Carol Aird

Eu estava na floricultura do senhor Dankworth organizando o balcão de atendimento, quando ouço o sino acima da porta de madeira, tocar. Em seguida, ouço passos de salto contra a madeira fria que revestia a loja e sinto cheiro de perfume caro no ar. A pessoa que entrara, parou em frente ao balcão e eu olhei para cima ficando estupefata. Ali, bem diante dos meus olhos, estava uma linda mulher. Ela usava uma boina vermelha, tinha cabelos curtos e loiros e seus olhos eram de um azul céu brilhante. Quando me dei conta de que a encarava por mais tempo do que deveria, caio em si e a vejo sorrir lindamente enquanto nota minha timidez.

-Olá. _ela diz suavemente enquanto tira suas luvas.

-Hum. B-Boa tarde, senhora. Em que posso ajudar?

-Uh._ela parece pensar olhando em volta da loja até seus olhos focarem novamente em mim_-Estou a procura de John Dankworth, sabe onde posso encontra-lo?

-O senhor Dankworth não se encontra no momento, mas me deixou por conta da loja. Posso ajudar com alguma coisa?

-Sim. Talvez você possa. Eu sou Carol Aird e encomendei algumas tulipas coloridas esta manhã.

-Oh, sim! O senhor Dankworth as deixou reservadas para a senhora...só um minuto.

Fui até o escritório e peguei o arranjo daquela senhora e voltei para o balcão.

-Aqui está.

-Uau! são lindas. _disse ela cheirando as flores ao receber_-E cheira tão bem.

Sorrio para ela

-São cinquenta pratas.

-Oh, claro. _a vejo pegar a pequena bolsa de mão, onde estava o dinheiro. _-Muito obrigada.

-Não tem de quê, senhora.

Ela sorriu após me entregar o dinheiro e se virou para sair, mas antes, olhou para trás.

-A propósito?_Ergo minha cabeça para olhar para ela_-Qual o seu nome, querida?

Fico surpresa por ela me perguntar, mas logo a respondo.

-É S/sn. S/n S/sn.

Mais uma vez ela sorriu e acenou com a cabeça para mim.

-Foi um prazer conhece-la, S/n. E por favor, me chame de Carol.

Ela piscou para mim e voltou a andar para sair da loja enquanto eu a seguia com o olhar através do vidro da janela, enquanto a observava atravessar a rua.

Quando me dei conta do que acabara de acontecer, mesmo não sendo grande coisa, deixei um pequeno sorriso bobo escapar. Bem, eu não achei que fosse encontra-la mais vezes desde aquele dia. Mais Carol passou a ir até a floricultura semanalmente. Digamos que ela era uma das clientes mais fiéis do senhor Dankworth, mas também comecei a pensar que havia um motivo específico em sua frequência ali. Sempre que ela entrava, seus olhos pareciam procurar por alguém ou algo específico e, quando encontrava os meus, um sorriso perfeito brilhava em seus lábios. Nós até passamos a nos comunicar através do olhar e por causa disso, parecíamos nos dar tão bem. Carol passou a ser alguém importante para mim. Mesmo não falando com ela diretamente todos os dias, era como se nos conhecêssemos há anos e meu coração sempre se alegrava quando ela estava por perto.

Um dia, como qualquer outro, pensei que Carol fosse a loja, mas ela não fora. Então, quando era pra ser um dia incrível, se tornou chato e entediante até o senhor Dankworth chegar de uma entrega.

-Que dia! Que dia!_disse ele ao entrar colocando o avental.

-Qual o problema?

-A senhora MacGyver recusou todas as flores que encomendou. Dá pra acreditar nisso?

-Não é a primeira vez. _digo amarrando a corda do avental dele.

-De fato. E como foram as vendas hoje?

-Abaixo do esperado.

-Essa época é sempre tão difícil nossas vendas. Mas tenho um grande negócio para o próximo verão e você irá me ajudar muito com isso.

-Mesmo? E do que se trata? _pergunto um pouco desmotivada enquanto volto a contar o dinheiro do caixa e o senhor Dankworth vai adubar e plantar algumas mudas.

-A senhora Aird pediu que organizemos o jardim de sua residência. Ela gostaria de mais flores e árvores por toda parte e contratou nossos serviços...bom...ela é a nossa melhor cliente.

-Certamente. _sorrio ao pensar em Carol e me pego ansiosa para o próximo verão.

Quebra de tempo

John Dankworth infelizmente não pôde assumir o serviço porquê estava doente. Por ora, pensei que não fôssemos mais trabalhar para Carol, mas John surpreendeu-me ao pedir que eu assumisse seu lugar; o que prontamente fiz.
Peguei sua caminhonete e dirigi até o endereço de Carol. Quando cheguei, estacionei o carro e saí batendo a porta, e o barulho fez com que a mulher dos olhos brilhantes viesse até mim.

-Oi. _disse ela gentilmente

-Ei. _sorrio enquanto subia na traseira para pegar a maleta de utensílios de planta; uma tesoura e uma enxada.

-Tem certeza que dará conta do trabalho? Isso pode ser árduo demais pra você querida.

-Não se preocupe. Não é a primeira vez que assumo tal responsabilidade.

-Então talvez seja por isso que John sempre confia em você.

-Ou talvez ele saiba que sou a única pessoa que trabalha para ele e que é capaz disso. _brinco enquanto acompanho Carol até o jardim.

O jardim era lindo, mas não tão cheio de vida. Carol queria mais cores e aconchego, então lhe mostrei o esboço que Dankworth e eu pensamos para ela e Carol adorou cada detalhe, o que já era de se esperar. E foi com sua autorização que comecei a trabalhar.

Passei longos dias ali. Os dias se transformaram em semanas e semanas em meses, e eu a conheci ainda mais durante esse tempo, fazendo com que meu coração batesse ainda mais forte por ela. Quando percebi, já estava apaixonada. O que era completamente errado, já Carol era casada e tinha uma filha de cinco anos. Então eu jamais poderia tê-la como desejava. Além do mais, éramos de classes sociais diferentes e com uma grande diferença de idade também. Enfim, meu amor era proibido... Eu achava isso até que perceber que o casamento de Carol não era nada saudável. Seu marido a traía. Sei disso porque ouvi uma discussão deles. Carol o confrontou quando Harge chegou em casa com um cheiro diferente. E também tirei a prova quando o vi abraçar uma mulher desconhecida um dia desses enquanto eu dirigia para casa. Nunca contei à Carol, porque não era problema meu. Mas quando as coisas começaram a tomar outro rumo, tomei a liberdade de intervir.

Um dia, enquanto eu aparava alguns galhos de uma árvore, ouvi  Harge gritar com Carol. Deixei minha tesoura no chão e sem pensar duas vezes, corri para dentro da casa encontrando a bela mulher com uma mão tocando um lado do rosto enquanto chorava e olhava horrorizada para o marido.

-Hey?_digo surpreendendo os dois_-Qual é o seu problema, cara?... Qual é o seu problema?

Afasto ele dela, jogando-o contra a parede, e sinto um cheiro de álcool e cigarro pairar no ar, então deduzo que Harge estava embriagado. Quando ele percebera o que fez, fora tarde demais. Ele passou as mãos no cabelo e fugiu como um covarde deixando Carol aos prantos para trás.

-Carol. _toquei sua mão e a puxei para mim abraçando-a ternamente_-Shiiii...tudo bem...vai ficar tudo bem.

Ela se aconchegou em mim por longos minutos até se acalmar. Quando o fez, fui até a cozinha e preparei um chá de camomila para ela e a entreguei sentando-me ao seu lado no sofá.

-Obrigada. _disse vulnerável _-Eu não saberia o que fazer se você não estivesse aqui, então...obrigada.

-Não tem que me agradecer. Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, não sabe? Até mesmo socar aquele idiota.

Ela soltou uma risadinha.

-Sim. Eu sei. Mais eu não gostaria disso.

-Foi exatamente por isso que me controlei, mas vontade é o que não me faltou. Me senti tão brava quando te vi naquele estado que eu seria capaz de manda-lo para o espaço num piscar de olhos. Só não fiz isso por respeito à você e a sua garotinha dormindo no quarto ao lado... Mais a questão é que eu sempre defenderei vocês duas, não importa o que aconteça.

Foi então que Carol me encarou. Ela me olhou como nunca a vi me olhar antes, e, sem que eu reagisse, senti seus lábios tocarem os meus em um beijo tão delicado quanto ela. Quando Carol se afastou, tocou meu rosto e colou nossas testas.

-Eu amo... você.

Disse-me baixinho. E aquelas três palavras, despertara ainda mais o amor que sinto por ela. 
















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