Capítulo 3
"Tenho fragmentos
De uma vida com você
E tantos intervalos só
De longe, mas querendo crer"
(Areia - Sandy part. Lucas Lima)
Chicago, Illinois - 2012
— O que você quer? A Claire não está aqui. — Ela diz, assim que abre a porta.
— Eu não vim falar com a Claire. — falo, com um sorriso no rosto.
Ela me encara, desconfiada, e eu faço a melhor cara de cachorro abandonado. Seu suspiro cansado chega no meu rosto e depois de hesitar, abre espaço para eu passar e antes de entrar, sorrio vitorioso. Sigo para a sala e me sento, super confortável, esperando que ela volte. Logo ela para na porta e cruza os braços, na defensiva. Arqueio a sobrancelha em desafio, mas ela parece irredutível.
— Vem, senta aqui comigo. —Peço, batendo no espaço vazio ao meu lado.
— Você ainda não disse o que veio fazer aqui. — fala, sem mover nem um músculo do lugar. Essa teimosa. Dou-lhe um sorriso e a vejo corar, levemente.
— Por que anda tão distante, Lia?
— Eu não quero atrapalhar, mas por mais que eu me distancie, você continua me perturbando. —Fala, desviando o olhar do meu.
— Ei, olhe para mim. — peço gentilmente, ganhando seu olhar — Você nunca me atrapalha.
Tento passar toda a sinceridade das minhas palavras e vejo seu lábio tremer. Ela se aproxima de mim e se senta ao meu lado, ainda calada. Eu queria muito entender o motivo de ela ter se afastado assim de mim. Pego uma de suas mãos e vejo o quanto está fria, quando vou comentar, ela escora sua cabeça em meu ombro e suspira. Enquanto ela está totalmente confortável, eu estou numa porcaria de terno e Lia parece sentir meu incômodo. Ela é a única a saber o quanto detesto trabalhar naquela empresa. Por isso, me preocupo tanto.
— O que anda acontecendo com você? Você nunca foi assim — falo, ela levanta a cabeça para me encarar e eu sorrio — Okay , você é uma diabinha, mas você está distante. Anda entrando em mais confusão do que o normal e nem deixa eu me envolver, nem conversa comigo. — Digo, enquanto acaricio sua mão com polegar.
— Eu ... eu não sei o que anda acontecendo comigo, mas não consigo evitar por mais que eu tente, Lucas. E todos me tratando como um meliante, não ajuda muito. O jeito é eu mudar e ficar como Claire. — Ela diz, olhando no fundo dos meus olhos. Provavelmente o problema deve ser outra, mas pelo menos ela está me dando abertura. E caralho, essa foi a maior besteira que ela já me disse.
— Nunca mais fale isso novamente. Você é maravilhosa, Lia e eu acredito na sua capacidade — digo, seriamente. Ela abaixa a cabeça, mas eu levanto seu olhar novamente .— Me promete que nunca vai mudar a sua essência por causa de ninguém?
— Eu prometo. — Ela diz, secando algumas lágrimas e eu sorrio.
— Cara, onde você está? — Drew diz, sua voz ansiosa ecoando por todo carro.
— Eu estou no caminho e...
— Melhor acelerar aí.
— Que porra! O Collins vai me dar uma comida de rabo e com razão.
— Ele está... — sua voz some, por uns bons minutos e olhando no painel, vejo que ele desligou.
Droga!
Eu não sei onde estava com a cabeça ao aceitar o convite de Adam e encontrar com ele num bar, do outro lado da cidade. Admito que foi muito bom sair e descontrair, mas acordar hoje com uma puta dor de cabeça e na casa dele, não foi nada legal. Eu estava de ressaca, super atrasado e pior, bem longe da porra da delegacia. Não iria dar tempo de ir em casa trocar de roupa e peguei qualquer uma do Adam. Não deveria ter bebido demais, com meu irmão, mas eu precisava relaxar um pouco e distrair a minha mente de toda a merda que vem acontecendo aqui em Chicago. Lembro do dia em que fui embora daqui, magoado, mas com um grande sonho a ser seguido. Só eu sei como é sentir falar de alguém, se arrepender, ficar praticamente louco, querendo entrar em contato com a pessoa e deixar o orgulho falar mais alto. Eu devia isso à ela. Ela não merecia meu silêncio, mas merecia esse espaço e sei que ela ficou bem cuidada. Voltar para cá, trouxe tudo à tona. Eu não tinha mais a minha noiva, mas havia alguém que eu... eu devia desculpas e me retratar. Confesso que quis ir, muitas vezes. Ter uma cunhada como melhor amiga dela, era ótimo, mas também perturbador. Eu sabia onde ela estava, com quem estava e o que estava passando, através de Chris, mas eu não fiz nada. Coloquei na minha cabeça que ela estava muito melhor sem mim e deixei isso para lá. Curioso é ter ela em todas as minhas lembranças descontraídas. Ela se metia em cada uma... Afasto esses pensamentos e assim que avisto meu destino, suspiro aliviado. Estaciono o carro, cato as minhas coisas e corro para a entrada da delegacia. Vou direto para o balcão, onde Sara checa alguns papéis.
— Dia agitado, hein? — falo, fazendo-a parar o que está fazendo.
— Nem fala! — Ela sorri abertamente, mas logo o desfaz, como se lembrasse de algo. — Collins está lá em cima o aguardando e ele está com a macaca hoje.
— Fodeu!— digo, enquanto ela me encara assustada — Desculpe Sara, eu já vou indo.
Prestes a subir para o meu andar, uma discussão acalorada chama a minha atenção. Ela vem direto da sala do chefe e uma mulher o xinga de tudo quanto é nome. Me espanto e olho para Sara, que tem a mesma expressão. Todos os oficiais ao redor, param o que estão fazendo, para dar atenção à sala.
— Eles já têm mais de 1 hora que estão lá dentro e parece que ela já está cansada de tanto falar a mesma coisa.
— Mas o que ela fez? — pergunto, sem desviar o olhar da porta.
— Parece que invadiu casa do namorado. —Ela diz, sem muita importância.
— Espera... O que? — Encaro-a, com curiosidade.
Antes mesmo dela me responder, a porta abre num baque e eu a vejo sair como um furacão, prestes a fazer estrago em qualquer coisa que entrar em seu caminho. Primeiro me assusto, pela ironia do destino, e depois, sorrio. Tinha que ser ela. Pode passar o tempo que for, eu a reconheceria em qualquer lugar. Ela continua a mesma diabinha de sempre.
— Senhorita Murphy, por favor...
— Eu já disse tudo o que eu tinha para dizer. Eu estou cansada, com fome e aquele idiota do Rogers me irritou o caminho todo até aqui.
Ela fala, alterada, olha na direção de Rogers, notando o sorriso prepotente em seu rosto.
— Eu vou tirar esse seu sorriso da cara, idiota!
Ela grita a última palavra, com a face vermelha e parte para cima do Rogers, mas logo seu braço é segurado por um homem. Se são namorados, qual terá sido o motivo da invasão? De qualquer forma, é muito corajosa. O homem em questão é Eric White. A empresa dele está envolvida em um monte de merda, mas sempre que conseguimos autorização para investiga-lo, nunca encontramos nada. O porra é cuidadoso e esperto. Seria um milagre, achar algo que incrimine ele.
— Querida, não piore a sua situação.
Querida? Ela odeia ser chamada assim por alguém, que não seja Alicia.
— Querida é o caralho!
Eu disse.
— Ok — Hayes diz, cansado — Eu tentei ser legal e tirei as algemas, mas percebi que foi um erro. Rogers, as algemas...
— O que? Não quero que toquem em mim. Eu... eu vou me acalmar, agora.
Os seus olhos correm pelo saguão, notando que é o centro das atenções. Ela continua a inspeção, até tê-los em mim. Primeiro ela se espanta, como se tivesse visto um fantasma, depois, ela suspira e, em seguida, abre um sorriso sarcástico.
— Lucas Idiota Bryant — diz, me fazendo sorrir — Gostando do show?
Noto muitos olhares de expectativa e, um me fulminando, mas foda-se. Me aproximo dela, com um sorriso nos lábios, e vejo sua olhada nada sutil para mim. Okay, ela não é tão a mesma e isso chega a ser... curioso.
— Aprontando como sempre, não é diabinha? — digo, vendo o seu sorriso suavizar.
— Claro, você sabe que esse é o meu charme — ela diz, graciosa.
Ficamos nos encarando por um tempo e confesso ficar um pouco sem graça com seus olhares. A conexão é quebrada, quando o porra abre a boca.
— Não vai me apresentar seu amigo, meu amor? — White diz, com curiosidade.
— Mas é claro que não, querido — Ela diz pomposa, arrancando risadas de todos que nos observam. Eric aperta os lábios e sei que deve estar explodindo por dentro.
— Detetive Bryant — digo, estendendo a mão.
— Eric White — Ele sorri, enquanto apertamos as mãos. — Você é um dos burros que tentaram me investigar, mas sempre se ferraram? — desdenha.
— Oh não. Eu fui transferido para essa base há apenas alguns meses, mas se fosse eu a investigar, você já estaria onde é o seu lugar — digo, retribuindo o sorriso, fazendo-o puxar sua mão.
— Bryant, estou te esperando há um tempo, porra! — Collins brada, ao me encontrar.
— Desculpe Sargento Collins, eu tive um imprevisto — falo, sem tirar os olhos dela.
— Não temos tempo para paqueras, porra, preciso de você lá em cima. — Ele diz, ganhando olhares de todos.
—O que? Ela é minha namorada! Ele que chegou aqui de intr... —White diz, mas logo sua fala some quando Collins solta um suspiro pesado.
—Eu realmente não tenho tempo para isso... Bryant? —Collins me chama, mas meus olhos já estão em Lia. Ele xinga, e eu o encaro.
— Senhor?
— Eu preciso de você lá em cima, agora. — Ordena.
—Sim, senhor — falo, logo ele se vira em direção às escadas. Volto meu olhar para Lia que sorri, envergonhada — Vou indo nessa, mas... Precisamos colocar o assunto em dia, por isso, me ligue depois.
Puxo a carteira do meu bolso e entrego um cartão. Ela recebe de bom grado e passa os olhos rapidamente, depois volta a me encarar.
— Está na cidade há tanto tempo e só agora você diz que precisamos colocar o assunto em dia? Não conte com isso, Detetive Bryant — Ela diz, com a voz carregada de ironia.
— Poderia voltar para a sala, Senhorita Murphy?— Hayes diz, recebendo seu olhar e logo ela concorda, mas me encara novamente.
— Foi... foi bom...— sua fala hesita, ela abaixa o olhar e sacode a cabeça.
— Vamos, meu amor —Eric diz, segura seu braço e estranho a reação dela.
— Eu preciso ir agora, Lia — digo, recebendo seu olhar e vejo seus lábios se abrirem em um sorriso.
— Adeus, Lucas. — Ela diz, se vira e caminha de volta para a sala do chefe. Fico um tempo parado, sem acreditar que isso realmente aconteceu. Parece que evitar ela, não deu muito certo.
Subo para meu andar e assim que adentro, vejo meu parceiro escorado em sua mesa, com um sorriso debochado no rosto. Fico sem entender, até ele abrir a boca.
— Lucas Idiota Bryant — Ele diz, com zombaria e eu lhe faço um aceno obsceno.
—Você tava lá em baixo? Desligou na minha cara. Achei que não estaria aqui — falo, indo para minha mesa.
— Eu realmente saí, mas voltei rápido e cheguei no momento da ceninha. Você estava encantado demais para me notar, não é? —Ele diz, carregado de zombaria e eu me altero.
— Encantado é o caralho! Eu só fiquei surpreso de encontrar uma... amiga, logo aqui.
— Oh, sim, acredito.
— Você não tem nada melhor para fazer?
— Tenho, mas te ver nervosinho assim é mais legal. — Ele diz, caminha até sua mesa e se senta na cadeira. — O chefe está puto por conta da investigação.
— O que aconteceu? — Questiono, curioso. Até ontem, nada havia mudado.
— Merda! Não diz ao Collins que eu falei ou ele vai me fazer engolir os dentes.
— Agora você vai falar — levanto-me e me aproximo dele — Se for para perder os dentes, que seja por uma boa causa.
— Lucas, eu não...
— Bryant — Collins o interrompe e ele suspira, aliviado — Na minha sala.
— Você se livrou dessa vez — sussurro.
Ele me encara, mas não responde nada. Sigo para a sala, Collins pede para eu fechar a porta e me sentar.
— Conhece a Senhorita Murphy?
— Eu fui noivo da irmã dela anos atrás, mas terminamos. Eu fui para Nova York e nunca mais soube dela — digo, omitindo algumas partes.
— Interessante... Vocês eram amigos?
— Eu costumava livrar ela das encrencas que arrumava, então, acho que sim — falo, sorrindo com a lembrança.
— Você teve algum envolvimento com ela? — Indaga, me deixando completamente desconfortável.
— Sargento, com todo respeito, eu fui noivo da irmã dela e eu não sei que tipo de cara você acha que eu sou. Eu acho que esse assunto não lhe diz respeito, por isso, não quero falar sobre minha vida pessoal aqui.
— Eu não acho nada e tem razão, sua vida pessoal não me interessa. A investigação teve um avanço e parece que o destino anda contribuindo conosco. Eu tenho uma missão para você e Stuart, e preciso que me ouça com atenção. Eu não vou tolerar erros.
— Certo — digo, tentando passar tranquilidade.
Ele começa falando sobre o que descobriu e sobre a tática da missão. Enquanto ele me dá ordens, mil coisas se passam pela minha cabeça. Uma delas é que não quero participar disso nem por um caralho. Isso não vai dar certo. Eu simplesmente não posso. Antes mesmo dele terminar, já estou em negação.
— Não, coloca outro em meu lugar. — Digo, negando veemente com a cabeça e recebo um olhar irritado.
— Eu estou lhe dando uma ordem direta e quero que acate. Faça a porra do seu trabalho e não me decepcione —Ele diz, com a voz alterada.
— Sim, senhor. — Falo em contragosto, depois, me retiro.
Encontro os olhos questionadores de Drew, mas apenas balanço a cabeça e vou para minha mesa, começar os meus trabalhos. Eu sempre amei fazer o meu trabalho, mas pela primeira vez, estou odiando. No momento, só uma frase grita intensamente na minha cabeça:
Eu estou fodido!
Olá, meus amores, tudo bem? Eu estava desde cedo tentando postar o capítulo e só agora eu consegui. Então, o que acharam?
Não esqueçam de curtir e comentar, isso ajuda muito.
Mil Milhões de Beijos
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