele, Otávio talvez nunca me contasse essa parte da história, a qual eu também era um dos protagonistas. E o que eu não daria para ter vivido um mísero momento junto a ele e Luz.

- Ei, o que eu posso fazer para ajudar? - John pergunta com calma e eu solto um suspiro, pois não há muito mais o que ser feito.

- Só me abraça. - Peço e abro meus braços, esperando por seu carinho.

John me abraça segundos depois e me sinto um pouco melhor tendo sua companhia. Nessas horas sabemos que é ótimo ter um melhor amigo, mas amigo mesmo. Aquela pessoa que você pode contar a todo momento. E John é exatamente isso para mim, por cinco anos ele foi e continua sendo uma fortaleza.

- Acha que meus pais sabem? - Pergunto após um tempo, dando voz aos meus pensamentos.

- Claro que não, Evan, eles jamais esconderiam algo assim de você. Não faz sentido. - Ele responde e acho que está certo.

- É, pode ser. - Falo em um suspiro e solto um bocejo em seguida. - Vamos embora manhã cedo, tudo bem? Preciso muito dormir no momento.

- Claro que sim, descansa. - Ouço ele dizer e em seguida sinto um beijo em minha testa.

Sorrio minimamente para seu carinho e me deixo ser levado aos poucos pelo sono, querendo apenas um pouco de paz em meu coração e mente.

[...]

Sinto a brisa fria bater contra meu rosto e ao focar na paisagem ao meu redor, reconheço o campo de rosas brancas da fazenda onde cresci. E então meus olhos a encontram, sentada no chão, usando um vestido tão branco quanto as rosas.

Abro um sorriso ao vê-la e automaticamente meus olhos se tornam molhados ao me lembrar que jamais vou poder vê-la ou abraça-la sem ser em um sono. E lembrar disso me faz perder completamente as forças, me levando a cair de joelhos contra o chão de terra.

É uma dor tão grande que sinto em meu peito, que chega a ser física, como se tivessem cortado meu coração em vários pedaços.

- Papai, por que está chorando? - Ouço a voz que aprendi a amar em tão pouco tempo e meu choro aumenta consideravelmente.

Levanto meu olhar e a veja em minha, me olhando com preocupação em seus pequenos olhos.

- Posso te abraçar? - Pergunto com a voz falha e vejo ela sorrir.

- Sempre, papai. - Luz responde e em seguida seu corpo quase minúsculo está se abraçando ao meu. Mas infelizmente não será sempre que eu vou abraça-la.

- Eu te amo, pequena... Muito! - Falo, querendo que ela sinta um pouco do sentimento que dentro de mim.

- Eu também te amo muito, papai. Ao papai Otávio também. Eu sei que estão tristes, mas não fiquem, eu estou muito bem e quero vê-los felizes. - Ela diz e se afasta de mim em seguida, pondo as mãozinhas pequenas em meu rosto. - Vocês precisam de perdão, a história ainda não acabou. - Luz sorri, como uma criança pequena e eu sorrio também.

- Eu também acho que não acabou, pequena. - Sorrio e puxo ela novamente para outro abraço.

Logo após ela se afasta e me pega pela mão, me levando junto com ela para dentro do campo de rosas. E pelo tempo que se passa, o qual eu não tenho a mínima noção, eu me divirto como se não houvesse amanhã com minha filha. E ansiava tê-la comigo na realidade também.

[...]

Estaciono o carro no pátio da fazenda e respiro fundo antes de sair, tendo John junto comigo. Ele sorri para mim e passa o braço por meu ombro, enquanto seguimos até à porta de entrada.

Ouço vozes na cozinha e é para lá que eu sigo, encontrando toda a família reunida. E eu agradeço por isso, pois dou a notícia de uma só vez.

- Olha só, a Margarida voltou! - Minha bisa debocha e eu solto uma risada.

Ela e meu bisavô Oscar estão morando na antiga casa dela, já que depois de um tempo na capital, eles decidiram a tranquilidade do campo. E isso quase não agradou meu pai Castiel, que é super apegado a ela.

- A senhora me ama, né? - Falo e vou até ela, deixando um beijo em sua testa.

Abraço a todos e então me sento à mesa, vendo que o almoço já está sendo servido.

- Como foi a reunião com a marca que quer te patrocinar? - Meu pai Adrian pergunta e John me lança um olhar de deboche, já que ele me alertou não ser uma boa ideia mentir, mas eu não podia simplesmente contar.

- Ahn, então... Na verdade, eu não fui para uma reunião. Fui encontrar Otávio. - Falo e ganho todos os olhares dos presentes.

- Glória a Deus! Até que enfim, já estava na hora, seu idiota! - Minha bisa diz e é impossível não rir.

- Se queria se acertar com ele, poderia ter nos dito. - Helena diz e sei que ela ficaria muito contente com a notícia.

- Não, gente, eu não fui lá para isso. - Falo e respiro fundo. - Não contei nada antes, pois não tinha certeza, por isso quis confirmar com Otávio. - Explico.

- Confirmar o que? - Papai pergunta e sei que sua curiosidade está enorme no momento.

Olho para cada um ao meu redor, tendo os olhos curiosos sobre mim e respiro fundo antes de prosseguir, pois eu sei que essa notícia também vai abalar a todos.

- Otávio e eu tivemos uma filha e só soube da verdade ontem. - Conto e o silêncio ao meu redor é macabro. Parece que até os insetos e bichos se silenciaram.

- Isso é impossível, ele não nos deixaria de fora. Ou Ângelo me contaria algo. - Papai diz após um tempo e sua expressão está indecifrável, mas aposto que ele está sentindo a mesma decepção que eu.

- Infelizmente eles já deixaram, papai, mas ficar com raiva não adianta agora... Não importa mais. - Falo e dou de ombros.

- Não importa mais? Eu tenho uma neta e nunca nem soube da existência dela, isso é quase um crime! Nós não servimos como família, é isso? - Ele pergunta, furioso.

- Calma, amor! - Pai Adrian pede, usando um tom de voz mais calmo. - Mas como eles conseguiram esconder ela de nós? Fomos algumas vezes até lá desde que você foi embora, assim como eles vieram até nós. Seria impossível.

Abro um sorriso amargo e engulo o nó em minha garganta para falar as próximas palavras.

- Não seria, pois Luz está morta. Ela nasceu morta e nem Otávio a pegou no colo uma única vez. - Respondo.

- E isso é porque somos uma única família? Imagina se fôssemos inimigos! - Papai diz com raiva e em seguida se levanta, fazendo a cadeira ranger contra o piso. Ele sai em passos rápidos e sei que não adianta ir atrás agora, ele precisa de tempo.

- Olha, eu não quero que culpam Otávio, ok? Nós havíamos acabado de terminar e ele estava com medo. Não vou mentir, eu estou dilacerado por dentro ao saber que tenho uma filha e ela está morta. Me sinto ainda pior por ter sido deixado de fora, mas não adianta brigar, isso não vai trazer Luz de volta. - Falo, olhando para cada um na mesa.

- E você está certo, querido. Por isso tenho orgulho do homem que ajudei a criar. - Minha bisa diz e pega em minha mão, deixando um aperto carinhoso.

- Ei, se quiser conversar, eu estou aqui. Sei pelo que está passando. - Pai Adrian diz e assinto, me sentindo grato pelo apoio de todos.

- Eu posso te abraçar, quer? - José Victor pergunta e isso me faz rir de verdade.

- Sempre, pirralho. Você também, Lena. - Falo aos meus irmãos e segundos depois estou sendo engolido em um abraço apertado.

E é bom sentir esse carinho da minha família após os últimos acontecimentos.

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゚・*:.。*:゚・♡

Castiel Almeida D'Ávila

Subo correndo às escadas e entro em meu quarto segundos depois. Sinto lágrimas de raiva brotar em meus olhos e minha vontade é gritar. Eu não consigo entender em como fomos simplesmente excluídos da vida de uma pessoa que seria e é importante para todos nós. Uma parte do meu filho, querendo ou não, uma extensão minha também.

O pior é saber que ela está morta e não pudemos nem participar desse momento.

Corro até à cama e vejo meu celular jogado ali. Pego o aparelho e vou até meu histórico de chamadas, encontrando o contato de Ângelo. Clico sobre o mesmo e espero que ele me atenda, que não seja covarde para isso também.

- Oi Cas! - Ouço sua voz segundos depois e respiro fundo para conter a raiva e a mágoa, mas é impossível.

- Como pôde fazer isso comigo, Ângelo? Pior, como pôde excluir a todos nós? Inclusive Evan, que também é o pai dessa criança que está morta. Você tem noção de que nem a um velório nós fomos? É como se não importassemos. - Falo, magoado, e sinto as lágrimas descerem por minha face.

- Cas, não é bem assim. Era uma decisão do Otávio...

- Era uma decisão do Evan também! Otávio não fez uma filha sozinho, ele deveria pensar na outra parte também. Agora me dizer que estava com medo? Eu também tive medo ao engravidar com quinze anos. Eu também tive medo ao ser rejeitado pelo pai do meu filho. Eu também tive medo ao ser jogado na rua pela minha mãe. Eu tive medo sim, Ângelo, mas não fiz essa palhaçada. Alan sempre soube de Evan, eu nunca escondi, mesmo ele me rejeitando depois... Eu fiz a minha parte. - Falo, frustrado.

- Eu sei que ele errou, nós erramos ao esconder tudo, mas pensamos ser o melhor. - Ele responde e solto uma risada sem humor algum.

- Para vocês, é claro! Até quando vão tratar Otávio como um bebê? Eu amo meu afilhado, mas já está na hora de crescer. E não é com Otávio que eu estou mais decepcionado, é com você, Ângelo. Eu sempre fui honesto com você, mas quando precisou de você ser comigo, sendo algo que também me cabia, você não se importou e isso machuca. Mas é como dizem... A traição às vezes vêm de quem se ama. - Falo e encerro a ligação em seguida.

Me jogo sobre a cama e fecho meus olhos, me sentindo péssimo. Nem quando fui rejeitado por meus pais doeu tanto assim.

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E aqui está a att extra que falei.

Feliz dia das crianças, jujubas!

Bjus da Juh até, a próxima 😘😘

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